A
DOUTRINA DO PECADO
Há algo errado no homem
e com o homem. Testemunhamos o ser humano realizando os mais sublimes heroísmos
e os mais horrendos atos. Ele tem capacidade de conceber as coisas mais puras e
belas e, ao mesmo tempo, praticar as ações mais sórdidas. E como uma máquina
que, tendo sido construída para trabalhar com perfeição, foi danificada a tal
ponto que todo o seu funcionamento ficou comprometido.
Desde cedo, o homem pode
perceber sua dicotomia entre discurso e prática, entre o que deseja e o que
faz. As vezes, até tem plena consciência de onde quer chegar, mas erra o alvo
de forma escandalosa. Os melhores homens já foram flagrados nos mais grosseiros
erros. E isto tudo em escala universal, independente de raça, cor, posição
social, cultura ou formação. A história humana é a história da degradação
humana. Muitas vezes, tem sido questionado se o homem é realmente um ser
racional. Este abismo entre o que se espera dele e o que efetivamente se tem, é
causa de grande espanto.[1]
E justamente nesta
grande incógnita que entra a revelação da Palavra de Deus. E ela quem vai
explicar a origem, a extensão e as consequências da degradação humana. Ela nos
possibilita entender porque o homem é assim, porque não deve continuar assim e
o que Deus fez para reverter essa situ- ação. As filosofias humanas apenas
detectam o fato. Somente a revelação divina é capaz, de fato, de esclarecer o
problema.
A existência do pecado,
de uma forma ou de outra, sempre perturbou a vida humana. Os homens têm que
conviver com esta deficiência, têm que se amoldar a ela, criar inúmeros
dispositivos para inibir seus efeitos. Anseia por uma solução definitiva que
possa resolver a questão de uma vez por todas. E uma guerra sem tréguas, para a
qual não existe descanso.
Na maioria das vezes,
porém, o homem se rende a esta força e se torna seu refém. Torna-se um
prisioneiro de seus próprios vícios. Sua vida toma uma proporção tal que o escraviza
e o obriga a atitudes que ele mesmo não entende. Esses vícios são de várias
espécies que, quando alguém escapa de algum tipo de corrupção, sempre acaba
caindo em outra. De modo que, mesmo sendo virtuoso em determinada área, é, às
vezes, completamente depravado em outras.
DEFINIÇÃO
DE TERMOS
Os termos bíblicos para
designar o pecado são variados. No hebraico os mais comuns são hata't (em
diversas formas da mesma raiz), 'awon, pesha', ra', e no grego temos hamartia,
hamartema, parabasis, paraptoma, poner/a, anomia e adikia. Existem distinções
expressas através desses termos; refletem eles os diferentes aspectos mediante
os quais o pecado pode ser contemplado. O pecado é fracasso, é erro, é
iniquidade, é transgressão, é contravenção, é falta de lei, é injustiça. É um
mal insolúvel. Porém, a definição do pecado não pode ser derivada simplesmente dos
termos bíblicos para denotá-lo. A característica mais notável do pecado, em
todos os seus aspectos, é que é orientado contra Deus. [2]
Segundo Agostinho, o
pecado não deve ser considerado em termos positivos, mas negativos, como
privação do bem. Ele define a essência do pecado como concupiscência
(concupiscentia), palavra usada para traduzir o sentido bíblico de desejo
carnal, mas entendida por Agostinho como amor-próprio pervertido, oposto do
amor a Deus.
Calvino contesta
Agostinho, argumentando que o pecado não deveria ser meramente concebido como
privação do bem, mas, sim, corrupção total do ser humano.
À primeira vista, a
definição que Barth dá de pecado, como uma “insignificância” , uma
“possibilidade impossível” , pode parecer semelhante à ideia de Agostinho, de
privação do bem. Mas Barth não está falando meramente de “privação”.
“Insignificância”, no caso, não tem o sentido ou o significado de “nada”; é
aquela contradição da vontade positiva de Deus e quebra de seu pacto, que
somente pode existir sob a contradição que é o seu julgamento. Assim, o pecado
é o orgulho humano, a contradição da humilhação que Deus faz de si mesmo em
Cristo. Neste caso defendemos o posicionamento reformado que pecado é
desobediência ao mandamento divino, rebelião contra Deus.
