quinta-feira, 7 de julho de 2016

O PENTATEUCO
O nome judeu:  TORAH (Instrução ou Direito). Torá (hebraico) raiz yara, "lançamento" ou "disparar", os meios de palavras "Direção", "lei", "instrução" ou "ensino".  A Torá não era conhecido como cinco livros, A Torá era conhecido como uma única entidade.
Nome judaico no Antigo Testamento
 A lei: Jos.8: 34; Esd.10: 3; Neh.8: 2,7,14; 10: 34,36; 00:44; 13: 3; 2Cr.14: 4; 31:21; 33: 8; O Livro da Lei: Jos.1: 8; 08:34; 2Re.22: 8; Neh.8: 3; O Livro da Lei de Moisés: Jos.8: 31; 23: 6; 2Re.14: 6; Neh.8: 1;  O Livro de Moisés: Esd.6: 18; Neh.13: 1; 2Cr.25: 4; 35:12; A Lei do Senhor: Esd.7: 10; 1Cr.16: 40; 2Cr.31: 3; 35:26;  A Lei de Deus: Neh.10: 28,29; O Livro da Lei do Senhor: 2Chr.17: 9; 34:14; O Livro da Lei do Senhor seu Deus: Neh.9: 3; A Lei de Moisés, servo de Deus: Dn.9: 11; Mal.4: 4.
Nome judaica no Novo Testamento, o Pentateuco é chamado em uma maneira similar que o A.T:
 O Livro da Lei: Gal.3: 10; O Livro de Moisés: Mc.12: 26;  A lei: Mat.12: 5; Lc.16: 16; Jo.7: 19; A Lei de Moisés: Lc. 2:22; Jo.7: 23; A Lei do Senhor: Lc. 2: 23,24.
"Pentateuco" de pentáteuchos gregos de dois termos: (Penta = "cinco"; teuchos = "volume"). A palavra pode ser traduzida como "(Livro) de cinco volumes" ou "composto por cinco rolos". A Septuaginta (250 aC) introduziu a ideia de dividir a Lei de Moises em cinco livros.  Nos manuscritos originais já havia cinco seções (não livros separados, embora):  "No princípio" (Gênesis)  "Estes são os nomes" (Êxodo)  "E o Senhor chamou" (Levítico)  "E o Senhor falou a Moisés no deserto" (Números)  "Estas são as palavras que Moisés falou" (Deuteronômio)  Orígenes (Origenes Adamantius 185-254) foi creditado com o primeiro uso da palavra "Pentateuco", quando ele fala sobre "Pentateuco de Moisés".  O nome Pentateuco apela para a unidade desses 5 livros
LIVRO TEMA LIÇÃO
GÊNESE A eleição de Israel;  A salvação é Essencial
ÊXODO A Redenção de Israel; A libertação é Essencial
LEVITICUS A santificação de Israel; santidade é Essencial
NÚMEROS A Disciplina de Israel; perseverança Essencial
DEUTERONÔMIO A Instrução de Israel; A obediência é Essencial.
O Pentateuco como base de todo pensamento teológico bíblico As escrituras judaicas estão divididas em três partes: 1 º Torá ou Pentateuco. 2 º Naviim ou profetas. 3 º Ketubiim ou escritos. A primeira divisão chamada de Torá é a base do pensamento teológico de todas os autores bíblicos do VT. e do NT. e mesmo de Jesus. Nos momentos de apostasia todos recomendavam um retorno a Moisés, uma volta aos estatutos e leis dadas pelo Senhor. Nos momentos de acusar os pecados e a apostasia também a lei era citada. Neemias faz isto em Ne.9.13-17. Esdras refere-se a Moisés e a outros grandes homens do tempo de Moisés como os profetas servos do Senhor que profetizavam sobre a terra prometida,Ed.9.11-14. Ele prega que os israelitas desfaçam seus casamentos e voltem aos moldes éticos da Torá. Ed.10. A pregação dos profetas é, em geral, contra as injustiças sociais e econômicas, contra a idolatria e contra os que se afastam de Deus. Mesmo que Moisés não seja citado, a volta à pratica da justiça, das boas obras, do abandono do pecado é conforme o que determinou Moisés no Pentateuco. Jr.5.1,2,25-28;6;19; Ezequiel denuncia que Israel afastou-se dos juízos e estatutos do Senhor,Ez;20;11-16; faz críticas as opressões que a lei prescrevia que não se fizesse, Ez.18.11-18.
Daniel diz que por ter o povo se desviado da lei e por não ofender a voz do Senhor, a maldição e o juramento que está escrito na lei de Moisés se derramou sobre Israel. Dn.9.10-13; Lv.26.14; Dt.28.15 Amós denuncia a terrível exploração social que ocorria em seus dias. A lei proibia veementemente a exploração aos pobres. Am.4.1, Ex.22.20-24 Miqueias combate as medidas injustas registradas na lei, Mq.6.10, Dt.25.13-16. A violência dos ricos a mentira e a língua enganosa. Mq.6.12. Habacuque salienta com muita ênfase a questão da violência, do ímpio que persegue o justo. “Por está causa a lei se afrouxa e a sentença nunca sai.” Hc.1.1-4. Sofonias, profeta que viveu nos dias do rei Josias, denuncia a opressão, a violência, as injustiças e a idolatria. Em seus dias e nos dias de Josias achou-se um livro da lei no templo o que proporcionou uma grande reforma religiosa em Judá,2 Rs.22.8-13. A profetisa Hulda, nesta mesma época, profetizou os males que viriam sobre Jerusalém conforme estava profetizado na Torá. 2 Rs.22.14-20. Ageu, profeta da restauração, estimula a justiça de acordo com Moisés e a volta ao Senhor antes de começarem a reconstrução do templo e profetiza bênçãos conforme determina a lei,Ag.2.10-23. Zacarias exorta o povo à verdade, ao juízo, a não praticar o mal com seu próximo, ao não juramento falso, ao amor a verdade e a paz. Isso retirará de entre eles as maldições e trará as bênçãos da constituição mosaica, Zc.8.13-19.
Moisés como a base do pensamento teológico do NT
No NT todos pensam Moisés. O povo, At.13.15; Jesus, Lc.14.5; Jo.5.46; os apóstolos, Jo.1.17; os inimigos de Jesus, Jo.19.7; Paulo, Rm.4.3,17; 10.5-8. Para Jesus Moisés fala literalmente dele, Jo.5.46; os redimidos da tribulação cantam o cântico de Moisés e do cordeiro, Ap.15.3. O nome desse profeta e seu código de leis está semeado por todo o NT: Mt.17.3;19.8; Mc.9.4;10. 4;Lc.9.30; 16.29; 24.27; Jo.1.17; 3.14; 5.46; 6.32; 9.29; At.3.22; 7.22; 21.21; Rm.5.14; 10.5; 1 Co.10.2; 2 Co.3.7; 3.15; 2 Tm.3.8; Hb.3.2; 7.14; 9.19; 11.23; Jd.v.9; Ap.15.3.
