quarta-feira, 11 de julho de 2018


10 CARACTERÍSTICAS DA TEOLOGIA LIBERAL

Nos últimos dois séculos, a maior ameaça contra o cristianismo bíblico não surgiu das principais religiões de outros países, como o islamismo, o budismo, mas dentro da própria Igreja. É o perigo da teologia liberal, que, fingindo ser cristã, nega praticamente tudo o que a Palavra de Deus ensina.
A teologia liberal esvaziou uma grande parte das igrejas protestantes na Europa ao longo dos séculos XIX e XX e agora está fazendo exatamente o mesmo em países como os Estados Unidos. Se os pastores não estão preparados nem enraizada nas grandes verdades da Escritura, estamos em perigo de permitir que esta teologia pervertida e desviar o que o Senhor está fazendo em nossa geração, especialmente no mundo hispânico.
Então, aqui estão 10 características da teologia liberal e dos teólogos liberais, para que possamos entender melhor esse perigo e como nos proteger dele.

1. A teologia liberal não acredita na infalibilidade bíblica.

O ponto de partida para a teologia liberal não é a voz do Senhor revelada nas Escrituras, mas a razão humana. Por essa razão, os liberais sacrificam qualquer ensinamento que não corresponda ao seu raciocínio. Essa observação explica a razão pela qual o alemão Rudolf Bultmann (1884-1976) propôs seu método de "desmitologização", pelo qual ele negou todos os milagres registrados na Bíblia em nome da racionalidade moderna. Nas palavras de Bultmann: "Você não pode usar luz elétrica e rádio, usar remédios e meios clínicos modernos em casos de doença e, ao mesmo tempo, acreditar no mundo dos espíritos e dos milagres do Novo Testamento". Para o liberal, em primeiro lugar existe a razão e depois a revelação de Deus. O evangélico, no entanto, inverte esta ordem, isto é, primeiro a revelação.

2. A teologia liberal não enfatiza a doutrina.

A teologia liberal critica o uso de credos, confissões de fé e catecismos, já que esses documentos tomam como certa a importância da doutrina. O objetivo do liberal é ter uma "mente aberta" e, portanto, ataca qualquer sistema que viole sua liberdade intelectual. Desde que a verdade não pode ser transmitida através de palavras, o liberal raciocina que ele pode acreditar no que ele quer. A doutrina, dizem eles, é para os "fundamentalistas" ou "aqueles que pertencem à Idade da Pedra". Os liberais não gostam das declarações doutrinárias usadas nas Escrituras ( 1 Coríntios 15: 3-5 , 1 Tim 3:16 , etc.)

3. A teologia liberal se concentra na experiência.

Como a doutrina não importa, os liberais priorizam a "experiência" de Deus. O pai da teologia liberal, Friedrich Schleiermacher (1768-1834), definiu a teologia como o sentimento de nossa "dependência absoluta de Deus". Em um nível prático, isso significa que, em vez de começar com a revelação de Deus de acordo com as Escrituras, Schleiermacher começou com a subjetividade da experiência humana. A coisa mais importante na teologia, então, não é falar de Deus, mas sim da nossa experiência Dele (ou dela). As conseqüências de tal sistema liberal foram desastrosas. Schleiermacher negado praticamente todas as doutrinas fundamentais do cristianismo (a Trindade, as duas naturezas de Cristo, a obra expiatória do Filho de Deus, a condenação eterna para os ímpios, etc.) e depois de tudo, se tornou a teologia na antropologia. Em vez de submeter suas experiências às Escrituras, ele sujeitou as Escrituras à sua experiência. Não admira que alguns tenham chamado Schleiermacher de "Judas Iscariotes" dos séculos XVIII e XIX.

4. A teologia liberal só acredita em um Deus de amor.

O único atributo de Deus que os liberais mencionam no púlpito e em seus círculos acadêmicos é o amor de Deus. Não há conversa sobre Sua santidade, Sua justiça e Sua ira contra os iníquos. Eles criaram outro deus de acordo com sua imagem e semelhança. Por essa razão, os liberais nunca pregam sobre o pecado ou o perigo da condenação eterna. Eles dizem que somos todos bons. Somos todos filhos de Deus. Nós todos vamos para o céu. Por quê? Porque Deus é amor, amor e amor.

5. A teologia liberal não prega o evangelho apostólico.

Se Deus é amor e todos nós vamos para o Céu, então que necessidade há de pregar o evangelho? De acordo com o liberal, o evangelho não tem nada a ver com a vida eterna ou com o perdão dos pecados, mas sim com a liberação sócio-política ou com o progresso econômico. Deus não está zangado com os pecadores; portanto, o evangelho apostólico que enfoca o sangue do Cordeiro de Deus derramado para redimir e fazer propiciação para o povo de Deus é abertamente negado ( Rm 3: 24-26).). Esta mensagem, de acordo com o liberalismo, é "arcaica" e ultrapassada. Dado o fato de que o evangelho bíblico não é pregado nos púlpitos liberais, seus ministros limitam-se a falar sobre ética e moralidade. "Você tem que ser uma boa pessoa", "Você tem que ajudar os necessitados", "Você tem que ser amigo de todos", "Você tem que tolerar tudo". É uma teologia humanista que não se baseia na graça salvadora do Deus trino.

