quarta-feira, 13 de novembro de 2024

 Milagres de Jesus no Evangelho de João

Blair G. Van Dyke

Cristo transformando água em vinho O milagre de transformar água em vinho demonstra que Cristo tem poder para alterar a substância. Robert Barrett, 1999 Intellectual Reserve, Inc.

As linhas de abertura do Evangelho de João apresentam Jesus Cristo como a Palavra: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). A frase “no princípio” ecoa Gênesis 1:1, sugerindo a intenção de João de descrever o poder de Jesus Cristo ao retornar à onipotência do Criador do mundo. Na superfície, o título ou nome “Palavra” sugere comunicação divina. Certamente, Cristo é o meio pelo qual a vontade do Pai é comunicada. [1] Da perspectiva de João, então, ele está apresentando Jeová do Antigo Testamento — um ser de tal poder, força e domínio que as palavras não podem capturar completamente Sua magnificência. Além disso, João escreve: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). Ou seja, Jeová nasceu como Jesus Cristo e cresceu até a idade adulta possuindo todo o Seu poder na carne. Em essência, o Evangelho de João é centrado na onipotência de Jesus Cristo.

O Evangelho de João tem sido razoavelmente visto como um documento de duas partes. Os capítulos 2–11 são frequentemente chamados de “Livro dos Sinais” e tratam do ministério público do Mestre enquanto Ele viajava de e para a Galileia e a Judeia realizando milagres, ensinando e engajando publicamente Seus adversários. [2] Os capítulos 12–20 são às vezes chamados de “Livro da Glória” e capturam o ministério privado de Jesus enquanto Ele ensinava Seus discípulos em ambientes fechados e progredia em direção ao sacrifício expiatório. [3] O foco deste artigo repousará sobre os milagres encontrados na primeira seção do Evangelho de João.

Começando com Jesus transformando água em vinho (João 2) e terminando com Ele ressuscitando Lázaro dos mortos (João 11), João, o Amado, conduz seus leitores por uma série de sete milagres realizados por Jesus. [4] Como o Evangelho de João é geralmente entendido como tendo sido dirigido a um público que já acreditava que Jesus é o Cristo, podemos concluir razoavelmente que o propósito desses sete milagres (comumente chamados de sinais de poder) é aprofundar a fé em Cristo. [5] Este artigo explorará cada um desses milagres, na esperança de obter uma compreensão mais clara e uma apreciação mais rica de quão nitidamente o Evangelho de João se concentra no poder divino de Jesus Cristo. [6]

Água para Vinho

Uma festa de casamento foi realizada em Caná da Galileia, e Jesus foi convidado a comparecer com Seus discípulos. Durante o curso da celebração, o suprimento de vinho acabou. Maria se aproximou de seu filho Jesus e disse: “Eles não têm vinho” (João 2:3). Ele respondeu: “Mulher, o que queres que eu te faça? Isso farei; pois minha hora ainda não chegou” (Tradução de Joseph Smith, João 2:4). [7] Em essência, Ele disse: “Mãe, este assunto não é da minha conta. No entanto, sua fé é tal que atenderei seu pedido, embora o tempo em que revelarei completamente minha divindade ainda não tenha chegado”. [8] Jesus ordenou que os servos enchessem seis grandes potes de pedra com água. Cada pote grande era ritualmente limpo e continha aproximadamente dezoito a vinte e sete galões cada (ver João 2:6). [9] Cada pote estava cheio “até a borda” (João 2:7). Jesus então ordenou aos servos que “tirassem” parte do conteúdo dos jarros e o servissem ao governador da festa (ver João 2:8). Em algum ponto entre o enchimento e a retirada dos jarros, o Salvador milagrosamente transformou a água em vinho de alta qualidade, o que foi reconhecido pelo governador (ver João 2:10). [10]

João se refere a esse sinal de poder como o “princípio dos milagres” (João 2:11). No entanto, ele foi realizado em particular e testemunhado apenas pelos servos e discípulos. Uma das intenções do Salvador parece clara: Ele desejava manifestar Sua glória e levar Seus discípulos a uma crença mais profunda em Sua divindade por meio desse ato glorioso (ver João 2:11). O fato de Jesus ter realizado esse milagre quase exclusivamente para o benefício de Seus discípulos acena para a pergunta: o que Ele gostaria que eles aprendessem com a experiência? Não podemos saber a resposta a essa pergunta com certeza; no entanto, dois elementos básicos desse milagre merecem consideração adicional.

Primeiro, aprendemos que Jesus tem poder para alterar a substância. Confiamos que se Ele pode transformar água em vinho, Ele também pode transformar madeira em pedra e pedra em líquido, tudo em um instante para cumprir Seus propósitos. Embora Jesus esteja sujeito às leis naturais, Ele não é limitado pelos limites químicos e físicos como são percebidos e descritos por meros mortais. [11] Talvez João também esteja mostrando que Jesus tem poder sobre o tempo. O processo de fazer vinho leva anos — é preciso plantar uma videira, nutri-la até o ponto em que dê frutos, colher os frutos, esmagá-los e prensá-los, e reunir e armazenar o suco. Mas Jesus não é limitado pelo tempo como o entendemos na mortalidade (ver D&C 38:2) e possui o poder de criar vinho instantaneamente. [12]

Este sinal do poder de Deus tem ramificações que são mais pessoais por natureza. Por exemplo, o poder de Cristo de alterar a substância torna Sua habilidade de curar o corpo humano uma realidade imediata. Similarmente, curar uma ferida emocional, aliviar a dor remanescente sobre pecados dos quais se arrependeu ou a dor associada a uma família desfeita — essas decepções e outras que podem levar anos para se recuperar podem ser curadas com muito mais rapidez, até mesmo um instante, se Jesus Cristo assim o considerasse.

Entre outras coisas, esse milagre manifesta que Jesus possuía poder sobre a substância e o tempo. Reconhecer esse poder e sua relação com doutrinas significativas como Cristo como Criador e Redentor pode levar a uma fé maior e mais profunda no Messias e em Seu papel em nossas vidas.

