domingo, 11 de outubro de 2015

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE FRIDA VINGREN[1]

Quando se fala nas origens das Assembleias de Deus, dois nomes são lembrados: Daniel Berg e Gunnar Vingren. Esses dois personagens estão presentes na memória coletiva do pentecostalismo como aqueles que iniciaram as Assembleias de Deus. A historiografia oficial da igreja faz questão de reforçar a figura de Berg e Gunnar como os principais nomes do início da denominação. Entretanto, nos últimos anos a história da também pioneira Frida Vingren tem sido alvo de muitas discussões.
Nascida em 1891, Frida tinha curso universitário em enfermagem e foi chefe em um hospital na Suécia. Em 1917, viajou sozinha para o Brasil e se casou com Gunnar Vingren. Durante o período em que viveu no Brasil (1917-1932), foi uma das pessoas mais atuantes das Assembleias de Deus. Talentosa, atuou como educadora, pregadora, escritora, compositora, além de exercer atividades pastorais. Mas por que uma mulher tão destacada quase não aparece na história oficial das Assembleias de Deus? Essa e outras questões a respeito de Frida Vingren serão aqui refletidas, pois outros personagens da denominação pentecostal precisam sair do esquecimento para que tenham sua história conhecida pelo grupo.

2 . ORIGEM DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
No Brasil, a igreja denominada Assembleia de Deus foi fundada em Belém do Pará pelos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar de serem suecos, os dois vieram dos Estados Unidos e chegaram a Belém em 1910. A razão pela qual migraram para os Estados Unidos foi a busca por melhores condições de vida, tendo em vista que a Suécia, nesse período, ainda não era uma país com boas condições econômicas e sociais. Os dois conheceram-se por meio do movimento pentecostal que fora iniciado por Charles Parham (Chicago) e Wiliam J. Seymour (Los Angeles). Depois da experiência do chamado batismo com o Espírito Santo, sentiram-se vocacionados a virem para o Brasil. Chegaram a Belém do Pará em 1910 e apresentaram-se à Igreja Batista. Como resultado de suas pregações com ênfase na doutrina do batismo com o Espírito Santo, foram desligados junto com mais 18 pessoas.
Gunnar Vingren e Daniel Berg, sem nenhum apoio financeiro, passaram a realizar cultos domésticos com as 18 pessoas e, em junho de 1911, criam oficialmente a Missão da Fé Apostólica1. Em 1914, Daniel Berg viajou para a Suécia e conseguiu fazer um acordo com o pastor Lewi Pethrus, que, na época, era o líder da Igreja Pentecostal Filadélfia2, em Estocolmo.
A partir desse acordo, Daniel Berg e Gunnar Vingren se tornaram missionários oficiais daquela igreja. Outros missionários suecos também foram enviados para o Brasil pela Igreja Filadélfia, entre eles Samuel Nystrom, que no futuro sucederia Vingren na liderança da igreja em Belém.
Nesse período, a atuação dos missionários suecos foi preponderante para o crescimento das Assembleias de Deus, bem como para a formação de pastores brasileiros. Tal crescimento começou a partir das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, e, em 1923, a igreja chegou ao Sudeste. Em 1960, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (Cpad) publicou a obra História das Assembleias de Deus no Brasil, de Emílio Conde. Na década de 1980, essa obra foi reorganizada e reescrita pelo pastor assembleiano Abraão de Almeida. Em 1997, em razão das comemorações do Congresso Mundial Pentecostal, organizado pela Assembleia de Deus brasileira, foi publicada a obra As Assembléias de Deus no Brasil, do pastor assembleiano Joanyr de Oliveira. Em 2011, publicou-se o livro 100 acontecimentos que fizeram a história das Assembleias de Deus no Brasil, como parte das comemorações do centenário da denominação no Brasil. Em todas essas obras, a figura de Frida Vingren é quase inexistente. O destaque maior é dado aos missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg. Acredita-se que a biografia dos fundadores contribui para o estabelecimento da identidade do grupo. Mas quem foi Frida Vingren? O que ela desempenhou nas Assembleias de Deus? Por que se fala tão pouco dela na história oficial das Assembleias de Deus?

