O PENTATEUCO
O nome
judeu: TORAH (Instrução ou Direito).
Torá (hebraico) raiz yara, "lançamento" ou "disparar", os
meios de palavras "Direção", "lei", "instrução"
ou "ensino". A Torá não era
conhecido como cinco livros, A Torá era conhecido como uma única entidade.
Nome judaico no
Antigo Testamento
A lei: Jos.8: 34;
Esd.10: 3; Neh.8: 2,7,14; 10: 34,36; 00:44; 13: 3; 2Cr.14: 4; 31:21; 33: 8; O Livro da Lei: Jos.1: 8; 08:34;
2Re.22: 8; Neh.8: 3; O Livro da Lei de
Moisés: Jos.8: 31; 23: 6; 2Re.14: 6; Neh.8: 1; O Livro
de Moisés: Esd.6: 18; Neh.13: 1; 2Cr.25: 4; 35:12; A Lei do Senhor: Esd.7: 10; 1Cr.16: 40; 2Cr.31: 3; 35:26; A
Lei de Deus: Neh.10: 28,29; O Livro
da Lei do Senhor: 2Chr.17: 9; 34:14;
O Livro da Lei do Senhor seu Deus: Neh.9: 3; A Lei de Moisés, servo de Deus: Dn.9: 11; Mal.4: 4.
Nome judaica no
Novo Testamento, o Pentateuco é chamado em uma maneira similar que o A.T:
O Livro da Lei: Gal.3: 10; O Livro de Moisés:
Mc.12: 26; A lei: Mat.12: 5; Lc.16: 16;
Jo.7: 19; A Lei de Moisés: Lc. 2:22; Jo.7: 23; A Lei do Senhor: Lc. 2: 23,24.
"Pentateuco"
de pentáteuchos gregos de dois termos: (Penta = "cinco"; teuchos =
"volume"). A palavra pode ser traduzida como "(Livro) de cinco
volumes" ou "composto por cinco rolos". A Septuaginta (250 aC)
introduziu a ideia de dividir a Lei de Moises em cinco livros. Nos manuscritos originais já havia cinco
seções (não livros separados, embora):
"No princípio" (Gênesis)
"Estes são os nomes" (Êxodo)
"E o Senhor chamou" (Levítico)
"E o Senhor falou a Moisés no deserto" (Números) "Estas são as palavras que Moisés
falou" (Deuteronômio) Orígenes
(Origenes Adamantius 185-254) foi creditado com o primeiro uso da palavra
"Pentateuco", quando ele fala sobre "Pentateuco de
Moisés". O nome Pentateuco apela
para a unidade desses 5 livros
LIVRO TEMA LIÇÃO
GÊNESE A eleição
de Israel; A salvação é Essencial
ÊXODO A Redenção
de Israel; A libertação é Essencial
LEVITICUS A
santificação de Israel; santidade é Essencial
NÚMEROS A
Disciplina de Israel; perseverança Essencial
DEUTERONÔMIO A
Instrução de Israel; A obediência é Essencial.
O Pentateuco
como base de todo pensamento teológico bíblico As escrituras judaicas estão
divididas em três partes: 1 º Torá ou Pentateuco. 2 º Naviim ou profetas. 3 º
Ketubiim ou escritos. A primeira divisão chamada de Torá é a base do pensamento
teológico de todas os autores bíblicos do VT. e do NT. e mesmo de Jesus. Nos
momentos de apostasia todos recomendavam um retorno a Moisés, uma volta aos
estatutos e leis dadas pelo Senhor. Nos momentos de acusar os pecados e a
apostasia também a lei era citada. Neemias faz isto em Ne.9.13-17. Esdras
refere-se a Moisés e a outros grandes homens do tempo de Moisés como os
profetas servos do Senhor que profetizavam sobre a terra prometida,Ed.9.11-14.
Ele prega que os israelitas desfaçam seus casamentos e voltem aos moldes éticos
da Torá. Ed.10. A pregação dos profetas é, em geral, contra as injustiças
sociais e econômicas, contra a idolatria e contra os que se afastam de Deus.
Mesmo que Moisés não seja citado, a volta à pratica da justiça, das boas obras,
do abandono do pecado é conforme o que determinou Moisés no Pentateuco.
Jr.5.1,2,25-28;6;19; Ezequiel denuncia que Israel afastou-se dos juízos e estatutos
do Senhor,Ez;20;11-16; faz críticas as opressões que a lei prescrevia que não
se fizesse, Ez.18.11-18.
Daniel diz que
por ter o povo se desviado da lei e por não ofender a voz do Senhor, a maldição
e o juramento que está escrito na lei de Moisés se derramou sobre Israel.
Dn.9.10-13; Lv.26.14; Dt.28.15 Amós denuncia a terrível exploração social que
ocorria em seus dias. A lei proibia veementemente a exploração aos pobres.
Am.4.1, Ex.22.20-24 Miqueias combate as medidas injustas registradas na lei,
Mq.6.10, Dt.25.13-16. A violência dos ricos a mentira e a língua enganosa.
Mq.6.12. Habacuque salienta com muita ênfase a questão da violência, do ímpio
que persegue o justo. “Por está causa a lei se afrouxa e a sentença nunca sai.”
Hc.1.1-4. Sofonias, profeta que viveu nos dias do rei Josias, denuncia a
opressão, a violência, as injustiças e a idolatria. Em seus dias e nos dias de
Josias achou-se um livro da lei no templo o que proporcionou uma grande reforma
religiosa em Judá,2 Rs.22.8-13. A profetisa Hulda, nesta mesma época,
profetizou os males que viriam sobre Jerusalém conforme estava profetizado na
Torá. 2 Rs.22.14-20. Ageu, profeta da restauração, estimula a justiça de acordo
com Moisés e a volta ao Senhor antes de começarem a reconstrução do templo e profetiza
bênçãos conforme determina a lei,Ag.2.10-23. Zacarias exorta o povo à verdade, ao
juízo, a não praticar o mal com seu próximo, ao não juramento falso, ao amor a
verdade e a paz. Isso retirará de entre eles as maldições e trará as bênçãos da
constituição mosaica, Zc.8.13-19.
Moisés como a
base do pensamento teológico do NT
No NT todos
pensam Moisés. O povo, At.13.15; Jesus, Lc.14.5; Jo.5.46; os apóstolos,
Jo.1.17; os inimigos de Jesus, Jo.19.7; Paulo, Rm.4.3,17; 10.5-8. Para Jesus
Moisés fala literalmente dele, Jo.5.46; os redimidos da tribulação cantam o
cântico de Moisés e do cordeiro, Ap.15.3. O nome desse profeta e seu código de
leis está semeado por todo o NT: Mt.17.3;19.8; Mc.9.4;10. 4;Lc.9.30; 16.29; 24.27; Jo.1.17; 3.14; 5.46; 6.32;
9.29; At.3.22; 7.22; 21.21; Rm.5.14; 10.5; 1 Co.10.2; 2 Co.3.7; 3.15; 2 Tm.3.8;
Hb.3.2; 7.14; 9.19; 11.23; Jd.v.9; Ap.15.3.