A teologia da
libertação entende que o pecado é a opressão de um grupo da sociedade por
outro. Os teólogos da libertação frequentemente combinam as teorias econômicas
de Karl Marx (que falam da luta entre as classes, em que o proletariado acabará
vencendo a burguesia) com temas bíblicos (tais como a vitória de Israel contra
a escravidão) e também identificam os oprimidos pelo emprego de termos
econômicos, raciais, de distinção entre os sexos e outros. O pecado é eliminado
pela remoção das condições sociais que provocam a opressão. Os extremistas
propõem a derrubada violenta dos opressores irredimíveis, ao passo que os
moderados enfatizam a mudança através da ação social e da educação
Tanto Lutero como
Calvino entendiam o pecado original não como uma compulsão externa, mas como
uma necessidade interna, enraizada na perversão da própria natureza humana. A
cruz de Cristo e a condenação do pecado humano que ela representa revelam a objetividade
e a depravação total do nosso estado pecaminoso, tal como justamente revelam a
total incompetência da redução existencialista do nosso pecado em termos de
“existência inautêntica”, ansiedade ou desespero.[3]
O AT não ensina apenas
que o pecado é um ato contra Deus (Núm 27,14; 2Rs 17,9 etc.), mas também o
apresenta até certo ponto como malum, ipsíus Dei, como ofensa pessoal de Deus.[4]
Termos hebraicos e
gregos da Bíblia para pecado:
No Antigo Testamento.
Encontramos no Antigo Testamento pelo menos oito palavras básicas que
conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo menos, doze outras que
descrevem as várias formas de manifestações negativas relacionadas com o termo
“pecado”. No étimo das palavras mencionadas no Antigo Testamento descobrimos a
abrangência do pecado em suas manifestações.
1) Hatta’t. Este
vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo
correlato no Novo Testamento — hamartia — sugerem a ideia de “errar o alvo” ou
“desviar-se do rumo”, como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e
errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo
propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente.
Não se trata de uma
idéia passiva de erro, mas implica uma ação proposital. Significa que cada ser
humano tem da parte de Deus um alvo definido diante de si para alcançá-lo. O
termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o ato resultante dela.
Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu
livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; SI I.I; 51.4; 103.10; Is 1. 18; Dn
9.16; Os 12.8).
2) Pesha. O sentido
tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, “revoltar-se”. Porém, uma
variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de
rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites estabelecidos
(Gn 31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs 3.5; SI 51.13; 89.32; Is 1.2; Am 4.4).
3) Raa. Outra palavra
hebraica que tem seu equivalente no grego — como kakos ou poneros — e traz a ideia
básica de romper, quebrar; “aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo
de pecado deliberado, malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a ideia
de “ser mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr II.II; Mq 2.1-3). Indica também algo
injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5;
38.7; Jz 11.27).
O profeta Isaías
profetizou que Deus criou a luz e as trevas, a paz e o raa (Is 4.57). É o mal
em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. Deus não tem culpa
do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos pecados
cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde, transgressora e
incriminada, e não sobre o Criador.
4) Rama quer dizer
“enganar”; dá a ideia de prender numa armadilha, num laço. Implica, portanto,
um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. É uma forma de enganar e
agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Is 53.9).
5) Pata. E um termo que
dá o entendimento de seduzir. O sentido literal da palavra é “ser aberto” ou
“abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No Éden, Adão e Eva se deixaram
seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás), personificado
numa serpente (Gn 3.4-7).
6) Sbagag. O sentido
aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28.7). E um
tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei divina
que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2; Nm 15.22).
7) Rasba. Esta palavra
aparece especialmente nos Salmos, com a intenção de impiedade ou perversidade.
O sentido metafórico é o pecado em oposição à justiça (Êx 2.13; SI 9; SI 16; Pv
15.9; Ez 18.23).
8) Ta a. Este vocábulo
se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de algo acidental, e sim
algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo gerado pelos seus atos
pecaminosos (Nm 15.22; SI 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez 44.10,15).
Existem outras
variantes do termo que ensinam sobre o pecado no Antigo Testamento, mas nos
detivemos apenas em oito deles que ilustram a diversidade e a perversidade do
pecado em suas várias manifestações.
No Novo Testamento. No
grego, a palavra “pecado” também tem vários sen- tidos, e alguns são correlatos
com os termos hebraicos. Todos esses vocábulos do grego bíblico descrevem o
pecado em seus vários aspectos. Apresentaremos uma lista menos extensa, mas
igualmente proveitosa para definir o incisivas das palavras mais incisivas e
usadas com mais frequência no Novo Testamento acerca do pecado.
1) Hamartia. Já citada
em correlação com katta’a (hb.), seu sentido é “errar o alvo”, “perder o rumo”,
“fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio, perdeu o rumo de sua
vida e fracassou em não atingir o padrão divino estabelecido para a sua vida.
No Novo Testamento, os escritores usaram o termo hamartia para designar o
pecado.
