A VERDADEIRA HISTÓRIA DE FRIDA
VINGREN[1]
Quando se fala nas origens das
Assembleias de Deus, dois nomes são lembrados: Daniel Berg e Gunnar Vingren. Esses
dois personagens estão presentes na memória coletiva do pentecostalismo como
aqueles que iniciaram as Assembleias de Deus. A historiografia oficial da
igreja faz questão de reforçar a figura de Berg e Gunnar como os principais
nomes do início da denominação. Entretanto, nos últimos anos a história da
também pioneira Frida Vingren tem sido alvo de muitas discussões.
Nascida em 1891, Frida tinha
curso universitário em enfermagem e foi chefe em um hospital na Suécia. Em
1917, viajou sozinha para o Brasil e se casou com Gunnar Vingren. Durante o
período em que viveu no Brasil (1917-1932), foi uma das pessoas mais atuantes
das Assembleias de Deus. Talentosa, atuou como educadora, pregadora, escritora,
compositora, além de exercer atividades pastorais. Mas por que uma mulher tão
destacada quase não aparece na história oficial das Assembleias de Deus? Essa e
outras questões a respeito de Frida Vingren serão aqui refletidas, pois outros
personagens da denominação pentecostal precisam sair do esquecimento para que tenham
sua história conhecida pelo grupo.
2 . ORIGEM DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
No Brasil, a igreja denominada
Assembleia de Deus foi fundada em Belém do Pará pelos missionários suecos
Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar de serem suecos, os dois vieram dos
Estados Unidos e chegaram a Belém em 1910. A razão pela qual migraram para os
Estados Unidos foi a busca por melhores condições de vida, tendo em vista que a
Suécia, nesse período, ainda não era uma país com boas condições econômicas e
sociais. Os dois conheceram-se por meio do movimento pentecostal que fora
iniciado por Charles Parham (Chicago) e Wiliam J. Seymour (Los Angeles). Depois
da experiência do chamado batismo com o Espírito Santo, sentiram-se
vocacionados a virem para o Brasil. Chegaram a Belém do Pará em 1910 e
apresentaram-se à Igreja Batista. Como resultado de suas pregações com ênfase
na doutrina do batismo com o Espírito Santo, foram desligados junto com mais 18
pessoas.
Gunnar Vingren e Daniel Berg, sem
nenhum apoio financeiro, passaram a realizar cultos domésticos com as 18
pessoas e, em junho de 1911, criam oficialmente a Missão da Fé Apostólica1. Em
1914, Daniel Berg viajou para a Suécia e conseguiu fazer um acordo com o pastor
Lewi Pethrus, que, na época, era o líder da Igreja Pentecostal Filadélfia2, em
Estocolmo.
A partir desse acordo, Daniel
Berg e Gunnar Vingren se tornaram missionários oficiais daquela igreja. Outros
missionários suecos também foram enviados para o Brasil pela Igreja Filadélfia,
entre eles Samuel Nystrom, que no futuro sucederia Vingren na liderança da
igreja em Belém.
Nesse período, a atuação dos
missionários suecos foi preponderante para o crescimento das Assembleias de
Deus, bem como para a formação de pastores brasileiros. Tal crescimento começou
a partir das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, e, em 1923, a igreja chegou ao
Sudeste. Em 1960, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (Cpad) publicou a
obra História das Assembleias de Deus no Brasil, de Emílio Conde. Na década de
1980, essa obra foi reorganizada e reescrita pelo pastor assembleiano Abraão de
Almeida. Em 1997, em razão das comemorações do Congresso Mundial Pentecostal,
organizado pela Assembleia de Deus brasileira, foi publicada a obra As
Assembléias de Deus no Brasil, do pastor assembleiano Joanyr de Oliveira. Em
2011, publicou-se o livro 100 acontecimentos que fizeram a história das Assembleias
de Deus no Brasil, como parte das comemorações do centenário da denominação no Brasil.
Em todas essas obras, a figura de Frida Vingren é quase inexistente. O destaque
maior é dado aos missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg. Acredita-se que a
biografia dos fundadores contribui para o estabelecimento da identidade do grupo.