De que trata o Pentateuco De acordo com Moisés Maimônides, eminente filósofo judeu do século XII, a lei de Moisés é um código de leis com 613 mandamentos dados a Moisés no percurso da caminhada dos quarenta anos no “barmidbar Sinai” ou no deserto do Sinai, desde o sopé do monte sagrado até a planície de Moabe. Encontramos no prefácio de uma de suas principais obras chamada de “Os 613 Mandamentos” o seguinte dizer: “Esta obra monumental intitulada “torah” ou “a Lei” é a primeira constituição escrita distribuída a um povo para lhe servir de estatuto e guia. Contém 613 artigos de lei. Estes preceitos são divididos em duas grandes secções: os preceitos positivos ou “Farás”e os negativos ou “Não farás”. São 248 os preceitos positivos e 365 os negativos, pois usará as 248 partes que compõem seu corpo para fazer os seus deveres para com Deus e seu próximo e se recusará a fazer o mal os 365 dias do ano”.
Sistema Cultual Judaico A Torá especifica um complexo sistema cultual em torno do tabernáculo (Mishekan) Ex.37 e 38. As sete principais peças desse complexo tinham ampla representação no culto. 1-O Altar dos Holocaustos (mizbah Olah)Ex.38.1.Uma peça feita de madeira e coberta de cobre. Sobre esse altar eram feitos os sacríficos rituais que testificavam a redenção de Israel e por extensão de todo o mundo. 2-A Pia de Cobre, (kiyyõr) Ex.38.8.Lugar onde o sacerdote se lavava após o sacrifício. Dá ênfase a questão da santificação. 3-A Mesa dos Pães da Proposição, (shulhan welehem panim) Ex.37.10. Coberta de ouro. Aponta para a comunhão com Deus e com os irmãos. 4-O Castiçal de Ouro Puro, (menorah) Ex.37.17.ênfase na iluminação que traz a fé em Jeová. 5-O Altar do Incenso, (mizbah miqtar) Ex.37.25. Símbolo da adoração e a oração a Deus. 6-A Arca (aron habberit) Ex.37.1.Uma caixa feita de madeira de 1mx1m e revestida de ouro. 7-O Propiciatório, (kapporet) Ex.37.6.Uma tampa de ouro puro que fechava a arca do concerto. Sobre ele estavam os dois querubins, símbolos da presença de Deus. O sistema cultual estabelecido pela lei tinha certa hierarquia inflexível e que não podia ser quebrada ou substituída a sua liturgia. Nadabe e Abiu, filhos de Arão, por apresentarem uma liturgia diferente da estabelecida, foram mortos dentro do tabernáculo, Lv.10.1,2.
Sistema Econômico A Torá prescreve um eficiente sistema econômico, com contribuições sistemáticas e dízimos para sustento da tribo sacerdotal (Levi) e os serviços da tenda da congregação. Ex.30.11-16, estabelece uma contribuição obrigatória do resgate da alma de “metade de um siclo como oferta ao Senhor. Em Números o Senhor ratifica para Arão que toda a arrecadação feita para a tenda da congregação pertence aos levitas para que nada faltasse a eles. Nm.18.8-24.
Sistema Governamental A Torá estabelecia um sistema de governo teocrático tendo Moisés como líder maior(pelo menos para os dias da peregrinação),o qual não podia ser questionado, pois falava em nome de Deus. Seus irmãos foram punidos por Deus por não aceitarem sua liderança,Nm.12.1-16.Coré, Datã e Abirão também foram punidos por questionarem o líder Moisés,Nm.16.1-50.
 Sistema Social A Torá continha um exigente sistema de leis para se aplicar na parte social da comunidade. São centenas de mandamentos voltados para as relações humanas e o respeito à vida comunal.Lv.19.9-37;24.17-20;25.6,7.
Sistema Moral A Torá estipula um severo código moral entre os membros da comunidade israelita os quais se quebrados trariam severas consequências sobre os transgressores. Ex.22.16;23.1-9.
É sabido que o Pentateuco nos fornece os principais fatos da revelação divina. Precisamente nos primeiros capítulos é que ficamos a saber que foi Deus o Criador do mundo onde vivemos. Segue-se a descrição da queda do homem, revolta da criatura contra o Criador, por meio da qual a humanidade, e com ela toda a criação, teve de suportar a maldição divina. Vem depois a promessa do Salvador ("a Semente da Mulher" em Gn 3.15), com a indicação das circunstâncias em que este Salvador aparecerá no mundo. Primeiramente há um quadro geral do universo, em que o pecado leva o Senhor a destruir o homem pelo dilúvio, fazendo-o desaparecer da face da terra. Depois desse dilúvio, de que só escapou a família de Noé, surge um período de apostasia, cujo cúmulo leva o homem a construir uma torre capaz de enfrentar as nuvens e o próprio Deus (Gn 11.4).
Deus, porém, na Sua bondade infinita, propõe-Se preparar um povo, de que há de sair o Salvador. De Ur dos Caldeus chama Abraão, um dos descendentes de Sem (Gn 11.26), e através dele promete a bênção a todas as famílias da terra (Gn 12.3). Os filhos de Jacó emigram para o Egito, onde após anos de tranquila estada, se transformam numa grande nação. Surge a escravidão e uma tentativa para restringir o progresso desse povo, mas o Senhor liberta-o e com ele realiza uma aliança no Monte Sinai. É a Lei mosaica, que lentamente vai sendo explicada. Mas a libertação do Egito, por meio de Moisés, não passa dum símbolo da obra redentora de Cristo (cfr. Jo 1.17; Cl 2.17). Narrações que não podem ser tomadas como mera representação dos acontecimentos históricos, pelo seu significado espiritual, que podemos e devemos atribuir-lhes.
LIVROS HISTÓRICOS DE JOSUÉ A ESTER
a) O Livro de Josué
O caráter da literatura histórica é determinado pelo lugar que ocupa nos planos da revelação de Deus para a redenção da humanidade. A finalidade é, portanto, revelar o que o Senhor, na Sua misericórdia determinou para salvar o homem. É deste modo que ao Pentateuco se pode chamar a base da revelação, desde a criação do mundo até ao estabelecimento duma aliança com Israel, em que se expõem as condições dessa aliança. O livro de Josué mostra como o Senhor leva o povo escolhido à Terra Prometida, em conformidade com aquela aliança. A história que se segue, todavia, vai dizer-nos que só pela Lei não é possível a salvação. Como então? A redenção dos pecadores só poderia ser efetuada pelo Filho de Deus encarnado. Os livros dos Juízes, de Samuel e dos Reis lembram a apostasia de Israel, a que já os últimos versículos de Josué fazem referência: "Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué, e sabiam toda a obra que o Senhor tinha feito a Israel" (Js 24.31). Nestas palavras se resume a história da religião de Israel, que assim abandonava o seu Deus.
b) O Livro dos Juízes
A isto se pode resumir o livro dos Juízes: "Os filhos de Israel deixaram ao Senhor, Deus de seus pais, e prestaram culto aos deuses pagãos de Canaã, Baal e Astarote. Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e os deu na mão dos seus inimigos. Todavia levantou o Senhor juízes que os livraram desses inimigos. Mas quando morreu o juiz, voltaram à idolatria e de novo foram castigados e oprimidos" ( Jz 2.11-23). Assim, até Jz 15 sucedem-se com mais ou menos pormenores diferentes narrações da atividade dos doze juízes. Os últimos capítulos limitam-se a registrar o estado deplorável durante este período da história de Israel.