Ainda que o sentido
equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas
neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior — possui um
sentido mais forte que a idéia de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido
de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; Hb 3.13); é mais que um fracasso.
Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que implica
culpabilidade.
2) Kakía. No grego,
relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo oposto à virtude. E um
termo que descreve o caráter e a disposição interiores, e não apenas os atos
exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido transcende a
mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17;
13,3,4,10; 16.19; I Tm 6.10).
3) Adikía. Denota
injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o caminho original.
Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta errada e significa,
ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14).
O texto de Romanos I.I8 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade.
Em I João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniqüidade (gr. adikia) é
pecado (gr. hamartia').
4) Anomia ou anomos.
Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas frequentemente como
“iniqüidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de literal de anomia é
“sem lei”. Quem transgride a lei de Deus pratica a iniquidade (Mt 13.41; 24.12;
I Tm 1.9). O Anticristo é anomos— “o iníquo” (2Ts 2.8).
5) Apistia. Deriva de
pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”, “falta de fé” ou algum
tipo de resistência ou vergonha (Hb 3.12; I Tm I.I3). Em I Timóteo I.13 está
escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na
incredulidade [gr. apistia]”.
6) Aseheia. Usado por
Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm 1. 18; 11.26; 2 Tm 2.16; Tt
2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da
aseheia.
7) Aselgeia. Denota
relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas v.4 encontramos
dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios [aseheis] que
convertem em dissolução [aselgeian, libertinagem’] a graça de Deus”. Esse termo
descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do pecado. Os
especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e a torna
impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por isso, faz
qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
O termo em análise
significa, por conseguinte, “a pura e auto-satisfação sem o menor pudor”, haja
vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima despudorada, sem restrições.
As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras manifestações são típicas de
aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das palavras mais repulsivas do Novo
Testamento (Mt 7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; Ef 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13;
2 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA
prefere “dissolução”.
8) Epithymia. Significa
“desejo”. Porém, é o contexto da palavra encontrada no Novo Testamento que pode
indicar o caráter moral do desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo,
intenção, direção e relação, revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19;
Lc 22.15; Fp 1.23; I Ts 2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica
com algo negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo
incontinente”, normalmente traduzido como “concupiscência”, “paixão impura” (G1
5.24; Cl 3.5; I Ts 4.5;Tg 1.14; 2 Pe 2.10).
9) Parahasis. Aparece
nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado primário do termo
é “transgressão”, que dá a idéia de alguém que não respeita as leis, passando
dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o sentido de “desvio”,
“violação” e “transgressão”. No texto de Romanos 5.14, Paulo faz uma relação
entre hamartia e parahasis, ao afirmar: “No entanto, a morte reinou desde Adão
até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de
Adão”.
O apóstolo Paulo não
está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés estão livres de culpa, e
sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés, seu pecado era tão real
quanto ao dos que tinham a lei. Em I Timóteo 2.14 está escrito que Eva caiu em
transgressão (parahasis), ao ser enganada, porque ela foi rebelde contra a
ordem divina. Não se tratava de reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que
ela podia ter evitado o pecado de desobediência.
10) Paraptoma. Deriva
de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o caminho”, “fracassar”.
De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa pela qual a pessoa é
responsável”.1 Vários textos exemplificam o termo paraptoma (Mt 6.14; Rm
5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; Ef 2.1; Tg 5.16).
11) Planao. Tem um
sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se desgarra
culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge do
aprisco (I Pe 2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas
ao mau caminho (Mt 24.5,6; I Jo 1.8).[5]
SUAS CONSEQUÊNCIAS
O pecado de Adão e Eva
não foi um acontecimento isolado. As consequências no tocante a eles, à
posteridade e ao mundo, tomam-se imediatamente evidentes.
a) A atitude do homem
para com Deus A atitude alterada para com Deus, por parte
de Adão e Eva, deixa
transparecer a revolução que então tivera lugar em suas mentes. Eles
"esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre
as árvores do jardim" (Gn 3.8), e procuraram encobrir-se com aventais de
folhas (Gn 3.7), o que sem dúvida foi associado com o mesmo complexo de emoções.
