A Origem e
história do movimento Pentecostal
PENTECOSTALISMO TEM
suas raízes no movimento pentecostal, que surgiu nos Estados Unidos no início
do século XX. Os adeptos do pentecostalismo passaram a enfatizar o batismo com (ou
no) Espírito Santo como revestimento de poder subsequente à conversão e ao
falar em línguas estranhas. Outros dons ou manifestações sobrenaturais também
passaram a fazer parte das reuniões pentecostais, como a cura física, as
profecias e os dons de milagres e de discernimento.
Essas crenças e
práticas baseiam-se no segundo capítulo do livro de Atos dos Apóstolos, quando
os apóstolos, Maria (mãe de Jesus) e cerca de 120 discípulos, instruídos por
Jesus, reuniram-se num cenáculo em Jerusalém para esperar a vinda do Espírito Santo
prometida por Cristo. No quinquagésimo dia posterior à páscoa, depois de
esperarem por dez dias, a promessa de Jesus cumpriu-se. Lucas descreveu assim o
evento:
Ao cumprir-se o dia de
pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um
som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E
apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre
cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em
outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Quanto à origem do
termo Pentecostes, o dicionário bíblico informa: Em Levítico 23:16, a Septuaginta
empregou o termo pentêconta hêmeras como a tradução do hebraico hªmishshïm yom,
“cinquenta dias”, referindo-se ao número de dias partindo da oferta do molho de
cevada até ao início da páscoa. Ao quinquagésimo dia era a festa de
pentecostes. Visto que o tempo assim escoado era de sete semanas, era chamada
hagh shabhu’ôth, “festa das semanas” (Êx 34:22; Dt 16:10). Assinalava o término
da colheita da cevada, que tinha início quando a foice era lançada pela
primeira vez na plantação (Dt 16:9) e quando o molho era movido “no dia imediato
ao sábado” (Lv 23:11,12a). É festa igualmente chamada hagh haqqãçïr, “festa da
colheita”, de yôm habbikkürïm, “dia das primícias” (Êx 23:16; Nm 28:26). Essa
festa não se limitava aos tempos do Pentateuco, mas sua observância é indicada
nos dias de Salomão (2Cr 8:13) como o segundo dos três festivais anuais (cf. Dt
16:16).[1]
Para explicar o
fenômeno ocorrido em Atos 2:12 e refutar a sugestão de que estivessem embriagados,
Pedro cita a profecia de Joel 2:28-32
Ao longo da história, o
pentecostalismo justifica as manifestações de glossolalia (falar em línguas) e
outras relacionadas com fenômenos sobrenaturais citando uma variedade de textos
bíblicos (At 2:16-21; 10:44-46; 19:6; 1Co 12:10).
O EQUÍVOCO DO
MONTANISMO E DA IGREJA.
O MONTANISMO
Foi neste movimento,
liderado por Montano, que os fenômenos pentecostais encontraram ampla guarida.
O movimento surgiu na Frígia, Ásia Menor romana (Turquia), por volta do ano
172,[2] tendo
Tertuliano como um de seus adeptos mais importantes.
Montano não tinha cargo
eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres, Priscila e
Maximila. Por meio da voz do parácleto, manifestação profética que falava, na
primeira pessoa, através das duas mulheres, promovia o que chamou “nova
profecia” e conclamava as pessoas para a volta de Cristo.
Os adeptos do
montanismo se consideravam porta-vozes do Espírito. Afirmavam que o fim do
mundo estava próximo e que a nova Jerusalém seria brevemente estabelecida na
Frígia, para onde se dirigiam os fiéis. Como preparo para a próxima consumação,
passaram a pregar um asceticismo rigoroso, o celibato, jejuns e abstinência de
carne. Preocupados com o avanço do movimento, os bispos da Ásia Menor se reuniram,
pouco depois de 160 d.C., e condenaram o movimento.[3]
Referindo-se a Montano,
Henri Desroche afirmou: “Jerônimo, com seu estilo habitualmente rude,
qualificou Montano como ‘pregador do espírito imundo, [que] com ouro, corrompeu
inicialmente muitas igrejas por meio de Priscila e Maximila, duas mulheres nobres
e ricas, manchando-as em seguida com a heresia’”.[4]
Entretanto, alguns
teólogos creem que ao excluir o montanhismo a igreja perdeu, pois um movimento
que protestava contra o crescente formalismo e mundanismo na Igreja passou a
funcionar na clandestinidade.
Com a condenação do
montanismo, a expectativa da volta de Cristo foi, até certo ponto, reduzida e a
operação dos dons espirituais perdeu considerável espaço na comunidade cristã.
Ao invés de condenar a prática dos dons espirituais, a Igreja teria lucrado se
a regulasse à luz das Escrituras. Todo segmento pentecostal equilibrado e preocupado
em promover a sã doutrina procurará também regular e estabelecer parâmetros
bíblicos para a operação dos dons espirituais. Teólogos pentecostais como Donald
Gee, Gordon Fee e Stanley Horton, para mencionar alguns, têm demonstrado esse
cuidado.