Mas quem foi Frida Vingren? O que ela desempenhou nas Assembleias de Deus? Por
que se fala tão pouco dela na história oficial das Assembleias de Deus?
3 . FRIDA VINGREN
Frida Mari Strandberg Vingren
nasceu em 9 de junho de 1891 em Sjalevad, na Região Norte da Suécia. Seus pais,
Jonas Strandberg e Kristina Sumdelin, eram membros da Igreja Luterana, todavia,
na juventude, Frida foi para a Igreja Filadélfia de Estocolmo. Nessa mesma
cidade, trabalhou como enfermeira-chefe de um hospital, tendo em vista que
possuía formação universitária no curso de enfermagem. Além de enfermeira, ela
também se dedicava à fotografia. Paralelamente à sua profissão, nutria o desejo
de se tornar missionária no Brasil.
Frida comunicou esse desejo ao
pastor da Igreja Filadélfia de Estocolmo, Lewi Pethrus, de modo que ela
ingressou num curso bíblico na cidade sueca de Gotabro. Entre 1915 e 1917, Gunnar
Vingren esteve na Suécia, pois, nesse período, sua saúde estava debilitada em
razão dos cinco anos de trabalho missionário no Pará. Nessa ocasião, Frida e
Gunnar se conhecem e se tornam amigos muito próximos. De acordo com Araújo:[2]
“Quando o Espírito Santo revelou
a Gunnar Vingren que ele deveria ir para o Pará, disse que o missionário iria
se casar com uma sueca chamada Strandberg, de 26 anos, o que de fato ocorreu. Antes
de retornar dos Estados Unidos e da Suécia, onde esteve entre os anos de 1915 e
1917, recuperando as forças, após os primeiros cinco anos de atividades no
Brasil, Vingren encontrou-se com Frida. Na Suécia, por diversas vezes, os dois oraram
juntos, na residência da família Vaster Lund e na casa de Lewi Pethrus, pedindo
a Deus a confirmação de Deus para a chamada missionária no Brasil.”
Em maio de 1917, o jornal sueco
Evangelli Harold fez uma matéria informativa a respeito de Frida Vingren, na
qual destacou que ela seria enviada ao Brasil para ser uma Bibelkvinna, que
traduzido quer dizer “professora de Bíblia”. Com efeito, em 12 de junho de
1917, a bordo do navio Bergensf jord, Frida viajou sozinha rumo ao Brasil, mas
antes parou em Nova York a fim de se encontrar com Gunnar, o qual estava à sua
espera. No dia 21 de junho, Frida então embarcou mais uma vez sozinha no navio
de nome Rio de Janeiro e desembarcou no Pará, em 14 de julho. Gunnar Vingren só
retornou ao Brasil no mês seguinte, de modo que se casaram em 16 de outubro de 1917.
Na ocasião, Gunnar estava com 38 anos e Frida com 26.
Da união nasceram os filhos Ivar,
Rubem, Margit, Astrid, Bertil e Gunvor, e este último faleceu no Rio de Janeiro,
vítima de crupe em 1932. Os primeiros meses de adaptação parecem não ter sido
muito fáceis, pois, segundo Araújo (2011, p. 39):
“Ao iniciar o ano de 1918, muitas
surpresas aguardavam o jovem casal. A jovem esposa teve que enfrentar as mais
difíceis situações no prosseguimento do trabalho missionário. Acostuma dos com o
clima saudável da Europa, tiveram que se habituar, sem alternativa, com o clima
dos trópicos, morando em residências paupérrimas, sem nenhum conforto, e alimentando-se
deficientemente, pois naquela época, em Belém, os gêneros alimentícios não eram
obtidos com muita facilidade. Contudo, mesmo quando só dispunham de banana com
farinha para comer, sentiam o poder de Deus e a presença do Espírito Santo em
suas vidas.”