Curando o Filho do Nobre

Após a primeira festa da Páscoa de Seu ministério público, Jesus retornou de Jerusalém para a Galileia, parando em Caná, onde anteriormente transformou água em vinho. Lá, Ele encontrou um nobre cujo filho estava doente a ponto de morrer em Cafarnaum, a cerca de trinta quilômetros de distância. [13] O encontro entre o nobre e Jesus não foi um acaso. O homem proeminente ouviu que Jesus estava de volta à região e O procurou ativamente, finalmente O encontrando em Caná (ver João 4:47). Apesar desse esforço, Jesus considerou necessário testar a fé do homem. Ele disse: “Se não virdes sinais e maravilhas, não crereis” (João 4:48). O nobre não se intimidou com o desafio; em vez disso, ele submeteu com mais fervor sua fé no poder de Jesus para curar seu filho. Ele implorou com urgência: “Senhor, desce antes que meu filho morra” (João 4:49). Jesus recompensou a fé do homem curando a criança naquele momento, dizendo: “Vai, pois eu te louvo”. teu filho vive” (João 4:50).

A fé do nobre era explícita; ele “creu na palavra que Jesus lhe dissera, e foi-se” (João 4:50). Tem-se a impressão de que ele demorou a retornar a Cafarnaum, possivelmente cuidando de negócios ou outros interesses no caminho (ver João 4:50–51). [14] No entanto, seus servos o encontraram no dia seguinte para notificá-lo de que a criança moribunda havia sido curada. Quando o nobre perguntou sobre o momento da cura, foi informado de que ocorreu no exato momento em que Jesus proclamou: “Teu filho vive” (João 4:53). João então acrescentou: “Este é novamente o segundo milagre que Jesus fez” (João 4:54).

Uma lição convincente é que Jesus não estava limitado por distâncias geográficas. Não era necessário que Ele viajasse para Cafarnaum. Sua palavra era eficaz independentemente da localização física. Esse poder é particularmente reconfortante, pois existem distâncias desconhecidas entre os mortais na Terra e Deus no céu. Mesmo assim, nossas orações são ouvidas, ganhos e perdas reconhecidos e as bênçãos do sacerdócio honradas como se Ele estivesse presente conosco. Esse milagre verifica que a localização física de Cristo não é o fulcro sobre o qual o poder de Deus repousa em nossas vidas — nossa fé em Cristo é.

“Uma enfermidade de trinta e oito anos”

Perto do templo em Jerusalém havia uma piscina com cinco alpendres que era chamada Betesda. Os alpendres eram sombreados por colunatas cobertas e acomodavam “uma grande multidão de pessoas impotentes, de cegos, coxos e ressequidos” (João 5:3). [15] Uma tradição da época alegava que as águas da piscina possuíam poderes curativos. Especificamente, a tradição afirmava que um anjo invisível ia à piscina em certos momentos e agitava a água. O inválido que fosse o primeiro a entrar na água depois que ela fosse movida pelo anjo seria curado de qualquer doença que sofresse (ver João 5:4).

Enquanto estava em Jerusalém para uma festa, Jesus foi ao tanque de Betesda no sábado. Lá ele encontrou um homem deitado em um dos pórticos “que estava enfermo havia trinta e oito anos” (João 5:5). A narrativa de João sugere que ele sofria de algum tipo de paralisia que o impossibilitava de alcançar as águas do tanque sem assistência. A conotação é que a doença pode ter sido o resultado de um comportamento pecaminoso cometido anteriormente em sua vida (veja João 5:14). Seja qual for o caso, Jesus olhou para o homem e disse: “Queres ficar são?” (João 5:6). O inválido disse: “Senhor, não tenho ninguém que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, outro desce antes de mim” (João 5:7). Naquele momento Jesus proclamou: “Levanta-te, toma o teu leito e anda” (João 5:8). Imediatamente, a força surgiu em seu corpo o suficiente para permitir que ele pegasse sua esteira e andasse após quase quatro décadas de enfermidade. Este sinal milagroso de poder chamou a atenção de todos os presentes e logo depois atraiu a ira dos líderes religiosos judeus.

Embora esse milagre tenha negado a doença, agitado os inimigos de Jesus e provavelmente levado alguns a crer, ele também serviu a um propósito muito público do ministério de Jesus. Ele convidou as pessoas a olharem para Cristo e Seu poder em vez de confiarem na superstição ou nas falsas tradições da época. Uma breve discussão relacionada às águas do tanque de Betesda e à observância do sábado servirá para ilustrar esse propósito.

Primeiro, o poder de Cristo dissipou a tradição de que as águas da piscina possuíam capacidades milagrosas. Antes da intervenção de Cristo, essa visão era aceita por muitos em Jerusalém — no entanto, era falsa. As águas eram tão impotentes quanto o homem que esperava ser curado por elas. Em última análise, ceder aos ditames prescritos associados a essa tradição só poderia levar à decepção. No entanto, de uma forma muito pública, Cristo exerceu Seu poder e voltou os olhos do homem impotente para a única fonte legítima de cura. Para os crentes propensos a serem persuadidos pelas alegações dessa tradição, esse milagre anulou qualquer aparência razoável de eficácia associada às águas e os apontou, em vez disso, para as Águas Vivas, Jesus Cristo (ver João 7:37–38; Zacarias 13:1).

Segundo, porque esse milagre foi realizado no sábado, a manifestação de poder de Cristo levou a um esclarecimento público sobre as falsas tradições associadas à observância apropriada do sábado. A cura e o fato de o homem carregar seu saco de dormir foram violações sérias da tradição que o estabelecimento religioso havia elevado à estatura de lei divina em relação ao sábado. Mais precisamente, havia trinta e nove “leis” regulando o que poderia ou não ser feito no sábado, a última das quais proibia o transporte de uma carga de uma casa para outra. [16] Sob essa tradição, o homem anteriormente aleijado foi condenado. Da mesma forma, essas tradições pintaram o uso do poder de Jesus como um trabalho ilegal para o sábado, e os judeus procuraram matá-lo (ver João 5:16).

Quando confrontado por esses líderes religiosos proeminentes, Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17). Em outras palavras, “os labores de Deus Pai não cessam porque é sábado, e os meus também não”. Ele explicou ainda: “O Filho não pode fazer nada de si mesmo, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo o que ele faz, o Filho também o faz igualmente” (João 5:19). A questão colocada aqui é direta: Deus quebra o sábado quando supervisiona o nascer do sol, a rotação da Terra e outras condições essenciais para sustentar a vida em Seu dia santo? [17] A resposta é obviamente não. Disto podemos concluir que o descanso de Deus e, portanto, nosso descanso no sábado não é um descanso de todo trabalho, mas um descanso de atividades mundanas. É um descanso que lembra o que podemos experimentar algum dia no reino celestial. Independentemente do dia da semana, a vida é preciosa, e todo esforço deve ser feito para sustentá-la. Na mente dos crentes, o milagre de Cristo em Betesda negou a falsa tradição promovida pelos principais líderes religiosos da época.