De que trata o
Pentateuco De acordo com Moisés Maimônides, eminente filósofo judeu do século
XII, a lei de Moisés é um código de leis com 613 mandamentos dados a Moisés no
percurso da caminhada dos quarenta anos no “barmidbar Sinai” ou no deserto do
Sinai, desde o sopé do monte sagrado até a planície de Moabe. Encontramos no
prefácio de uma de suas principais obras chamada de “Os 613 Mandamentos” o
seguinte dizer: “Esta obra monumental intitulada “torah” ou “a Lei” é a
primeira constituição escrita distribuída a um povo para lhe servir de estatuto
e guia. Contém 613 artigos de lei. Estes preceitos são divididos em duas
grandes secções: os preceitos positivos ou “Farás”e os negativos ou “Não
farás”. São 248 os preceitos positivos e 365 os negativos, pois usará as 248
partes que compõem seu corpo para fazer os seus deveres para com Deus e seu
próximo e se recusará a fazer o mal os 365 dias do ano”.
Sistema Cultual
Judaico A Torá especifica um complexo sistema cultual em torno do tabernáculo (Mishekan)
Ex.37 e 38. As sete principais peças desse complexo tinham ampla representação
no culto. 1-O Altar dos Holocaustos (mizbah Olah)Ex.38.1.Uma peça feita de
madeira e coberta de cobre. Sobre esse altar eram feitos os sacríficos rituais
que testificavam a redenção de Israel e por extensão de todo o mundo. 2-A Pia
de Cobre, (kiyyõr) Ex.38.8.Lugar onde o sacerdote se lavava após o sacrifício. Dá
ênfase a questão da santificação. 3-A Mesa dos Pães da Proposição, (shulhan
welehem panim) Ex.37.10. Coberta de ouro. Aponta para a comunhão com Deus e com
os irmãos. 4-O Castiçal de Ouro Puro, (menorah) Ex.37.17.ênfase na iluminação
que traz a fé em Jeová. 5-O Altar do Incenso, (mizbah miqtar) Ex.37.25. Símbolo
da adoração e a oração a Deus. 6-A Arca (aron habberit) Ex.37.1.Uma caixa feita
de madeira de 1mx1m e revestida de ouro. 7-O Propiciatório, (kapporet) Ex.37.6.Uma
tampa de ouro puro que fechava a arca do concerto. Sobre ele estavam os dois
querubins, símbolos da presença de Deus. O sistema cultual estabelecido pela
lei tinha certa hierarquia inflexível e que não podia ser quebrada ou
substituída a sua liturgia. Nadabe e Abiu, filhos de Arão, por apresentarem uma
liturgia diferente da estabelecida, foram mortos dentro do tabernáculo, Lv.10.1,2.
Sistema
Econômico A Torá prescreve um eficiente sistema econômico, com contribuições
sistemáticas e dízimos para sustento da tribo sacerdotal (Levi) e os serviços
da tenda da congregação. Ex.30.11-16, estabelece uma contribuição obrigatória
do resgate da alma de “metade de um siclo como oferta ao Senhor. Em Números o
Senhor ratifica para Arão que toda a arrecadação feita para a tenda da
congregação pertence aos levitas para que nada faltasse a eles. Nm.18.8-24.
Sistema
Governamental A Torá estabelecia um sistema de governo teocrático tendo Moisés
como líder maior(pelo menos para os dias da peregrinação),o qual não podia ser
questionado, pois falava em nome de Deus. Seus irmãos foram punidos por Deus
por não aceitarem sua liderança,Nm.12.1-16.Coré, Datã e Abirão também foram
punidos por questionarem o líder Moisés,Nm.16.1-50.
Sistema Social A Torá continha um exigente
sistema de leis para se aplicar na parte social da comunidade. São centenas de
mandamentos voltados para as relações humanas e o respeito à vida
comunal.Lv.19.9-37;24.17-20;25.6,7.
Sistema Moral A
Torá estipula um severo código moral entre os membros da comunidade israelita
os quais se quebrados trariam severas consequências sobre os transgressores.
Ex.22.16;23.1-9.
É sabido que o
Pentateuco nos fornece os principais fatos da revelação divina. Precisamente
nos primeiros capítulos é que ficamos a saber que foi Deus o Criador do mundo
onde vivemos. Segue-se a descrição da queda do homem, revolta da criatura
contra o Criador, por meio da qual a humanidade, e com ela toda a criação, teve
de suportar a maldição divina. Vem depois a promessa do Salvador ("a
Semente da Mulher" em Gn 3.15), com a indicação das circunstâncias em que
este Salvador aparecerá no mundo. Primeiramente há um quadro geral do universo,
em que o pecado leva o Senhor a destruir o homem pelo dilúvio, fazendo-o
desaparecer da face da terra. Depois desse dilúvio, de que só escapou a família
de Noé, surge um período de apostasia, cujo cúmulo leva o homem a construir uma
torre capaz de enfrentar as nuvens e o próprio Deus (Gn 11.4).
Deus, porém, na
Sua bondade infinita, propõe-Se preparar um povo, de que há de sair o Salvador.
De Ur dos Caldeus chama Abraão, um dos descendentes de Sem (Gn 11.26), e
através dele promete a bênção a todas as famílias da terra (Gn 12.3). Os filhos
de Jacó emigram para o Egito, onde após anos de tranquila estada, se
transformam numa grande nação. Surge a escravidão e uma tentativa para
restringir o progresso desse povo, mas o Senhor liberta-o e com ele realiza uma
aliança no Monte Sinai. É a Lei mosaica, que lentamente vai sendo explicada.
Mas a libertação do Egito, por meio de Moisés, não passa dum símbolo da obra
redentora de Cristo (cfr. Jo 1.17; Cl 2.17). Narrações que não podem ser
tomadas como mera representação dos acontecimentos históricos, pelo seu
significado espiritual, que podemos e devemos atribuir-lhes.
LIVROS
HISTÓRICOS DE JOSUÉ A ESTER
a) O Livro de
Josué
O caráter da
literatura histórica é determinado pelo lugar que ocupa nos planos da revelação
de Deus para a redenção da humanidade. A finalidade é, portanto, revelar o que
o Senhor, na Sua misericórdia determinou para salvar o homem. É deste modo que
ao Pentateuco se pode chamar a base da revelação, desde a criação do mundo até
ao estabelecimento duma aliança com Israel, em que se expõem as condições dessa
aliança. O livro de Josué mostra como o Senhor leva o povo escolhido à Terra
Prometida, em conformidade com aquela aliança. A história que se segue, todavia,
vai dizer-nos que só pela Lei não é possível a salvação. Como então? A redenção
dos pecadores só poderia ser efetuada pelo Filho de Deus encarnado. Os livros
dos Juízes, de Samuel e dos Reis lembram a apostasia de Israel, a que já os
últimos versículos de Josué fazem referência: "Serviu, pois, Israel ao
Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda viveram
muito depois de Josué, e sabiam toda a obra que o Senhor tinha feito a Israel"
(Js 24.31). Nestas palavras se resume a história da religião de Israel, que
assim abandonava o seu Deus.
b) O Livro dos
Juízes
A isto se pode
resumir o livro dos Juízes: "Os filhos de Israel deixaram ao Senhor, Deus
de seus pais, e prestaram culto aos deuses pagãos de Canaã, Baal e Astarote.
Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e os deu na mão dos seus
inimigos. Todavia levantou o Senhor juízes que os livraram desses inimigos. Mas
quando morreu o juiz, voltaram à idolatria e de novo foram castigados e
oprimidos" ( Jz 2.11-23). Assim, até Jz 15 sucedem-se com mais ou menos
pormenores diferentes narrações da atividade dos doze juízes. Os últimos
capítulos limitam-se a registrar o estado deplorável durante este período da
história de Israel.
c) O Livro de
Rute
A nossa Bíblia
interrompe agora a história com o pequeno livro de Rute, e bem que a Bíblia
hebraica o apresente na terceira e última parte do Velho Testamento, num grupo
separado, a que os judeus dão o nome de "Escritos". O livro conta a história
da moabita Rute, casada com um rico proprietário, de nome Boaz, um dos antepassados
de Davi. A introdução duma gentia na sagrada descendência de Davi, de quem
havia de nascer o Messias, vem demonstrar que a eleição de Israel não exclui os
pagãos da salvação do Senhor. Donde se infere, que o Salvador será o grande
Redentor não só de Israel, mas de todas as nações.
d) Os Livros de
Samuel, dos Reis e das Crônicas
Os livros de
Samuel e dos Reis contam o ressurgimento do país, sobretudo nos reinados de
Davi e Salomão, e por fim o seu declínio após a morte deste último. Na divisão
do país sob Roboão e Jeroboão, apresenta-se a história paralela dos reis de
Judá e de Israel, terminando com a apostasia que levou à destruição do norte do
país e depois à catástrofe final do exílio no ano 586 a.C. O cronista resume
toda a história desde Adão em diante. Até à morte de Saul é, por assim dizer, uma
breve genealogia; mas a partir daí segue quase a par e passo os livros de
Samuel e dos Reis. Após a divisão do reino, limita-se quase só a descrever os
acontecimentos relativos ao reino de Judá. Quando os livros das Crônicas,
porém, se cingem a relatar os mesmos acontecimentos que os livros de Samuel e
dos Reis, não os reproduzem literalmente. É o que se verifica com as narrações
da vida de Jesus Cristo pelos quatro evangelistas. A "crítica" nem
sempre é favorável ao autor das Crônicas. Mas o fato de mencionar certos acontecimentos
que Samuel e os Reis passam em silêncio, ou então omitir outros que aqueles
livros registram, leva-nos a colocá-los ao lado dos evangelistas, de cuja
probidade ninguém duvida. Dum modo especial note-se como o cronista se
interessa principalmente por tudo o que se relaciona com as cerimônias do
culto, deliciando-nos com inúmeros pormenores interessantes, que os outros
livros passam em silêncio.
e) Os Livros de
Esdras e Neemias
A tomada de
Jerusalém e o cativeiro dos seus habitantes em Babilônia, de modo algum
frustrou o plano redentor de Deus; pois a nação, da qual havia de nascer o Salvador,
não podia ser completamente abandonada. Dá-se então o regresso do exílio, como
lembra o cronista no seu último capítulo, referindo-se ao decreto do rei da
Pérsia, Ciro, que autoriza os cativos a voltarem à terra de seus pais, se assim
o desejassem e a reconstruírem o templo do Senhor em Jerusalém. É o que podemos
constatar nos livros de Esdras e Neemias, que vão ao ponto de relatar
minuciosamente todos esses trabalhos, sem esquecer as dificuldades que tiveram
de vencer os filhos de Israel, há pouco vindos do exílio. Estes livros
demonstram claramente que, apesar dos revezes da Israel não prestaram o devido
culto ao Senhor. Por isso aguardam a "plenitude dos tempos" em que
Deus enviará o Seu Filho (Gl 4.4-5).
f) O Livro de
Ester
Resta-nos agora considerar
o livro de Ester. Trata-se duma maravilhosa exposição, habilmente descrita, do
que parece ter sido a mais perigosa ameaça ao futuro de Israel a sua
exterminação total, levada a efeito pelo monstruoso plano de Hamã. O Senhor,
porém, preserva o Seu povo, assegurando assim o cumprimento da promessa
Messiânica feita aos nossos primeiros pais no jardim do Éden. Muitos comentadores
têm dúvidas da historicidade e do caráter religioso do livro, embora não haja
motivo para duvidar dos fatos que nele são descritos. Há um pormenor, observado
pelos entendidos, a salientar neste livro: é que o autor mostra um perfeito
conhecimento dos costumes persas. Quanto ao crime hediondo planeado por Hamã,
não nos parece incrível, se pensarmos nos massacres perpetrados durante a
última guerra mundial pelos nazistas alemães contra os indefesos judeus. Embora
não se cite o nome de Deus, não se pode negar que o livro proclama a
intervenção providencial do Altíssimo. Quanto a estar o livro eivado dum
nacionalismo exagerado, vingativo e fanático, o que se descreve é a pura verdade.
Os fatos são relatados objetivamente, e a atitude dos judeus, que não quiseram
tocar nos despojos dos inimigos, embora o pudessem fazer, fala por si. Quem,
pois, ousará censurar o autor, por exprimir a sua satisfação no dia em que viu
os inimigos opressores passarem a oprimidos?
OS MILAGRES
Uma vez que nos
relatam a história do plano redentor de Deus, não admira que os livros
históricos do Velho Testamento contenham um certo número de milagres, especialmente
o Pentateuco e outros livros posteriores.
Sirvam de
exemplo a travessia do rio Jordão, a queda dos muros de Jericó relatados em
Josué, as façanhas de Sansão descritas no livro dos Juízes, e os milagres dos
profetas Elias e Eliseu tão pormenorizadamente narrados nos livros dos Reis.
Ainda que muitos críticos ponham em dúvida a historicidade de tais narrações,
não passa de subjetiva a argumentação que apresentam. O Senhor é um Deus que "opera
maravilhas", sem que por isso vá de encontro às leis da Natureza. Já que a
redenção da humanidade é o Seu maior milagre, não seriam de esperar outros
milagres para que se realizasse essa magnífica obra? Nada melhor para conhecermos
Deus que esses sinais e manifestações do Seu poder, que se faz sentir,
sobretudo, nas grandes crises da história do Seu povo. Em muitos casos, é
possível que os acontecimentos resultassem de causas naturais; efetivamente,
assim por vezes o indica a Bíblia. Mas, supondo que se apresentassem
semelhantes explicações, há sempre a considerar o milagre da precisão do
acontecimento.
O ELEMENTO HUMANO
Um traço
característico desta literatura histórica é o fato de não incluir qualquer
alusão ao culto dos heróis, à divinização das criaturas. Os homens e as
mulheres, desempenhando o simples papel de testemunhas (Hb 12.1), são
apresentados tal como eram, com suas virtudes e seus defeitos, a sua fé e as
suas dúvidas, a sua justiça e os seus pecados. Abraão é retratado não só como o
homem que acreditou no Senhor (Gn 15.6), mas também como o homem que duvidou
(Gn 17.17). Embora Davi fosse o homem "segundo o coração de Deus",
não deixa de narrar-se o seu comportamento escandaloso com a esposa de Urias, (adultério
e homicídio) que, sendo notório, desagradou aos homens e "pareceu mal aos
olhos do Senhor" (2Sm 11.27).
O objetivo
principal é dar-nos a entender, que a fé destas "testemunhas" não é
fruto de méritos próprios, mas exclusivamente um dom de Deus. E assim como o
Senhor fez destas criaturas arautos infatigáveis da fé, o mesmo fará conosco,
não obstante a nossa fraqueza de espírito. Não há, pois, motivo para desespero.