c) O Livro de Rute
A nossa Bíblia interrompe agora a história com o pequeno livro de Rute, e bem que a Bíblia hebraica o apresente na terceira e última parte do Velho Testamento, num grupo separado, a que os judeus dão o nome de "Escritos". O livro conta a história da moabita Rute, casada com um rico proprietário, de nome Boaz, um dos antepassados de Davi. A introdução duma gentia na sagrada descendência de Davi, de quem havia de nascer o Messias, vem demonstrar que a eleição de Israel não exclui os pagãos da salvação do Senhor. Donde se infere, que o Salvador será o grande Redentor não só de Israel, mas de todas as nações.
d) Os Livros de Samuel, dos Reis e das Crônicas
Os livros de Samuel e dos Reis contam o ressurgimento do país, sobretudo nos reinados de Davi e Salomão, e por fim o seu declínio após a morte deste último. Na divisão do país sob Roboão e Jeroboão, apresenta-se a história paralela dos reis de Judá e de Israel, terminando com a apostasia que levou à destruição do norte do país e depois à catástrofe final do exílio no ano 586 a.C. O cronista resume toda a história desde Adão em diante. Até à morte de Saul é, por assim dizer, uma breve genealogia; mas a partir daí segue quase a par e passo os livros de Samuel e dos Reis. Após a divisão do reino, limita-se quase só a descrever os acontecimentos relativos ao reino de Judá. Quando os livros das Crônicas, porém, se cingem a relatar os mesmos acontecimentos que os livros de Samuel e dos Reis, não os reproduzem literalmente. É o que se verifica com as narrações da vida de Jesus Cristo pelos quatro evangelistas. A "crítica" nem sempre é favorável ao autor das Crônicas. Mas o fato de mencionar certos acontecimentos que Samuel e os Reis passam em silêncio, ou então omitir outros que aqueles livros registram, leva-nos a colocá-los ao lado dos evangelistas, de cuja probidade ninguém duvida. Dum modo especial note-se como o cronista se interessa principalmente por tudo o que se relaciona com as cerimônias do culto, deliciando-nos com inúmeros pormenores interessantes, que os outros livros passam em silêncio.
e) Os Livros de Esdras e Neemias
A tomada de Jerusalém e o cativeiro dos seus habitantes em Babilônia, de modo algum frustrou o plano redentor de Deus; pois a nação, da qual havia de nascer o Salvador, não podia ser completamente abandonada. Dá-se então o regresso do exílio, como lembra o cronista no seu último capítulo, referindo-se ao decreto do rei da Pérsia, Ciro, que autoriza os cativos a voltarem à terra de seus pais, se assim o desejassem e a reconstruírem o templo do Senhor em Jerusalém. É o que podemos constatar nos livros de Esdras e Neemias, que vão ao ponto de relatar minuciosamente todos esses trabalhos, sem esquecer as dificuldades que tiveram de vencer os filhos de Israel, há pouco vindos do exílio. Estes livros demonstram claramente que, apesar dos revezes da Israel não prestaram o devido culto ao Senhor. Por isso aguardam a "plenitude dos tempos" em que Deus enviará o Seu Filho (Gl 4.4-5).
f) O Livro de Ester
Resta-nos agora considerar o livro de Ester. Trata-se duma maravilhosa exposição, habilmente descrita, do que parece ter sido a mais perigosa ameaça ao futuro de Israel a sua exterminação total, levada a efeito pelo monstruoso plano de Hamã. O Senhor, porém, preserva o Seu povo, assegurando assim o cumprimento da promessa Messiânica feita aos nossos primeiros pais no jardim do Éden. Muitos comentadores têm dúvidas da historicidade e do caráter religioso do livro, embora não haja motivo para duvidar dos fatos que nele são descritos. Há um pormenor, observado pelos entendidos, a salientar neste livro: é que o autor mostra um perfeito conhecimento dos costumes persas. Quanto ao crime hediondo planeado por Hamã, não nos parece incrível, se pensarmos nos massacres perpetrados durante a última guerra mundial pelos nazistas alemães contra os indefesos judeus. Embora não se cite o nome de Deus, não se pode negar que o livro proclama a intervenção providencial do Altíssimo. Quanto a estar o livro eivado dum nacionalismo exagerado, vingativo e fanático, o que se descreve é a pura verdade. Os fatos são relatados objetivamente, e a atitude dos judeus, que não quiseram tocar nos despojos dos inimigos, embora o pudessem fazer, fala por si. Quem, pois, ousará censurar o autor, por exprimir a sua satisfação no dia em que viu os inimigos opressores passarem a oprimidos?
OS MILAGRES
Uma vez que nos relatam a história do plano redentor de Deus, não admira que os livros históricos do Velho Testamento contenham um certo número de milagres, especialmente o Pentateuco e outros livros posteriores.
Sirvam de exemplo a travessia do rio Jordão, a queda dos muros de Jericó relatados em Josué, as façanhas de Sansão descritas no livro dos Juízes, e os milagres dos profetas Elias e Eliseu tão pormenorizadamente narrados nos livros dos Reis. Ainda que muitos críticos ponham em dúvida a historicidade de tais narrações, não passa de subjetiva a argumentação que apresentam. O Senhor é um Deus que "opera maravilhas", sem que por isso vá de encontro às leis da Natureza. Já que a redenção da humanidade é o Seu maior milagre, não seriam de esperar outros milagres para que se realizasse essa magnífica obra? Nada melhor para conhecermos Deus que esses sinais e manifestações do Seu poder, que se faz sentir, sobretudo, nas grandes crises da história do Seu povo. Em muitos casos, é possível que os acontecimentos resultassem de causas naturais; efetivamente, assim por vezes o indica a Bíblia. Mas, supondo que se apresentassem semelhantes explicações, há sempre a considerar o milagre da precisão do acontecimento.
 O ELEMENTO HUMANO
Um traço característico desta literatura histórica é o fato de não incluir qualquer alusão ao culto dos heróis, à divinização das criaturas. Os homens e as mulheres, desempenhando o simples papel de testemunhas (Hb 12.1), são apresentados tal como eram, com suas virtudes e seus defeitos, a sua fé e as suas dúvidas, a sua justiça e os seus pecados. Abraão é retratado não só como o homem que acreditou no Senhor (Gn 15.6), mas também como o homem que duvidou (Gn 17.17). Embora Davi fosse o homem "segundo o coração de Deus", não deixa de narrar-se o seu comportamento escandaloso com a esposa de Urias, (adultério e homicídio) que, sendo notório, desagradou aos homens e "pareceu mal aos olhos do Senhor" (2Sm 11.27).
O objetivo principal é dar-nos a entender, que a fé destas "testemunhas" não é fruto de méritos próprios, mas exclusivamente um dom de Deus. E assim como o Senhor fez destas criaturas arautos infatigáveis da fé, o mesmo fará conosco, não obstante a nossa fraqueza de espírito. Não há, pois, motivo para desespero.