Criados para andar na presença e em comunhão com Deus, agora temiam
encon-trar-se com ele (cf. Jo 3.20). A vergonha e o medo eram agora as emoções
dominantes (cf. Gn 2.25; 3.7,10), indicando a deterioração que se processara.
b) A atitude de Deus para
com o homem Não apenas houve alteração na atitude de
nossos primeiros pais
para com Deus, mas também na atitude de Deus para com eles. Reprovação,
condenação, maldição, expulsão do jardim são todas elas indicações sobre essa
revolução da atitude de Deus para com eles. O pecado só vem do lado do homem,
mas as suas consequências não. Voltam-se contra Adão e Eva aspectos do caráter
divino dos quais não tinha havido qualquer indicação anterior à desobediência
dos mesmos. O pecado faz surgir a ira e o desprazer de Deus, e é
necessariamente assim, pois o pecado é a contradição daquilo que ele é. É
impossível para Deus ser complacente para com o pecado. Deus não pode negar a
si próprio.
c) As consequências
para a raça humana A história subsequente do homem fornece e
catálogo de seus vícios
(Gn 4.8,19,23,24; 6.2,3,5). A sequência de abundante iniquidade demonstra seus
resultados na destruição da humanidade, com a exceção de oito pessoas (Gn
6.7,13; 7.21-24). A queda tivera efeitos permanentes não somente sobre Adão e
Evt mas igualmente para todos os seus descendentes; há uma solidariedade racial
no pecado e na iniquidade.
d) As consequências
para a criação
Os efeitos da queda se
estenderam até ao cosmos físico. "... maldita é a terra por tua
causa..." (Gn 3.17; cf. Rm 8.20). O homem é a coroa da criação, feito à
imagem de Deus e, por conseguinte, vice-regente de Deus (Gn 1.26). A catástrofe
da queda do homem trouxe a catastrófica maldição contra tudo aquilo de que ele
era a coma, e sobre o que lhe fora dado domínio. O pecado foi um acontecimento
na dimensão do espírito humano, mas teve tremendas repercussões sobre a criação
inteira.
e) O aparecimento da
morte
A morte é a epítome da
penalidade imposta ao pecado. Essa era a advertência ligada à proibição do Éden
(Gn 2.17), e é a sua execução que emana da maldição proferida por Deus (Gn
3.19). A morte, no fenómeno dos acontecimentos externos, consiste na separação
dos elementos integrais do ser do homem. Essa dissolução exemplifica o
princípio da morte, a saber, a separação, e chega à sua expressão mais extrema
na separação entre o homem e Deus, o que é ilustrado já no início pelo fato do
homem haver sido expulso do jardim (Gn 3.23,24), pois o Éden servia de símbolo
da presença e do favor de Deus.
A
Natureza Pecaminosa
Conforme observamos em
Rm 5.12-19, todo ser humano nasce com uma natureza pecaminosa. Isso significa
que toda a humanidade naturalmente está inclinada a cometer pecados. Lucas
ilustra isso da seguinte maneira:
43 "Nenhuma árvore
boa dá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá fruto bom. 44 Toda árvore é
reconhecida por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de
ervas daninhas. 45 O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração,
e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca
fala do que está cheio o coração". (Lc 6.43-45 – NVI).
Ou seja, o fruto é uma
extensão da natureza da árvore. Assim como uma mangueira produz manga, ou uma
goiabeira produz goiaba, a natureza humana naturalmente produz pecado. Assim,
não nos tornamos pecadores porque pecamos, antes, pecamos porque somos
pecadores. Por isso não precisamos fazer nenhum esforço para pecar, pois isso é
feito naturalmente pelos seres humanos. O coração humano é essencialmente corrupto
(Jr 17.9; cf. Gn 6.5). Paulo descreve sua própria natureza da seguinte maneira:
Sei que nada de bom
habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é
bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o
mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não
quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. (Rm 7.18-20 –
NVI; cf. Rm 1.18 – 3.20; 2Co 4.4; Ef 4.18,19; 2Tm 3.2-5; Tt 1.15).
De fato, “todas as
esferas da humanidade estão contaminadas pelo pecado, o que os teólogos
evangélicos têm chamado de depravação total.”[6] O
corpo está corrompido pelo pecado (Rm 6.6,12; 7.24; 8.10,13); a razão está
corrompida pelo pecado (Rm 1.21; 2Co 3.14,15; 4.4; Tt 1.15); a consciência está
corrompida pelo pecado (Tt 1.15); as emoções estão corrompidas pelo pecado (Rm
1.26,27; Gl 5.24; 2Tm 3.2-4); a vontade está corrompida pelo pecado (Rm 6.17;
2Tm 2.25,26).