O elemento
humano verifica-se ainda na seleção dos escritores e no uso dos materiais
existentes. Os livros históricos abrangem um período muito mais extenso do que
a vida normal dum homem. Não admira que tenha de admitir-se a tradição oral ao
lado de documentos escritos. Sabemos que foram várias estas fontes. Nos livros
de Josué e de Samuel alude-se ao "livro do Reto" (Js 10.13; 2Sm
1.18). Os livros dos Reis referem-se uma vez a um "livro dos sucessos de
Salomão" (1Rs 11.41), e frequentemente ao "livro das Crônicas dos
reis de Judá" ou "dos reis de Israel". Não se confundam estas
obras com os livros bíblicos das Crônicas, podendo considerar-se aquelas como
uma espécie de anais da corte. O cronista cita um grande número de fontes,
como, por exemplo, "as Crônicas do Rei Davi" (1Cr 27.24); "as Crônicas
de Samuel, o vidente" (1Cr 29.29), que não se devem confundir com os livros
de Samuel; "as Crônicas do profeta Natã" e "as Crônicas de Gade,
o vidente" (1Cr 29.29); "as profecias de Aías, o silonita" (2Cr
9.29); "as visões de Ido, o vidente" (2Cr 9.29 e 2Cr 12.15) ou
"a história do profeta Ido" (2Cr 13.22); "os livros de Semaías,
o profeta" (2Cr 12.15); e, finalmente, uma obra do profeta Isaías, filho
de Amós (2Cr 26.22), diferente do livro bíblico de Isaías. São ainda frequentes
as alusões ao "livro dos reis de Judá e Israel", que não é o mesmo
que o nosso livro bíblico dos Reis, mas pode ser a mesma fonte a que o autor
dos Reis se refere frequentemente, isto é, aos anais da corte.
Em muitos casos,
parte das fontes utilizadas foram copiadas literalmente e assim introduzidas na
narração, como as seguintes passagens, que podem servir de exemplo: A distribuição
das heranças das tribos de Israel em Canaã (Js 14-19); as listas dos heróis de
Davi (2Sm 23.8 e segs.; 1Cr 11.11 e segs.) e dos que voltaram do cativeiro de
Babilônia (Ed 2; Ne 7.6 e segs.); cartas de oficiais ao rei da Pérsia (Ed 4.11
e segs., Ed 5.6 e segs.) e do rei aos oficiais (Ed 6.6 e segs.).
Noutros casos
recorrem os autores à sua experiência pessoal, sobretudo quando tomam parte na
ação que estão descrevendo. Sirvam de exemplo Js 5.1 "até que passamos";
Js 5.6 "a terra... que jurara dar-nos"; e em especial Ed 7; 9, e a
maior parte do livro de Neemias.
Tem-se afirmado,
que a literatura semítica revela geralmente uma acentuada tendência para a
formação de grandes unidades. É o que se observa na literatura histórica do
Velho Testamento. Deste modo o Senhor utiliza esta predisposição natural do
povo de Israel, que pertencia à raça semítica, para realizar o grande corpo de
narrações de caráter histórico, que nos dá uma perspectiva de toda a obra da
redenção desde o princípio do mundo até à restauração de Israel depois do
exílio. Em virtude da finalidade e do caráter destes livros, admite-se que não
apresentem uma narração pormenorizada de todos os acontecimentos duma determinada
época. Temos, no entanto, todas as informações que o Senhor julgou necessárias
para nos revelar a Sua obra redentora.
VALOR PRÁTICO
A finalidade dos
livros históricos não é apenas a de demonstrar como Deus levou a cabo a Sua
obra redentora. Esses acontecimentos não passavam de "figuras... escritas
para aviso nosso" (1Co 10.11). A oração de Elias, por exemplo, é sinal de que
"a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tg 5.16); e
os castigos de Israel aconselham-nos a fugir do pecado (1Co 10.7-10).
Em conclusão, os
livros históricos são a Palavra de Deus, que nos estimula através de exemplos
edificantes a seguir o caminho do bem. Sigamo-lo, pois.
Livros poéticos
e de sabedoria
Introdução
O leitor
moderno, habituado ao Livro de Salmos, percebe certa semelhança ao ler alguns
materiais egípcios ou babilónicos. Os atributos pelos quais a divindade é
louvada, as questões que induzem à oração, as preocupações pessoais e coletivas
e até mesmo o estilo de linguagem dão um tom de familiaridade. Em quaisquer das
sociedades do antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados responsáveis
pela manutenção da justiça e se ocupavam dela no âmbito da vida humana. Isso
era frequentemente tema de louvor e a base das petições. Além disso, todos os
povos compartilhavam da condição humana e buscavam alívio para o sofrimento
comum provocado pelas doenças, opressão, desamparo e dificuldades da vida.
Hinos e orações
Apesar das
semelhanças superficiais, pode-se perceber diferenças profundas entre a visão
de mundo de Israel e a de seus vizinhos, a partir desse material literário.
Quando são feitos pedidos por libertação e salvação, ou misericórdia e graça,
ficam evidentes certos pressupostos acerca de como o mundo divino funciona e
como interage com a humanidade. Tanto os israelitas como seus vizinhos
acreditavam que sofriam pela falta de atenção da divindade. No mundo antigo, de
modo geral, acreditava-se que a divindade estava desatenta porque tinha sido
ofendida. Visto que o comportamento ético não desempenhava um papel muito
significativo na maneira como os povos da antiguidade encaravam suas
responsabilidades para com a divindade, geralmente, supunha-se que ela se
ofendia por não ter recebido a devida atenção por parte do indivíduo afligido.
O adorador tinha pouca esperança de discernir qual ritual havia sido omitido ou
causara a ofensa. A única opção era tentar aplacar a ira da divindade, em vez
de especificamente reparar o erro. Portanto, o indivíduo estava disposto a
reconhecer sua culpa (de um erro desconhecido) e dirigir suas orações,
encantamentos e rituais no sentido de amolecer o coração da divindade e tentar
reconquistar o seu cuidado e a proteção.
Os israelitas
não estavam muito convencidos de que a desatenção de Yahweh era causada por
ira. Eles prontamente reconheciam que, às vezes, mistificavam o porquê de
Yahweh não vir em auxílio deles. Como indivíduos, nem sempre estavam dispostos
a reconhecer a culpa, mas concentravam suas orações em pedidos de vingança.
Eles necessitavam da retaliação porque o sofrimento naturalmente levaria os
outros a concluir que Deus estava punindo-os por algum pecado. A resposta de
Deus à oração demonstraria que Ele não estava irado com eles, e que não haviam
cometido nenhuma ofensa grave. Quando pecavam, entendia-se como sendo um erro
ético e não uma missão ritual. Eles esperavam que a graça de Deus resultasse de
quem Ele era; não esperavam ser capazes de induzi-lo a agir com misericórdia,
através de dádivas e agrados ou da invocação através de ritos mágicos.
Apesar dessas
diferenças fundamentais, existe muito material, na literatura do antigo Oriente
Próximo, que pode trazer compreensão aos salmos bíblicos. Muitas metáforas
bíblicas originam-se do contexto cultural da época. Por exemplo, a imagem de
Deus como um pastor, uma rocha ou um escudo encontra paralelos na literatura da
Mesopotâmia. Expressões como "o desejo do teu coração", ser
"tirado de um poço" ou usar o vento como mensageiro têm precedentes
que ajudam a explicar o que os israelitas queriam dizer ao usá-las.
A Literatura de
sabedoria do Antigo Testamento insiste em que somente o temor do Senhor (o
princípio da sabedoria) pode trazer ordem ao caos da vida. Além disso, os
rituais do templo também eram um meio de manter a ordem.
O material do
antigo Oriente Próximo inclui provérbios, admoestações e instruções, debates
filosóficos na forma de diálogos, monólogos e fábulas. Eles tratam de muitos
dos temas da literatura de sabedoria israelita, inclusive, notavelmente, de diversos
exemplos em que um sofredor está em busca das razões para seu sofrimento.