O elemento humano verifica-se ainda na seleção dos escritores e no uso dos materiais existentes. Os livros históricos abrangem um período muito mais extenso do que a vida normal dum homem. Não admira que tenha de admitir-se a tradição oral ao lado de documentos escritos. Sabemos que foram várias estas fontes. Nos livros de Josué e de Samuel alude-se ao "livro do Reto" (Js 10.13; 2Sm 1.18). Os livros dos Reis referem-se uma vez a um "livro dos sucessos de Salomão" (1Rs 11.41), e frequentemente ao "livro das Crônicas dos reis de Judá" ou "dos reis de Israel". Não se confundam estas obras com os livros bíblicos das Crônicas, podendo considerar-se aquelas como uma espécie de anais da corte. O cronista cita um grande número de fontes, como, por exemplo, "as Crônicas do Rei Davi" (1Cr 27.24); "as Crônicas de Samuel, o vidente" (1Cr 29.29), que não se devem confundir com os livros de Samuel; "as Crônicas do profeta Natã" e "as Crônicas de Gade, o vidente" (1Cr 29.29); "as profecias de Aías, o silonita" (2Cr 9.29); "as visões de Ido, o vidente" (2Cr 9.29 e 2Cr 12.15) ou "a história do profeta Ido" (2Cr 13.22); "os livros de Semaías, o profeta" (2Cr 12.15); e, finalmente, uma obra do profeta Isaías, filho de Amós (2Cr 26.22), diferente do livro bíblico de Isaías. São ainda frequentes as alusões ao "livro dos reis de Judá e Israel", que não é o mesmo que o nosso livro bíblico dos Reis, mas pode ser a mesma fonte a que o autor dos Reis se refere frequentemente, isto é, aos anais da corte.
Em muitos casos, parte das fontes utilizadas foram copiadas literalmente e assim introduzidas na narração, como as seguintes passagens, que podem servir de exemplo: A distribuição das heranças das tribos de Israel em Canaã (Js 14-19); as listas dos heróis de Davi (2Sm 23.8 e segs.; 1Cr 11.11 e segs.) e dos que voltaram do cativeiro de Babilônia (Ed 2; Ne 7.6 e segs.); cartas de oficiais ao rei da Pérsia (Ed 4.11 e segs., Ed 5.6 e segs.) e do rei aos oficiais (Ed 6.6 e segs.).
Noutros casos recorrem os autores à sua experiência pessoal, sobretudo quando tomam parte na ação que estão descrevendo. Sirvam de exemplo Js 5.1 "até que passamos"; Js 5.6 "a terra... que jurara dar-nos"; e em especial Ed 7; 9, e a maior parte do livro de Neemias.
Tem-se afirmado, que a literatura semítica revela geralmente uma acentuada tendência para a formação de grandes unidades. É o que se observa na literatura histórica do Velho Testamento. Deste modo o Senhor utiliza esta predisposição natural do povo de Israel, que pertencia à raça semítica, para realizar o grande corpo de narrações de caráter histórico, que nos dá uma perspectiva de toda a obra da redenção desde o princípio do mundo até à restauração de Israel depois do exílio. Em virtude da finalidade e do caráter destes livros, admite-se que não apresentem uma narração pormenorizada de todos os acontecimentos duma determinada época. Temos, no entanto, todas as informações que o Senhor julgou necessárias para nos revelar a Sua obra redentora.
VALOR PRÁTICO
A finalidade dos livros históricos não é apenas a de demonstrar como Deus levou a cabo a Sua obra redentora. Esses acontecimentos não passavam de "figuras... escritas para aviso nosso" (1Co 10.11). A oração de Elias, por exemplo, é sinal de que "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tg 5.16); e os castigos de Israel aconselham-nos a fugir do pecado (1Co 10.7-10).
Em conclusão, os livros históricos são a Palavra de Deus, que nos estimula através de exemplos edificantes a seguir o caminho do bem. Sigamo-lo, pois.

Livros poéticos e de sabedoria
Introdução
O leitor moderno, habituado ao Livro de Salmos, percebe certa semelhança ao ler alguns materiais egípcios ou babilónicos. Os atributos pelos quais a divindade é louvada, as questões que induzem à oração, as preocupações pessoais e coletivas e até mesmo o estilo de linguagem dão um tom de familiaridade. Em quaisquer das sociedades do antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados responsáveis pela manutenção da justiça e se ocupavam dela no âmbito da vida humana. Isso era frequentemente tema de louvor e a base das petições. Além disso, todos os povos compartilhavam da condição humana e buscavam alívio para o sofrimento comum provocado pelas doenças, opressão, desamparo e dificuldades da vida.
Hinos e orações
Apesar das semelhanças superficiais, pode-se perceber diferenças profundas entre a visão de mundo de Israel e a de seus vizinhos, a partir desse material literário. Quando são feitos pedidos por libertação e salvação, ou misericórdia e graça, ficam evidentes certos pressupostos acerca de como o mundo divino funciona e como interage com a humanidade. Tanto os israelitas como seus vizinhos acreditavam que sofriam pela falta de atenção da divindade. No mundo antigo, de modo geral, acreditava-se que a divindade estava desatenta porque tinha sido ofendida. Visto que o comportamento ético não desempenhava um papel muito significativo na maneira como os povos da antiguidade encaravam suas responsabilidades para com a divindade, geralmente, supunha-se que ela se ofendia por não ter recebido a devida atenção por parte do indivíduo afligido. O adorador tinha pouca esperança de discernir qual ritual havia sido omitido ou causara a ofensa. A única opção era tentar aplacar a ira da divindade, em vez de especificamente reparar o erro. Portanto, o indivíduo estava disposto a reconhecer sua culpa (de um erro desconhecido) e dirigir suas orações, encantamentos e rituais no sentido de amolecer o coração da divindade e tentar reconquistar o seu cuidado e a proteção.
Os israelitas não estavam muito convencidos de que a desatenção de Yahweh era causada por ira. Eles prontamente reconheciam que, às vezes, mistificavam o porquê de Yahweh não vir em auxílio deles. Como indivíduos, nem sempre estavam dispostos a reconhecer a culpa, mas concentravam suas orações em pedidos de vingança. Eles necessitavam da retaliação porque o sofrimento naturalmente levaria os outros a concluir que Deus estava punindo-os por algum pecado. A resposta de Deus à oração demonstraria que Ele não estava irado com eles, e que não haviam cometido nenhuma ofensa grave. Quando pecavam, entendia-se como sendo um erro ético e não uma missão ritual. Eles esperavam que a graça de Deus resultasse de quem Ele era; não esperavam ser capazes de induzi-lo a agir com misericórdia, através de dádivas e agrados ou da invocação através de ritos mágicos.
Apesar dessas diferenças fundamentais, existe muito material, na literatura do antigo Oriente Próximo, que pode trazer compreensão aos salmos bíblicos. Muitas metáforas bíblicas originam-se do contexto cultural da época. Por exemplo, a imagem de Deus como um pastor, uma rocha ou um escudo encontra paralelos na literatura da Mesopotâmia. Expressões como "o desejo do teu coração", ser "tirado de um poço" ou usar o vento como mensageiro têm precedentes que ajudam a explicar o que os israelitas queriam dizer ao usá-las.
A Literatura de sabedoria do Antigo Testamento insiste em que somente o temor do Senhor (o princípio da sabedoria) pode trazer ordem ao caos da vida. Além disso, os rituais do templo também eram um meio de manter a ordem.
O material do antigo Oriente Próximo inclui provérbios, admoestações e instruções, debates filosóficos na forma de diálogos, monólogos e fábulas. Eles tratam de muitos dos temas da literatura de sabedoria israelita, inclusive, notavelmente, de diversos exemplos em que um sofredor está em busca das razões para seu sofrimento.