Em março de 1920, Frida contraiu
malária e, como resultado, teve muitas febres; nesse período, ficou
aproximadamente dois meses e meio entre a vida e a morte, mas teve a saúde
restabelecida em junho de 1920. De igual modo, Gunnar Vingren contraiu várias
vezes malária, e, por esse motivo, a família Vingren decidiu passar um período
na Suécia. Entretanto, em fevereiro de 1923 regressaram ao Brasil.
Depois de sete anos em Belém, a
família decidiu ir para o Rio de Janeiro, onde desembarcou em junho de 1924. Na
ocasião, alugaram uma casa em São Cristóvão, onde também inauguraram o primeiro
salão de cultos das Assembleias de Deus no estado do Rio de Janeiro. Nesse
período, Frida Vingren exercia o trabalho de evangelização, pregação, ensino, abertura
de novos pontos de culto, dirigia a Escola Dominical, tocava órgão e violão,
enfim, executava um intenso trabalho na igreja. Frida também escrevia para
Lições Bíblicas, ao passo que, em mais de cem anos de Assembleias de Deus, foi a
única mulher comentarista dessas lições; além disso, Frida foi autora de 24
hinos da Harpa Cristã. Em 1926, Gunnar Vingren designou para o cargo de
diaconisa uma mulher chamada Emília Costa, o que pode ter acontecido por
influência de Frida; essa atitude de Gunnar Vingren desagradou aos pastores assembleianos.
Em 1929, Gunnar Vingren criou o
jornal Som Alegre, de modo que, em sua primeira edição, foi feita uma tiragem de
2,2 mil exemplares. Nesse jornal, Frida atuava como redatora, bem como escrevia
vários artigos. No ano de 1930, o Som Alegre foi extinto e criado o jornal
Mensageiro da Paz, no qual também teve intensa participação de Frida tanto na
redação como nos artigos. Poderíamos afirmar que Frida Vingren é também a
pioneira da imprensa pentecostal brasileira, em razão de seus trabalhos à
frente dos jornais das Assembleias de Deus. Todavia, em nenhum lugar da
história oficial há algum tipo de menção desse nível a Frida.
Apesar desse intenso trabalho
desenvolvido por ela, sua história é quase inexistente nas Assembleias de Deus.
Seu pioneirismo não é lembrado pela história oficial. É apenas em 2004 que um
autor das Assembleias de Deus, Silas Daniel, dá destaque à atuação de Frida
Vingren:
“A lavra da irmã Frida foi uma
das mais profícuas da história das Assembléias de Deus. Ela é autora de hinos
belíssimos da Harpa Cristã e foi a única mulher a escrever comentários da
revista de Escola Dominical Lições Bíblicas. Foi também uma colaboradora efetiva
do jornal Mensageiro da Paz em seus primeiros anos, com artigos e poesias
edificantes. Mesmo aqueles que criticam a sua presença no jornal (seu marido a
incentivava, não por nepotismo, mas por Frida ser notoriamente talentosa) eram unânimes
em reconhecer que ela era vocacionada para aquele trabalho e uma das mais bem
preparadas missionárias evangélicas que já pisaram em solo brasileiro. Sabe-se
que a irmã Frida Vingren também se destacava muito na obra pela sua atuação em
várias outras áreas. Ela era extremamente atuante. Quando Gunnar Vingren não
podia dirigir os cultos na igreja de São Cristóvão devido às suas muitas
enfermidades, quem os dirigia era sua esposa.”[3]
Com relação ao ministério de
Frida, Gunnar Vingren (1982, p. 56) afirmou: “durante a minha enfermidade, a
minha esposa, junto com os obreiros da Igreja, tem assumido a responsabilidade
pela obra”. Percebe-se pelas palavras de Gunnar Vingren que sua mulher
pastoreava a igreja nas ocasiões em que ele esteve doente, ou seja, Frida
ocupou a função de “pastora-presidente”. Essa intensa atuação de Frida nas
Assembleias de Deus causou incômodo, principalmente entre os pastores brasileiros
e os pastores suecos que atuavam no Brasil, dos quais o maior opositor ao
ministério de Frida foi o sueco Samuel Nystrom. Quanto a isso, Vingren
escreveu: “Samuel Nystrom chegou do Pará. Não se humilhou. Sustenta que a
mulher não pode pregar nem ensinar, só testificar. Disse mais que provavelmente
vai embora do Brasil”.[4]
Tal impasse gerou conflitos entre os dois pastores, pois segundo Gunnar Vingren,
“[...] chegaram Samuel, Simon e Daniel.
