quinta-feira, 20 de agosto de 2020

TEORIA DA FORMAÇÃO BÍBLICA

 

Crítica bíblica , disciplina que estuda questões textuais, composicionais e históricas em torno do Antigo e do Novo Testamentos. A crítica bíblica estabelece a base para uma interpretação significativa da Bíblia .

Critica da Forma (Al. Formgeschichte, lit. história da forma). O método exegético de estudar formas literárias na Bíblia a fim de determinar feições características e padrões regulares nas passagens que as distinguem de outros tipos de literatura. Concentra-se nas unidades literárias menores nos textos bíblicos (e.g. parábolas, histórias de milagres, ditados de Jesus), géneros ou formas que receberam sua forma inicial através de tradição oral antes de serem incorporados em contextos literários maiores, sendo talvez modificados por isso. A crítica da forma investiga os gêneros literários, o contexto histórico (Sitz im Leben), os processos de transmissão oral e adaptação editorial. Estuda as unidades literárias individualmente, sem relacioná-las ao contexto (imediato ou maior) procurando, assim, determinar ou não a autenticidade do trecho.

O pioneiro da Crítica da Forma no estudo bíblico foi H. Gunkel, em seu livro Schopfung un Chaos (1895), mas seu trabalho mais difundido é a análise dos tipos literários dos salmos, em seus livros Die Psalmen (1926) e Eileintung in die Psalmen (1933, concluído por J. Begrich). No campo do Novo Testamento o primeiro nome a surgir foi o de M. Dibelius que, em 1919 publicou seu livro, Die Formgeschichte des Evangeliums. Nesse mesmo ano foi publicado o livro de K. L. Schmidt, Der Rahmen des Geschichte Jesus. Todavia, foi R. Bultmann que, com seu livro Die Geschichte der synoptischen Tradition (1921) conseguiu difundir o método na pesquisa teológica do Novo Testamento (especialmente com relação aos evangelhos). Além desses pioneiros, muitos outros teólogos têm feito uso da técnica, embora criticando as conclusões anteriores, como O. Cullmann e Joachim Jeremias, entre outros.

Entre os pressupostos desta técnica exegética tem parte a negação da inspiração da Bíblia e a negação de que um autor possa usar mais de um estilo ou mudar em parte seu vocabulário. Bultmann afirma que, objetivamente a Bíblia é um produto das antigas influências históricas e religiosas (História das Religiões) e deve ser avaliada exatamente como qualquer outra obra literária antiga. A premissa básica do método, aplicado aos Sinóticos, é que eles são produto do trabalho editorial da Igreja Primitiva, que colecionou e uniu as várias tradições orais independentes e até contraditórias que circulavam na época. Consequentemente, os evangelhos não são tidos como documentos históricos fidedignos pois apenas demonstram o esforço de editores no sentido de unir as tradições num esquema histórico sequencial.

Além desses problemas (e suas implicações), a Crítica da Forma, embora pretenda ser um método científico, trabalha com base nos “resultados” da História das Religiões e da Crítica Literária, o que dirige suas conclusões geralmente à direção oposta das afirmações bíblicas. Um problema final, é que os utilizadores deste método muitas vezes chegam a conclusões opostas, que demonstram a incerteza da eficácia do método. O Estudo das formas literárias na Bíblia pode ser de valor para a exegese, mas deve ser desvestido das pressuposições que negam a autoridade final da Escritura.

 

Crítica das Fontes. Uma divisão da exegese do AT e do NT, que se ocupa com a investigação de fontes ou estratos por detrás dos textos existentes. Isto se pratica não somente no Pentateuco e nos Evangelhos Sinóticos, mas também nos livros históricos tais como 1 e 2 Sm, 1 e 2 Rs. Procura descobrir o papel dos redatores na produção do texto final, as fontes ou estratos diferentes a fim de determinar e avaliar as características e peculiaridades de um texto comparado com seu pano de fundo histórico.

É comum identificar a Crítica das Fontes com a Crítica Literária. Esta porém, é agora considerada uma designação mais geral, incluindo a Crítica das Fontes, análise de estilo e outros aspectos.

Para determinar se um texto é uma unidade ou não, a Critica das Fontes procura os seguintes elementos: (a) mudanças no estilo literário, (b) variações de vocabulário e fraseado, (c) mudanças no ponto-de-vista teológico ou histórico ou religioso, (d) duplicações, (e) alegadas inconsistências lógicas, temáticas ou cronológicas.

