Apóstolos e o Apostolado do Novo Testamento aos Dias Atuais
Várias correntes de pensamento na vida da igreja
contemporânea convidam uma nova atenção para a natureza precisa e o propósito
do apostolado do Novo Testamento. Inúmeros ministério estão apresentando novas
idéias sobre o termo Apóstolo. Nesta era de transformações, pessoas em muitas
denominações e seitas estão levantando questões sobre a autoridade
eclesiástica. Outros têm conceitos errados sobre 'os sinais de um apóstolo'.
Além disso, há o hábito crescente de se referir a certos missionários estrangeiros
ou fortes líderes religiosos como apóstolos — aparentemente com a intenção
literal e não metafórica.
Podemos detectar igrejas com uma única sede, onde
estes pastores se auto denominanam Apóstolo, e até mesmo Bispo, trazendo outro
significado do termo além da qual as Escrituras a estabelece.
Somente o uso do Novo Testamento é decisivo para o
significado de um apóstolo e para o significado teológico do apostolado. Isso é
verdade para muitos termos teológicos importantes das Escrituras, mas
particularmente verdadeiro para este.
E. von Eicken, H. Lindner explica que o termo grego αποστολος
(Apóstolos) como “enviado, embaixador, apóstolo”. Strong comprende da seguinte
forma 1) um delegado, mensageiro, alguém enviado com ordens 1a) especificamente
aplicado aos doze apóstolos de Cristo 1b) num sentido mais amplo aplicado a
outros mestres cristãos eminentes.
Para E. von Eicken, H. Lindner αποστελλω (apostello) um
composto de stellõ “colocar”,
“aprontar”, e a preposição apo,
“de”, “para longe”, “para trás” significa “enviar” (tanto pessoas como coisas),
“mandar embora”, “escorraçar”, “enviar para longe”. Quando se trata de uma
delegação para um propósito especial, muitas vezes se ressalta especialmente a
causa do envio.
Continuando Eicken e Lindner explica que na filosofia
estóica popular, a idéia da autoridade do emissário para representar seu mestre
adquire um significado religioso. Um mestre peripatético cínico considerava-se
um embaixador e exemplo enviado por Zeus (Epict.). Daí, apostellõ também ocorre
como um termo técnico que significa a autorização divina.
Strong informa que o termo tem o significado de 1)
ordenar (alguém) ir para um lugar estabelecido; 2) mandar embora, despedir; 2a)
permitir que alguém parta, para que alcance a liberdade; 2b) ordenar a partida
de alguém, enviar; 2c) expulsar.
Continuando o termo apostolos é derivado de apostellõ,
em primeiro lugar como adj. verbal, e depois como substantivo. Acha-se, pela
primeira vez, na linguagem marítima, onde significa um navio de carga, ou a
frota enviada (Dem.). Mais tarde, significava o comandante de uma expedição
naval, ou um grupo de colonizadores enviado para além-mar. Nos papiros, pode
significar uma fatura, ou mesmo um passaporte.
Para Eicken e Lindner foi, provavelmente, somente mais
tarde nos círculos gnósticos que apostolos veio a transmitir o conceito
oriental de emissários como mediadores da revelaçío divina.
Outra explicação Eicken e Lindner é que na LXX,
seguindo o texto heb., emprega apostelló e seus cognatos para significar, não a
nomeação institucional de alguém a um ofício, mas, sim, sua autorização para
cumprir alguma função ou tarefa que normalmente se define com clareza. Isto
explica por que o vb., e não o subst., é empregado quase exclusivamente.
Um dado de apostelló se emprega 131 vezes no NT; 119
dos casos se acham distribuídos de modo mais ou menos igual entre os Evangelhos
e Atos. Lucas emprega a forma com posta exapostellõ 11
vezes das 13 ocorrências nos escritos dele. Em Lc 1:53; 20:10-11, tem a força
de mandar embora, permitir a ida. Nos 7 exemplos em Atos tem o mesmo
significado que apostelló. Em contraste, pempó ocorre como virtual sinônimo,
especialmente em João (32 vezes) mas também em Lucas e Atos (10 ou 11 vezes).
Estes são escritos que são mais independentes do que Mateus e Marcos dos
originais semíticos, inclusive a LXX (onde pempò se emprega apenas 26 vezes). O
emprego de João das palavras lado a lado sem qualquer diferença óbvia, não deve
ser atribuído meramente à linguagem hele- nística contemporânea. Pode ser que
desejasse ressaltar os aspectos puramente funcionais do termo em contraste com
os conceitos institucionais que já estavam sendo vinculados a apostolos, e
também para sublinhar mais fortemente a autoridade do.