6. A teologia liberal faz de Jesus um simples homem.

Os liberais não acreditam na divindade de Jesus. Eles argumentam que ele era um homem inspirado e iluminado por Deus; mas de modo algum Deus foi manifestado na carne ( João 1:14 ). Consequentemente, os liberais, por um lado, negam que a crucificação do Filho de Deus foi uma obra expiatória no sentido de que Cristo deu a vida pelos nossos pecados; e por outro lado, eles negam que Jesus literalmente ressuscitou no terceiro dia. De acordo com os teólogos liberais, Jesus ressuscitou nos corações dos discípulos; mas ele não ressuscitou corporal ou historicamente. Isto contradiz expressamente a declaração apostólica: "Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é vã, a vossa fé é também fútil" ( 1 Coríntios 15:14).). Quanto à questão da expiação, o liberalismo estipula que Jesus morreu para nos dar um exemplo ético a seguir. Ele não estava efetuando a salvação dos escolhidos do Pai na cruz. Porque não? Porque ele era um mero homem: nada mais, nada menos.

7. A teologia liberal promove o movimento ecumênico.

Em nossos dias, muitos liberais estão atacando os evangélicos conservadores porque eles não se juntam ao movimento ecumênico. O ecumenismo está centrado na unidade eclesiástica a todo custo. Para fazer parte da corrente, tudo o que é necessário é confessar algum tipo de "experiência religiosa". No entanto, a fé evangélica - como explicou o amado príncipe dos pregadores Charles Spurgeon (1834-92) - acredita na unidade baseada na doutrina do Evangelho de Cristo. Uma unidade não baseada na Palavra de Deus é falsa. "Unidade em erro ...", disse o pregador inglês, "... é unidade na perdição". No momento em que alguém se junta ao movimento ecumênico, a primeira coisa que você tem a fazer é esquecer todas as suas convicções bíblicas e prostituir-se por causa de uma unidade falsificado, não bíblica, e não evangélica.

8. A teologia liberal elogia outras religiões.

Desde a fundação da teologia liberal é a razão juntamente com os seres humanos, sua experiência e seu desejo de ecumenismo, nas últimas décadas, o liberalismo foi aberto ao diálogo inter-religioso, exaltando as virtudes das religiões do mundo.

9. A teologia liberal não acredita na exclusividade da salvação em Jesus Cristo.

A razão teológica pela qual os liberais se abrem ao movimento ecumênico e ao culto inter-religioso é porque eles não acreditam mais na exclusividade da salvação em Jesus Cristo. De acordo com seu sistema filosófico, o apóstolo Pedro estava errado quando ele pregou: "Em nenhum outro lugar é há salvação, porque não é nenhum outro nome debaixo do céu dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos" ( Atos 4:12.). Se Deus é apenas um Deus de amor, então a doutrina do castigo eterno deve necessariamente ser falsa. Consequentemente, os liberais - quando não satisfeitos com a obra impecável de Jesus Cristo realizada de acordo com o evangelho - procuram coisas louváveis ​​nas outras religiões que, em última instância, escravizam o ser humano. Por não acreditar que somente Cristo salva, os teólogos liberais inventam sua própria religião. Nas palavras de Paulo: "Porque desconsideraram a justiça de Deus e procuraram estabelecer a sua própria, e não se submeteram à justiça de Deus" ( Romanos 10: 3 ).

10. A teologia liberal não acredita em nada ofensivo ao homem natural.

Em suas exposições sobre o Sermão da Montanha, Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) dedicou tempo para instruir sua congregação em Londres sobre o perigo dos falsos profetas. Baseado em Mateus 7:15- "Cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes" - o pregador enfatizou que a primeira característica de ministro falso é que ele tem "porta estreita" sobre ele. Com isto ele quis dizer que no teólogo liberal, não há nada que ofenda o homem natural. É o tipo de mensageiro que agrada a todos, para que todos falem bem dele. Não tem inimigos. Ninguém o persegue por seus sermões. Ele sabe como se comportar em qualquer contexto e "tudo é feito para todos". É carismático, dinâmico, popular, agradável aos olhos e ao ouvido. Em suma, "muito reconfortante, muito reconfortante; o falso profeta é sempre assim, em seu vestido de ovelha; sempre inofensivo e agradável, sempre invariavelmente atraente ".

quarta-feira, 4 de julho de 2018


A DESMITOLOGIZAÇÃO DE RUDOLF BULTMANN: ANÁLISE E CRÍTICA

INTRODUÇÃO
Dentre suas diversas ideias teológicas de Bultmann é mais popularmente conhecido por sua proposta a “desmitologização” do Novo Testamento. Para este teólogo alemão, os eventos narrados no Novo Testamento estão marcados por narrativas sobrenaturais, que os mesmos não devem ser reconhecidos com créditos, mas antes deveriam ser lidos e interpretados à luz da mitologia da perspectivas do pensamento oriental da época.
Os milagres e eventos sobrenaturais, portanto, não deveriam ser entendidos como eventos históricos, mas sim como histórias mitológicas que devem ser eliminadas a fim de chegarmos às verdades que estariam inseridas por detrás delas. Pois para Bultmann o homem moderno, devido ao ambiente avançado pela tecnologia e da sua capacidade de desvendar e desconstruir o que era mistério pelos supersticiosos antigos, proporcionado pela ciência, de não aceitar mais linguagens mitológicas. Pois para o homem/mulher secularizado os elementos mitológicos das escrituras, fruto de uma cultura passada há quase dois mil e quinhentos anos não fazem nenhum sentido.
 Daí o nome “desmitologização”. Neste processo houve quem apoiasse, e acompanhasse a proposta de Bultmann, mas também não deixou de haver aqueles que não concordaram com sus proposta, podendo ver tanto na ala liberal, e principalmente no centro dos conservadores teológicos. Vale destacar que os excessos da teologia liberal provocaram a reação do mais conservadores da Igreja, os quais viam na postura liberal, um desleixo e superposição do homem, em detrimento da santa doutrina dos pais apostólicos, perdendo assim o controle sobre a Igreja e colocando de lado a tradição. A leitura literal das Escrituras sem o seu devido processo de atualização é comprovadamente desastrosa.
Embora o processo de demitologização possa parecer mais uma ferramenta anacrônica da teologia liberal, com certeza interessa àqueles que buscam uma religiosidade mais consistente ao seu entendimento do que a falsos profetas e seus sinais. Bultmann apresenta o conceito de sacrificium intellectus: o esforço do homem de hoje para aceitar a concepção mítica neotestamentária
Seguindo seus conceitos exegéticos, Rudolf Bultmann tenta eliminar os pressupostos culturais do Novo Testamento a fim de obter a mensagem salvífica de forma inteligível ao homem moderno. Esta tarefa de releitura existencial do texto bíblico é apresentada como o programa de demitologização. Mas ambos reconhecem inúmeras outras contribuições deixada pela Desmitologização de Bultmann.
Devido sua teologia perpassar o tempo, ela chega a uma nova crise, por sua proposta excessivamente objetiva, o ambiente pós-moderno valoriza os contornos subjetivos. Bultmann com sua teologia existencialista consegue neste meandro  ir superando e se atualizando a este ambiente novo no cenário do pensamento.
Através de uma metodologia analítica de sua bibliografia traduzida para a língua portuguesa, procura-se destacar alguns princípios de sua proposta, e igualmente observamos aqueles que a refutam e a desconsideram.