O problema subjacente a essa discussão que une todas essas obras dos "sofredores justos" é a teodicéia - a justiça da divindade. A tensão gerada entre a justiça divina e o sofrimento humano tem como base a crença no princípio da retribuição. Em poucas palavras, esse princípio afirma que o justo prosperará e o ímpio sofrerá; no entanto, se uma pessoa aparentemente justa está sofrendo e o princípio da retribuição é aceito, então a justiça de Deus é posta em dúvida. Essa tensão não era sentida tão intensamente fora de Israel porque não havia uma crença forte nas qualidades éticas da divindade. Além do mais, em um cenário politeísta, o comportamento de um indivíduo podia agradar a uma divindade, mas ofender a outra. O sofrimento humano, sem nenhuma razão aparente ou dúvidas concernentes à existência da justiça divina de forma compreensível, minava a habilidade de assegurar um mundo ordenado. Quando as coisas vão mal, as pessoas se sentem envolvidas pelo caos e não pela ordem. A literatura de sabedoria mesopotâmica tipicamente resolvia o problema afirmando que não existe nenhum sofredor justo. Eles também estavam dispostos a aceitar que os deuses eram inescrutáveis.
A literatura de instrução é mais proeminente no Egito, onde mais de uma dúzia de composições abarcam mais de dois mil anos (início do terceiro milênio até o final do primeiro milênio). Essas composições demonstram que a literatura de sabedoria israelita, assim como a encontrada em Provérbios, era parte de um gênero internacional (assim como o Livro de Reis afirma, 1 Rs 4.30). A literatura de instrução do antigo Oriente Próximo inclui afirmações concisas e incisivas como aquelas encontradas em Provérbios 10-29, e também, longas admoestações como em Provérbios 1-9. O paralelo mais próximo encontra-se na comparação de A Instrução de Amenemope (cerca de 1200 a.C.) em Provérbios 22.17-24.22, em que há um número relativo de temas e expressões bastante similares.
O tratado de Eclesiastes relaciona-se a uma subcategoria conhecida como a "literatura de pessimismo" que é exemplificada pelo Diálogo Acadiano do Pessimismo e pelos Cânticos Egípcios do Harpista e A Disputa entre um Homem e Seu Ba. Todos esses textos exibem um cinismo irônico a respeito da vida. O Diálogo do Pessimismo retrata uma conversação entre um senhor e seu escravo, na qual o senhor afirma sua intenção de engajar-se em diversas empreitadas. A cada sugestão, o escravo afirma os benefícios do curso de ação proposto, e em cada caso, o senhor muda de ideia e decide não concretizar seus planos. O escravo então replica, sobre a decisão, citando todas as desvantagens que determinada ação acarretaria. Os tópicos incluem: ir ao palácio, comer, caçar, formar uma família, liderar uma revolução, amar uma mulher, oferecer sacrifício, montar um negócio de crédito e fazer caridade pública. O texto termina quando o senhor finalmente pergunta ao escravo sobre determinada ação e ele responde: "Ter o meu e o seu pescoço quebrados e sermos lançados no rio é bom". A base desse tipo de literatura é mostrar que não é simples encontrar significado e propósito na vida e em suas atividades. Conseguir a ordem em meio ao caos raramente é alcançado de forma satisfatória.
O Cântico dos Cânticos também é incluído com frequência na literatura de sabedoria. Essa classificação pode ser sustentada pela percepção de que o Livro usa poesia de amor para ilustrar o ensino da sabedoria (8.6, 7). Outros exemplos do gênero poesia amorosa são conhecidos na literatura suméria mitológica concernente a Dumuzi, no terceiro milênio, mas os paralelos mais próximos são encontrados em um grupo de canções de amor egípcias do período dos juizes (19a e 20a Dinastias Egípcias, 1300-1150 a.C.). Essas canções de amor eram geralmente executadas em festas e compartilham muitas das características encontradas no Cântico dos Cânticos. Falta-lhes, porém, o ensino da sabedoria que o Livro bíblico considera crucial: romance, amor e sexo também podem ser forças do caos que precisam ser abrigadas sob a capa da ordem.
Em tudo o que foi dito acima fica evidente que, à medida que Deus incluiu os gêneros poético e de sabedoria em sua revelação a Israel, Ele não elaborou novos estilos literários, nem criou novos temas para abordar; ao contrário, Ele usou o que era familiar a qualquer habitante do antigo Oriente Próximo. Ele foi ao encontro de seu povo, onde eles estavam, e comunicou-se com eles de forma clara e poderosa. Aumentar nosso conhecimento da cultura e da literatura do antigo Oriente Próximo, portanto, pode somente ampliar nossa compreensão da Bíblia.
OS AUTORES DA SABEDORIA
Sabe-se, que surgiu entre os judeus uma classe de sábios, encarregados de transmitir a sua sabedoria de geração em geração, e que para isso possuíam escolas, onde os discípulos entravam em contato com as doutrinas dos mestres (Pv 1.6; Pv 22.17; cfr. Pv 24.23; Ec 9.17; Ec 12.11). Estes formavam um grupo aparte, como parece inferir-se de Jr 18.18: "Não perecerá a lei do sacerdote, nem o conselho do sábio, nem a palavra do profeta", onde se alude a três classes diferentes. Cada uma delas tinha uma missão diferente: o sacerdote interpretava a Lei, anunciava a vontade de Deus; quanto ao sábio, esse dava conselhos práticos sobre os problemas da vida quotidiana. Um era ritualista, outro teólogo e o terceiro moralista. É grande a diferença, pelo menos entre o segundo e o terceiro. Enquanto os profetas eram reformadores práticos e irradiavam a mensagem divina no âmbito da conduta individual e social, agindo deste modo, partiam dum nível de altos princípios para descerem à expressão de ideais de conduta moral. Os sábios, esses eram mais vulgares e partiam de princípios menos elevados, como eram os que se relacionavam com a vida de todos os dias. Aqueles eram críticos, estes moralistas.
Uns divulgavam a mensagem de Deus; outros, perante os acontecimentos da vida, e servindo-se da sabedoria humana, formulavam máximas e aforismos de grande profundidade moral. Assim poderíamos resumir as funções destes sábios ou autores da sabedoria:
a) Transcendem os limites do nacionalismo. Eram, por assim dizer, os humanistas do povo hebraico. Ao contrário dos sacerdotes e dos profetas não nutriam tendências para um particularismo racial. Somente nos livros de Sabedoria pós canônicos começa a aparecer esta ideia, e a Sabedoria quase sempre identificada com a Lei.
b) Tornam-se autores, desenvolvendo os seus conhecimentos literários e condensando-os em obras de notável valor.
c) Eram sobretudo práticos; filósofos, mas não por amor à filosofia; pensadores, mas visando sempre à vida de todos os dias; realizadores, não meros especuladores.
d) Continuaram a função da revelação, quando se calou a voz dos profetas e dos sacerdotes de Israel.

Livros proféticos
Introdução
Uma vez que, como cristãos, cremos que há um só Deus e entendemos que a profecia contém mensagens desse Deus, muitas vezes somos inclinados a pensar que a profecia bíblica é um fenômeno único. Embora se justifique pensar que toda profecia fora da Bíblia é falsa, permanece o fato de que a profecia bíblica está incluída em uma longa tradição de profecias no antigo Oriente Próximo. Até mesmo a Bíblia esclarece esse fato nas narrativas sobre Balaão e os profetas de Baal mantidos por Acabe e Jezabel.