Dietrich Müller explica que em contraste com a LXX, a
ocorrência freqüente do subst. apostolos é algo novo. Ocorre 6 vezes em Lucas,
28 em Atos, 34 em Paulo, uma vez em Hebreus, 3 vezes em Pedro, uma vez em
Judas, 3 vezes em Apocalipse. Mateus, Marcos e João empregam a palavra uma vez
cada. Em contraste marcante com o Gr. clássico, apostolos é empregado no NT
apenas no sentido geral de mensageiro, e particularmente como a designação fixa
de um ofício específico, o apostolado primitivo.
Com as exeções de Lc 11:49, At 14:14, Lucas aplica
apostolos expressamente aos Doze. Eles tinham sido chamados pelo Jesus
histórico para ocupar o ofício deles (Lc 6:13; cf. 1:17). Tinham estado com Ele
durante Seu ministério inteiro, a partir do momento do batismo por João. O
Senhor ressurreto tinha Se encontrado com eles em várias manifestações (Lc
24:36 e segs.; Atos 1:3). Sendo assim, tinham o melhor conhecimento possível
daquilo que Jesus dissera. Antes da ascensão, receberam a promessa do Espírito (At 1:4) e o mandamento para
evangelizar (At 1:8). Pelo evento do Pentecoste (At cap. 2) foram feitos
portadores do Espírito, as grandes autoridades do cristianismo primitivo que,
com seu centro em Jerusalém, zelavam pela verdadeira tradição que remontava ao
Jesus histórico.
3. Muitos estudiosos consideram que as Epístolas de
Paulo foram escritas antes de Lucas e Atos, e, assim, consideram aquelas como
sendo a fonte de informações mais antiga quanto ao emprego técnico de apostolos
no NT. Os seguintes aspectos e suposições emergem com respeito àquilo que Paulo
entendia pelo ofício de apóstolo, nos seus debates com seus oponentes:
(a) A vocação e
comissionamento para serviço como apóstolo durante a vida inteira não é através
dos homens, “mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai” (G1 1:1; cf. Rm 1:5; 1 Co
1:1; 2 Co 1:1). Vem através de um encontro com o Senhor ressurreto (1 Co 15:7;
G1 1:16), que pessoalmente dá ao Seu apóstolo a mensagem do evangelho (1 Co
11:23; 2 Co 4:6; G1 1:12). O apóstolo entrega o evangelho aos homens como
“embaixador” de Cristo (1 Co 5:20). “O serviço do apóstolo toma claro o fato de
que a igreja local não é uma lei para si mesma, mas que está sujeita à lei de
Cristo
Müller explica que a vocação do apostolado cristã,
segundo Paulo, se vincula com o dever de missionário entre os gentios (Rm
11:13; G1 2:8; cf. Rm 10:15; 1 Co 1:17). Supõe-se que os apóstolos fossem
originalmente enviados dois a dois (G1 2:1, 9; cf. Mc 6:7; Lc 10:1; At
15:3640). Sinais e maravilhas especiais acompanhavam a obra deles (Rm 15:19; 2
Co 12:12). Sua tarefa era primariamente pregar, e não batizar (1 Co 1:17).
Outro ponto que Müller entende na concepção paulina é
que o Apostolado está vinculado com o sofrimento é uma parte inescapável do
serviço do apóstolo (1 Co 4:9-13; 15: 30 e segs.; 2 Co 4:7-12; 11:23-29).
Müler entendo que Paulo compara os profetas, aos
apóstolo tem uma compreensão especial do ministério (Segredo) de Cristo (1 Co
4:1; Ef 3:1 -6).