1. A FORMAÇÃO DE RUDOLF BULTMANN
1.1. A INFLUÊNCIA PESSOAL NA VIDA DE BULTMANN
Rudolf Karl Bultmann (1884-1976) nasceu no dia 20 de agosto em Wiefelstede, no que era conhecido como o grão-ducado de Oldenburg. Seu pai, Arthur Bultmann, era um pastor evangélico-luterano, seu avô paterno, um missionário na África, e seu avô materno, um pastor da tradição pietista. Assim, o jovem Rudolf veio de uma linhagem familiar fortemente investida no meio teológico de seu tempo. O gradual movimento dessa família em direção ao liberalismo protestante - especialmente por parte de seu pai - provaria ter um impacto significativo sobre esse jovem futuro teólogo.
1.2. A FORMAÇÃO ACADÊMICA DE BULTMANN
A educação de Rudolf começou no Ginásio humanista em Oldenburg; Aliás, ele estudou ao lado do futuro filósofo Karl Jaspers, que estava apenas alguns anos à frente do jovem Bultmann. Após sua graduação, ele estudou teologia nas Universidades de Tübingen, Berlim e Marburg, respectivamente. É importante notar que todas essas três instituições estavam fortemente comprometidas com a teologia liberal. Sua maior influência veio de Marburg, incluindo o teólogo sistemático e liberal Wilhelm Hermann e os estudiosos neotestamentários Johannes Weiss e Wilhelm Heitmüller da escola de história das religiões.[1]
Bultmann recebeu seu doutorado em 1910 de Marburg e, dois anos depois, qualificou-se como instrutor. Em 1916, ele aceitou um cargo de professor assistente em Breslau, onde se casou e teve duas filhas. Quatro anos depois, ele foi para Giessen para ser professor titular. Apenas um ano depois, no entanto, ele retornou a Marburg, onde ele aceitou sua última cátedra, sucedendo Heitmüller como a cadeira do Novo Testamento. Entre os colegas que Bultmann havia Rudolph Otto (que sucedeu Hermann) e Martin Heidegger (que esteve em Marburg de 1922-1928). Além disso, Karl Barth e Friedrich Gogarten lecionaram em Marburg. Todos os quatro influenciariam a teologia subsequente de Bultmann, cada um à sua maneira.
Rudolf Bultmann é um dos teólogos mais influentes e estudiosos bíblicos do século XX[2]. Conhecido por suas contribuições eruditas para ambas as disciplinas, ele sintetizou seus amplos esforços em uma visão teológica unificada e provocativa. Ele é talvez mais lembrado por seu chamado para desmitificar o Novo Testamento, para que o Evangelho cristão possa ser, segundo sua teologia, de suas aparências mitológicas.
Mondin relaciona as principais obras de Bultmann, em 1921, publicou uma de suas obras mais significativas, a célebre Die Geschichte der Synoptischen Tradition (História da Tradição Sinótica); Em 1926, publicou um livreto intitulado Jesus, em que apresentava a mensagem de Jesus em termos existencialistas. Em 1941, Bultmann publicou Neues Testament und Mythologie (Novo Testamento e Mitologia), o célebre ensaio em que lançou o famoso programa de demitização do Novo Testamento.[3]