Samuel não se humilhou. Separamo-nos em paz, mas para não trabalhar mais
juntos, nem com jornal ou nas escolas bíblicas, até o Senhor nos unir. Simon
disse que ficava de fora, e Daniel tinha convidado Samuel a trabalhar em São
Paulo. Assim, disse para ele: “Estamos separados”.”
Vingren procurou mais uma vez
Nystrom para tentar resolver a questão, mas este continuou irredutível quanto
ao ministério feminino: “Samuel Nystrom chegou do Pará. Está indo para São
Paulo. Ele não tem mudado de opinião concernente à mulher. Disse que não é bíblico
a mulher pregar, ensinar e doutrinar”.[5]
Por fim, Gunnar Vingren escreveu uma última carta a Nystrom a fim de tentar
convencê-lo da importância da mulher na igreja:
“Eu mesmo fui salvo por uma irmã
evangelista que veio visitar e realizar cultos na povoação de Borka, Smaland,
Suécia, há quase trinta anos. Depois veio uma irmã dos Estados Unidos e me instruiu
sobre o batismo no Espírito Santo. Também quem orou por mim para que eu recebesse
a promessa foram as irmãs. Eu creio que Deus vai fazer uma obra maravilhosa
neste país. Porém, com o nosso modo de agir, podemos impedi-la. Para não
impedi-la, devemos dar plena liberdade ao Espírito Santo para operar como ele
quiser.”
Em setembro de 1930, aconteceu na
cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, a primeira Convenção Geral das
Assembleias de Deus. Um dos principais motivos para a convocação dessa reunião
de pastores era para tratar exatamente do ministério feminino na igreja. No
final das discussões, entre os convencionais ficou decido que a mulher não
poderia exercer ministério pastoral. Portanto, Frida foi proibida de pregar e
ensinar na igreja, no entanto ela continuou sua atuação como redatora do jornal
Mensageiro da Paz e usou esse espaço para manifestar-se contra as decisões que
restringiam o ministério feminino. Cinco meses depois da primeira Convenção
Geral, Frida escreveu um texto chamado de “Deus mobilizando suas tropas”:
“Despertemo-nos, para atender o
chamado do Rei, alistando-nos nas suas fileiras. As irmãs das “assembleias de
Deus”, que igualmente, como os irmãos têm recebido o Espírito Santo, e portanto,
possuem a mesma responsabilidade de levar a mensagem aos pecadores precisam convencer-se
que precisam fazer mais do que tratar dos deveres domésticos. Sim, podem
também, quando chamadas pelo Espírito Santo, sair e anunciar o Evangelho. Em
todas as partes do mundo, e especialmente no trabalho pentecostal, as irmãs
tomam grande parte na evangelização. Na Suécia, país pequeno com cerca de 7
milhões de habitantes, existem um grande número de irmãs evangelistas, que saem
por toda parte anunciando o Evangelho, entrando em lugares novos e trabalhando exclusivamente
no Evangelho. Dirigem cultos, testificam e falam da palavra do Senhor, aonde há
uma porta aberta. (Os que estiveram na convenção em Natal e ouviram o pastor Lewi
Pethrus falar desse assunto sabem que é verdade). Por qual razão, as irmãs
brasileiras hão de ficar atrasadas? Será, que o campo não chega, ou que Deus
não quer? Creio que não. Será falta de coragem? Na “parada das tropas” a qual
teve lugar aqui no Rio, depois da revolução, tomou também parte, um batalhão de
moças do estado de Minas Gerais, as quais tinha se alistado para a luta
(MENSAGEIRO DA PAZ, 1º.2.1931, p. 6).”