Assim, a Bíblia diz que
aqueles que estão separados de Cristo estão espiritualmente mortos, vivem de
acordo com os desígnios do diabo, do mundo e dos seus próprios desejos e
pensamentos (Ef 2.1-3). Portanto, todos nós somos bons, desde que nossos desejos
pessoais não sejam feridos e ameaçados. “Às vezes, a condição pecaminosa está coberta
por um refinado verniz de encanto e bondade. No entanto, como a doutrina da depravação
total ensina, por baixo verniz encontra-se um coração que não esta verdadeiramente
voltado para Deus.”[7]
O PECADO ORIGINAL: UMA
ANÁLISE TEOLÓGICA
Muitas tentativas foram
feitas para construir um modelo ou teoria teológica que encaixassem esses
parâmetros complexos. Algumas das teorias mais relevantes são consideradas
aqui.
Conceitos judaicos.
Três correntes principais são identificadas no judaísmo. A teoria predominante
é a das duas naturezas: a boa - yetser tov - e a má - yetser ra' (cf. Gn 6.5;
8.21). Os rabinos debatiam sobre a idade em que esses impulsos se manifestam, e
se o impulso mau é realmente iniquidade ou apenas instinto natural. Seja como
for, os maus são controlados pelo impulso mau, ao passo que os bons o
controlam. A segunda teoria diz respeito aos "vigilantes" (Gn 6.1-4),
anjos cujo dever era fiscalizar a humanidade, mas que acabaram pecando com as
mulheres. Finalmente, há conceitos de pecado original que antecipam o
Cristianismo. Mais dramaticamente, o Midrash explica, por analogia, a morte do
justo Moisés. Uma criança pergunta ao rei por que ela está na prisão. O soberano
responde que é por causa do pecado da mãe dela. Semelhantemente, Moisés morreu
por causa do primeiro homem que trouxe a morte ao mundo. Resumindo, o pecado
original não é uma inovação paulina. Pelo contrario, Paulo, inspirado pelo
Espírito Santo, desenvolveu-o de conformidade com a revelação progressiva.
O agnosticismo. Há os
que sustentam não haver evidências bíblicas suficientes para uma teoria
detalhada do pecado original. Qualquer assertiva quanto à pecaminosidade que vá
além de uma conexão entre Adão e a raça humana é considerada especulação
filosófica. Embora esteja correto que a doutrina não deve basear-se em
especulações extra-bíblicas, é válida a dedução das Escrituras.
O pelagianismo. O
pelagianismo enfatiza fortemente a responsabilidade pessoal na oposição à
frouxidão moral. Pelágio (c. de 361 - c. de 420 d.C.) ensinava que a justiça de
Deus não permitiria a transferência do pecado de Adão a outras pessoas e que,
portanto, todas as pessoas nascem sem pecado e com total livre-arbítrio. O
pecado é disseminado exclusivamente pelo mau exemplo. Por isso há uma
possibilidade real de vidas sem pecado, e elas se acham dentro e fora da
Bíblia. Tudo isso, porém, é antibíblico, além de anular as conexões que a
Bíblia faz entre Adão e a humanidade. A morte de Cristo é reduzida tão-somente
a bom exemplo. A salvação fica sendo meramente boas obras. A vida nova em
Cristo não passa da antiga disciplina. Embora o pelagianismo tenha razão quando
enfatiza a responsabilidade pessoal, a santidade e o fato de que alguns pecados
são aprendidos, o movimento tem sido apropriadamente condenado como heresia.
O semipelagianismo. O
semipelagianismo sustenta que, embora a humanidade tenha se enfraquecido com a
natureza de Adão, sobrou livre-arbítrio suficiente para a iniciativa de ter fé
em Deus, e então Ele corresponderá. A natureza enfraquecida é transmitida naturalmente
a partir de Adão. Porém, como se sustenta a justiça de Deus após permitir que
pessoas inocentes recebam uma natureza maculada e como é salvaguardada a
natureza impecável de Cristo, ainda não foi bem explicado. Mais importante, em
algumas formulações o semipelagianismo ensina que, embora a natureza humana
esteja tão enfraquecida pela Queda, a ponto de ser inevitável que as pessoas
pequem, a bondade inerente que possuem é suficiente para iniciar a verdadeira
fé.
A transmissão natural
ou genética. Essa teoria sustenta que a transmissão da natureza corrupta
baseia-se na lei da herança. Toma por certo que as características espirituais
são transmitidas da mesma forma que as naturais. Tais teorias mencionam
usualmente a transmissão da natureza corrompida, mas não a da culpa. Mesmo
assim, não parece haver base adequada para Deus infligir numa alma virtuosa uma
natureza corrupta. Nem está claro como Cristo pode ter uma natureza plenamente
humana e ao mesmo tempo livre do pecado.
