Crítica bíblica , disciplina que estuda questões
textuais, composicionais e históricas em torno do Antigo e do Novo Testamentos.
A crítica bíblica estabelece a base para uma interpretação significativa da
Bíblia .
Critica da Forma (Al. Formgeschichte, lit. história da forma). O método
exegético de estudar formas literárias na Bíblia a fim de determinar feições
características e padrões regulares nas passagens que as distinguem de outros
tipos de literatura. Concentra-se nas unidades literárias menores nos textos
bíblicos (e.g. parábolas, histórias de milagres, ditados de Jesus), géneros ou
formas que receberam sua forma inicial através de tradição oral antes de serem
incorporados em contextos literários maiores, sendo talvez modificados por
isso. A crítica da forma investiga os gêneros literários, o contexto histórico
(Sitz im Leben), os processos de transmissão oral e adaptação editorial. Estuda
as unidades literárias individualmente, sem relacioná-las ao contexto (imediato
ou maior) procurando, assim, determinar ou não a autenticidade do trecho.
O pioneiro da Crítica da Forma no estudo bíblico foi
H. Gunkel, em seu livro Schopfung un Chaos (1895), mas seu trabalho mais
difundido é a análise dos tipos literários dos salmos, em seus livros Die
Psalmen (1926) e Eileintung in die Psalmen (1933, concluído por J. Begrich). No
campo do Novo Testamento o primeiro nome a surgir foi o de M. Dibelius que, em
1919 publicou seu livro, Die Formgeschichte des Evangeliums. Nesse mesmo ano
foi publicado o livro de K. L. Schmidt, Der Rahmen des Geschichte Jesus.
Todavia, foi R. Bultmann que, com seu livro Die Geschichte der synoptischen
Tradition (1921) conseguiu difundir o método na pesquisa teológica do Novo
Testamento (especialmente com relação aos evangelhos). Além desses pioneiros,
muitos outros teólogos têm feito uso da técnica, embora criticando as
conclusões anteriores, como O. Cullmann e Joachim Jeremias, entre outros.
Entre os pressupostos desta técnica exegética tem
parte a negação da inspiração da Bíblia e a negação de que um autor possa usar
mais de um estilo ou mudar em parte seu vocabulário. Bultmann afirma que,
objetivamente a Bíblia é um produto das antigas influências históricas e
religiosas (História das Religiões) e deve ser avaliada exatamente como
qualquer outra obra literária antiga. A premissa básica do método, aplicado aos
Sinóticos, é que eles são produto do trabalho editorial da Igreja Primitiva,
que colecionou e uniu as várias tradições orais independentes e até
contraditórias que circulavam na época. Consequentemente, os evangelhos não são
tidos como documentos históricos fidedignos pois apenas demonstram o esforço de
editores no sentido de unir as tradições num esquema histórico sequencial.
Além desses problemas (e suas implicações), a Crítica
da Forma, embora pretenda ser um método científico, trabalha com base nos
“resultados” da História das Religiões e da Crítica Literária, o que dirige
suas conclusões geralmente à direção oposta das afirmações bíblicas. Um
problema final, é que os utilizadores deste método muitas vezes chegam a conclusões
opostas, que demonstram a incerteza da eficácia do método. O Estudo das formas
literárias na Bíblia pode ser de valor para a exegese, mas deve ser desvestido
das pressuposições que negam a autoridade final da Escritura.
Crítica das Fontes. Uma divisão da exegese do
AT e do NT, que se ocupa com a investigação de fontes ou estratos por detrás
dos textos existentes. Isto se pratica não somente no Pentateuco e nos
Evangelhos Sinóticos, mas também nos livros históricos tais como 1 e 2 Sm, 1 e
2 Rs. Procura descobrir o papel dos redatores na produção do texto final, as
fontes ou estratos diferentes a fim de determinar e avaliar as características
e peculiaridades de um texto comparado com seu pano de fundo histórico.
É comum identificar a Crítica das Fontes com a Crítica
Literária. Esta porém, é agora considerada uma designação mais geral, incluindo
a Crítica das Fontes, análise de estilo e outros aspectos.
Para determinar se um texto é uma unidade ou não, a
Critica das Fontes procura os seguintes elementos: (a) mudanças no estilo
literário, (b) variações de vocabulário e fraseado, (c) mudanças no
ponto-de-vista teológico ou histórico ou religioso, (d) duplicações, (e)
alegadas inconsistências lógicas, temáticas ou cronológicas.