Sendo assim, Frida Vingren não
aceitou de maneira passiva, até porque se pode dizer que ela era uma mulher bem
à frente de seu tempo, tendo em vista que, nesse período, as mulheres nem ainda
haviam conquistado o direito de voto, mas Frida já reivindicava espaços de
atuação das mulheres. Com base no texto publicado no jornal Mensageiro da Paz,
percebe-se que Frida estava a par dos acontecimentos nacionais, pois ela cita a
“revolução” que ocorrera no Rio de Janeiro no começo da década de 1930. Mas de
onde vinha a inspiração de Frida para sua postura tão “moderna”? Uma das
inspiradoras de Frida pode ter sido a pregadora norte-americana Aimee Semple McPherson
(1890-1944).[6]
Em mais um artigo publicado no
jornal Mensageiro da Paz (15.12.1931, p. 3), Frida afirmou o seguinte:
“Muitos pensam que é consagração
que faz o pastor. É um erro – esta é apenas uma confirmação de Deus, e um
auxílio, diante da lei social, poder exercer as funções de um ministro do
Evangelho. É preferível, então, ter a realidade sem os títulos. O verdadeiro pastor
nunca é “dirigente” em absoluto. Elle tem o Espírito Santo como dirigente, e
não como “auxiliar”.”
Esse sentimento de inconformismo
de Frida não é registrado na história oficial das Assembleias de Deus, pois,
desde então, as mulheres ocupam um papel secundário no ministério eclesiástico.
Os registros na historiografia oficial a respeito de Frida tendem a destacar o
papel que ela desempenhou como boa mãe, boa esposa e auxiliadora do ministério
do marido. Em memória coletiva, devemos nos perguntar por que determinados fatos
históricos são “esquecidos”, e os grupos precisam ter a oportunidade de
conhecer tais fatos.
Na Convenção Geral de 1983, o
ministério feminino foi mais uma vez discutido, de modo que a ordenação de
mulheres ao ministério pastoral foi rejeitada por unanimidade. A última vez que
o assunto foi novamente discutido foi na Convenção Geral realizada em Brasília
em 2001, e mais uma vez foi mantida a proibição ao pastorado feminino. No
entanto, desde seu início, as Assembleias de Deus sempre tiveram uma forte
presença feminina entre seus membros.
Quando Daniel Berg e Gunnar
Vingren saíram da Igreja Batista, em Belém, para fundar as Assembleias de Deus,
18 pessoas os acompanharam, das quais dez eram mulheres, ou seja, 55% do grupo.
Entre 1910 e 1976, o número de missionários suecos no Brasil foi de 64 pessoas,
dos quais 39 eram mulheres, perfazendo 56, 5% da força missionária. Em 2010, de
acordo com os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), 45,37% dos membros das Assembleias de Deus eram homens, e 54,63%, mulheres.
Observa-se que as mulheres das Assembleias de Deus têm uma intensa atuação em
diversas áreas da igreja, mas não participam de forma direta dos processos
decisórios da denominação e não são reconhecidas como “ministras do Evangelho”.
Em 1932, a família Vingren
decidiu retornar para a Suécia, tendo vista que os problemas de saúde de Gunnar
Vingren se agravaram, possivelmente em razão do desgaste ocasionado pelas
discussões a respeito do ministério de sua mulher. O pastor Samuel Nystrom substitui
Vingren na liderança das Assembleias de Deus, no Rio de Janeiro.
Em 1933, Gunnar Vingren morreu, e
Frida ficou sozinha com seus cinco filhos (inicialmente tinha seis filhos, mas uma
menina morreu quando ainda estavam no Rio de Janeiro). Sobre a morte do marido,
Frida afirmou o seguinte:
“No dia 27, entre cinco e seis da
manhã, ele recebeu a chamada para o Céu. Então, com os braços levantados,
exclamou: “Jesus, como tu és maravilhoso. Aleluia! Aleluia!”. Enquanto estava
sob esse poder, leu os quatro primeiros versículos do Salmo 84: “Quão amáveis
são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!”. A minha alma está anelante, e
desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo
Deus vivo. Até o pardal encontrou casa e a andorinha ninho para si e para a sua
prole, junto dos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.