A imputação mediada. A
imputação mediada entende que Deus imputou culpa aos descendentes de Adão por
meios indiretos, ou mediados. O pecado de Adão o fez culpado e, como castigo,
Deus corrompeu-lhe a natureza. E, como ninguém da sua posteridade tomou parte
na sua ação, nenhum de seus descendentes é culpado. Mesmo assim, recebem a sua
natureza como consequência natural de serem descendentes dele (não como julgamento).
Porém, antes de cometerem qualquer pecado real ou pessoal (que a sua natureza
necessita), Deus os julga culpados de possuir aquela natureza corrompida.
Infelizmente, essa tentativa de proteger Deus da inflição injusta da
"culpa exclusiva" de Adão à humanidade resulta em acusar Deus de uma
injustiça ainda maior - permitir que a corrupção, causadora do pecado,
enfraqueça pessoas destituídas de culpa e depois julgá-las culpadas dessa mesma
corrupção.
O realismo. O realismo
e o federalismo (ver abaixo) são as teorias mais importantes. O realismo
sustenta que o "tecido da alma" de todas as pessoas estava real e
pessoalmente em Adão ("seminalmente presente", segundo o conceito traduciano
da origem da alma), participando de fato do seu pecado. Cada pessoa é culpada
porque, na realidade, cada uma pecou. A natureza da pessoa passa então a ser
corrompida por Deus, como julgamento contra aquele pecado. Não há transmissão
de pecado, mas a participação total da raça naquele primeiro pecado. Agostinho
(354-430) aperfeiçoou a teoria, dizendo que a corrupção era transmitida
mediante o ato sexual. Assim, conseguia manter Cristo livre do pecado original,
porque Ele nasceu de uma virgem. W. G. T. Shedd (1820—94) acrescenta um
argumento mais sofisticado: por baixo da vontade das escolhas de todos os dias
há a vontade profunda, a "vontade propriamente dita", que determina a
direção que a pessoa segue em última análise. Foi essa vontade profunda que
realmente pecou em Adão.
O realismo tem pontos
fortes. Não apresenta o problema da culpa de terceiros, a solidariedade de Adão
e da raça no pecado daquele é levada a sério e parece bem explicada a expressão
"todos pecaram", de Romanos 5.12.
Apresenta, no entanto,
alguns problemas. O realismo possui todas as fraquezas do traducianismo
extremo. O tipo de presença pessoal necessária em Adão e Eva distorce até mesmo
Hebreus 7.9,10 (cf. Gn 46.26), a passagem clássica traducianista. A expressão
"para assim dizer" (Hb 7.9), em grego, sugere seja entendido
figuradamente o que se segue. Ideias como a de uma "vontade profunda"
tendem a exigir e pressupor um conceito determinista, calvinista, da salvação.
O realismo por si só não pode explicar por que ou em que base Deus amaldiçoa a
terra.
Portanto, torna-se
necessário algo como a aliança. Para a humanidade de Jesus ser isenta de
pecado, Ele deve ter cometido o primeiro pecado em Adão, sendo posteriormente
purificado; ou Ele não estava mesmo presente em Adão; ou Ele estava presente
mas não pecou, e seus antepassados humanos diretos permaneceram sem pecado em
suas gerações. Cada uma dessas opiniões apresenta dificuldades (uma alternativa
é sugerida adiante). A ideia de que todos pecaram pessoalmente parece
contradizer o conceito de que o pecado de um só homem fez de todos pecadores
(Rm 5.12,15-19). Posto que todos pecaram em Adão, com Adão e como Adão, sugere
terem pecado segundo o padrão do primeiro homem, o que contraria 5.14.
O federalismo. A teoria
federal da transmissão sustenta que a corrupção e a culpa se estendem a toda a
humanidade porque Adão era a cabeça da raça num sentido representativo,
governamental ou federal quando pecou. Toda pessoa está sujeita à aliança entre
Adão e Deus (a aliança adâmica - ou aliança das obras - por contraste à aliança
da graça). Faz-se uma analogia com uma nação que declara guerra. Seus cidadãos
sofrem, quer concordem com ela ou a condenem e mesmo sem terem participado da
decisão. Os descendentes de Adão não estão pessoalmente culpados até realmente
pecarem, mas vivem um estado de culpa e são passíveis do inferno por ter-lhes
sido imputado - de conformidade com a aliança - o pecado de Adão. Por causa
desse estado, Deus os castiga com a corrupção. Muitos federalistas, portanto,
distinguem entre o pecado herdado (a corrupção) e o imputado (a culpa) da parte
de Adão. A maioria dos federalistas são criacionistas no tocante à origem da
alma, mas o federalismo não é incompatível com o traducianismo. A aliança com
Adão incluía sua posição de despenseiro da criação - a base perfeita para Deus
amaldiçoar a terra. Cristo, como cabeça de uma nova aliança e de uma nova raça,
está isento do julgamento da corrupção sendo, portanto, impecável.