Um aspecto do milagre no tanque de Betesda ilustra que Jesus possuía poder para eclipsar e corrigir uma variedade de falsas tradições religiosas. Independentemente das grandes multidões que as abraçassem, Jesus consistentemente se movia para expor e dissipar publicamente falsas tradições.

Alimentando Cinco Mil

Em algum momento após o milagre em Betesda, Jesus retornou à Galileia. A fama de Seus poderes miraculosos continuou a segui-lo naquela região (ver João 6:2). As multidões de pessoas eram tão persistentes que se tornou necessário que Jesus levasse Seus discípulos para uma área isolada no topo de uma montanha a leste do Mar da Galileia para que Ele pudesse instruí-los em particular. Sua privacidade durou pouco, no entanto, porque uma multidão de cinco mil homens (mais mulheres e crianças) os encontrou. Jesus propôs alimentar a multidão, mas apenas “cinco pães de cevada e dois peixinhos” puderam ser obtidos de um jovem rapaz na companhia (João 6:9). Era tudo o que o menino tinha. A comida provavelmente era o almoço do menino: os peixinhos provavelmente eram curados com sal ou em conserva. [18] Jesus ordenou que a multidão se sentasse na grama. Ele pegou a escassa quantidade de comida, abençoou-a e ordenou que Seus discípulos servissem os peixes e o pão à multidão. Quando toda a multidão comeu até ficar satisfeita, os discípulos receberam a ordem de recolher as sobras de comida, que encheram doze cestos. Com o que começou como uma porção escassa de pão e peixes, Cristo alimentou milhares (ver João 6:11–13).

Entre outras coisas, esse milagre é um sinal do poder de Cristo para multiplicar. Ele lembra a Criação da Terra, onde tudo que Jeová tocava era aumentado, organizado, melhorado e era bom (ver Gênesis 1). Também lembra a maneira como Jeová alimentou Israel com maná no deserto (ver Êxodo 16:15). É significativo que as sobras desse sinal de poder encheram doze cestos. Jesus poderia facilmente ter multiplicado a quantidade “exata” necessária para alimentar a multidão, mas escolheu multiplicar um excesso de comida. Disto fica evidente que Ele queria transmitir pelo menos um princípio para Sua audiência do primeiro século que é declarado claramente na revelação dos últimos dias: “E é meu propósito prover para meus santos, pois todas as coisas são minhas. . . . Pois a Terra está cheia e há bastante e de sobra” (D&C 104:15, 17).

Em última análise, Jesus Cristo é um Deus de generosidade. Exemplos do poder de Cristo para multiplicar abundam hoje. Por exemplo, o impacto da adoração sincera no sábado é multiplicado de uma forma que aquelas poucas horas gastas na igreja resultam em crescimento espiritual ao longo da semana. As bênçãos associadas ao pagamento de um dízimo honesto são multiplicadas a ponto de “não haver lugar suficiente para recebê-las” (Malaquias 3:10). A capacidade de um membro fiel de amar é multiplicada à medida que ele ou ela serve e ensina, e assim por diante.

O milagre dos pães e peixes ilustra que Jesus possuía poder para multiplicar. Ele destaca o fato de que nossas menores ofertas são significativas e podem ser multiplicadas além de nossa compreensão mortal. Como isso é verdade, podemos confiar que, se convidarmos Cristo para nossa vida, podemos humildemente esperar que nossas capacidades espirituais (como fé, amor, confiança, disposição para perdoar) e, ocasionalmente, interesses temporais sejam multiplicados (ver D&C 104:2, 23, 25, 31, 33, 35, 38, 42, 46).

Caminhando sobre o mar

Depois que Jesus alimentou a multidão, eles se levantaram para forçá-lo a ser seu rei. Ele recusou suas exigências e imediatamente deixou a multidão e Seus discípulos. Ele se retirou para uma montanha para ficar sozinho. À noite, Seus discípulos embarcaram em um navio e remaram em direção a Cafarnaum, a cerca de cinco milhas de distância. Enquanto remavam no meio do Mar da Galileia, a escuridão caiu sobre a água e um forte vento soprou, jogando o navio nas ondas resultantes. Eles remaram durante a noite, fazendo pouco progresso em direção a Cafarnaum (ver Marcos 6:48). Exaustos e castigados pelo tempo, eles olharam para as ondas e viram um homem andando sobre a água. Isso fez com que o medo os dominasse porque pensaram que era um espírito (ver Marcos 6:49). Seus medos aumentavam à medida que o homem se aproximava do barco. No entanto, foi Jesus quem os cumprimentou, dizendo: "Sou eu; não tenham medo" (João 6:20). Com esta saudação, os discípulos imediatamente O receberam no navio. Aprendemos com Marcos que no momento em que Ele entrou no barco os ventos cessaram (ver Marcos 6:51).

Este milagre é um sinal do poder de Cristo sobre os elementos. Embora haja definitivamente espaço para outras interpretações deste milagre, várias profecias do Antigo Testamento declararam que o Messias teria poder sobre os elementos, com um domínio particular sobre a água. Por exemplo, o salmista escreveu: “Que pela sua força firma os montes; sendo cingido de poder: . . . que acalma o ruído dos mares, o ruído das suas ondas e o tumulto dos povos” (Salmo 65:6–7; veja também 89:9). Além disso, a água na antiguidade era frequentemente usada para representar figurativamente o caos e a instabilidade associados ao mundo caído. O grande dilúvio dos dias de Noé e as águas do Mar Vermelho que atrapalharam o caminho de Moisés e dos israelitas para a terra prometida são dois exemplos. Sob esta luz, Jesus andando sobre as águas sugere que Ele se elevou acima do caos e da instabilidade deste mundo e o colocou sob Seus pés.