O problema
subjacente a essa discussão que une todas essas obras dos "sofredores
justos" é a teodicéia - a justiça da divindade. A tensão gerada entre a
justiça divina e o sofrimento humano tem como base a crença no princípio da
retribuição. Em poucas palavras, esse princípio afirma que o justo prosperará e
o ímpio sofrerá; no entanto, se uma pessoa aparentemente justa está sofrendo e
o princípio da retribuição é aceito, então a justiça de Deus é posta em dúvida.
Essa tensão não era sentida tão intensamente fora de Israel porque não havia
uma crença forte nas qualidades éticas da divindade. Além do mais, em um
cenário politeísta, o comportamento de um indivíduo podia agradar a uma
divindade, mas ofender a outra. O sofrimento humano, sem nenhuma razão aparente
ou dúvidas concernentes à existência da justiça divina de forma compreensível,
minava a habilidade de assegurar um mundo ordenado. Quando as coisas vão mal,
as pessoas se sentem envolvidas pelo caos e não pela ordem. A literatura de
sabedoria mesopotâmica tipicamente resolvia o problema afirmando que não existe
nenhum sofredor justo. Eles também estavam dispostos a aceitar que os deuses
eram inescrutáveis.
A literatura de
instrução é mais proeminente no Egito, onde mais de uma dúzia de composições
abarcam mais de dois mil anos (início do terceiro milênio até o final do
primeiro milênio). Essas composições demonstram que a literatura de sabedoria
israelita, assim como a encontrada em Provérbios, era parte de um gênero
internacional (assim como o Livro de Reis afirma, 1 Rs 4.30). A literatura de
instrução do antigo Oriente Próximo inclui afirmações concisas e incisivas como
aquelas encontradas em Provérbios 10-29, e também, longas admoestações como em
Provérbios 1-9. O paralelo mais próximo encontra-se na comparação de A
Instrução de Amenemope (cerca de 1200 a.C.) em Provérbios 22.17-24.22, em que
há um número relativo de temas e expressões bastante similares.
O tratado de
Eclesiastes relaciona-se a uma subcategoria conhecida como a "literatura
de pessimismo" que é exemplificada pelo Diálogo Acadiano do Pessimismo e
pelos Cânticos Egípcios do Harpista e A Disputa entre um Homem e Seu Ba. Todos
esses textos exibem um cinismo irônico a respeito da vida. O Diálogo do
Pessimismo retrata uma conversação entre um senhor e seu escravo, na qual o
senhor afirma sua intenção de engajar-se em diversas empreitadas. A cada
sugestão, o escravo afirma os benefícios do curso de ação proposto, e em cada
caso, o senhor muda de ideia e decide não concretizar seus planos. O escravo
então replica, sobre a decisão, citando todas as desvantagens que determinada
ação acarretaria. Os tópicos incluem: ir ao palácio, comer, caçar, formar uma
família, liderar uma revolução, amar uma mulher, oferecer sacrifício, montar um
negócio de crédito e fazer caridade pública. O texto termina quando o senhor
finalmente pergunta ao escravo sobre determinada ação e ele responde: "Ter
o meu e o seu pescoço quebrados e sermos lançados no rio é bom". A base
desse tipo de literatura é mostrar que não é simples encontrar significado e
propósito na vida e em suas atividades. Conseguir a ordem em meio ao caos
raramente é alcançado de forma satisfatória.
O Cântico dos
Cânticos também é incluído com frequência na literatura de sabedoria. Essa
classificação pode ser sustentada pela percepção de que o Livro usa poesia de
amor para ilustrar o ensino da sabedoria (8.6, 7). Outros exemplos do gênero
poesia amorosa são conhecidos na literatura suméria mitológica concernente a
Dumuzi, no terceiro milênio, mas os paralelos mais próximos são encontrados em
um grupo de canções de amor egípcias do período dos juizes (19a e 20a Dinastias
Egípcias, 1300-1150 a.C.). Essas canções de amor eram geralmente executadas em
festas e compartilham muitas das características encontradas no Cântico dos
Cânticos. Falta-lhes, porém, o ensino da sabedoria que o Livro bíblico
considera crucial: romance, amor e sexo também podem ser forças do caos que
precisam ser abrigadas sob a capa da ordem.
Em tudo o que
foi dito acima fica evidente que, à medida que Deus incluiu os gêneros poético
e de sabedoria em sua revelação a Israel, Ele não elaborou novos estilos
literários, nem criou novos temas para abordar; ao contrário, Ele usou o que
era familiar a qualquer habitante do antigo Oriente Próximo. Ele foi ao
encontro de seu povo, onde eles estavam, e comunicou-se com eles de forma clara
e poderosa. Aumentar nosso conhecimento da cultura e da literatura do antigo
Oriente Próximo, portanto, pode somente ampliar nossa compreensão da Bíblia.
OS AUTORES DA
SABEDORIA
Sabe-se, que
surgiu entre os judeus uma classe de sábios, encarregados de transmitir a sua
sabedoria de geração em geração, e que para isso possuíam escolas, onde os discípulos
entravam em contato com as doutrinas dos mestres (Pv 1.6; Pv 22.17; cfr. Pv
24.23; Ec 9.17; Ec 12.11). Estes formavam um grupo aparte, como parece inferir-se
de Jr 18.18: "Não perecerá a lei do sacerdote, nem o conselho do sábio,
nem a palavra do profeta", onde se alude a três classes diferentes. Cada uma
delas tinha uma missão diferente: o sacerdote interpretava a Lei, anunciava a vontade
de Deus; quanto ao sábio, esse dava conselhos práticos sobre os problemas da
vida quotidiana. Um era ritualista, outro teólogo e o terceiro moralista. É
grande a diferença, pelo menos entre o segundo e o terceiro. Enquanto os
profetas eram reformadores práticos e irradiavam a mensagem divina no âmbito da
conduta individual e social, agindo deste modo, partiam dum nível de altos
princípios para descerem à expressão de ideais de conduta moral. Os sábios,
esses eram mais vulgares e partiam de princípios menos elevados, como eram os
que se relacionavam com a vida de todos os dias. Aqueles eram críticos, estes
moralistas.
Uns divulgavam a
mensagem de Deus; outros, perante os acontecimentos da vida, e servindo-se da
sabedoria humana, formulavam máximas e aforismos de grande profundidade moral. Assim
poderíamos resumir as funções destes sábios ou autores da sabedoria:
a) Transcendem
os limites do nacionalismo. Eram, por assim dizer, os humanistas do povo
hebraico. Ao contrário dos sacerdotes e dos profetas não nutriam tendências
para um particularismo racial. Somente nos livros de Sabedoria pós canônicos começa
a aparecer esta ideia, e a Sabedoria quase sempre identificada com a Lei.
b) Tornam-se
autores, desenvolvendo os seus conhecimentos literários e condensando-os em
obras de notável valor.
c) Eram
sobretudo práticos; filósofos, mas não por amor à filosofia; pensadores, mas
visando sempre à vida de todos os dias; realizadores, não meros especuladores.
d) Continuaram a
função da revelação, quando se calou a voz dos profetas e dos sacerdotes de
Israel.
Livros
proféticos
Introdução
Uma vez que,
como cristãos, cremos que há um só Deus e entendemos que a profecia contém
mensagens desse Deus, muitas vezes somos inclinados a pensar que a profecia
bíblica é um fenômeno único. Embora se justifique pensar que toda profecia fora
da Bíblia é falsa, permanece o fato de que a profecia bíblica está incluída em
uma longa tradição de profecias no antigo Oriente Próximo. Até mesmo a Bíblia
esclarece esse fato nas narrativas sobre Balaão e os profetas de Baal mantidos
por Acabe e Jezabel.