3 . FRIDA VINGREN
Frida Mari Strandberg Vingren nasceu em 9 de junho de 1891 em Sjalevad, na Região Norte da Suécia. Seus pais, Jonas Strandberg e Kristina Sumdelin, eram membros da Igreja Luterana, todavia, na juventude, Frida foi para a Igreja Filadélfia de Estocolmo. Nessa mesma cidade, trabalhou como enfermeira-chefe de um hospital, tendo em vista que possuía formação universitária no curso de enfermagem. Além de enfermeira, ela também se dedicava à fotografia. Paralelamente à sua profissão, nutria o desejo de se tornar missionária no Brasil.
Frida comunicou esse desejo ao pastor da Igreja Filadélfia de Estocolmo, Lewi Pethrus, de modo que ela ingressou num curso bíblico na cidade sueca de Gotabro. Entre 1915 e 1917, Gunnar Vingren esteve na Suécia, pois, nesse período, sua saúde estava debilitada em razão dos cinco anos de trabalho missionário no Pará. Nessa ocasião, Frida e Gunnar se conhecem e se tornam amigos muito próximos. De acordo com Araújo:[2]
“Quando o Espírito Santo revelou a Gunnar Vingren que ele deveria ir para o Pará, disse que o missionário iria se casar com uma sueca chamada Strandberg, de 26 anos, o que de fato ocorreu. Antes de retornar dos Estados Unidos e da Suécia, onde esteve entre os anos de 1915 e 1917, recuperando as forças, após os primeiros cinco anos de atividades no Brasil, Vingren encontrou-se com Frida. Na Suécia, por diversas vezes, os dois oraram juntos, na residência da família Vaster Lund e na casa de Lewi Pethrus, pedindo a Deus a confirmação de Deus para a chamada missionária no Brasil.”
Em maio de 1917, o jornal sueco Evangelli Harold fez uma matéria informativa a respeito de Frida Vingren, na qual destacou que ela seria enviada ao Brasil para ser uma Bibelkvinna, que traduzido quer dizer “professora de Bíblia”. Com efeito, em 12 de junho de 1917, a bordo do navio Bergensf jord, Frida viajou sozinha rumo ao Brasil, mas antes parou em Nova York a fim de se encontrar com Gunnar, o qual estava à sua espera. No dia 21 de junho, Frida então embarcou mais uma vez sozinha no navio de nome Rio de Janeiro e desembarcou no Pará, em 14 de julho. Gunnar Vingren só retornou ao Brasil no mês seguinte, de modo que se casaram em 16 de outubro de 1917. Na ocasião, Gunnar estava com 38 anos e Frida com 26.
Da união nasceram os filhos Ivar, Rubem, Margit, Astrid, Bertil e Gunvor, e este último faleceu no Rio de Janeiro, vítima de crupe em 1932. Os primeiros meses de adaptação parecem não ter sido muito fáceis, pois, segundo Araújo (2011, p. 39):
“Ao iniciar o ano de 1918, muitas surpresas aguardavam o jovem casal. A jovem esposa teve que enfrentar as mais difíceis situações no prosseguimento do trabalho missionário. Acostuma dos com o clima saudável da Europa, tiveram que se habituar, sem alternativa, com o clima dos trópicos, morando em residências paupérrimas, sem nenhum conforto, e alimentando-se deficientemente, pois naquela época, em Belém, os gêneros alimentícios não eram obtidos com muita facilidade. Contudo, mesmo quando só dispunham de banana com farinha para comer, sentiam o poder de Deus e a presença do Espírito Santo em suas vidas.”