2. OS PRINCIPAIS PENSAMENTOS DE RUDOLF BULTMANN
2.1. KERYGMA COMO FONTE DA FÉ
A teologia de Bultmann[4] é a união filosófica existencialista de Heidegger, alguns ainda acrescentariam de Sören Kierkegaard[5], com a teologia luterana da cruz de Cristo, conforme explica Mondin "O fato de recolher donativos junto com o sacristão, depois da homilia aos domingos, também confirma como a especulação filosófica nunca se separou da vida religiosa concreta em Butlmann"[6]. Ele viu esse evento não como um evento primordialmente histórico, mas como um evento existencial. A vida e a morte de Cristo, proclamadas no kerygma, formam o catalisador da crise existencial que reconcilia a humanidade com Deus. O kerygma sobrevive, portanto, independentemente da questão histórica de Jesus e das próprias reivindicações do messianism de Jesus.[7] De fato, Bultmann sentia que a fé cristã não existia até que o kerygma fosse formado (ie, o kerygma proclamando Jesus Cristo, o Crucificado e Ressuscitado, para ser o ato escatológico de salvação de Deus), uma realização que Bultmann cede amplamente aos desenvolvimentos teológicos, do apóstolo Paulo.
Segundo Bultmann, podemos conhecer a revelação somente através da mediação da linguagem. A linguagem, por sua vez, é afetada pelas formas culturais nas quais ela surge. Portanto, a fim de compreender o kerygma da igreja primitiva, deve-se examinar as condições existenciais dominantes na cultura de origem da igreja.[8]
Assim, em sua busca pelo kerygma do cristianismo, Bultmann examinou, além do cristianismo, religiões helenísticas contemporâneas como o judaísmo apocalíptico, o culto astral e o gnosticismo (para citar alguns). Ele observou que cada um deles contava histórias míticas sobre batalhas cósmicas entre as forças do mal e do bem. As notáveis ​​semelhanças entre essas histórias levaram Bultmann a concluir que o próprio cristianismo era "um notável produto do sincretismo" (BULTMANN 2004,p.40) . Ou seja, a mentalidade mitológica tão comum entre as outras religiões nos dois primeiros séculos, sem dúvida, impactou a mentalidade do cristianismo de tal forma que sua própria mentalidade era comparativamente mitológica. Portanto, Bultmann achava que não era surpresa ver as origens do kerygma imbuído dessas formas mitológicas de pensamento.
Mas, apesar das muitas semelhanças entre o cristianismo e as outras religiões helenísticas - particularmente o gnosticismo -, Bultmann argumentou que o núcleo teológico do próprio kerygma era único do cristianismo e, de fato, independente de qualquer cosmovisão mitológica. Esse núcleo era a proclamação de que Deus, como o que é a base do "mundo" de qualquer pessoa, havia enviado Jesus para levar a humanidade à consciência de sua própria finitude e, portanto, à dependência de Deus.
Finalmente, o kerygma, como a igreja o recebe, está enterrado na estrutura mitológica de suas raízes. No entanto, apesar de sua estreita conexão com a Palavra no Novo Testamento, o kerygma não pode ser confinado a qualquer fórmula sagrada do passado. Como mencionado acima, o kerygma se torna a palavra libertadora de Deus somente quando é ouvido, somente quando confronta as pessoas em sua situação concreta e exige uma decisão. Assim, o kerygma nunca pode ser consertado porque está sempre se estendendo a novas pessoas e, portanto, sua linguagem sempre refletirá os contextos mutáveis ​​das pessoas que o ouvem. Este problema foi particularmente preocupante para Bultmann e, portanto, receberá atenção detalhada abaixo.

2.2 A NECESSIDADE DA DESMITOLOGIZAÇÃO
Bultmann primeiro propôs o conceito de desmitologizar o Novo Testamento em uma palestra de 1941, publicada como o ensaio "Novo Testamento e Mitologia"[9]. O ensaio provocou uma controvérsia acalorada na Alemanha. O alvoroço em torno da desmitologização era irônico porque o programa não apresentava ideias que não estivessem contidas nos trabalhos anteriores de Bultmann. De fato, "desmitificar" era novo em sua teologia apenas como uma palavra. Mas o projeto em si foi importante porque permitiu-lhe sintetizar vários temas de sua teologia em uma abordagem teológica. O objetivo de desmitificar o Novo Testamento era exatamente como a palavra sugere: a remoção da mitologia do kerygma cristão. É na análise de exatamente o que Bultmann considerou mitologia que vemos seus antigos temas aparecendo.
Para Bultmann, o “conteúdo real” ( sache ) da proclamação do evangelho sobre Jesus está intimamente ligado às cosmologias pré-científicas do antigo mundo judaico e grego. Por exemplo, diz-se que Jesus subiu ao céu porque foi pensado para se sentar, literalmente, acima da terra. Bultmann argumenta que não se pode esperar que o cristão moderno leve esse mundo mítico a sério, e assim “não há nada a fazer senão desmitologizá-lo” [10]. Desmitologizar não era uma ideia nova na erudição teológica alemã. Os liberais protestantes da Alemanha do século XIX haviam oferecido uma crítica semelhante, embora na opinião de Bultmann eles tivessem falhado. Na tentativa de limpar o Novo Testamento do pensamento ultrapassado, eles eliminaram o kerygma, uma palavra grega que Bultmann identifica com “a mensagem do ato decisivo de Deus em Cristo” (Bultmann 1999, 12).
Bultmann argumentou que a desmitologização não significa a eliminação de todas as histórias mitológicas do Novo Testamento. Pelo contrário, é um método de interpretação que reconhece a mitologia e rejeita qualquer tentativa de atribuir um significado final a ela. Como tal, a desmitologização é apenas o passo negativo de um método de interpretação mais abrangente que Bultmann havia proposto por muitos anos antes de introduzir a palavra "desmitologizar", a interpretação existencialista das escrituras. Por exemplo, retornando ao exemplo da escatologia de Jesus, Bultmann desmistifica a escatologia de Jesus para que sua análise existencialista possa descobrir seu verdadeiro significado e significado. Para Bultmann,
Em segundo lugar, Bultmann via a mitologia como um modo particular de pensar sobre Deus. A mitologia usa conceitos e imagens objetivas para entender o que transcende o mundo. Assim, a mitologia fala de Deus em termos de espaço (céu) e tempo (escatologia), quando na verdade essas categorias só podem distorcer a realidade de Deus. Nesse sentido, o pensamento mitológico não se limita a um certo tempo na história, mas é prevalente em todas as épocas, desde os cristãos antigos até o protestantismo liberal. Ao mesmo tempo, Bultmann pode falar sobre a desmitologização de Paulo, apesar de sua visão de mundo mitológica porque Paulo desobjetivou uma compreensão prévia de Deus. Entendida desta maneira, a desmitologização é uma rejeição do pensamento objetivador sobre Deus e de qualquer filosofia que não reconheceria Deus como totalmente Outro.
Para Bultmann, a filosofia que melhor entende a existência humana é o existencialismo do filósofo alemão Martin Heidegger. Bultmann rejeita a acusação de que ele está traduzindo o kerygma em uma estrutura filosófica alienígena, a demitologização procura atualizar a mensagem bíblica de não perder o seu sentido original. É uma tarefa, que requer uma hermenêutica adaptada com lentes focadas no pensamento e vivência do século XXI.
Considere alguns exemplos de desmitologização. Bultmann rejeita qualquer relato sobrenatural do pecado original de Adão e, ao invés disso, localiza o pecado na recusa humana em aceitar o dom da existência autêntica. Da mesma forma, viver a vida “de acordo com o Espírito” não se refere a nenhuma influência sobrenatural, mas descreve “uma vida humana genuína” que vive “do que é invisível e não descartável e, portanto, entrega toda segurança auto-planejada” (BULTMANN, 1999, 132). O julgamento de Deus ao qual a Escritura se refere, “não é um evento cósmico que ainda está para acontecer, mas é o fato de que Jesus veio ao mundo e fez o chamado para a fé” (Bultmann 1999, 19). E o significado de Jesus não se encontra em sua suposta consternação de um Deus irado, mas no fato de que através dele “nossa vida autêntica torna-se uma possibilidade de fato para nós somente quando estamos livres de nós mesmos” (Bultmann 1999, 30). Bultmann reconhece que nem todo o Novo Testamento pode ser traduzido dessa maneira (o próprio Bultmann se concentra principalmente em João e Paulo), mas ele acha que isso é um sacrifício necessário para que a mensagem kerygmática seja esclarecida.