A adivinhação está relacionada a qualquer processo que busca obter mensagens que ultrapassam o mundo dos humanos. No mundo antigo, a adivinhação assumia muitas formas distintas (ver o comentário em Dt 18), mas a maioria delas era proibida em Israel porque envolviam uma visão inferior da divindade (manipulação). A profecia era uma forma de adivinhação praticada legalmente pelos israelitas. Não se tratava de adivinhação mântica que exigia conhecimento de livros especializados (p. ex., feitiços ou textos de presságios) ou o uso de rituais mágicos mas, sim, era resultado da comunicação direta com a divindade. Textos que falam de profetas e apresentam as mensagens deles estão espalhados em toda literatura do antigo Oriente Próximo. Em alguns desses textos os profetas usam outras formas de adivinhação para receber suas mensagens.
A coletânea mais importante de mensagens proféticas encontra-se em cerca de cinquenta cartas preservadas em tabletes encontrados nos arquivos reais da cidade de Mari. São datadas do início do segundo milênio a.C. (contemporâneas aos eventos do Gênesis). As cartas relatam aos reis profecias que tinham por objetivo chamar a atenção de oficiais locais. As profecias são provenientes de diversas divindades e orientam o rei em questões militares e outros assuntos da política governamental. Ocasionalmente elas determinam que certos rituais sejam realizados. _
Uma segunda coletânea de quase trinta oráculos provém do período neo-assírio (sétimo século). A divindade principal é Istar de Arbela e as profecias tipicamente preveem vitória e prosperidade para o rei em seus diversos empreendimentos. Alguns dos oráculos estão registrados em grandes tabletes que serviam como cópias de arquivo, enquanto outros são textos menores contendo oráculos individuais. Os oráculos são relativamente curtos, variando de uma frase a um parágrafo ou dois, no máximo.
Na literatura egípcia não existem textos que afirmam conter oráculos das divindades, mas obras tais como as Exortações de Ipuwer e As Visões de Neferti (ambas datadas do início do segundo milênio) de fato contêm observações relacionadas ao estado caótico da sociedade e avisos do julgamento vindouro. Elas também fazem algumas referências a uma iminente restauração da ordem. Esse material, portanto, inclui os mesmos tipos de mensagens encontradas na literatura profética de Israel. Apesar dessa semelhança, não há instituição profética comprovada no, Egito, como se encontra no restante do antigo Oriente Próximo. A razão mais óbvia para essa diferença é que no Egito a divindade estava encarnada na pessoa do faraó. Não havia, portanto, necessidade de um porta-voz que falasse em nome da divindade, visto que a divindade já estava no meio deles.
Os oráculos proféticos do antigo Oriente Próximo são semelhantes a uma fase inicial da profecia israelita. Os profetas escritores de Israel foram designados "profetas clássicos", e os primeiros deles aparecem no início do oitavo século. Antes desse período, profetas como Natã, Elias, Eliseu e muitos outros são mencionados na literatura histórica, mas não há compilações de seus oráculos. São chamados de "profetas pré-clássicos" e são eles que apresentam a maior semelhança com os profetas do restante do mundo antigo. Suas mensagens eram dirigidas ao rei e diziam respeito à política pública ou outras questões de importância nacional. Nesse sentido, os profetas eram conselheiros oficiais, e com mais frequência, não oficiais do rei. Em contraste, os profetas clássicos muitas vezes dirigem-se ao povo ao transmitir suas mensagens de caráter social e espiritual. Apesar de suas mensagens incluírem proclamações de bênção ou reprovação, eram dirigidas à sociedade como um todo e não exclusivamente ao rei. Como resultado, os profetas escritores transmitiam alertas em relação ao cativeiro, à destruição e ao exílio que eram novidade nesse período e para a instituição profética.
Os profetas com frequência eram considerados loucos - uma consequência do fato de que não era raro receberem suas mensagens em estado de transe ou êxtase. Um dos títulos usados na literatura acadiana para profeta é mubhu, que geralmente é traduzido como "extático". Não obstante, os profetas eram levados muito a sério. O próprio ato de proferir as palavras era considerado determinante na concretização de sua mensagem. Isso acontecia independente da posição que o profeta ocupava na sociedade. Alguns profetas faziam parte dos funcionários do templo ou do concílio de conselheiros do rei, mas não era raro haver profetas leigos ou plebeus. Na Babilônia ou na Assíria a palavra do profeta estava sujeita à confirmação feita através de procedimentos de adivinhação. Apresentava-se a pergunta se a mensagem profética deveria ou não ser aceita favoravelmente e o sacerdote adivinho buscava a resposta "escrita" nas entranhas do animal sacrificado.
Fica claro que todas as culturas do mundo antigo acreditavam que os deuses se comunicavam através de indivíduos escolhidos. Em grande parte do antigo Oriente Próximo parece que os profetas serviam como apoio à ideologia imperial. Já em Israel, eles representavam com mais freqüência um movimento de contracultura. Por causa disso, os profetas tendiam a aglomerar-se em períodos de grandes turbulências. Durante o período pré-clássico os profetas Moisés, Débora, Samuel, Elias e Eliseu cumpriram seu papel em tempos difíceis. Durante o período clássico, a atividade profética girou em torno de três momentos cruciais:
1. A crise assíria que provocou a queda do reino do norte e o cerco a Jerusalém (760700: Amós, Oséias, Miquéias e Isaías)
2. A crise babilónica que resultou na queda da Assíria e na queda de Judá e Jerusalém (650-580: Habacuque, Sofonias, Naum, Jeremias e Ezequiel)
3. O período pós-exílico com o governo persa e a crise de identidade (530-480: Ageu, Zacarias, Joel, Obadias, Malaquias; Daniel poderia ser incluído entre esses, embora tenha cumprido seu papel como profeta no exílio).
Os oráculos dos profetas escritores podem ser divididos em quatro categorias gerais. Os oráculos de acusação notificavam o povo quanto ao que haviam feito de errado. Os oráculos de juízo descreviam a ação que Deus pretendia tomar em resposta às ofensas do povo. Os oráculos de instrução (relativamente poucos até o período pós-exílico) diziam ao povo o que precisavam fazer e como deveriam agir e pensar. Os oráculos futuros informavam o povo sobre os planos de Deus após a vinda do juízo. Todos, exceto o último grupo, também estão representados nas profecias do antigo Oriente Próximo, embora não tenham sido nunca coletadas, "publicadas" e canonizadas como o foram em Israel.
Os livros dos profetas, formando quase um terço do Velho Testamento, contêm a doutrina e, em certos casos, a história pessoal dos profetas que apareceram isolados, a intervalos ou contemporaneamente, desde o séc. VIII ao séc. IV A. C. Este período é notável pelo largo desenvolvimento do pensar humano, e pelo aparecimento de ilustres orientadores do espírito em todos os países do globo.
Quando Sofonias previa a desgraça que devia cair sobre Jerusalém, e Naum descrevia a ruína de Nínive, Zoroastro, segundo um cálculo provável, empenhava-se a fundo na reforma da antiga religião iraniana. Quando Jeremias e Ezequiel insistiam na pregação do culto interior e puro a Deus, na conduta sincera e na responsabilidade pessoal, Confúcio dava à religião da China uma forma definitiva, enquanto Sidarta na Índia lançava os fundamentos do Budismo.