Bem-aventurados os que habitam em tua casa: louvarte-ão continuamente! Depois
dessa experiência, viveu ainda por dois dias, quando várias vezes disse que
tinha saudade de ouvir o cântico dos anjos. Uma vez sentou-se na cama, levantou
os braços e louvou a Deus, pois sentiu-se maravilhosamente livre.”[7]
Depois da morte do marido, Frida
tentou voltar para o Brasil, onde havia dedicado 15 anos de sua vida,
entretanto a Igreja Filadélfia não permitiu que ela voltasse. Então decidiu que
voltaria por conta própria e, quando estava com as crianças na estação do trem,
foi impedida de embarcar por membros da Igreja Filadélfia. Em seguida, foi
levada para delegacia e, por fim, internada de maneira compulsória no Hospital
Psiquiátrico Konradsberg, em dezembro de 1934. Sem os filhos e internada nesse
hospital, passou seis anos com graves crises de alucinação até que veio a óbito
em setembro de 1940. Sendo assim, uma das figuras mais importantes da história
das Assembleias de Deus terminou seus dias num quase completo esquecimento, internada
como louca em um hospital psiquiátrico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesses últimos anos, tanto
pesquisadores pentecostais como não pentecostais têm procurado trazer novos
elementos à memória coletiva do pentecostalismo a respeito de Frida Vingren. Sua
vida e seu trabalho não podem ser esquecidos. Na foto oficial da Convenção Geral
das Assembleias de Deus de 1930, Frida é a única mulher que aparece, pois ela
participava ativamente nos processos decisórios da igreja. No entanto, Frida e
Gunnar Vingren não resistiram ao machismo sueco-nordestino. Até mesmo as
missionárias e pastoras que vinham dos Estados Unidos não eram reconhecidas por
esses pastores. O fato de Frida Vingren ser a única mulher a escrever na
revista Lições Bíblicas é um dos sinais de que as mulheres tiveram suas vozes
silenciadas em mais de cem anos das Assembleias de Deus. Entretanto, Frida não
pode continuar no esquecimento, e sua vida e seu trabalho precisam fazer parte da
memória coletiva pentecostal.
BIBLIOGRAFIA:
ALENCAR, G. F. de. Religiões em
diálogo: violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo Direito de
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ALMEIDA, A. (Org.). História das
Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
ARAÚJO, I. de. Dicionário do
movimento pentecostal. Rio de Janeiro: Cpad, 2007.
ARAÚJO, I. 100 Acontecimentos que
marcaram a história das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad,
2011a.
ARAÚJO, I. de. 100 mulheres que
fizeram a história das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: Cpad, 2011b.
BENTO E. História das Assembleias
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BOURDIEU, P. A ilusão biográfica.
In: FERREIRA, M.;
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história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
CONDE, E. História das Assembléias
de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1960.
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Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 2004.
HALBWACHS, M. A memória coletiva.
Campinas: Editora da Unicamp, 1940.
MENSAGEIRO DA PAZ. Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, p. 6, 1º fev. 1931; v. 1, n. 4, p. 3, 15 dez. 1931.
OLIVEIRA, J. As Assembléias de
Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 1997.
VINGREN, G. Diário de um
pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
[1] Osiel Lourenço de Carvalho
Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo
(Umesp). Membro do Grupo de Pesquisa Teologia no Plural e bolsista Capes.
[2] ARAÚJO, I. de. 100
mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: Cpad,
2011.
[3] DANIEL, S. História da
Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: Cpad, 2004.
[4] VINGREN, G. Diário de um
pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
[5] VINGREN, G. Diário de um
pioneiro. Rio de Janeiro: Cpad, 1982.
[6] ALENCAR, G. F. de.
Religiões em diálogo: violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo
Direito de Decidir, 2009.
[7] BENTO E. História das
Assembleias de Deus. Disponível em: <www.cpadnews.com.br>. Acesso em: 19
jun. 2013
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