2.3. DEUS O ‘OUTRO’.
A invisibilidade de Deus exclui todo mito que tenta torná-lo e a seus atos visíveis. Por causa disso, no entanto, também exclui toda concepção de invisibilidade e mistério que é formulada em termos de pensamento objetivo. Deus se retira da visão objetiva: ele só pode ser acreditado em desafio a toda aparência externa, assim como a justificação do pecador só pode ser acreditada em desafio às acusações da consciência.
Para Bultmann, se a atividade de Deus não é visível ou está aberta a provas como entidades mundanas, se o evento de redenção não é um processo verificável, se, podemos acrescentar, o Espírito concedido ao crente não é um fenômeno suscetível a apreensão mundana, se não podemos falar dessas coisas sem falar de nossa própria existência, segue-se que a fé é uma nova compreensão da existência, e que a atividade de Deus nos concede uma nova compreensão do eu.
A proposta do autor de que a ação de Deus na história não é suscetível à comprovação científica, de certa forma, faz jus à finitude divina que não pode ser compreendida de forma exaustiva pela razão limitada humana. Todavia, no pensamento bíblico, a natureza e o curso da história revelam a existência e poder do Criador:
Somado a isso, Bultmann alega serem ilegítimas as concepções bíblicas cultual, em que Deus oferece seu filho como vítima propiciatória, e jurídica, a não ser que sejam vistas como símbolos da fé.[11] Assim, surge a questão sobre o modo pelo qual o autor aplicaria a desmitologização às afirmações joaninas de Cristo como o sacrifício ou propiciação pelos pecados dos homens (Jo 1.29; 1 Jo 2.1-2; 4.10), ou ao conceito forense da justificação humana pela fé em Cristo, desenvolvido por Paulo (Rm 1 – 5).
O evangelho pode ainda ser um ' escândalo ', causando ofensa às pessoas modernas, como aconteceu em Corinto (1 Cor. 1: 23 ), mas, de acordo com Bultmann, seu evangelho desmitificado pelo menos coloca o 'escândalo' no lugar certo .