Na era dos profetas que surgiram depois do exílio, encontrava-se em elaboração a antiga religião grega, enquanto os filósofos da Jônia concebiam novos e elevados conceitos do universo e os dramaturgos da Ática representavam os mistérios da vida humana, sem esquecerem o espírito de justiça a que devia subordinar-se.
Atravessava-se, então, um período de grandes acontecimentos políticos: Israel, deixava de existir; a Assíria perdia a sua independência; Babilônia era submetida pelos persas; Jerusalém, após ter sofrido uma destruição total, vivia um período de ressurgimento nacional. A Grécia, depois de se libertar galhardamente do inimigo invasor, via-se a braços com a praga das lutas internas. Roma, a expandir-se avassaladoramente. Enfim, uma época brilhante em todos os ramos da ciência, da política e da estratégia, sem que todavia nenhum sábio, nenhum político, nenhum herói tenham superado esses homens de poder e de visão, que foram os profetas de Israel e de Judá.
Os pregadores do séc. VIII não foram os primeiros profetas, no sentido que normalmente lhe atribuímos. Vêm de longe, pois desde os tempos remotos de Abraão se vêm verificando esses testemunhos duma doutrina fixa, que, revelada gradualmente, se baseou, sobretudo, na pregação de Moisés. Os profetas, tal como este patriarca, foram "chamados" por Deus, que os encarregou duma missão altamente espiritual.
Os diferentes nomes que a Escritura atribui aos profetas dizem algo do caráter e da natureza da obra desses homens excepcionais. O que vinha a ser então o profeta? Primeiramente um "homem de Deus", quer dizer mais intimamente ligado a Deus do que os outros homens, e, portanto, mais reto e mais justo do que eles. Em segundo lugar o profeta é um "servo de Jeová", com uma missão especial a cumprir, a de entregar uma mensagem aos povos.
Daí ser o profeta o "mensageiro de Jeová". As suas palavras tinham uma autoridade e uma força que só podiam advir de Deus. Finalmente o profeta é um "homem de Espírito", no dizer de Oséias (Os 9.7). Isto no que se refere ao poder e à autoridade do profeta. Mas, se atendermos ao fato de que era esse homem que explicava aos povos a mensagem divina, podemos ainda acrescentar aos epítetos do profeta o de "intérprete".
Mais três nomes vêm-nos indicar como o profeta recebia a sua mensagem, e a seguir como a tornava conhecida. Dois deles roeh e chozeh significam "vidente". O profeta vê o que não é dado ver aos restantes homens, mas não por mérito próprio devido a uma excepcional perspicácia, ou a um poder de penetração, que são apanágio de inteligências agudas e experientes. Também não se trata do emprego de meios semelhantes aos que se utilizavam na adivinhação ou no ocultismo. A "visão" do profeta resulta exclusivamente dum dom sobrenatural, independente da vontade do mesmo profeta, pois o objeto dessa visão é revelado por Deus. Não vá julgar-se, porém, que tal submissão a Deus pode implicar uma passividade absoluta. O uso das faculdades normais do profeta não fica em suspenso, como se pode deduzir da palavra "vidente", já que, quando mais não seja, a visão exige não pequeno esforço da parte do profeta, preparando-se para ela, as mais das vezes, com oração e com rogos (Dn 9.3).
A terceira palavra em questão, mais frequente e que se traduz por profeta, é nabi, e dá a entender que a pessoa assim designada é um verdadeiro intérprete. Ao contrário de Elias e Eliseu, os últimos profetas não operavam muitos milagres. Confiavam inteiramente nas palavras escritas ou proferidas, e reforçadas de vez em quando por uma ação simbólica (Jr 28.10). Embora unidos ao passado, interessavam-lhes, sobretudo, as circunstâncias do presente. Por isso, as suas obras refletem a vida política, econômica, social, moral e religiosa da época em que viveram. Assim se explicam algumas das descrições de reinados sucessivos dos livros dos Reis e das Crônicas.
A DOUTRINA DOS PROFETAS
a) A natureza de Deus
Podemos considerar a religião como uma tentativa eficaz para estarmos de boas relações com o supremo Poder do Universo. O caráter e o valor dessas relações, dependem muito do conceito que formamos do objeto do culto. Ao tempo da morte de Josué, embora Israel já tivesse entrado na Terra de Canaã, os seus habitantes ainda não tinham sido completamente dominados. As grandes tribos e muitos outros grupos organizados continuaram a lutar por mais algum tempo, com mais ou menos êxito. Mas gradualmente os invasores estabeleceram-se lado a lado com as outras populações e, esquecendo as ordens de Jeová, com elas se misturaram em casamentos e começaram a adorar os seus deuses. Ainda mesmo quando conservavam pura a ideia do monoteísmo, os seus pensamentos começavam a deixar-se influenciar pelas opiniões que os vizinhos pagãos formavam das suas divindades. É muito possível que alguns adorassem o verdadeiro Deus, apenas enquanto era um dos muitos a quem podia prestar-se culto. Pensavam, por exemplo, que para obter o auxílio divino era suficiente transportar a arca para a batalha (1Sm 4.5), ou então oferecer sacrifícios, embora com a consciência manchada por uma conduta irregular (Os 8.12-13). Sendo estes os frutos da primeira apostasia, a missão dos profetas era a de tornar conhecida a natureza de Deus, ou antes dirigir de novo a atenção para ela e considerá-la melhor. Cada um utilizava um processo diferente, porque as mensagens dos profetas variavam conforme a sua experiência pessoal, as circunstâncias particulares de cada caso e a cultura daqueles a quem eram dirigidas. Mas há um conjunto de verdades primordiais, que mais ou menos constituem a doutrina dos profetas.
1) DEUS É O LEGISLADOR ONIPOTENTE DO UNIVERSO.
É o Deus ou o Senhor dos Exércitos (Am 5.27). Quanto ao significado original desse epíteto, não é fácil descobrirmos se se relaciona com o comando das tropas de Israel ou com os exércitos celestes. Nos últimos tempos, todavia, é possível que se refira a este último caso. As miríades de estrelas simbolizavam os exércitos dos céus, e o comando de tais estrelas implicava naturalmente a Onipotência (Is 40.26). A tradução da Septuaginta dá um equivalente exato: pantokrator. O poder de Deus não se manifestou só na criação. Todos os dias o podemos admirar espalhado pela natureza. Ele é o Criador dos confins da terra e não se esgota a Sua energia criadora (Is 40.28). Ele formou os corpos celestes e as massas rochosas das montanhas. Ele aciona os ventos, dirige a luz e orienta a chuva. O prado verdejante é um precioso dom de Deus. O míldio, os gafanhotos e outras forças ocultas de destruição obedecem às Suas ordens (Am 4). O poder do Senhor manifesta-se ainda, e em larga escala, em todos os acontecimentos da história humana. Foi Ele quem retirou os israelitas do Egito e os levou para além de Damasco; (Am 5.27), quem levouo povo da Síria para Quir, de onde o tinha retirado (Am 1.5; Am 9.7). A Assíria é a vara da Sua ira (Is 10.5). Foi Ele quem suscitou os caldeus para realizar os Seus desígnios, (Hc 1.6), e quem cinge Ciro para realizar o que Lhe agradar (Is 44.28; 45.5).
2) DEUS É QUEM GOVERNA MORALMENTE O MUNDO.