Em março de 1920, Frida contraiu malária e, como resultado, teve muitas febres; nesse período, ficou aproximadamente dois meses e meio entre a vida e a morte, mas teve a saúde restabelecida em junho de 1920. De igual modo, Gunnar Vingren contraiu várias vezes malária, e, por esse motivo, a família Vingren decidiu passar um período na Suécia. Entretanto, em fevereiro de 1923 regressaram ao Brasil.
Depois de sete anos em Belém, a família decidiu ir para o Rio de Janeiro, onde desembarcou em junho de 1924. Na ocasião, alugaram uma casa em São Cristóvão, onde também inauguraram o primeiro salão de cultos das Assembleias de Deus no estado do Rio de Janeiro. Nesse período, Frida Vingren exercia o trabalho de evangelização, pregação, ensino, abertura de novos pontos de culto, dirigia a Escola Dominical, tocava órgão e violão, enfim, executava um intenso trabalho na igreja. Frida também escrevia para Lições Bíblicas, ao passo que, em mais de cem anos de Assembleias de Deus, foi a única mulher comentarista dessas lições; além disso, Frida foi autora de 24 hinos da Harpa Cristã. Em 1926, Gunnar Vingren designou para o cargo de diaconisa uma mulher chamada Emília Costa, o que pode ter acontecido por influência de Frida; essa atitude de Gunnar Vingren desagradou aos pastores assembleianos.
Em 1929, Gunnar Vingren criou o jornal Som Alegre, de modo que, em sua primeira edição, foi feita uma tiragem de 2,2 mil exemplares. Nesse jornal, Frida atuava como redatora, bem como escrevia vários artigos. No ano de 1930, o Som Alegre foi extinto e criado o jornal Mensageiro da Paz, no qual também teve intensa participação de Frida tanto na redação como nos artigos. Poderíamos afirmar que Frida Vingren é também a pioneira da imprensa pentecostal brasileira, em razão de seus trabalhos à frente dos jornais das Assembleias de Deus. Todavia, em nenhum lugar da história oficial há algum tipo de menção desse nível a Frida.
Apesar desse intenso trabalho desenvolvido por ela, sua história é quase inexistente nas Assembleias de Deus. Seu pioneirismo não é lembrado pela história oficial. É apenas em 2004 que um autor das Assembleias de Deus, Silas Daniel, dá destaque à atuação de Frida Vingren:
“A lavra da irmã Frida foi uma das mais profícuas da história das Assembléias de Deus. Ela é autora de hinos belíssimos da Harpa Cristã e foi a única mulher a escrever comentários da revista de Escola Dominical Lições Bíblicas. Foi também uma colaboradora efetiva do jornal Mensageiro da Paz em seus primeiros anos, com artigos e poesias edificantes. Mesmo aqueles que criticam a sua presença no jornal (seu marido a incentivava, não por nepotismo, mas por Frida ser notoriamente talentosa) eram unânimes em reconhecer que ela era vocacionada para aquele trabalho e uma das mais bem preparadas missionárias evangélicas que já pisaram em solo brasileiro. Sabe-se que a irmã Frida Vingren também se destacava muito na obra pela sua atuação em várias outras áreas. Ela era extremamente atuante. Quando Gunnar Vingren não podia dirigir os cultos na igreja de São Cristóvão devido às suas muitas enfermidades, quem os dirigia era sua esposa.”[3]
Com relação ao ministério de Frida, Gunnar Vingren (1982, p. 56) afirmou: “durante a minha enfermidade, a minha esposa, junto com os obreiros da Igreja, tem assumido a responsabilidade pela obra”. Percebe-se pelas palavras de Gunnar Vingren que sua mulher pastoreava a igreja nas ocasiões em que ele esteve doente, ou seja, Frida ocupou a função de “pastora-presidente”. Essa intensa atuação de Frida nas Assembleias de Deus causou incômodo, principalmente entre os pastores brasileiros e os pastores suecos que atuavam no Brasil, dos quais o maior opositor ao ministério de Frida foi o sueco Samuel Nystrom. Quanto a isso, Vingren escreveu: “Samuel Nystrom chegou do Pará. Não se humilhou. Sustenta que a mulher não pode pregar nem ensinar, só testificar. Disse mais que provavelmente vai embora do Brasil”.[4] Tal impasse gerou conflitos entre os dois pastores, pois segundo Gunnar Vingren,
“[...] chegaram Samuel, Simon e Daniel. Samuel não se humilhou. Separamo-nos em paz, mas para não trabalhar mais juntos, nem com jornal ou nas escolas bíblicas, até o Senhor nos unir. Simon disse que ficava de fora, e Daniel tinha convidado Samuel a trabalhar em São Paulo. Assim, disse para ele: “Estamos separados”.”