A adivinhação
está relacionada a qualquer processo que busca obter mensagens que ultrapassam
o mundo dos humanos. No mundo antigo, a adivinhação assumia muitas formas
distintas (ver o comentário em Dt 18), mas a maioria delas era proibida em
Israel porque envolviam uma visão inferior da divindade (manipulação). A
profecia era uma forma de adivinhação praticada legalmente pelos israelitas.
Não se tratava de adivinhação mântica que exigia conhecimento de livros
especializados (p. ex., feitiços ou textos de presságios) ou o uso de rituais
mágicos mas, sim, era resultado da comunicação direta com a divindade. Textos
que falam de profetas e apresentam as mensagens deles estão espalhados em toda
literatura do antigo Oriente Próximo. Em alguns desses textos os profetas usam
outras formas de adivinhação para receber suas mensagens.
A coletânea mais
importante de mensagens proféticas encontra-se em cerca de cinquenta cartas
preservadas em tabletes encontrados nos arquivos reais da cidade de Mari. São
datadas do início do segundo milênio a.C. (contemporâneas aos eventos do
Gênesis). As cartas relatam aos reis profecias que tinham por objetivo chamar a
atenção de oficiais locais. As profecias são provenientes de diversas
divindades e orientam o rei em questões militares e outros assuntos da política
governamental. Ocasionalmente elas determinam que certos rituais sejam
realizados. _
Uma segunda
coletânea de quase trinta oráculos provém do período neo-assírio (sétimo
século). A divindade principal é Istar de Arbela e as profecias tipicamente preveem
vitória e prosperidade para o rei em seus diversos empreendimentos. Alguns dos
oráculos estão registrados em grandes tabletes que serviam como cópias de
arquivo, enquanto outros são textos menores contendo oráculos individuais. Os
oráculos são relativamente curtos, variando de uma frase a um parágrafo ou
dois, no máximo.
Na literatura
egípcia não existem textos que afirmam conter oráculos das divindades, mas
obras tais como as Exortações de Ipuwer e As Visões de Neferti (ambas datadas
do início do segundo milênio) de fato contêm observações relacionadas ao estado
caótico da sociedade e avisos do julgamento vindouro. Elas também fazem algumas
referências a uma iminente restauração da ordem. Esse material, portanto,
inclui os mesmos tipos de mensagens encontradas na literatura profética de
Israel. Apesar dessa semelhança, não há instituição profética comprovada no,
Egito, como se encontra no restante do antigo Oriente Próximo. A razão mais
óbvia para essa diferença é que no Egito a divindade estava encarnada na pessoa
do faraó. Não havia, portanto, necessidade de um porta-voz que falasse em nome
da divindade, visto que a divindade já estava no meio deles.
Os oráculos
proféticos do antigo Oriente Próximo são semelhantes a uma fase inicial da
profecia israelita. Os profetas escritores de Israel foram designados
"profetas clássicos", e os primeiros deles aparecem no início do
oitavo século. Antes desse período, profetas como Natã, Elias, Eliseu e muitos
outros são mencionados na literatura histórica, mas não há compilações de seus
oráculos. São chamados de "profetas pré-clássicos" e são eles que
apresentam a maior semelhança com os profetas do restante do mundo antigo. Suas
mensagens eram dirigidas ao rei e diziam respeito à política pública ou outras
questões de importância nacional. Nesse sentido, os profetas eram conselheiros
oficiais, e com mais frequência, não oficiais do rei. Em contraste, os profetas
clássicos muitas vezes dirigem-se ao povo ao transmitir suas mensagens de
caráter social e espiritual. Apesar de suas mensagens incluírem proclamações de
bênção ou reprovação, eram dirigidas à sociedade como um todo e não
exclusivamente ao rei. Como resultado, os profetas escritores transmitiam
alertas em relação ao cativeiro, à destruição e ao exílio que eram novidade
nesse período e para a instituição profética.
Os profetas com frequência
eram considerados loucos - uma consequência do fato de que não era raro
receberem suas mensagens em estado de transe ou êxtase. Um dos títulos usados
na literatura acadiana para profeta é mubhu, que geralmente é traduzido como
"extático". Não obstante, os profetas eram levados muito a sério. O
próprio ato de proferir as palavras era considerado determinante na
concretização de sua mensagem. Isso acontecia independente da posição que o
profeta ocupava na sociedade. Alguns profetas faziam parte dos funcionários do
templo ou do concílio de conselheiros do rei, mas não era raro haver profetas
leigos ou plebeus. Na Babilônia ou na Assíria a palavra do profeta estava
sujeita à confirmação feita através de procedimentos de adivinhação.
Apresentava-se a pergunta se a mensagem profética deveria ou não ser aceita
favoravelmente e o sacerdote adivinho buscava a resposta "escrita"
nas entranhas do animal sacrificado.
Fica claro que
todas as culturas do mundo antigo acreditavam que os deuses se comunicavam
através de indivíduos escolhidos. Em grande parte do antigo Oriente Próximo
parece que os profetas serviam como apoio à ideologia imperial. Já em Israel,
eles representavam com mais freqüência um movimento de contracultura. Por causa
disso, os profetas tendiam a aglomerar-se em períodos de grandes turbulências.
Durante o período pré-clássico os profetas Moisés, Débora, Samuel, Elias e
Eliseu cumpriram seu papel em tempos difíceis. Durante o período clássico, a
atividade profética girou em torno de três momentos cruciais:
1. A crise
assíria que provocou a queda do reino do norte e o cerco a Jerusalém (760700:
Amós, Oséias, Miquéias e Isaías)
2. A crise
babilónica que resultou na queda da Assíria e na queda de Judá e Jerusalém
(650-580: Habacuque, Sofonias, Naum, Jeremias e Ezequiel)
3. O período
pós-exílico com o governo persa e a crise de identidade (530-480: Ageu,
Zacarias, Joel, Obadias, Malaquias; Daniel poderia ser incluído entre esses,
embora tenha cumprido seu papel como profeta no exílio).
Os oráculos dos
profetas escritores podem ser divididos em quatro categorias gerais. Os
oráculos de acusação notificavam o povo quanto ao que haviam feito de errado.
Os oráculos de juízo descreviam a ação que Deus pretendia tomar em resposta às
ofensas do povo. Os oráculos de instrução (relativamente poucos até o período
pós-exílico) diziam ao povo o que precisavam fazer e como deveriam agir e
pensar. Os oráculos futuros informavam o povo sobre os planos de Deus após a
vinda do juízo. Todos, exceto o último grupo, também estão representados nas
profecias do antigo Oriente Próximo, embora não tenham sido nunca coletadas,
"publicadas" e canonizadas como o foram em Israel.
Os livros dos
profetas, formando quase um terço do Velho Testamento, contêm a doutrina e, em
certos casos, a história pessoal dos profetas que apareceram isolados, a
intervalos ou contemporaneamente, desde o séc. VIII ao séc. IV A. C. Este
período é notável pelo largo desenvolvimento do pensar humano, e pelo
aparecimento de ilustres orientadores do espírito em todos os países do globo.
Quando Sofonias
previa a desgraça que devia cair sobre Jerusalém, e Naum descrevia a ruína de
Nínive, Zoroastro, segundo um cálculo provável, empenhava-se a fundo na reforma
da antiga religião iraniana. Quando Jeremias e Ezequiel insistiam na pregação
do culto interior e puro a Deus, na conduta sincera e na responsabilidade
pessoal, Confúcio dava à religião da China uma forma definitiva, enquanto
Sidarta na Índia lançava os fundamentos do Budismo.