O federalismo tem
pontos fortes. A aliança, como base bíblica para a transmissão do pecado,
concorda razoavelmente com Romanos 5.12-21 e fornece mecanismos para a maldição
da terra e para proteger Cristo do pecado. No entanto, apresenta algumas
fraquezas. Romanos 7 deve descrever somente o conhecimento que Paulo tomou de
sua própria natureza pecaminosa, e não a experiência física do pecado que o
matava. Mais importante que isso, a transmissão da "culpa exclusiva"
de Adão é frequentemente considerada injusta.
Uma teoria integrada.
Várias das teorias acima podem ser combinadas para formar uma abordagem integrada,
resultando numa teoria que faz distinção entre a pessoa individual e a natureza
pecaminosa da carne. Quando Adão pecou separou-se de Deus, e isto produziu nele
- como indivíduo e na sua natureza - a corrupção (inclusive a morte). Pelo fato
de ele conter toda a natureza genérica, ela toda ficou corrompida. A natureza
genérica é transmitida naturalmente ao aspecto individual da pessoa, o
"próprio-eu" (como em Rm 7). A aliança adâmica é a justa base dessa
transmissão e também da maldição contra a terra. O "eu" não é corrompido
nem culpado por causa da natureza genérica, mas a natureza genérica o impede de
agradar a Deus (Jo 14.21; 1 Jo 5.3). Ao chegar à idade da responsabilidade
pessoal, o "eu", lutando contra a natureza, ou corresponde à graça
preveniente de Deus na salvação ou realmente peca ao desconsiderá-la, de modo
que o mesmo "eu" fica separado de Deus, tornando-se culpado e
corrupto. Deus continua estendendo a mão para o "eu" mediante a graça
preveniente, e o ele poderá aceitar a salvação.
Logo, Romanos 5.12 pode
dizer que "todos pecaram" e que todos estão corrompidos e
necessitando de salvação, mas nenhuma culpa é infligida àqueles que ainda não
pecaram na realidade Isto é consistente com a luta descrita em Romanos 7. Nem
todas as pessoas pecam da mesma forma que Adão (Rm 5.14), mas o pecado de um só
homem realmente traz a morte e transforma todos em pecadores. E o faz mediante
a aliança adâmica, um mecanismo paralelo à obra de Cristo, que é tornar justos
os pecadores (Rm 5.12-21). Evita-se o semipelagianismo extremado, porque o
"eu" é capaz reconhecer a sua necessidade, mas não pode agir com fé
por causa da natureza humana genérica (Tg 2.26). Sendo o ficar separado de Deus
a causa da corrupção, a união entre Cristo e sua parte da natureza genérica
restaura-a à santidade. Por ter o Espírito Santo chegado a Maria na concepção
do "eu" humano de Cristo, este era pré-responsável e, portanto,
impecável. Essa disposição é justa, pois Cristo é o cabeça de uma nova aliança.
Semelhantemente, a união entre o Espírito Santo e o crente na salvação é
regeneradora. 37
Embora as Escrituras
não afirmem explicitamente que a aliança é a base para a transmissão, há muitas
evidências em favor dessa ideia. As alianças fazem parte fundamental do plano
de Deus (Gn 6.18; 9.9-17; 15.18; 17.2-21; Êx 34.27, 28; Jr 31.31; Hb 8.6,13;
12.24). Houve uma aliança entre Deus e Adão. Oséias 6.7 - "Mas eles
traspassaram o concerto, como Adão" - refere-se muito provavelmente a essa
aliança, uma vez que a tradução alternativa ("homens", NIV margem) é
tautológica. Hebreus 8.7, que diz ter sido a aliança com Israel a primeira, não
exclui a aliança com Adão, pois o contexto indica que se trata da primeira
aliança entre Deus e Israel (e não com a humanidade inteira). E há uma aliança
(a Bíblia ARC emprega "pacto", "concerto" e "aliança"
como sinônimos) explícita anterior, com Noé (Gn 6.18; 9.9-17). As alianças
bíblicas são obrigatórias às gerações futuras, quer para o bem (Noé, Gn 6.18;
9.9-17) quer para o mal Josué e o gibeonitas, Js 9.15). As alianças são
frequentemente a única base observável para o julgamento (os israelitas que
morreram em Ai por causa do pecado de Acã em Jericó, Js 7; o sofrimento dos
súditos de Davi porque este os numerou, 2 Sm 24). A circuncisão segundo a
aliança podia até mesmo acolher crianças estrangeiras na nação de Israel (Gn
17.9-14).