Na Bíblia, há exemplos claros do uso de fontes, p.
ex., os livros de Reis e Crónicas — que citam textualmente as fontes que
utilizaram. Porém, a Crítica das Fontes tem sido geralmente controlada por
pressuposições filosóficas e teológicas contrárias ás Escrituras e a história
de Israel (p. ex., não deve ser assumido que a menor ocorrência de referências
antropomórficas a Deus represente um estágio posterior ou mais sofisticado da
fé de Israel). Isso tem frequentemente, levado os críticos a resultados
inconsistentes e até contraditórios.
Uma outra dificuldade, que a Crítica das Fontes
compartilha com a Crítica da Forma, Crítica da Redação e com a História da
Tradição, é que os métodos usados são empanados pelas pressuposições teológicas
de seus utilizadores e pela falta de critérios científicos de estudo que tenham
base numa definição correta dos métodos de tradição, redação e composição
usados pelos habitantes do antigo Oriente.
Crítica Histórica (Gr. krinô, separar, distinguir, decidir,
julgar). Um ramo da exegese que examina textos bíblicos à luz de métodos e
critérios científicos para a investigação da história. Segundo Ernst Troeltsch
(1865-1933) cuja abordagem tem colocado linhas básicas para boa parte do
pensamento alemão com respeito ao assunto, a crítica histórica inclui: (1) O
historiador deve ser independente e autónomo. Ele deve julgar todas as
tradições de modo crítico, embora aborde sua matéria com compreensão simpática.
Além disto, no campo da história, somente são possíveis os julgamentos
prováveis. (2) O senso da probabilidade depende da capacidade do historiador de
discernir a analogia entre eventos aqui e agora e eventos do passado. Quando
não há analogia, é questionável o evento alegado. (3) O princípio da
correlação: todos os acontecimentos históricos se vinculam numa correlação
permanente. Qualquer evento individual é causalmente vinculado aos demais. Isto
tem dado origem a um ponto de vista fechado do mundo, pelo qual tudo é
interpretado em termos de causas históricas e naturais finitas, e em que não se
aceitam eventos sobrenaturais ou ações de Deus. Mais recentemente, W.
Pannenberg e outros têm argumentado que esta abordagem precisa ser declarada de
forma nova e modificada, porque julga a questão de antemão ao impor sobre os
dados as limitações da experiência do historiador e, portanto, não permite que
os dados históricos falem por si mesmos.
A crítica histórica não é de si mesma hostil ao texto
da Bíblia. Pelo contrário, reivindica a justificativa que, sendo que a Bíblia
testemunha sobre o que aconteceu na história é importante vê-la na perspectiva
histórica.
Crítica literária (Lat. littera, letra). Uma
divisão da exegese, ocupada com as origens de escritos bíblicos, especialmente
os livros que, segundo alguns pensam, se baseiam em várias fontes (tais como o
Pentateuco e os Evangelhos). Procura distinguir entre os componentes literários
originais de um texto e de acréscimos posteriores. A capacidade do exegeta para
resolver questões literárias o capacita a colocar uma obra no seu contexto
histórico no mundo do Antigo Testamento ou do Novo Testamento.
Infelizmente, porém, a Crítica Literária frequentemente
tem negado a autenticidade de materiais bíblicos e, inclusive, a historicidade
de vários eventos, em virtude de suas pressuposições a respeito da teologia do
AT considerando a religião de Israel como fruto de um processo evolutivo e,
mais recentemente, considerando o AT apenas como testemunho humano dos atos de
Deus, negando assim a revelação proposicional e a inspiração bíblica. Todavia,
liberta dessas falsas pressuposições, há um lugar para a Crítica Literária na
exegese bíblica.
Crítica Textual. Uma divisão da exegese que
leva em conta o fato de que os textos bíblicos vieram a nós através de
numerosos manuscritos ou códices. Frequentemente diferem entre si quanto a
algum pormenor. A tarefa da crítica textual é estudar os textos existentes à
luz das diferentes versões ou leituras variantes, levando em conta partes que
foram estragadas ou que são parcialmente defeituosas e que podem ser traduzidas
apenas em parte. Seu alvo é reconstruir a leitura original do manuscrito de
acordo com princípios cientificamente formulados. A prática da crítica textual
exige um conhecimento de diferentes manuscritos e suas famílias, conhecimento
da letra empregada nos manuscritos, e das características de Heb. e Gr.
Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.). Dicionário Internacional
de Teologia do Novo Testamento; tradução Gordon Chownl. -- 2. ed. - Sâo Paulo:
Vida Nova, 2000.
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