Na era dos
profetas que surgiram depois do exílio, encontrava-se em elaboração a antiga
religião grega, enquanto os filósofos da Jônia concebiam novos e elevados conceitos
do universo e os dramaturgos da Ática representavam os mistérios da vida
humana, sem esquecerem o espírito de justiça a que devia subordinar-se.
Atravessava-se,
então, um período de grandes acontecimentos políticos: Israel, deixava de
existir; a Assíria perdia a sua independência; Babilônia era submetida pelos
persas; Jerusalém, após ter sofrido uma destruição total, vivia um período de
ressurgimento nacional. A Grécia, depois de se libertar galhardamente do
inimigo invasor, via-se a braços com a praga das lutas internas. Roma, a
expandir-se avassaladoramente. Enfim, uma época brilhante em todos os ramos da
ciência, da política e da estratégia, sem que todavia nenhum sábio, nenhum
político, nenhum herói tenham superado esses homens de poder e de visão, que
foram os profetas de Israel e de Judá.
Os pregadores do
séc. VIII não foram os primeiros profetas, no sentido que normalmente lhe
atribuímos. Vêm de longe, pois desde os tempos remotos de Abraão se vêm
verificando esses testemunhos duma doutrina fixa, que, revelada gradualmente,
se baseou, sobretudo, na pregação de Moisés. Os profetas, tal como este
patriarca, foram "chamados" por Deus, que os encarregou duma missão
altamente espiritual.
Os diferentes
nomes que a Escritura atribui aos profetas dizem algo do caráter e da natureza
da obra desses homens excepcionais. O que vinha a ser então o profeta?
Primeiramente um "homem de Deus", quer dizer mais intimamente ligado
a Deus do que os outros homens, e, portanto, mais reto e mais justo do que eles.
Em segundo lugar o profeta é um "servo de Jeová", com uma missão
especial a cumprir, a de entregar uma mensagem aos povos.
Daí ser o
profeta o "mensageiro de Jeová". As suas palavras tinham uma
autoridade e uma força que só podiam advir de Deus. Finalmente o profeta é um
"homem de Espírito", no dizer de Oséias (Os 9.7). Isto no que se
refere ao poder e à autoridade do profeta. Mas, se atendermos ao fato de que
era esse homem que explicava aos povos a mensagem divina, podemos ainda
acrescentar aos epítetos do profeta o de "intérprete".
Mais três nomes
vêm-nos indicar como o profeta recebia a sua mensagem, e a seguir como a
tornava conhecida. Dois deles roeh e chozeh significam "vidente". O
profeta vê o que não é dado ver aos restantes homens, mas não por mérito próprio
devido a uma excepcional perspicácia, ou a um poder de penetração, que são
apanágio de inteligências agudas e experientes. Também não se trata do emprego
de meios semelhantes aos que se utilizavam na adivinhação ou no ocultismo. A
"visão" do profeta resulta exclusivamente dum dom sobrenatural,
independente da vontade do mesmo profeta, pois o objeto dessa visão é revelado
por Deus. Não vá julgar-se, porém, que tal submissão a Deus pode implicar uma
passividade absoluta. O uso das faculdades normais do profeta não fica em
suspenso, como se pode deduzir da palavra "vidente", já que, quando
mais não seja, a visão exige não pequeno esforço da parte do profeta,
preparando-se para ela, as mais das vezes, com oração e com rogos (Dn 9.3).
A terceira
palavra em questão, mais frequente e que se traduz por profeta, é nabi, e dá a
entender que a pessoa assim designada é um verdadeiro intérprete. Ao contrário
de Elias e Eliseu, os últimos profetas não operavam muitos milagres. Confiavam
inteiramente nas palavras escritas ou proferidas, e reforçadas de vez em quando
por uma ação simbólica (Jr 28.10). Embora unidos ao passado, interessavam-lhes,
sobretudo, as circunstâncias do presente. Por isso, as suas obras refletem a
vida política, econômica, social, moral e religiosa da época em que viveram.
Assim se explicam algumas das descrições de reinados sucessivos dos livros dos
Reis e das Crônicas.
A DOUTRINA DOS
PROFETAS
a) A natureza de
Deus
Podemos
considerar a religião como uma tentativa eficaz para estarmos de boas relações
com o supremo Poder do Universo. O caráter e o valor dessas relações, dependem
muito do conceito que formamos do objeto do culto. Ao tempo da morte de Josué,
embora Israel já tivesse entrado na Terra de Canaã, os seus habitantes ainda
não tinham sido completamente dominados. As grandes tribos e muitos outros
grupos organizados continuaram a lutar por mais algum tempo, com mais ou menos
êxito. Mas gradualmente os invasores estabeleceram-se lado a lado com as outras
populações e, esquecendo as ordens de Jeová, com elas se misturaram em
casamentos e começaram a adorar os seus deuses. Ainda mesmo quando conservavam
pura a ideia do monoteísmo, os seus pensamentos começavam a deixar-se
influenciar pelas opiniões que os vizinhos pagãos formavam das suas divindades.
É muito possível que alguns adorassem o verdadeiro Deus, apenas enquanto era um
dos muitos a quem podia prestar-se culto. Pensavam, por exemplo, que para obter
o auxílio divino era suficiente transportar a arca para a batalha (1Sm 4.5), ou
então oferecer sacrifícios, embora com a consciência manchada por uma conduta
irregular (Os 8.12-13). Sendo estes os frutos da primeira apostasia, a missão
dos profetas era a de tornar conhecida a natureza de Deus, ou antes dirigir de
novo a atenção para ela e considerá-la melhor. Cada um utilizava um processo
diferente, porque as mensagens dos profetas variavam conforme a sua experiência
pessoal, as circunstâncias particulares de cada caso e a cultura daqueles a
quem eram dirigidas. Mas há um conjunto de verdades primordiais, que mais ou
menos constituem a doutrina dos profetas.
1) DEUS É O
LEGISLADOR ONIPOTENTE DO UNIVERSO.
É o Deus ou o
Senhor dos Exércitos (Am 5.27). Quanto ao significado original desse epíteto,
não é fácil descobrirmos se se relaciona com o comando das tropas de Israel ou
com os exércitos celestes. Nos últimos tempos, todavia, é possível que se
refira a este último caso. As miríades de estrelas simbolizavam os exércitos
dos céus, e o comando de tais estrelas implicava naturalmente a Onipotência (Is
40.26). A tradução da Septuaginta dá um equivalente exato: pantokrator. O poder
de Deus não se manifestou só na criação. Todos os dias o podemos admirar
espalhado pela natureza. Ele é o Criador dos confins da terra e não se esgota a
Sua energia criadora (Is 40.28). Ele formou os corpos celestes e as massas
rochosas das montanhas. Ele aciona os ventos, dirige a luz e orienta a chuva. O
prado verdejante é um precioso dom de Deus. O míldio, os gafanhotos e outras
forças ocultas de destruição obedecem às Suas ordens (Am 4). O poder do Senhor
manifesta-se ainda, e em larga escala, em todos os acontecimentos da história
humana. Foi Ele quem retirou os israelitas do Egito e os levou para além de
Damasco; (Am 5.27), quem levouo povo da Síria para Quir, de onde o tinha
retirado (Am 1.5; Am 9.7). A Assíria é a vara da Sua ira (Is 10.5). Foi Ele
quem suscitou os caldeus para realizar os Seus desígnios, (Hc 1.6), e quem
cinge Ciro para realizar o que Lhe agradar (Is 44.28; 45.5).
2) DEUS É QUEM
GOVERNA MORALMENTE O MUNDO.