Alguns estudiosos
objetam que qualquer teoria que transmita a outras alguma consequências do
pecado de Adão é inerentemente injusta, pois lhe imputa o pecado sem fundamento
nem base. (Somente o pelagianismo evita totalmente essa objeção, ao tornar todos
os seres humanos pessoalmente responsáveis. O "pecado pré-consciente"
do realismo detém a maioria das dificuldades.) As alianças, no entanto, constituem
base justa para esse tipo de transmissão, pelas seguintes razões: os
descendentes de Adão teriam sido tão abençoados por causa do seu bom comportamento
como foram amaldiçoados por suas obras más; a aliança certamente é mais justa
que a mera transmissão genética; a culpa e as consequências transmitidas pelo
concerto são semelhantes aos pecados da ignorância (Gn 20).
Há também o argumento
de que Deuteronômio 24.16 e Ezequiel 18.20 proíbem o julgamento de uma geração
para outra. Mas outros textos mencionam julgamentos assim (os primogênitos do
Egito; Moabe; Ex 20.5; 34.6,7; Jr 32.18). E possível, no entanto, que os dois
textos acima se refiram à chefia biológica como base insuficiente para
transmissão de julgamento, ao passo que os textos mencionados entre parênteses
referem-se a uma base pactuai, adequada à transmissão do julgamento.
Alternativamente, segundo a teoria integrada, se a natureza corrompida não é um
juízo positivo de Deus, a execução de um castigo pelo pecado do pai realmente
não ocorre. Finalmente, quem, mesmo sem corrupção e dentro do Jardim perfeito,
se comportaria melhor que Adão, quanto à obediência aos mandamentos de Deus? E,
sem dúvida, a suposta "injustiça" do pecado imputado é mais que
contrabalançada pelo dom gratuito da salvação em Jesus Cristo, oferecido a
todos livremente .
Embora seja especulativa
e não sem algumas dificuldades, uma teoria integrada que utilize a aliança
parece explicar boa parte dos dados bíblicos e talvez sugira uma terceira
alternativa às teorias predominantes do realismo e do federalismo.[8]
O
pecado na vida do crente
O crente ainda possui a
natureza pecaminosa (Sl 51; Rm 7.12-24; 1Jo 1.8). No entanto, o cristão entende
que sua vida precisa ser controlada pelo Espírito Santo, para que as “obras da
carne” não sejam uma realidade em sua vida (Gl 5.19-25; Rm 8.5-17). De fato,
“aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente” (1Jo 3.9 – Almeida Século
21). Essa deve ser a oração do crente: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro”
(Sl 51.10).
“Embora o pecado não
afete a nossa posição ou estado diante de Deus, ele afeta o nosso relacionamento
com Deus, pois Deus é entristecido pelo nosso pecado.”[9]
Nossas ações pecaminosas ofendem primeiramente a Deus, mas, em muitos casos,
também ofendem nosso próximo, inclusive pessoas amadas por nós. O pecado tem o
poder destrutivo de romper relacionamentos. Às vezes, um segundo de loucura
pode minar a beleza de um relacionamento, ou ponde manchá-lo para o resto da vida,
ou pode até mesmo destruí-lo.
O pecado precisa ser
confessado a Deus, pois “ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e
nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9; cf. Mq 7.18-20). E, através do quebrantamento
e arrependimento, o relacionamento com Deus pode ser restaurado (cf. Sl 32.1-5;
51).
[1] A.
B. Langston, Esboço de Teologia Sistemática,
[2] Diretor
Geral: William A. Santos Editor Geral: Jamierson Oliveira. ENCICLOPÉDIA ESTUDOS
DE TEOLOGIA. 2013.
[3]
F J. D. Douglas. F. Bruce. (editor organizador); 0 Novo dicionário da Bíblia;
editores assistentes editor da edição em português Russell P. Shedd ; tradução
João Bentes, — 3. ed. rev. — São Paulo : Vida Nova, 2006.
[4] A.
VAN DEN BORN. Dicionário Enciclopédico da Bíblia; EDITORA VOZES LTDA. 1977.
[5]
Eleanai Cabral, Doutrina do Pecado, em Teologia Sistemática Pentecostal; Antônio
Gilberto, editor geral. CPAD.
[6] Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de
Teologia Básica: teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova,
2013)
[7] Millard
J. Erickson, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2015).
[8]
Stanley Horton. Teologia Sistemática CPAD.
[9]
Wayne Grudem, Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões
que todo cristão
precisa conhecer, São Paulo: Vida Nova, 2010.