Paulo não dá nenhuma sugestio de que a posição
especial do apóstolo (e.g. como um exemplo aos outros, 1 Co 4:16; Fp 3:17,
etc.) o exalte acima da igreja e o distingua dos demais que têm dons
espirituais (1 Co 12:25-28; cf. Ef 4:11; Rm 1:11-12). Os dons espirituais deles
existem a fim de cumprirem funções específicas na igreja. Conforme Schweizer “O
apóstolo sabe que ele é também um membro da igreja local” (Sua autoridade não
se deriva dalguma qualidade especial nele (1 Co 3:5), mas, sim, do próprio
evangelho, na sua verdade e no seu poder para convencer (Rm 15:18; 2 Co 4:2). E
por isto que Paulo toma cuidado para deixar claro quando é apenas a sua própria
opinião que está dando (1 Co 7:10, 12)
Numa perspectiva mais teológica Karl Heinrich Rengstorf
explica que apóstolos também pode denotar aqueles que carregavam a mensagem do
NT, primeiramente os doze (At 1.26) enviados pelo próprio Jesus (cf. Mt 10.2;
Mc 6.30), tendo Pedro como líder e Jerusalém como seu lugar central (At 8.1); depois
os primeiros missionários cristãos, como em At 14.4,14 (Paulo e Barnabé),
G11.19 (Tiago), Rm 16.7 (Júnias e Andrônico) e ICo 15.7 (um círculo maior).
Paulo e Barnabé foram enviados pela congregação de Antioquia (At 13.1ss.), mas
o apóstolo propriamente um apóstolo de Jesus Cristo, e esse grupo maior
compartilha com os doze o fundamento de terem se encontrado com o Cristo
Ressurreto e terem sido comissionados pessoalmente por ele. Portanto, Apoio e
Timóteo não são chamados apóstolos, mas o apostolado de Paulo é aceito em
Jerusalém (At 15; G1 2.9; cf. ICo 15.8ss.). Apóstolos, portanto, não são
oficiais da igreja, mas oficiais de Cristo para o seu crescimento e nesse
sentido eles se comparam aos profetas do AT (Ef 2.20; 3.5). “Na igreja” em ICo
12.28 se refere a todo o corpo cuja cabeça é Cristo (cf. Ef 1.22; Cl 1.18; Ef
4.11), não para a congregação local.
Para concluir Rengstorf trabalha o termo pseudapóstolos.
Essa palavra ocorre no NT apenas em 2Co 11.13, onde o próprio Paulo a define
“distinguindo a si mesmos como apóstolos de Cristo”. Esses falsos apóstolos não
são autorizados por Cristo, como é evidenciado por sua falta de comprometimento
exclusivo com Deus ou Cristo. Sua descrição como “supremos apóstolos” (11.5) é
cheia de ironia, pois um apóstolo já tem tal posição incomparável e mesmo assim
é marcado pela humildade. Paulo tem em vista seus inimigos judaizantes que
contestam o seu apostolado (cf. G11.1). Cristãos, talvez o próprio Paulo,
provavelmente cunharam o termo, o que sustenta a tese de que apóstolos no seu
sentido peculiar também tem proveniência cristã. Para a mesma ideia, mas não a
palavra, cf. Ap 2.2: “que chamam a si mesmos apóstolos, mas não são”.
Para Robert Duncan Culver Um apóstolo deve ter
recebido um chamado e comissão para seu ofício diretamente de Cristo. A
natureza do cargo — ministro plenipotenciário — assim o exigia; o precedente
estabelecido pelo Mestre (Lucas 6:13) demonstrou isso; e o caso de Paulo, como
ele argumenta elaboradamente em 2 Coríntios e na primeira parte de Gálatas
(especialmente Gálatas 1:1), confirma isso. A escolha de Matias por sorteio
(Atos 1:24-26) está de acordo com ela (ver Prov. 16:33) e, embora um tanto
irregular, não é exceção.
Um apóstolo deve ter o Senhor Jesus, sendo uma
testemunha ocular de Seus feitos e uma testemunha auditiva de Suas palavras. Se
eles fossem testemunhas fundadoras (ou seja, fundadores da igreja), isso era
essencial. É por isso que, no início de Seu ministério, Jesus convidou doze
homens (entre outros) para segui-lo e, alguns meses depois, comissionou os Doze
como apóstolos, insistindo em que estivessem constantemente com Ele (João
15:27; cf. Lucas 22:28). A exigência é explicitada no caso de Matias (Atos
1:21-22). Pela observação pessoal dos eventos da redenção, eles foram capazes
de testificar a eles e, como Jesus disse, um dos propósitos de seu posterior
revestimento especial com o poder do Espírito Santo foi capacitá-los a se
lembrar infalivelmente do que ouviram Jesus dizer ( João 14:28; 15:26-27;
16:13-15).