Vingren procurou mais uma vez Nystrom para tentar resolver a questão, mas este continuou irredutível quanto ao ministério feminino: “Samuel Nystrom chegou do Pará. Está indo para São Paulo. Ele não tem mudado de opinião concernente à mulher. Disse que não é bíblico a mulher pregar, ensinar e doutrinar”.[5] Por fim, Gunnar Vingren escreveu uma última carta a Nystrom a fim de tentar convencê-lo da importância da mulher na igreja:
“Eu mesmo fui salvo por uma irmã evangelista que veio visitar e realizar cultos na povoação de Borka, Smaland, Suécia, há quase trinta anos. Depois veio uma irmã dos Estados Unidos e me instruiu sobre o batismo no Espírito Santo. Também quem orou por mim para que eu recebesse a promessa foram as irmãs. Eu creio que Deus vai fazer uma obra maravilhosa neste país. Porém, com o nosso modo de agir, podemos impedi-la. Para não impedi-la, devemos dar plena liberdade ao Espírito Santo para operar como ele quiser.”
Em setembro de 1930, aconteceu na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, a primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus. Um dos principais motivos para a convocação dessa reunião de pastores era para tratar exatamente do ministério feminino na igreja. No final das discussões, entre os convencionais ficou decido que a mulher não poderia exercer ministério pastoral. Portanto, Frida foi proibida de pregar e ensinar na igreja, no entanto ela continuou sua atuação como redatora do jornal Mensageiro da Paz e usou esse espaço para manifestar-se contra as decisões que restringiam o ministério feminino. Cinco meses depois da primeira Convenção Geral, Frida escreveu um texto chamado de “Deus mobilizando suas tropas”:
“Despertemo-nos, para atender o chamado do Rei, alistando-nos nas suas fileiras. As irmãs das “assembleias de Deus”, que igualmente, como os irmãos têm recebido o Espírito Santo, e portanto, possuem a mesma responsabilidade de levar a mensagem aos pecadores precisam convencer-se que precisam fazer mais do que tratar dos deveres domésticos. Sim, podem também, quando chamadas pelo Espírito Santo, sair e anunciar o Evangelho. Em todas as partes do mundo, e especialmente no trabalho pentecostal, as irmãs tomam grande parte na evangelização. Na Suécia, país pequeno com cerca de 7 milhões de habitantes, existem um grande número de irmãs evangelistas, que saem por toda parte anunciando o Evangelho, entrando em lugares novos e trabalhando exclusivamente no Evangelho. Dirigem cultos, testificam e falam da palavra do Senhor, aonde há uma porta aberta. (Os que estiveram na convenção em Natal e ouviram o pastor Lewi Pethrus falar desse assunto sabem que é verdade). Por qual razão, as irmãs brasileiras hão de ficar atrasadas? Será, que o campo não chega, ou que Deus não quer? Creio que não. Será falta de coragem? Na “parada das tropas” a qual teve lugar aqui no Rio, depois da revolução, tomou também parte, um batalhão de moças do estado de Minas Gerais, as quais tinha se alistado para a luta (MENSAGEIRO DA PAZ, 1º.2.1931, p. 6).”