3. REFUTAÇÕES A O PENSAMENTO DE BULTMANN: REAÇÕES DOS FUNDAMENTALISTAS
Os críticos perguntam: a desmitologização reduz a mensagem cristã a um produto do pensamento racional humano? "De maneira nenhuma!", Responde Bultmann em Jesus Cristo e na mitologia, "desmitologizar deixa claro o verdadeiro significado do mistério de Deus".
Paul Enns, professor e diretor da Extensão Tampa do Seminário Teológico Batista do Sudeste, insiste que “a verdadeira fé cristã está ancorada na história e tem validade histórica”[12], em contraste com o evangelho bultmanniano, que "É uma proclamação de mito que oferece pouca esperança".
Enns argumenta que a limitação do discurso teológico à dimensão da existência humana trunca a realidade eterna de Deus e as ações de Deus no mundo. Ele então se tornou o João Batista para o movimento Deus-é-Morto dos anos 1960.
Na visão de Willian E. Hordern,[13] Rodolf Bultmann mesmo rompendo com Barth, permanece na neo-orotdoxia (2011,107), pois reconhece os fatos bíblicos, que são visíveis pelos milagres, sendo que estes milagres seriam uma invenção autoral do que acontecimento de sí, por isto “a revelação é contemplada somente através dos olhos da fé” (p.107).
Continuando com Willian E. Hordern, em sua teologia Rodolf Bultmann está intimamente relacionada com sua erudição histórica, foi um dos eruditos do Novo Testamento que tomou a dianteira no desenvolvimento do que se conhece como “crítica da forma”, onde a forma parte da suposição da existência de leis que determinam o desenvolvimento das tradições oralmente transmitidas.
O labor do crítico formal é mostrar que a mensagem de Jesus, tal como temos nos sinóticos, é em grande parte espúria, tendo sofrido acréscimos por parte da comunidade cristã primitiva. Com respeito à confiabilidade da Bíblia, Bultmann vai mais além, e afirma que a Bíblia não é a Palavra inspirada de Deus em nenhum sentido objetivo. Para ele, a Bíblia é o produto de antigas influências históricas e religiosas, e deve ser avaliada como qualquer outra obra literária religiosa antiga.
A premissa fundamental da crítica formal é que os evangelhos são o produto do labor da igreja primitiva. Os autores dos evangelhos procuraram unir várias tradições orais independentes e contraditórias que existiam na igreja antes que fosse escrito o Novo Testamento. Essas tradições orais também não são dignas de confiança, consistindo basicamente de ditos e relatos individuais referentes a Jesus e aos seus discípulos. A igreja ajuntou essas tradições e usou em forma de narrativa, inventando lugares, tempos e enlaces para unir as tradições independentes. Frases como as dos Evangelhos, “em um barco”, “imediatamente”, “no dia seguinte”, “em uma viagem” – são apenas meros recursos literários usados pelos compiladores dos Evangelhos para unir todas as narrativas, inclusive histórias independentes acerca de Jesus. Como disse K.L. Shimidt, um dos pioneiros no campo da crítica, nós “não possuímos a história de Jesus, temos apenas histórias sobre Jesus”.[14]
O propósito da crítica formal é encontrar o Evangelho por detrás dos Evangelhos. Segundo os seus proponentes, os quatro Evangelhos que dispomos servem apenas como “matéria prima” na nossa busca pelo verdadeiro Evangelho, que teria sido anterior aos quatro Evangelhos canônicos e diferente dos mesmos, partindo da premissa de que a igreja primitiva compilou, editou e organizou os livros canônicos de forma artificial, de acordo com seus próprios propósitos apologéticos e evangelísticos.[15] Para dar aos Evangelhos um detalhe harmônico, teriam sido acrescentados detalhes quanto à sequência, cronologia, lugares, etc. Segundo a crítica formal, tais detalhes não são confiáveis. A Bíblia, tal como a temos hoje seria apenas uma compilação de lendas e ensinos isolados que foram ardilosamente inseridos como sendo parte da história original. Milagres, histórias controvertidas e profecias cumpridas seriam nada mais que uma tradição proveniente de uma fonte tardia e menos confiável.
Segundo Hordern os relatos de criação na perspectiva de Bultmann, não é nenhuma teoria cosmológica que trate da origem do universo. Ao confessar  as convicções relativas à existência de Deus como criador, o que está  expresso efetivamente é o sentimento de finitude e a convicção de que a origem do mundo no qual  existe encontram-se fora de mim e do mundo que me cerca. A criação não é nenhuma noção descritiva de acontecimentos passados, mas, sim, uma noção que implica em reconhecimento de que a vida que está vivendo, sendo assim é uma experiência “inquietante”, isto é, uma experiência pela qual gera o sentimento de amedrontado e aterrorizado. Mediante a noção de criação, por fim para Bultmann não somos mero produto de uma série casual, pois somos, também um agente livre que se sente chamado a tomar decisões.
Com esta afirmativa Bultmann faz uma leitura existencialista da criação, não se preocupando com o relato se é verdadeiro, mas a de que este relato criacionista nos dá a liberdade necessária a o ser, logo o relato da criação não é importante a preocupação de sua evidência histórica, mas a de como esta está implícita na minha construção pessoal.
Sua abordagem mas próxima de Soren Kierkegaard  oferecida por Bultmann vem a ser que não podemos garantir que quando dizemos “saber”, temos presente no raciocínio a maneira desse saber. Autenticidade consiste, na segurança depositada na fé. A fé implica em que o crente se expõe a riscos. Os liberais, na acusação de Bultmann na verdade, perderam de vista a fé neotestamentária de que, em Cristo, Deus agiu apontando, a salvação do homem.
Os mitos exarados no Novo Testamento deverão então ser considerados de modo existencial, temos que compreender a própria existência que os escritores do Novo Testamento desejaram patentear através dos mitos.
Outro crítico que podemos fazer uma análise de sua contribuição de interpretação deste teólogo é Vernon C. Grounds trará uma análise sobre Bultmann no livro Teologia Contemporânea, organizado por Stanley Gundry, no capítulo sobre Os Precursores da Teologia Radical dos Anos 60 e 70, o qual menciona Bultmann como um: possante influenciador da turbulência dos anos 60 e 70 da Teologia Radical.
Para Grounds o resultado dessa metodologia é essencialmente anti-sobrenaturalista. Para Bultmann, o que temos nos Evangelhos canônicos são apenas resíduos do Jesus histórico. Não há dúvida que Jesus viveu e realizou muitas das obras que lhe são atribuídas, mas ele se mostra extremamente cético, principalmente quanto à possibilidade do sobrenatural e do chamado “Jesus histórico”. Ele disse: “Creio que não podemos saber quase nada acerca da vida e personalidade de Jesus, já que as fontes cristãs primitivas não se interessam por isso, sendo fragmentadas e lendárias, e não existem outras fontes acerca de Jesus”. É claro que o comentário de Bultmann é preconceituoso e tendencialista, pois há menção da pessoa de Cristo nos escritos dos Pais apostólicos, Flávio Josefo e Tácito, entre outros.
Não poderíamos deixar de citar Hernan N. Ridderbos (1960) consegue construir diversos aspectos da teologia liberal, que Bultmann tanto critica, primeiro aspecto da influência de Bultmann é o seu vasto uso do método da história das religiões, mostrando a existência de relações entre o Novo Testamento e as religiões não cristãs (isto se dá por sua convivência pessoal com Rudolf Otto)[16].
Outra característica liberal em Bultmann denunciada por Ridderbos , é o que contava não era a pessoa de Jesus, e sim a sua pregação. A pregação de Jesus (kerigma) era a forma como podíamos chegar a um evangelho original.[17]
Ridderbos afirma que devemos levar em conta que para Bultmann essa pregação só podia ser reconstituída a partir da tradição da igreja primitiva.[18] Esse é o ponto inicial da crítica, pois a partir daí, buscar-se-á a forma que originou tal pregação; para isso Bultmann recorre à tradição da igreja primitiva, que antecede os relatos históricos que encontramos nos evangelhos sinóticos.
Por isso Bultmann nos diz que é a partir do kerigma da comunidade primitiva, por tanto, que começa a reflexão teológica, que começa a teologia do N.T. propriamente dita, esse método de investigação é chamado crítico-histórico-formal. Sérias críticas tem sido, conforme denúncia Ridderbos, feitas à crítica da forma e a Bultmann uma das principais, é que o seu radicalismo crítico e o exagerado cetismo com respeito a autenticidade histórica e da tradição sobre Jesus, é o que tem feito com que, principalmente a história das formas, tenha caído em descrédito.
A concepção de Bultmann é uma tentativa de efetuar uma síntese da fé cristã e da filosofia da imanência.
Na filosofia existencialista considera-se a auto-rendição ao alcance do homem, levando assim a salvação uma construção antropológica, e nunca divina, pois este jamais interfere nesta vida.
O homem é levado a decisão e liberdade somente pelos apelos de Deus. Neste ponto que Bultmann funde a fé cristã ao existencialismo, e na medida em que alguém tiver tal concepção como cristã, vai achar a base aí para ela.
Passemos a considerar a análise crítica de Grenz e Olson[19], inicialmente consideram sua exegese unilateral, para estes autores o excesso do existencialismo a uma tendência á simplificação extrema construindo uma teologia unilateral. [20] O esquema de existência humana também resultou numa separação muito radical entre os acontecimentos históricos do passado e as experiências contemporâneas de fé. Para GRENZ E OLSON, Bultmann foi longe demais em sua tentativa de livrar a fé da dependência das descobertas da pesquisa histórica. Mesmo mantendo a importância da cruz de Jesus para a fé, ele ainda assim tomou o conteúdo da vida de Jesus irrelevante, ao considerar a fé exclusivamente como resposta à mensagem que Deus havia proferido em Cristo.[21]
Outro ponto denunciado por GRENZ E OLSON, é a construção de uma fé privatizada, eles entendem que a mensagem bíblica  “não diz respeito apenas à esfera privada de decisão individual, mas dirige-se à vida como um todo”[22], pois não conduzia a uma santificação, à dinâmica do viver cristão em si e do crescimento espiritual como discípulos do Senhor dentro de um relacionamento comunitário uns com os outros e com o mundo.
O último equívoco elaborado por GRENZ E OLSON é o desenvolvimento de um Deus limitado:
Bultmann equivocou-se quando afirmou que esse Deus só pode ser conhecido à medida que ele age dentro do indivíduo, ou seja, à medida que ele cria a existência autêntica, de modo que a teologia torna-se a reflexão sobre a experiência do encontro que leva à existência autêntica.[23]