Um apóstolo deve possuir autoridade para comunicar
revelação divina, e o que ele escreveu sob inspiração divina foi de fato 'a voz
de Deus'. Uma leitura de Deuteronômio 18:9 mostra como esse dom está
relacionado com as Escrituras do Antigo Testamento. As passagens do Novo
Testamento que declaram isso são 1 Coríntios 2:10 e Gálatas 1:11-12. Os
apóstolos foram assim habilitados a dar nas Escrituras do Novo Testamento o
verdadeiro sentido do Antigo Testamento (Lucas 24:27; Atos 26:22-23; 28:23)
velado da nação judaica então como agora (Rom. 11:25; 2 Coríntios 3:11-18; 1
Tessalonicenses 2:14-16), e estabelecer a revelação do Novo Testamento como um
padrão inerrante para a nova dispensação (1 Pedro 1:25; 1 João 4:6 ; João
14:26; 1 Tessalonicenses 2:13). Conseqüentemente, as gerações posteriores de
crentes - e crentes até a hora atual - consideraram a apostolicidade em algum
grau como indubitável,
Um apóstolo é obrigado a fornecer 'os sinais de um
apóstolo'. Estes consistem em poder em algum momento crítico para realizar
milagres indubitáveis (cf. Atos 4:16). Deuteronômio 18:9 e 13:1 fornecem o
pano de fundo do Antigo Testamento. Os Evangelhos mostram consistentemente que
a natureza humana de Jesus foi capacitada para ser o veículo palpável de tais
milagres pela concessão especial do Espírito Santo (Mateus 3:16-4:25 e
paralelos) e o mesmo seria verdade para os apóstolos. após sua recomissionação pós-ressurreição
por Cristo (Atos 1:8; cf, Marcos 16:14, 19-20). Os apóstolos realizaram tais
atos (Atos 2:43; 5:12). Além disso, há razão para acreditar que apenas eles e
aqueles a quem eles transmitiram tais poderes realizaram atos milagrosos na
igreja primitiva (1 Coríntios 12:8-11, 28), e que quando a Palavra foi assim
confirmada, os milagres cessaram. (Hb, 2:1-4). Como na época do Antigo
Testamento, Deus forneceu sinais para Seus mensageiros credenciados, assim Ele
forneceu 'sinais de um apóstolo' (2 Coríntios 12:12; cf. Salmos 74:9;
105:27-28). Esses sinais eram o meio de Deus 'dar testemunho com eles' (Hb
2:4).
Os vários relatos evangélicos de como Jesus repreendeu
as exigências de milagres — exigências feitas por multidões de pensadores
superficiais de caçadores de emoção ou de reis debochados — não podem acabar
com a função evidencial e certificadora dos milagres do Novo Testamento. Nem as
observações de Paulo perto do final de 2 Coríntios a respeito dos raciocínios
perversos dos cidadãos cristãos de Corinto a respeito de seu ministério
eliminam essa função dos milagres. Os milagres não eram primariamente para a
edificação dos crentes, e nem Jesus nem Paulo dizem isso. Os crentes de hoje
não precisam deles para edificação e não devem pedir milagres por tais motivos.
A fé tem outro método.
Um apóstolo deve possuir autoridade plenária entre
todas as igrejas. Nisso ele diferia dos detentores de outros ofícios
eclesiásticos do Novo Testamento, pois no Novo Testamento, os bispos (ou
presbíteros) e diáconos exerciam apenas a autoridade da igreja local e tinham
apenas funções locais. Mas Pedro poderia julgar Ananias ou Safira pela
autoridade pessoal (Atos 5:1-11), não pela autoridade da igreja. Paulo afirmou
uma responsabilidade pessoal por 'todas as igrejas' (2 Coríntios 11:28), e na
distante Filipos, Paulo podia julgar a respeito de uma questão de disciplina
moral em uma congregação em Corinto (1 Coríntios 5:3). Os apóstolos podiam e
escreveram a maioria das epístolas do cânon do Novo Testamento, dando ordens a
igrejas distantes, reivindicando autoridade divina inerrante para si mesmos e
até mesmo para os outros (1 Coríntios 14:37; cf. 2 Pedro 3:16).
Culver conclui que não há, portanto, forte evidência
de que quaisquer pessoas do Novo Testamento, exceto os Doze originais, Matias,
Paulo e possivelmente Tiago, o irmão do Senhor, tenham sido considerados nos
tempos do Novo Testamento como apóstolos de Jesus Cristo.
Portanto concluimos que há um apostolado menor, mas
este apenas no exercício ministerial igual, idëntico e nada superior aos demais
ministério de Ef4.11, ele é complementar, auxiliar aos demais ministérios
cristãos.