O milagre de andar sobre as águas, incluindo acalmar o mar, ilustra que Cristo possuía poder sobre os elementos. As ondas furiosas deste mundo estão abaixo Dele. A demonstração de poder da natureza encontrada em trovões, relâmpagos, ventos fortes, terremotos, inundações e assim por diante não precisa causar angústia indevida porque Cristo venceu o mundo espiritual e fisicamente e controla o destino da terra e pode, portanto, acalmar “o tumulto dos povos” (Salmo 65:7; veja também João 16:33). [19]

Curando o homem cego de nascença

No outono, aproximadamente seis meses antes da morte e ressurreição de Jesus, Ele viajou para Jerusalém para participar da Festa dos Tabernáculos. Lá, em um dia de sábado, Jesus encontrou um homem que era cego de nascença. Seus discípulos perguntaram: “Mestre, quem pecou, ​​este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou, ​​nem seus pais; mas foi para que as obras de Deus se manifestem nele” (João 9:2–3). Este homem havia experimentado apenas a escuridão desde o nascimento. Em resposta à condição do homem, Jesus cuspiu no chão empoeirado e criou uma pequena quantidade de lama com a qual ungiu os olhos do cego. Em seguida, Jesus ordenou que ele fosse até a piscina de Siloé (Siló) e lavasse o barro dos olhos. Quando o cego lavou o barro dos olhos, ele saiu enxergando (ver João 9:1–7). Cristo o trouxe das trevas para a luz. [20]

Podemos extrair vários significados desse milagre. Entre eles está o poder de Cristo sobre o corpo físico. Esse sinal de poder era diferente da cura do homem impotente que sofreu por trinta e oito anos. Nessa circunstância, Jesus trouxe o homem a uma condição de saúde que ele desfrutava anteriormente (veja João 5:14). No caso do homem que nasceu cego, parece razoável concluir que uma nova criação era essencial. O milagre provavelmente exigiu a criação de células, tecidos e nervos que estavam presentes, mas nunca funcionaram ou estavam completamente ausentes devido a defeitos de nascença.

Também é significativo que Jesus tenha ordenado ao homem que fosse ao tanque de Siloé para lavar o barro dos olhos. A palavra Siloé em hebraico é traduzida como Siló e é um dos antigos títulos de Jeová (ver Gênesis 49:10). A palavra significa “um mensageiro enviado com autoridade”. [21] No final, o cego só conseguiu enxergar depois de submeter sua vontade a Cristo, o mensageiro autorizado enviado da presença de Deus.

O milagre da cura do homem que era cego de nascença indica que Cristo possuía poder sobre o corpo físico. Com certeza, cada um de nós vive com algum defeito físico, talvez até mesmo desde o nascimento. Além disso, estamos todos em declínio, ficando fisicamente mais velhos e mais fracos a cada momento. Claro, o processo de mortalidade terminará onde Jó proclamou que terminaria — com vermes destruindo nossa carne (veja Jó 19:25–26). Esses fatos preocupantes nos convidam a olhar para o relato do homem que nasceu cego com mais cuidado. Se Jesus tem poder para recriar seus olhos inúteis para torná-los inteiros, podemos ter certeza de que Ele tem poder para restaurar nossos corpos físicos de condições de declínio e decadência para condições de totalidade nesta vida e na próxima.

Ressuscitando Lázaro dos Mortos

Foi no sábado que Jesus curou o homem que era cego de nascença. Como já havia acontecido antes, essa cura no sábado elevou a ira dos líderes religiosos a um nível febril. Além disso, Jesus ensinou claramente nessa ocasião que Ele era o Filho de Deus. No final das contas, houve um chamado por Sua vida entre os principais judeus por proferirem tal “blasfêmia” (João 10:33).

O perigo era real, e Jesus levou Seus discípulos para fora de Jerusalém. Eles viajaram para o leste, para Pereia, além do Rio Jordão, onde João Batista havia ministrado. Eles ficaram lá por algum tempo ensinando muitos que se reuniram a Ele (ver João 10:31, 40–41). Enquanto estava na Pereia, Jesus recebeu a notícia de Marta e Maria de que Lázaro, seu irmão e amigo íntimo de Jesus, estava doente em Betânia (ver João 11:3). Jesus esperou dois dias e então anunciou a Seus discípulos que eles deveriam retornar à Judeia. Eles responderam incrédulos: “Mestre, os judeus ultimamente procuravam apedrejar-te; e tu voltas para lá?” (João 11:8). “Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu” (João 11:14).

Eles viajaram para Betânia, onde Jesus realizaria o sétimo milagre no Livro dos Sinais. Lázaro e suas duas irmãs, Maria e Marta, fizeram sua casa em Betânia, na encosta oriental do Monte das Oliveiras, perto de Jerusalém. Marta encontrou Jesus e Seus discípulos quando se aproximavam da aldeia. Lá, ela exclamou: "Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas eu sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá" (João 11:21–22). Marta notificou Maria sobre a chegada do Mestre. Quando Maria entrou na companhia de Jesus, ela caiu a Seus pés e gritou: "Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido" (João 11:32). Obviamente, Maria e Marta possuíam profunda fé no poder de Cristo para curar os doentes. No entanto, a essa altura, o corpo de Lázaro estava no túmulo há quatro dias. Parece evidente que, embora Maria e Marta exercessem uma fé poderosa em Jesus, elas não viam como a morte de seu irmão poderia ser revertida. Alfred Edersheim observa uma crença comum entre os judeus da época de que o espírito do falecido permanecia perto do corpo por três dias. No quarto dia, “a gota de fel, que havia caído da espada do anjo e causado a morte, estava então fazendo seu efeito, e que, conforme o rosto mudava, a alma se despedia definitivamente do local de descanso do corpo”. [22] Mesmo assim, Jesus pediu para ser direcionado ao local do sepultamento. Uma vez lá, Ele ordenou que a pedra que cobria a entrada do túmulo fosse removida. Marta avisou que o corpo em decomposição de Lázaro provavelmente cheiraria mal, mas Jesus não se deixou influenciar (ver João 11:39). A pedra foi removida, e depois que Jesus orou, Ele “clamou em alta voz: Lázaro, sai para fora” (João 11:43). O espírito de Lázaro retornou ao seu corpo, “e o que estava morto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir” (João 11:44).

Conforme relatado por João, o propósito deste sinal de poder era pelo menos duplo. Primeiro, ele aprofundou a fé e a crença em Cristo mantidas pelos discípulos (veja João 11:15, 45). Segundo, este milagre permitiu que os discípulos vissem a glória de Deus através do poder de Jesus sobre a morte (veja João 11:40). Além disso, é interessante que o nome Lázaro signifique “ajudado por Deus”. Este sinal comunicou nossa dependência total de Cristo. Ele sozinho é nossa única fonte de ajuda duradoura ao enfrentar a morte.