Na Bíblia, há exemplos claros do uso de fontes, p. ex., os livros de Reis e Crónicas — que citam textualmente as fontes que utilizaram. Porém, a Crítica das Fontes tem sido geralmente controlada por pressuposições filosóficas e teológicas contrárias ás Escrituras e a história de Israel (p. ex., não deve ser assumido que a menor ocorrência de referências antropomórficas a Deus represente um estágio posterior ou mais sofisticado da fé de Israel). Isso tem frequentemente, levado os críticos a resultados inconsistentes e até contraditórios.

Uma outra dificuldade, que a Crítica das Fontes compartilha com a Crítica da Forma, Crítica da Redação e com a História da Tradição, é que os métodos usados são empanados pelas pressuposições teológicas de seus utilizadores e pela falta de critérios científicos de estudo que tenham base numa definição correta dos métodos de tradição, redação e composição usados pelos habitantes do antigo Oriente.

Crítica Histórica (Gr. krinô, separar, distinguir, decidir, julgar). Um ramo da exegese que examina textos bíblicos à luz de métodos e critérios científicos para a investigação da história. Segundo Ernst Troeltsch (1865-1933) cuja abordagem tem colocado linhas básicas para boa parte do pensamento alemão com respeito ao assunto, a crítica histórica inclui: (1) O historiador deve ser independente e autónomo. Ele deve julgar todas as tradições de modo crítico, embora aborde sua matéria com compreensão simpática. Além disto, no campo da história, somente são possíveis os julgamentos prováveis. (2) O senso da probabilidade depende da capacidade do historiador de discernir a analogia entre eventos aqui e agora e eventos do passado. Quando não há analogia, é questionável o evento alegado. (3) O princípio da correlação: todos os acontecimentos históricos se vinculam numa correlação permanente. Qualquer evento individual é causalmente vinculado aos demais. Isto tem dado origem a um ponto de vista fechado do mundo, pelo qual tudo é interpretado em termos de causas históricas e naturais finitas, e em que não se aceitam eventos sobrenaturais ou ações de Deus. Mais recentemente, W. Pannenberg e outros têm argumentado que esta abordagem precisa ser declarada de forma nova e modificada, porque julga a questão de antemão ao impor sobre os dados as limitações da experiência do historiador e, portanto, não permite que os dados históricos falem por si mesmos.

A crítica histórica não é de si mesma hostil ao texto da Bíblia. Pelo contrário, reivindica a justificativa que, sendo que a Bíblia testemunha sobre o que aconteceu na história é importante vê-la na perspectiva histórica.

 

Crítica literária (Lat. littera, letra). Uma divisão da exegese, ocupada com as origens de escritos bíblicos, especialmente os livros que, segundo alguns pensam, se baseiam em várias fontes (tais como o Pentateuco e os Evangelhos). Procura distinguir entre os componentes literários originais de um texto e de acréscimos posteriores. A capacidade do exegeta para resolver questões literárias o capacita a colocar uma obra no seu contexto histórico no mundo do Antigo Testamento ou do Novo Testamento.

Infelizmente, porém, a Crítica Literária frequentemente tem negado a autenticidade de materiais bíblicos e, inclusive, a historicidade de vários eventos, em virtude de suas pressuposições a respeito da teologia do AT considerando a religião de Israel como fruto de um processo evolutivo e, mais recentemente, considerando o AT apenas como testemunho humano dos atos de Deus, negando assim a revelação proposicional e a inspiração bíblica. Todavia, liberta dessas falsas pressuposições, há um lugar para a Crítica Literária na exegese bíblica.

 

Crítica Textual. Uma divisão da exegese que leva em conta o fato de que os textos bíblicos vieram a nós através de numerosos manuscritos ou códices. Frequentemente diferem entre si quanto a algum pormenor. A tarefa da crítica textual é estudar os textos existentes à luz das diferentes versões ou leituras variantes, levando em conta partes que foram estragadas ou que são parcialmente defeituosas e que podem ser traduzidas apenas em parte. Seu alvo é reconstruir a leitura original do manuscrito de acordo com princípios cientificamente formulados. A prática da crítica textual exige um conhecimento de diferentes manuscritos e suas famílias, conhecimento da letra empregada nos manuscritos, e das características de Heb. e Gr.

Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento; tradução Gordon Chownl. -- 2. ed. - Sâo Paulo: Vida Nova, 2000.

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