Ele é santo,
reto, justo e misericordioso. A palavra "santo", referindo-se a Deus,
atinge nos profetas um significado moral, enquanto O distingue do homem na sua
existência e na sua essência como criatura. A intervenção de Jeová na vida dos
homens e nas nações nada tem do capricho que frequentemente se atribui aos
deuses pagãos. Tudo contribui para o desenvolvimento do plano que desde a
eternidade tem em vista. Todos os homens são iguais perante Ele. Ele está
presente em toda a parte a observar a conduta dos homens, cujos segredos
conhece, mesmo os mais íntimos pensamentos (Am 4.13). Quando castiga um país ou
um indivíduo, é porque existe uma causa grave e não por mera bagatela como
sucedia com os deuses olímpicos, que por uma insignificância, dizia-se, se
iravam contra os homens. Há sempre um motivo: a violação da lei da justiça, que
é comum a Deus e aos homens.
3) É O DEUS DA
ALIANÇA COM ISRAEL.
Enquanto criou e
governa todas as criaturas Deus quis um parentesco especial e único com Israel
e os seus habitantes. Vejamos: Escolheu-os de entre todas as nações da terra
(Am 3.2); chamou-os do Egito e instruiu-os paternalmente (Os 11.1- 4); deu-lhes
a Lei para os orientar (Os 8.12); exortou-os a obedecerem aos mandamentos (Jr
11.7), etc. Mas o Seu povo revoltou-se contra Ele, expondo-se a sofrer graves
consequências. Mesmo assim não o abandonou e manteve firme o plano previsto (Is
6.13; Mq 5.7-8). Deus só deseja o bem do Seu povo. Por isso não o entrega nas
mãos dos inimigos, senão após inúmeros conselhos (Jr 25.4,11).
O DEUS QUE PUNE
O PECADO DA HUMANIDADE, MAS PRICIPALMENTE DE SEU POVO.
1) PECADOS DO
CULTO DE ADORAÇÃO. Estes pecados incluem a idolatria e todas as práticas que
com ela andam associadas, a negligência no cumprimento dos deveres do culto, ou
então uma atenção meramente externa com prejuízo do espírito da Lei (Ml 1.13;
Os 6.6), e a profanação do sábado (Jr 17.19).
2) PECADOS DE
ORGULHO. Estes conduzem à descrença e à indiferença em relação às ordens de
Jeová, originando nos tempos difíceis uma confiança ilimitada nos chefes
políticos e no poderio das nações, com desprezo absoluto pelo poder que vem do
alto (Jr 13; Is 9.9).
3) PECADOS DE
VIOLÊNCIA E OPRESSÃO. Os profetas defendem a causa das classes desprotegidas:
os pobres, os órfãos, as viúvas, os escravos, e falam contra as prepotências
dos ricos e dos poderosos.
4) PECADOS DE
LUXÚRIA E INTEMPERANÇA. Estes pecados, que por um lado levam ao não cumprimento
dos deveres, por outro incapacitam os homens de os cumprir devidamente.
5) PECADOS DE
MENTIRA E DE IMPUREZA. Pelo primeiro desaparece a confiança política, comercial
e social; pelo segundo, arruinam-se os fins da vida familiar.
Segundo os
profetas, as virtudes máximas do crente resumem-se a três: o arrependimento, a
fé e a obediência a Deus. O arrependimento, que os profetas tanto pregam,
implicando conhecimento do pecado, supõe um pesar por havê-lo cometido, que ao
mesmo tempo obriga o homem a voltar-se para o bom caminho de Deus, enquanto se
desvia do caminho da iniquidade. A confiança em Deus é a fonte de energias para
o cumprimento do dever, é o guia nas horas incertas, o conforto nas horas
tristes, a prosperidade da vida espiritual. O conhecimento de Deus como Aquele
que executa a paz, a justiça e a bondade na terra e se compraz nessa execução,
é o que se recomenda acima de tudo (Jr 9.24).
O DEUS DO FUTURO
A visão de
futuro nas profecias bíblicas está inteiramente associada a vinda do Messias.
Embora, por causa do pecado, o país tivesse de sofrer a perda do território
nacional, do templo e da própria independência, não tardaria a oportunidade em
que o povo seria purificado e enriquecido, após uma restauração vitoriosa, e
iria instruir os outros povos no conhecimento do Senhor, orientando-os no
caminho da justiça e da paz. Ora, o cumprimento de tais promessas vem quase
sempre associado a uma Pessoa, apresentada sob diferentes formas, e ultimamente
designada por Messias (Dn 9.25-26). Já tinha havido uma série de profecias
relativas a essa Pessoa a começar pelas do Proto-evangelho (Gn 3.15), mas as
que haviam de aludir mais diretamente ao Messias eram, sem dúvida, as dos
profetas do séc. VIII em diante, que não se cansam de O apelidar Profeta,
Sacerdote e Rei. É sobretudo nos últimos capítulos de Isaías que mais se
desenvolvem os dons proféticos do Messias: É chamado desde o ventre (Is 49.1);
a Sua boca é uma espada aguda, uma frecha limpa na aljava do Senhor (Is 49.2);
Jeová dá-lhe uma língua erudita, para saber dizer a seu tempo uma palavra e
todas as manhãs Lhe desperta o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem
(Is 50.4); a Sua mensagem é dirigida aos mansos (Is 61.1), porque foi enviado a
restaurar os contritos de coração e a proclamar a liberdade aos cativos, não só
de Israel mas também dos gentios, pois levará a salvação até à extremidade da
terra (Is 49.6); finalmente, confiado no braço do Senhor, o Messias prosseguirá
tranquilamente a missão de que é incumbido, apesar do desprezo e das
perseguições (Is 49.7; 50.5-7).
Depois do
exílio, Zacarias fala dum sacerdote, que será ao mesmo tempo rei. É muito
natural que se trate da mesma pessoa, embora os outros profetas não desenvolvam
tão largamente esta ideia. Ela aparece, todavia, no Sl 110 e é o tema geral da
Epístola aos Hebreus.
O rei Davi
simboliza dum modo especial o Messias-Rei. Como? O Messias nasce dum dos ramos
da árvore de Davi, embora em circunstâncias humildes (Is 11.1); é cumulado dos
sete dons do Espírito, por isso só julga em conformidade com a conduta moral;
como Juiz, é justo, reto e fiel; como Rei, subordinará as forças do mal, que
irão sendo eliminadas à medida que o conhecimento de Deus se for espalhando
pela terra; finalmente será o Salvador das nações e a Esperança de Judeus e de
Gentios (Is 11). Ao contrário dos reis da terra, não usará da força para obter
e defender o seu império. Não cavalgará sobre ginetes de luxo, nem utilizará
carros imponentes. Montará um simples jumentinho e o Seu império estender-se-á
de um mar a outro mar, e desde o rio até às extremidades da terra (Zc 9.9-10).
Muitos outros
passos das obras dos profetas aludem às excelsas virtudes desse grande
Legislador. Isaías chama-Lhe o Deus Forte (Is 9.6); Jeremias "O Senhor,
Justiça Nossa" (Jr 23.6); Miquéias declara que as Suas saídas são desde os
tempos antigos (Mq 5.2); Daniel vaticina-Lhe um domínio eterno, que não passará
(Dn 7.14). Outros textos falam-nos da missão divina do Messias, sem que por
isso impliquem uma realeza no sentido humano. Zacarias descreve-O como o
companheiro do Senhor dos Exércitos (Zc 13.7) e Malaquias chama-Lhe o Anjo da
Aliança que de repente virá ao Seu templo (Ml 3.1).
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