Devido a isto Bultman transfere todo labor teológico a subjetividade humana, com isto cada indivíduo é um compêndio teológico, levando a desconexão sistemática de se conhecer a Deus, interrompendo a crença da revelação progressiva nas Escrituras.
Para Bultmann Jesus é o modelo da ação existencial perpetrada por Deus na história da humanidade, pois ele, Jesus, é o modelo verdadeiro da construção existencial que em cada um de nós deve ser realizado. Levando assim que a única importância de Jesus, não é sua obra, nem crer em sua deidade, mas que Jesus é o modelo estabelecido por Deus a cada cristão, em sua experiência com Deus.
No final GRENZ E OLSON, afirmam que para Bultmann não se pode falar de Deus a não ser em relação ao ser humano, e que Deus não age no mundo a não ser na esfera privada da fé pessoal, as dimensões mais amplas da transcendência de Deus face a face com sua criação acabam sendo eliminadas do campo de atuação do teólogo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
.  A conclusão a ser extraída dessas e de outras afirmações na teologia existencial de Rudolf Bultmann é que seus escritos teológicos são um gênero de ficção religiosa, e não um gênero da verdadeira teologia cristã.  O que é mais, um "ato de fé" existencial pelo qual uma pessoa nega a existência objetiva de Deus e de todos os outros objetos da fé cristã convencional, enquanto ele simultaneamente se esforça por constantemente repetidos atos da vontade de alcançar sua própria "existência autêntica" é, no fundo, uma relação ao modernista, uma perversão da mente e um estado de orgulho.
 Contudo, toda a teologia de Bultmann é de difícil aceitação, principalmente pelo contraste em que há entre o seu moderno pensamento racional e a mais pura característica da fé. Para Bultmann, a demitização é intencionada para manter pura a mensagem revelada e também o seu entendimento. Para ele, em alguns momentos, essa mensagem correu o risco de perder todo o seu sentido devido “poluição” ocasionada pela introdução de elementos estranhos que estavam trazendo, segundo ele, perigo à eficácia da mensagem. Para ele, na briga entre a fé e a razão, quem sai vencendo é a razão.
Poderíamos dizer ainda que toda a demitização bultmanniana está baseada na firme crença de que toda a historicidade e todo o sobrenatural faz parte da estrutura, da forma, e nunca da essência da revelação; os cristãos primitivos tinham em função disso uma visão mítica e metafísica, que não deixa de ser científica filosófica natural de seu tempo, e q eu hoje, debaixo de toda uma visão racional, inteligente e capaz de demitizar, deve ser reinterpretar para a preservação da pura mensagem cristã.
A teologia de Bultmann cairia em um ostracismo na era pós-moderna, onde não acreditam que a objetividade realmente existe de uma maneira significativa, e não acreditamos que a ciência sempre faça as coisas certas. Além de não terem nenhum problema com a noção de milagres, mesmo que a ciência diga que eles não podem acontecer. Isso é simplesmente o que faz dele um milagre. 
Nem sempre se concorda com todas as leituras existencialistas de Bultmann, gerando a perspectiva de que não há a possibilidade de interagir com Jesus através do texto. Isto seria a um pentecostal, com eclesiologia um tanto encarnacional, em que acreditamos que há interação com Jesus através do Espírito Santo, um insulto e uma fé equivocada.
Mas mesmo que não venhamos a concordado em tantos assuntos importantes, existe uma gratidão a Bultmann por seu trabalho: ele mostrou que há mais de um nível de verdade (literal / histórico e espiritual / existencial / simbólico), e que todos os níveis de verdade são incrivelmente valiosos!
Nisto Bultmann construiu que as verdades das Escrituras não dependem inteiramente de sua historicidade; mas, no entanto, acreditando que sua historicidade lhes dá um elemento poderoso e concreto que acrescenta muito valor e força à fé, e mais ainda ao um relacionamento com Deus que verdadeiramente e literalmente pode ser compreendido.
O existencialismo de Bultmann trouxe a perspectiva que não há a necessidade de sermos ressuscitado fisicamente para que o significado desta vida e morte seja completo. Em relação aos milagres, que na sua negação não extirpou o entendimento da grandeza e preocupação deste Deus em relação à humanidade, e assim apreciar a proximidade de Deus em cada um dos cristãos, e ainda assim sabedor que toda experiência concreta de Deus através do milagroso sempre mudará as convicções.