É significativo notar que Lázaro não ressuscitou. Ele ainda era mortal e eventualmente morreria novamente. Talvez seja por isso que João descreveu cuidadosamente Lázaro saindo do túmulo envolto em Suas vestes funerárias. Literalmente, esta imagem comunica que Lázaro estava realmente morto e devidamente enterrado. Figurativamente, ela transmite ao leitor que ele não estava deixando a morte para trás permanentemente, mas um dia seria vestido com roupas de sepultura pela segunda vez. Em contraste, quando Cristo ressuscitou, João descreve cuidadosamente como as roupas funerárias de Jesus foram deixadas no túmulo, para nunca mais serem usadas, pois Ele havia conquistado a morte (ver João 20:6–8). [23]

Este milagre mostra que Cristo possuía poder sobre a morte. Anteriormente, Ele trouxe luz ao mundo do homem que nasceu cego. No caso de Lázaro, Ele trouxe vida a um homem morto. Juntos, Jesus é a luz e a vida do mundo. [24] Porque Lázaro foi ressuscitado dos mortos, sabemos mais seguramente que a morte (assim como a vida) é parte da mordomia de Cristo. Passar desta vida para a próxima não é uma ação aleatória ditada pela probabilidade estatística. Muito pelo contrário — podemos estabelecer uma fé mais profunda por meio de experiências com a morte, e podemos detectar a glória de Deus expressa no encontro também.

Finalmente, as palavras de Jesus a Marta nesta ocasião, “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” (João 11:25–26), indicam que Jesus tinha poder não apenas para ressuscitar Lázaro dos mortos em um instante, mas também para ressuscitá-lo para a eternidade. Este milagre serve como o ápice do Livro dos Sinais (ver João 2–11) e fornece uma transição adequada para o Livro da Glória (ver João 12–20), onde Cristo venceu a morte para sempre. [25]

 

Conclusão

O Evangelho de João revela a majestade e o poder de Jesus Cristo. O Verbo se fez carne, habitou entre nós e manifestou Sua glória ao mundo. Como acabamos de ver, a primeira metade do Evangelho de João descreve sete grandes milagres realizados por Cristo. Esses capítulos são ocasionalmente chamados de Livro dos Sinais. Esses sete milagres (ou sinais de poder) constituem uma construção geral sobre a qual a primeira metade do livro se baseia. Esses milagres confirmam que Jesus Cristo é um Deus de poder e que Seu ministério foi completo, inteiro e perfeito. Ele pode alterar a substância e tem poder sobre o tempo. Ele não é limitado pela distância geográfica, pode acabar com doenças e dissipar falsas tradições, multiplicar coisas boas, controlar os elementos da natureza, recriar o corpo e trazer os mortos de volta à vida. Esta parte do Evangelho de João descreve claramente a onipotência de Jesus Cristo, que é digno de nossa fé e confiança explícitas.

 

Notas

[1] James Richard Mensch, O Início do Evangelho Segundo São João (Nova Iorque: Peter Lang, 1966), 17–20; ver também FF Bruce, O Evangelho e as Epístolas de João (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1983), 29–30.

[2] Raymond E. Brown, Uma introdução ao Evangelho de João , ed. Francis J. Maloney (Nova York: Doubleday, 2003), 300.

[3] John Ashton, Understanding the Fourth Gospel (Oxford: Clarendon Press, 1991), 279. João 1 é geralmente visto como um capítulo introdutório — um prefácio ao Evangelho, se preferir.

[4] Há oito milagres se considerarmos a calmaria do Mar da Galileia e a movimentação do navio para a costa como eventos completamente separados (ver João 6:21). Expresso minha gratidão a S. Kent Brown, professor de escrituras antigas na Universidade Brigham Young, que, enquanto lecionava no Centro de Estudos do Oriente Próximo de Jerusalém em 1988, me apresentou ao papel que os milagres desempenham na estrutura do Evangelho de João.

[5] De fato, a palavra inglesa miracle é um tanto enganosa, pois a ação associada fazia com que alguém se admirasse com admiração. Esse não era o propósito dos milagres que Jesus realizou. Brown sugere que uma designação melhor seria “sinal” de poder. Simplesmente, o milagre não era uma prova externa da veracidade do ministério de Jesus; em vez disso, era o poder pelo qual o reino foi realmente estabelecido (ver Raymond E. Brown, An Introduction to New Testament Christology [Nova York: Paulist Press, 1994], 63–65; ver também Raymond E. Brown, An Introduction to the New Testament [Nova York: Doubleday, 1997], 339–40n15; James E. Talmage, Jesus the Christ [Salt Lake City: Deseret Book, 1977], 147). Para leitura adicional sobre o público-alvo do Evangelho de João, veja C. Wilford Griggs, “The Testimony of John”, em Studies in Scripture, Vol. 5: The Gospels , ed. Kent P. Jackson e Robert L. Millet (Salt Lake City: Deseret Book, 1986), 111; Bruce R. McConkie, Doctrinal New Testament Commentary (Salt Lake City: Bookcraft, 1987), 1:65; Alexander B. Morrison, “'Plain and Precious Things': The Writing of the New Testament,” em How the New Testament Came to Be , ed. Kent P. Jackson e Frank F. Judd Jr. (Provo, UT e Salt Lake City: Religious Studies Center e Deseret Book, 2006), 5. Além disso, o número sete nos escritos de João sugere completude, totalidade e perfeição. Claro, Jesus realizou mais milagres do que sete. É comumente aceito que o uso de sete milagres por João é um recurso literário que comunica ao seu público que o ministério de Jesus foi completo, completo e perfeito.

[6] Ao oferecer possíveis interpretações do significado dos milagres de Jesus na primeira metade de João, frequentemente uso uma frase como: “Entre outras coisas, este milagre é um sinal de ... ” e então prossigo sugerindo uma maneira de ver o evento. Faço isso porque o escopo deste artigo não me permite explorar múltiplas interpretações, e de forma alguma sugiro que minha interpretação seja final ou abrangente. Cada um dos sete milagres é ricamente imbuído de tipos figurativos e elementos literais que, se tratados minuciosamente, encheriam volumes. Com esse espírito, convido o leitor a usar este artigo como um trampolim para se lançar em estudos mais profundos e abrangentes dos milagres encontrados nesta parte do Evangelho de João.

[7] A referência de Jesus à Sua mãe como “mulher” era um título de respeito para o dia (ver Talmage, Jesus the Christ, 144; ver também Ashton, Understanding the Fourth Gospel, 268–69).

[8] Ver Talmage, Jesus Cristo, 145.