Sendo assim, Frida Vingren não aceitou de maneira passiva, até porque se pode dizer que ela era uma mulher bem à frente de seu tempo, tendo em vista que, nesse período, as mulheres nem ainda haviam conquistado o direito de voto, mas Frida já reivindicava espaços de atuação das mulheres. Com base no texto publicado no jornal Mensageiro da Paz, percebe-se que Frida estava a par dos acontecimentos nacionais, pois ela cita a “revolução” que ocorrera no Rio de Janeiro no começo da década de 1930. Mas de onde vinha a inspiração de Frida para sua postura tão “moderna”? Uma das inspiradoras de Frida pode ter sido a pregadora norte-americana Aimee Semple McPherson (1890-1944).[6]
Em mais um artigo publicado no jornal Mensageiro da Paz (15.12.1931, p. 3), Frida afirmou o seguinte:
“Muitos pensam que é consagração que faz o pastor. É um erro – esta é apenas uma confirmação de Deus, e um auxílio, diante da lei social, poder exercer as funções de um ministro do Evangelho. É preferível, então, ter a realidade sem os títulos. O verdadeiro pastor nunca é “dirigente” em absoluto. Elle tem o Espírito Santo como dirigente, e não como “auxiliar”.”
Esse sentimento de inconformismo de Frida não é registrado na história oficial das Assembleias de Deus, pois, desde então, as mulheres ocupam um papel secundário no ministério eclesiástico. Os registros na historiografia oficial a respeito de Frida tendem a destacar o papel que ela desempenhou como boa mãe, boa esposa e auxiliadora do ministério do marido. Em memória coletiva, devemos nos perguntar por que determinados fatos históricos são “esquecidos”, e os grupos precisam ter a oportunidade de conhecer tais fatos.
Na Convenção Geral de 1983, o ministério feminino foi mais uma vez discutido, de modo que a ordenação de mulheres ao ministério pastoral foi rejeitada por unanimidade. A última vez que o assunto foi novamente discutido foi na Convenção Geral realizada em Brasília em 2001, e mais uma vez foi mantida a proibição ao pastorado feminino. No entanto, desde seu início, as Assembleias de Deus sempre tiveram uma forte presença feminina entre seus membros.
Quando Daniel Berg e Gunnar Vingren saíram da Igreja Batista, em Belém, para fundar as Assembleias de Deus, 18 pessoas os acompanharam, das quais dez eram mulheres, ou seja, 55% do grupo. Entre 1910 e 1976, o número de missionários suecos no Brasil foi de 64 pessoas, dos quais 39 eram mulheres, perfazendo 56, 5% da força missionária. Em 2010, de acordo com os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,37% dos membros das Assembleias de Deus eram homens, e 54,63%, mulheres. Observa-se que as mulheres das Assembleias de Deus têm uma intensa atuação em diversas áreas da igreja, mas não participam de forma direta dos processos decisórios da denominação e não são reconhecidas como “ministras do Evangelho”.
Em 1932, a família Vingren decidiu retornar para a Suécia, tendo vista que os problemas de saúde de Gunnar Vingren se agravaram, possivelmente em razão do desgaste ocasionado pelas discussões a respeito do ministério de sua mulher. O pastor Samuel Nystrom substitui Vingren na liderança das Assembleias de Deus, no Rio de Janeiro.