Ele é santo, reto, justo e misericordioso. A palavra "santo", referindo-se a Deus, atinge nos profetas um significado moral, enquanto O distingue do homem na sua existência e na sua essência como criatura. A intervenção de Jeová na vida dos homens e nas nações nada tem do capricho que frequentemente se atribui aos deuses pagãos. Tudo contribui para o desenvolvimento do plano que desde a eternidade tem em vista. Todos os homens são iguais perante Ele. Ele está presente em toda a parte a observar a conduta dos homens, cujos segredos conhece, mesmo os mais íntimos pensamentos (Am 4.13). Quando castiga um país ou um indivíduo, é porque existe uma causa grave e não por mera bagatela como sucedia com os deuses olímpicos, que por uma insignificância, dizia-se, se iravam contra os homens. Há sempre um motivo: a violação da lei da justiça, que é comum a Deus e aos homens.
3) É O DEUS DA ALIANÇA COM ISRAEL.
Enquanto criou e governa todas as criaturas Deus quis um parentesco especial e único com Israel e os seus habitantes. Vejamos: Escolheu-os de entre todas as nações da terra (Am 3.2); chamou-os do Egito e instruiu-os paternalmente (Os 11.1- 4); deu-lhes a Lei para os orientar (Os 8.12); exortou-os a obedecerem aos mandamentos (Jr 11.7), etc. Mas o Seu povo revoltou-se contra Ele, expondo-se a sofrer graves consequências. Mesmo assim não o abandonou e manteve firme o plano previsto (Is 6.13; Mq 5.7-8). Deus só deseja o bem do Seu povo. Por isso não o entrega nas mãos dos inimigos, senão após inúmeros conselhos (Jr 25.4,11).
O DEUS QUE PUNE O PECADO DA HUMANIDADE, MAS PRICIPALMENTE DE SEU POVO.
1) PECADOS DO CULTO DE ADORAÇÃO. Estes pecados incluem a idolatria e todas as práticas que com ela andam associadas, a negligência no cumprimento dos deveres do culto, ou então uma atenção meramente externa com prejuízo do espírito da Lei (Ml 1.13; Os 6.6), e a profanação do sábado (Jr 17.19).
2) PECADOS DE ORGULHO. Estes conduzem à descrença e à indiferença em relação às ordens de Jeová, originando nos tempos difíceis uma confiança ilimitada nos chefes políticos e no poderio das nações, com desprezo absoluto pelo poder que vem do alto (Jr 13; Is 9.9).
3) PECADOS DE VIOLÊNCIA E OPRESSÃO. Os profetas defendem a causa das classes desprotegidas: os pobres, os órfãos, as viúvas, os escravos, e falam contra as prepotências dos ricos e dos poderosos.
4) PECADOS DE LUXÚRIA E INTEMPERANÇA. Estes pecados, que por um lado levam ao não cumprimento dos deveres, por outro incapacitam os homens de os cumprir devidamente.
5) PECADOS DE MENTIRA E DE IMPUREZA. Pelo primeiro desaparece a confiança política, comercial e social; pelo segundo, arruinam-se os fins da vida familiar.
Segundo os profetas, as virtudes máximas do crente resumem-se a três: o arrependimento, a fé e a obediência a Deus. O arrependimento, que os profetas tanto pregam, implicando conhecimento do pecado, supõe um pesar por havê-lo cometido, que ao mesmo tempo obriga o homem a voltar-se para o bom caminho de Deus, enquanto se desvia do caminho da iniquidade. A confiança em Deus é a fonte de energias para o cumprimento do dever, é o guia nas horas incertas, o conforto nas horas tristes, a prosperidade da vida espiritual. O conhecimento de Deus como Aquele que executa a paz, a justiça e a bondade na terra e se compraz nessa execução, é o que se recomenda acima de tudo (Jr 9.24).
O DEUS DO FUTURO
A visão de futuro nas profecias bíblicas está inteiramente associada a vinda do Messias. Embora, por causa do pecado, o país tivesse de sofrer a perda do território nacional, do templo e da própria independência, não tardaria a oportunidade em que o povo seria purificado e enriquecido, após uma restauração vitoriosa, e iria instruir os outros povos no conhecimento do Senhor, orientando-os no caminho da justiça e da paz. Ora, o cumprimento de tais promessas vem quase sempre associado a uma Pessoa, apresentada sob diferentes formas, e ultimamente designada por Messias (Dn 9.25-26). Já tinha havido uma série de profecias relativas a essa Pessoa a começar pelas do Proto-evangelho (Gn 3.15), mas as que haviam de aludir mais diretamente ao Messias eram, sem dúvida, as dos profetas do séc. VIII em diante, que não se cansam de O apelidar Profeta, Sacerdote e Rei. É sobretudo nos últimos capítulos de Isaías que mais se desenvolvem os dons proféticos do Messias: É chamado desde o ventre (Is 49.1); a Sua boca é uma espada aguda, uma frecha limpa na aljava do Senhor (Is 49.2); Jeová dá-lhe uma língua erudita, para saber dizer a seu tempo uma palavra e todas as manhãs Lhe desperta o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem (Is 50.4); a Sua mensagem é dirigida aos mansos (Is 61.1), porque foi enviado a restaurar os contritos de coração e a proclamar a liberdade aos cativos, não só de Israel mas também dos gentios, pois levará a salvação até à extremidade da terra (Is 49.6); finalmente, confiado no braço do Senhor, o Messias prosseguirá tranquilamente a missão de que é incumbido, apesar do desprezo e das perseguições (Is 49.7; 50.5-7).
Depois do exílio, Zacarias fala dum sacerdote, que será ao mesmo tempo rei. É muito natural que se trate da mesma pessoa, embora os outros profetas não desenvolvam tão largamente esta ideia. Ela aparece, todavia, no Sl 110 e é o tema geral da Epístola aos Hebreus.
O rei Davi simboliza dum modo especial o Messias-Rei. Como? O Messias nasce dum dos ramos da árvore de Davi, embora em circunstâncias humildes (Is 11.1); é cumulado dos sete dons do Espírito, por isso só julga em conformidade com a conduta moral; como Juiz, é justo, reto e fiel; como Rei, subordinará as forças do mal, que irão sendo eliminadas à medida que o conhecimento de Deus se for espalhando pela terra; finalmente será o Salvador das nações e a Esperança de Judeus e de Gentios (Is 11). Ao contrário dos reis da terra, não usará da força para obter e defender o seu império. Não cavalgará sobre ginetes de luxo, nem utilizará carros imponentes. Montará um simples jumentinho e o Seu império estender-se-á de um mar a outro mar, e desde o rio até às extremidades da terra (Zc 9.9-10).

Muitos outros passos das obras dos profetas aludem às excelsas virtudes desse grande Legislador. Isaías chama-Lhe o Deus Forte (Is 9.6); Jeremias "O Senhor, Justiça Nossa" (Jr 23.6); Miquéias declara que as Suas saídas são desde os tempos antigos (Mq 5.2); Daniel vaticina-Lhe um domínio eterno, que não passará (Dn 7.14). Outros textos falam-nos da missão divina do Messias, sem que por isso impliquem uma realeza no sentido humano. Zacarias descreve-O como o companheiro do Senhor dos Exércitos (Zc 13.7) e Malaquias chama-Lhe o Anjo da Aliança que de repente virá ao Seu templo (Ml 3.1).

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