[9] Alfred Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah, Complete and Unabridged in One Volume (Peabody, MA: Hendrickson, 1999), 247–48; veja também Brown, The Gospel and Epistles of John, 29. Antes de participar da comida, os convidados da festa se purificavam ritualmente com água fornecida pelo anfitrião. Isso exigiria muitos potes de água e muita água. Os potes de pedra eram preferíveis aos de cerâmica porque se um pote de cerâmica entrasse em contato com uma pessoa ou substância impura, a lei exigia que ele fosse destruído (veja Levítico 6:24–28; 11:29–30; 15:12). Um vaso de pedra, por outro lado, poderia ser purificado ritualmente e usado novamente. Griggs explica: “Um judeu não deveria orar, adorar ou comer, mesmo em um banquete de casamento público, sem primeiro lavar a sujeira e a corrupção do mundo ao seu redor, e assim surgiu a necessidade de ter uma série de grandes vasos disponíveis para os convidados para esta festa. . . . Em uma festa terrena para uma noiva e um noivo, então, o Noivo Celestial forneceu o vinho necessário e desejado de jarras nas quais a água era colocada para a limpeza e purificação do corpo mortal. Quando sua hora chegasse, no entanto, este Noivo forneceria através do derramamento de seu sangue o vinho da vida eterna e os meios para limpar o ser espiritual. O número sete significa perfeição e completude nos escritos de João (e em outros lugares, com certeza), e alguns sugerem que somente Jesus pode compensar a incompletude ou imperfeição dos seis vasos de água” (Griggs, “Testimony of John,” 113–14; ênfase no original).

[10] Lightfoot explica que o governador da festa era provavelmente um líder religioso que pronunciava bênçãos em festas como a celebração do casamento em Caná. Ele escreve: “A bênção do noivo, recitada todos os dias durante todo o período dos sete dias, além de outras bênçãos durante todo o tempo do festival, necessária sobre uma taça de vinho, . . . (pois sobre uma taça de vinho costumava haver uma bênção pronunciada;) especialmente aquela que era chamada . . . a taça das boas novas, quando a virgindade da noiva é declarada e certificada. Aquele, portanto, que deu a bênção para toda a companhia, presumo, poderia ser chamado . . . o governador da festa. Portanto, é a ele que nosso Salvador dirige o vinho que era feito de água, como aquele que, depois de alguma bênção pronunciada sobre o cálice, deveria primeiro beber dele para toda a companhia, e depois dele os convidados prometendo e participando dele” (John Lightfoot, Commentary on the New Testament from the Talmud and Hebraica [Peabody, MA: Hendrickson, 1997], 3:255; ênfase no original). Além disso, o vinho era emblemático da vida, fertilidade e saúde no mundo antigo. Jesus transformando água em vinho em uma festa de casamento reforça ainda mais essa ideia (veja Griggs, “Testimony of John,” 113; veja também Jo Ann H. Seely, “The Fruit of the Vine: Wine at Masada and in the New Testament,” em Masada and the World of The New Testament, ed. John F. Hall e John W. Welch [Provo, UT: BYU Studies, 1997, 207–27]. Escrituras antigas e escritos apócrifos identificaram a era messiânica como um tempo em que o vinho estaria presente em grandes quantidades. Figurativamente, essa imagem sugere que a abundância física e espiritual é possibilitada pelo Messias (veja Provérbios 9:4–5; Amós 9:13–14; Gênesis 49:10–11; Joel 3:18; 2 Baruque 29:5–8; 1 Enoque 10:17–22).

[11] O Élder Talmage escreveu: “Os milagres não podem estar em contravenção à lei natural, mas são realizados por meio da operação de leis não universalmente ou comumente reconhecidas. . . . Na contemplação dos milagres realizados por Cristo, precisamos necessariamente reconhecer a operação de um poder que transcende nossa atual compreensão humana” (Jesus the Christ, pp. 148–149). Da mesma forma, Joseph Fielding Smith ensinou: “Um milagre não é, como muitos acreditam, deixar de lado ou anular leis naturais. Todo milagre realizado nos dias bíblicos ou agora é feito com base em princípios naturais e em obediência à lei natural. A cura dos doentes, a ressurreição dos mortos, dar visão aos cegos, seja o que for que seja feito pelo poder de Deus, está de acordo com a lei natural. O fato de não entendermos como isso é feito não argumenta a favor da impossibilidade disso. Nosso Pai que está nos céus conhece muitas leis que estão ocultas de nós” (Man: His Origin and Destiny [Salt Lake City: Deseret Book, 1954], 484; ver também Joseph F. Smith, Gospel Doctrine [Salt Lake City: Deseret Book, 1986], 86).

[12] Uma manifestação semelhante de poder é evidente na multiplicação do pão (ver João 6:11). Jesus não plantou sementes, regou, fertilizou, colheu, debulhou, moeu o grão para fazer farinha, misturou a massa, deixou-a crescer e cozinhou a massa para fornecer pão para milhares. Ele foi capaz de contornar esse longo processo e produzir pão imediatamente. De uma forma que não entendemos, Ele tem poder sobre o tempo (ver Robert J. Matthews, Behold the Messiah [Salt Lake City: Bookcraft, 1994], 131). Em uma linha relacionada, Jesus Cristo também pode esculpir cânions profundos na superfície da Terra ou criar belas praias de areia fina sem a passagem de milhões ou bilhões de anos que muitos cientistas recomendam serem essenciais para criar tais formações geográficas. Brigham Young ensinou: “Os geólogos nos dirão que a Terra permaneceu de pé por tantos milhões de anos. Por quê? Porque o Vale do Mississipi não poderia ter sido lavado em tantos anos, ou em tanto tempo. O Vale do Colorado Ocidental, aqui, não poderia ter sido lavado sem levar tanto tempo. O que eles sabem sobre isso? Nada em comparação. Eles também raciocinam sobre a idade do mundo pelos maravilhosos espécimes de petrificação que às vezes são descobertos. . . . Quanto tempo levou para transformar esta árvore em rocha? Não sabemos. Posso dizer a eles, simplesmente isto . . . [Jesus pode] transformar uma árvore em rocha em uma noite ou um dia, se ele escolher, ou ele pode deixá-la lá até que ela se pulverize e sopre aos quatro ventos” (em Journal of Discourses [Liverpool: Latter-day Saints' Book Depot, 1873], 15:126). Finalmente, os exemplos acima (vinho, pão, formações geológicas) ilustram o poder de Jesus para agilizar processos que normalmente levam tempo. Deve-se notar que Ele também possui poder para parar o tempo ou até mesmo voltar o tempo. O sol parado no vale de Ajalon para garantir a vitória de Israel sobre os amorreus (veja Josué 10) e fazendo com que o relógio de sol voltasse dez graus como um sinal de que a vida de Ezequias seria prolongada por quinze anos (veja 2 Reis 20; Isaías 38) são dois exemplos que ilustram esse poder (veja também Helamã 12:8–15). Talvez esse poder tenha sido empregado por Jesus quando ele ressuscitou Lázaro dos mortos — os quatro dias em que seu corpo morto ficou no túmulo deveriam ter resultado em alguma decomposição, mas não aconteceu — os efeitos normais do tempo na mortalidade, como os entendemos, não tiveram impacto em seus restos físicos. O tempo possivelmente parou ou voltou em conjunto com esse milagre.