REFERÊNCIA
ALTMANN, Walter. "Introdução", In: BULTMANN, Rudolf. Crer e compreender: ensaios selecionados. Edição revista e ampliada. Tradução de Walter Schlupp, Walter Altmann e Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento, trad. Ilson Kayser. São Paulo: Teológica, 2004.


[1] MONDIN, Battista Os grandes teólogos do século vinte, Vol 2 Os Teólogos Protestantes; [traduziu José Fernandes], — São Paulo: Edições Paulinas, 1979-1980. 277 p. 116.
[2] ALTMANN, Walter. "Introdução", In: BULTMANN, Rudolf. Crer e compreender: ensaios selecionados. Edição revista e ampliada. Tradução de Walter Schlupp, Walter Altmann e Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
[3] Para uma verificação das demais obras de Bultmann veja Vol 2 pg 118 e 119.
[4]  Para alguns Bultmann não era exatamente um teólogo, mas, um erudito do Novo Testamento, considerado o maior erudito da disciplina do século XX
[5] GUEDES, José Otácio Oliveira. A GÊNESE DO DISCÍPULO Uma relação semântica e teológica de Paulo e João a partir do estudo de Fl 3,1-16 e Jo 15,1-8. Tese de Douorado PUC Rio. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/20220/20220_1.PDF. Acesso 23 de março 2018.
[6]  Mondin, Grandes Teólogos do Século XX, p. 178
[7] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento, trad. Ilson Kayser. São Paulo: Teológica, 2004, p. 925 .
[8] BULTMANN, Teologia do Novo Testamento, 2004, p. 247.
[9] BULTMANN, Rodolf Jesus Cristo e Mitologia, Tradução Daniel Costa, Novo Século São Paulo,2003
[10] BULTMANN, Rodolf . Demitologização Coletâneas de Ensaios Tradução Walter Altmann e Luís Marcos Sander, Editora Sinodal, São Leopoldo,1999
[11] BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. São Paulo: Novo Século, 2003. p. 7.
[12]ENNS, Paul. Livro Manual De Teologia Moody; Editora Batista Regular , 2014.
[13] HORDERN, William. .Teologia Contemporânea, Editora Hagnos. 2011
[14] GUNDRY, Robert. H. Paranorama do Novo Testamento. Tradução João Marques Bentes, 2008, p. 284.
[15] CARSON, D. A. ; MOO, Douglas J.;  MORRIS, Leon.  Introdução ao Novo Testamento. Vida Nova, 1997.
P. 560, (p. 21, 22).
[16] RIDDERBOS, Herman. BULTMANN. Translated by David H. Freeman. The Presbyterian and Reformed Publishing Co. 1960.
[17] RIDDERBOS. 1960, p. 27.
[18] RIDDERBOS. 1960, p. 31.
[19] GRENZ, Stanley J. ;  OLSON Roger E..  Teologia do Século 20, Tradução Suzana Klassen; Editora Cultura Cristã, 2003. P. 459.
[20] GRENZ e OLSON. 2003, p. 114.
[21] GRENZ e OLSON. 2003, p. 114.
[22] GRENZ e OLSON. 2003, p. 115.
[23] GRENZ e OLSON. 2003, p. 116.