Em 1933, Gunnar Vingren morreu, e Frida ficou sozinha com seus cinco filhos (inicialmente tinha seis filhos, mas uma menina morreu quando ainda estavam no Rio de Janeiro). Sobre a morte do marido, Frida afirmou o seguinte:
“No dia 27, entre cinco e seis da manhã, ele recebeu a chamada para o Céu. Então, com os braços levantados, exclamou: “Jesus, como tu és maravilhoso. Aleluia! Aleluia!”. Enquanto estava sob esse poder, leu os quatro primeiros versículos do Salmo 84: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!”. A minha alma está anelante, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo. Até o pardal encontrou casa e a andorinha ninho para si e para a sua prole, junto dos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu. Bem-aventurados os que habitam em tua casa: louvarte-ão continuamente! Depois dessa experiência, viveu ainda por dois dias, quando várias vezes disse que tinha saudade de ouvir o cântico dos anjos. Uma vez sentou-se na cama, levantou os braços e louvou a Deus, pois sentiu-se maravilhosamente livre.”[7]
Depois da morte do marido, Frida tentou voltar para o Brasil, onde havia dedicado 15 anos de sua vida, entretanto a Igreja Filadélfia não permitiu que ela voltasse. Então decidiu que voltaria por conta própria e, quando estava com as crianças na estação do trem, foi impedida de embarcar por membros da Igreja Filadélfia. Em seguida, foi levada para delegacia e, por fim, internada de maneira compulsória no Hospital Psiquiátrico Konradsberg, em dezembro de 1934. Sem os filhos e internada nesse hospital, passou seis anos com graves crises de alucinação até que veio a óbito em setembro de 1940. Sendo assim, uma das figuras mais importantes da história das Assembleias de Deus terminou seus dias num quase completo esquecimento, internada como louca em um hospital psiquiátrico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesses últimos anos, tanto pesquisadores pentecostais como não pentecostais têm procurado trazer novos elementos à memória coletiva do pentecostalismo a respeito de Frida Vingren. Sua vida e seu trabalho não podem ser esquecidos. Na foto oficial da Convenção Geral das Assembleias de Deus de 1930, Frida é a única mulher que aparece, pois ela participava ativamente nos processos decisórios da igreja. No entanto, Frida e Gunnar Vingren não resistiram ao machismo sueco-nordestino. Até mesmo as missionárias e pastoras que vinham dos Estados Unidos não eram reconhecidas por esses pastores. O fato de Frida Vingren ser a única mulher a escrever na revista Lições Bíblicas é um dos sinais de que as mulheres tiveram suas vozes silenciadas em mais de cem anos das Assembleias de Deus. Entretanto, Frida não pode continuar no esquecimento, e sua vida e seu trabalho precisam fazer parte da memória coletiva pentecostal.

BIBLIOGRAFIA: 
ALENCAR, G. F. de. Religiões em diálogo: violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo Direito de Decidir, 2009.
ALMEIDA, A. (Org.). História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
ARAÚJO, I. de. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro: Cpad, 2007.
ARAÚJO, I. 100 Acontecimentos que marcaram a história das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 2011a.
ARAÚJO, I. de. 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: Cpad, 2011b.
BENTO E. História das Assembleias de Deus. Disponível em: <www.cpadnews.com.br>. Acesso em: 19 jun. 2013.
BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M.;
AMADO, J. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
CONDE, E. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1960.
DANIEL, S. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 2004.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. Campinas: Editora da Unicamp, 1940.
MENSAGEIRO DA PAZ. Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p. 6, 1º fev. 1931; v. 1, n. 4, p. 3, 15 dez. 1931.
OLIVEIRA, J. As Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1997.
VINGREN, G. Diário de um pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.



[1] Osiel Lourenço de Carvalho Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Membro do Grupo de Pesquisa Teologia no Plural e bolsista Capes.
[2] ARAÚJO, I. de. 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: Cpad, 2011.
[3] DANIEL, S. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 2004.
[4] VINGREN, G. Diário de um pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
[5] VINGREN, G. Diário de um pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
[6] ALENCAR, G. F. de. Religiões em diálogo: violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo Direito de Decidir, 2009.
[7] BENTO E. História das Assembleias de Deus. Disponível em: <www.cpadnews.com.br>. Acesso em: 19 jun. 2013

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