[13] A nobreza atribuída a este homem provavelmente deriva de um apego à comitiva do rei Herodes Antipus — tetrarca da Galileia de 4 a.C. a 39 d.C. (ver Bruce, Gospel and Epistles of John, 117; Talmage, Jesus the Christ, 177).

[14] Talmage, Jesus the Christ, 178; veja também Bruce, Gospel and Epistles of John, 118–19. Jesus curou o filho do nobre na sétima hora do dia (veja João 4:52). Os judeus contavam seu dia começando às 6:00 da manhã. A sétima hora, então, seria 1:00 da tarde. Isso teria dado ao nobre tempo suficiente para viajar de Caná a Cafarnaum naquele dia para confirmar a validade das palavras de Jesus. Sua fé estava segura, no entanto, e ele não correu para casa. Em vez disso, ele foi recebido por seus servos mais de vinte e quatro horas depois e soube com certeza que seu filho havia sido curado pelo poder de Jesus Cristo (veja João 4:51–53).

[15] John McRay, Arqueologia e o Novo Testamento (Grand Rapids, MI: Baker, 1991), 186–88; ver também Jerome Murphy-O'Connor, A Terra Santa (Oxford: Oxford University Press, 1998), 28–30.

[16] Bruce, Evangelho e Epístolas de João, 125; ver também Talmage, Jesus o Cristo, 215–16.

[17] Ver Bruce, Evangelho e Epístolas de João, 126–27.

[18] Magdala, na costa oeste do Mar da Galileia, era uma importante vila de pescadores e exportava peixe curado em sal para toda a região. O nome grego era “Tarichae”, que significa peixe salgado (ver Yohanan Aharoni e Michael Avi-Yonah, The Macmillan Bible Atlas [Nova York: Macmillan, 1977], 231–33).

[19] Paul N. Anderson, A Cristologia do Quarto Evangelho (Valley Forge, PA: Trinity Press, 1996), 180–83.

[20] Brown, O Evangelho e as Epístolas de João, 55–58.

[21] Ver Ernst Jenni e Claus Westermann, Léxico Teológico do Antigo Testamento, trad. Mark E. Biddle (Peabody, MA: Hendrickson, 1997), 3:1330–34.

[22] Edersheim, Life and Times, 699; veja também Frederic W. Farrar, The Life of Christ (Salt Lake City: Bookcraft, 1994), 480; D. Kelly Ogden e Andrew C. Skinner, Verse by Verse the Four Gospels (Salt Lake City: Deseret Book, 2006), 452; Jo Ann H. Seely, “From Betany to Gethsemane”, em From the Last Supper through the Resurrection: The Savior's Final Hours, ed. Richard Neitzel Holzapfel e Thomas A. Wayment (Salt Lake City: Deseret Book, 2003), 42.

[23] Brown, The Gospel and Epistles of John, 65. Sobre as mortalhas de Jesus, o Élder McConkie escreveu: “Que imagem João nos deixou deste momento único na história. O medo enche os corações de Pedro e João; homens perversos devem ter roubado o corpo de seu Senhor. Eles correm para o túmulo. João, mais jovem e mais rápido, chega primeiro, abaixa-se, olha para dentro, mas não entra, hesitando, por assim dizer, em profanar o local sagrado, mesmo com sua presença. Mas Pedro, impetuoso, ousado, um líder dinâmico, um apóstolo que empunhou a espada contra Malco e se posicionou como porta-voz de todos eles ao prestar testemunho, corre para dentro. João segue. Juntos, eles veem as mortalhas-tecidos-tecidos que não foram desembrulhados, mas através dos quais um corpo ressuscitado passou. E então, sobre João, reflexivo e místico por natureza, a realidade surge primeiro. É verdade! Eles não sabiam antes; agora sabem. É o terceiro dia! Cristo ressuscitou!” (Comentário Doutrinário do Novo Testamento, 1:841–42).

[24] Robert Kysar, “John, The Gospel Of,” em Anchor Bible Dictionary, ed. David Noel Freedman, (Nova York: Doubleday, 1992), 917; veja também Brown, Gospel and Epistles of John, 64.

[25] James D. Purvis, “O Quarto Evangelho e os Samaritanos”, em The Composition of John's Gospel, comp. David E. Orton (Boston: Brill, 1999), 183–84.

 CARACTERISTICAS NO EVANGELHO DE JOÃO

Um pescador que virou apóstolo escreveu um livro que perdurará por todos os tempos. É talvez o mais conhecido dos quatro evangelhos, pois revela o amor do Pai e o poder milagroso de Jesus. Ler o evangelho de João é como passar pelo véu rasgado e entrar no Santo dos Santos! Onde estaríamos sem o evangelho de João? O Novo Testamento seria um tanto limitado sem a mensagem nova e vibrante que João traz ao mundo.

O Evangelho de João é todo sobre esse lindo Cristo. João nos conta por que ele escreveu esse livro incrível:

Jesus continuou a fazer muitos outros sinais milagrosos na presença de seus discípulos, que nem estão incluídos neste livro. Mas tudo o que está escrito aqui é dado a você para que você creia plenamente que Jesus é o Ungido, o Filho de Deus, e pela fé nele você experimentará a vida eterna pelo poder de seu nome!

João 20:30–31

Um milagre é uma obra sobrenatural de Deus, gerada com poder divino e carregando um propósito divino.

Milagres estão por toda parte no evangelho de João! Água se tornou vinho. Olhos cegos foram abençoados com a visão. Até os mortos ressuscitaram para andar novamente quando Jesus viveu entre os homens. Cada milagre é um sinal que nos faz pensar sobre quem esse homem realmente é. O livro de João nos traz uma perspectiva celestial repleta de revelações maravilhosas em cada versículo. Nada na Bíblia pode ser comparado aos escritos de João. Ele foi um profeta, um vidente, um amante, um evangelista, um autor, um apóstolo e um filho do trovão. Os outros três evangelhos nos dão a história de Cristo, mas João escreve para desvendar o mistério de Cristo. Jesus é visto como o Cordeiro de Deus, o Bom Pastor, o Bondoso Perdoador, o Terno Curador, o Compassivo Intercessor e o Grande Eu Sou. Quem pode resistir a esse homem quando ele puxa seu coração para ir até ele? Ler o evangelho de João é encontrar Jesus. Faça disso seu objetivo enquanto você lê.

A maioria dos estudiosos acredita que João escreveu este evangelho por volta de 85–90 d.C.; no entanto, os Manuscritos do Mar Morto sugerem uma data anterior, já em 50–55 d.C., já que alguns dos versículos encontrados nos Manuscritos do Mar Morto são quase idênticos aos versículos encontrados no evangelho de João. A data anterior, embora contestada por alguns, parece ser mais provável. Por que João esperaria para escrever e compartilhar as boas novas de Jesus? Parece óbvio que João escreveu seu evangelho antes de 66 d.C., quando a guerra romana com os judeus começou, pois ele menciona o Templo como ainda de pé e a piscina, que “tem” (não “tinha”) cinco pórticos. Tudo isso foi destruído durante a guerra romana de 67–70 d.C.

João foi chamado para seguir Jesus enquanto ele consertava uma rede, o que parece apontar para o foco de seu ministério. A mensagem de João “conserta” os corações dos homens e traz cura ao Corpo de Cristo por meio da revelação que ele nos traz.

Há uma possibilidade interessante de que tanto Tiago quanto João (filhos de Zebedeu) eram, na verdade, primos de Jesus. Comparando Mateus 27:56 com Marcos 15:40, aprendemos que a esposa de Zebedeu era Salomé. E acreditava-se que Salomé era a irmã mais nova de Maria, a mãe de nosso Senhor Jesus, o que tornaria seus filhos, Tiago e João, primos de Jesus.

Doze razões pelas quais o Evangelho de João é único:

João tem um Prólogo (1:1–18) e um Epílogo (21:1–25).

O prólogo foi escrito para estabelecer uma base teológica para o resto do livro, para descrever quem é Jesus Cristo e o que ele fez. O prólogo nos leva de volta à eternidade e destaca todos os principais temas que você encontrará ao ler João. O epílogo revela que o evangelho de João não inclui tudo o que Jesus fez ou ensinou.

João revela a natureza celestial e a glória de Jesus Cristo como nenhum outro evangelho. Jesus é a explicação de Deus. Ele é a Expressão Viva de Deus (Logos).

O Evangelho de João é bastante simples em sua linguagem, mas muito profundo em seu significado.

João destaca sete sinais milagrosos. A ressurreição de Cristo seria o oitavo.

Há milagres que são exclusivos de João (transformar água em vinho, curar o filho do nobre, curar o homem em Betesda, abrir os olhos do cego, ressuscitar Lázaro dos mortos, a segunda pesca milagrosa de Pedro).

João nunca descreve fé como um substantivo. Ele nunca usa as palavras “fé” ou “crença”, é sempre um verbo, “crer/acreditar”. Não um conceito, mas uma ação. “Crer” é encontrado cem vezes em João. “Ver” também é encontrado cem vezes em João.

João alterna a descrição do ministério de Jesus em público e em privado. Em seu ministério público, você o vê em três festas: Páscoa, Tabernáculos, Festa das Luzes/Dedicação, depois de volta à Páscoa. Os outros três evangelhos enfatizam o ministério galileu, João enfatiza seu ministério judeu.

O quarto evangelho corresponde à quarta criatura vivente — a águia voadora! E ao quarto homem no fogo (Daniel 3:25). Foi no quarto dia que Deus fez o sol e disse que ele governaria o céu e daria luz (Gênesis 1:17).

Os evangelhos sinóticos nos contam a história de Jesus Cristo, o quarto evangelho nos conta o mistério de Jesus Cristo.

João registra a purificação do Templo no começo, os outros três evangelhos a têm no fim. A ruptura entre Jesus e os líderes judeus está no começo do evangelho de João, os outros três a têm no fim.

João omite certos detalhes mencionados nos evangelhos sinóticos: a oração de Jesus no Getsêmani, a Transfiguração e a Ascensão.

João usa a palavra “amor” cinquenta e seis vezes!

Sete sinais milagrosos destacados em João:

Esses não são todos os milagres de Jesus, nem todos os milagres do Evangelho de João, mas são sete sinais milagrosos que tinham como objetivo persuadir os leitores de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e que eles devem crer nele para serem salvos.

Água transformada em vinho (2:1–11)

Cura do filho do oficial real (4:46–54)

Cura do paralítico de Betesda (5:1–15)

Alimentando as multidões (6:5–14)

Andando sobre as águas (6:16–24)

Curando o homem cego de nascença (9:1–7)

Ressuscitando Lázaro dos mortos (11:1–45)

A ressurreição de Jesus seria o oitavo sinal, mostrando-nos que a Nova Aliança começou. Os sete milagres de João completariam os sete dias da velha criação e a ressurreição de Jesus nos leva a um novo começo.

Sete reivindicações messiânicas (“EU SOU”) em João:

EU SOU o Pão da Vida

EU SOU a Luz do Mundo (falado na Festa das Luzes quando ele cura o cego)

EU SOU o Portão (Porta)

EU SOU o Bom Pastor

EU SOU a Ressurreição e a Vida

EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida

EU SOU a Videira Verdadeira

Sete nomes para Cristo no Capítulo 1, falados por seus discípulos:

Cordeiro de Deus

Rabino (mestre professor)

Messias (Ungido)

Jesus de Nazaré

Filho de Deus

Rei de Israel

Filho do Homem

Conclusão:

Por 2.000 anos, o evangelho de João trouxe vida, amor e fé ao mundo. Bilhões de pessoas em todo o mundo ouviram falar de João 3:16. É talvez a apresentação mais clara das Boas Novas de Jesus Cristo encontrada em toda a Bíblia.

Pois Deus amou o mundo tanto: deu o seu Filho unigênito, único, como presente. Agora, todo aquele que nele crê não perecerá jamais, mas experimentará a vida eterna.

João 3:16

João foi o primeiro livro da Bíblia que eu li. Eu o devorei em um dia. Eu me peguei chorando quando cheguei ao Capítulo 19. Foi um bom dia. Você pode querer tirar alguns minutos agora e ler João 19. Eu sei que Deus tocará seu coração.

Que Deus o abençoe enquanto você lê a Palavra de Deus, e não se esqueça de passar algum tempo no evangelho do amor — João!