A CONTINUIDADE DA
GLOSSOLÁLIA.
São várias as
instâncias de fenômenos que historiadores pentecostais (como Allan Anderson)
interpreta como predecessores do pentecostalismo.
Inácio de Antioquia
67-110 d.C. afirmou em sua carta aos filadelfienses (Inácio aos filadelfienses
7:01) que profetizou pelo Espírito: "Estando no meio de vós gritei, disse
em alta voz, uma voz de Deus: 'Permanecei unidos (…)'. Aqueles suspeitaram que
eu disse isso porque previa a divisão de alguns, mas aquele pelo qual estou
acorrentado é minha testemunha que eu não sabia através da carne. Foi o
Espírito que me anunciou, dizendo: '(…), guardai vosso corpo como templo de
Deus, amai a união, fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como
ele também é do seu Pai". [5]
Em sua carta a
Policarpo, ele também declara: "Quanto as coisas invisíveis, pode que te
sejam manifestadas a ti, para que nada te falte e tenhas abundância em todo dom
espiritual". [6]
Policarpo de Esmirna
70-160 d.C. teve uma revelação de Deus de como morreria. "Orando, ele teve
uma visão, três dias antes de o prenderem: viu seu travesseiro queimado pelo
fogo. Voltando-se para seus companheiros, disse: 'Devo ser queimado vivo!'.[7]
Justino Mártir 110-165
d.C. em seu diálogo contra o judeu Trifo recorda que os dons do Espírito Santo,
incluindo exorcismo, ainda estão em uso: "Recebendo uma vez o espírito de
discernimento, outro um conselho, outro uma cura, outro de poder, outro de
presciência, outro de ensino e outro de temor a Deus. Os dons proféticos permanecem
conosco até o presente tempo. Para alguns (crerem) certamente em expulsar
demônios, (…). Outros tem conhecimento daquilo que vai acontecer; eles tem
visões e pronunciam expressões proféticas". [8]
Irineu de Lião 130-202
d.C.. "De igual modo nós todos ouvimos que muitos dos irmãos na igreja que
têm dons proféticos, e que falam em todas as línguas por intermédio do
Espírito, e que também trazem a luz os segredos dos homens para benefício dos
homens, e que expôem os mistérios de Deus."[9]
Tertuliano 160-220 d.C.
ao falar de Marcião, declarou o seguinte: "Para provar o que os profetas
têm falado, e não pelo sentimento humano, mas pelo Espírito de Deus, como
aqueles que previram o futuro e revelaram os segredos do coração, que
apresentam um salmo, uma visão, uma oração, que é apenas pelo Espírito em um
êxtase, ou seja, em um rapto ou num arrebatamento toda vez que uma
interpretação tem ocorrido." Aparentemente Tertuliano descreveu parte da
vida comum da Igreja Ortodoxa e recomendou buscar o dom do Espírito Santo de
profecia.[10]
Pacômio 292-348 d.C.
depois de momentos especiais podia, sob o poder do Espírito falar os idiomas
grego e latim que jamais havia aprendido."
Agostinho de Hipona
354-430 d.C. mencionou: "Fazemos todavia o que os Apóstolos fizeram quando
impuseram as mãos sobre os samaritanos, invocando sobre eles o Espirito Santo.
Mediante a imposição de mãos esperamos que os crentes falem em novas
línguas."
A partir do século XII
surgem outras referências às línguas estranhas. O primeiro relato é o de Pedro Valdo,
rico comerciante francês, que reúne os fiéis dispostos a lutar a favor dele,
contra o luxo e a opulência do clero romanista. Nasce assim o movimento dos
valdenses, caracterizados pelo desejo de um evangelismo puro e que, segundo os
registros, falavam línguas desconhecidas.
A partir da Reforma
Protestante, a glossolalia torna-se motivo de debate mais abrangente. No
movimento dos anabatistas nem todos praticavam este carisma, uma vez que
existiam divergências dessa prática entre eles. Zuinglio reconheceu a
manifestação glossolálica e a interpretou como um dom dado para o crente como
um sinal para os não-crentes.
Jansenitas 1640-1801
fizeram parte de um movimento agostiniano radical na Igreja Católica Romana
(seu adepto mais famoso foi o cientista e apologista francês Blaise Pascal),
alguns de seus adeptos em Port Royal ficaram conhecidos pelos seus sinais e
prodígios, dança espiritual, curas, e elocuções proféticas. Alguns dizem que
falaram em línguas estranhas e interpretaram as línguas que lhes foram endereçadas.
Serafin de Sarov
1759-1833 líder carismático da igreja ortodoxa russa, afirmou que o objetivo da
vida cristã é a recepção do Espírito Santo. Serafim também é lembrado pelo dom
de cura.
Os huguenotes foi o
nome dado ao calvinistas da França, houve manifestações carismáticas entre eles
em Cevennes, durante a perseguição determinada por Louis XIV. Em seguida, uma
nota sobre os huguenotes:
Respeitando as
manifestações físicas, há pouca discrepância entre os relatos de amigos e
inimigos. As pessoas atingidas eram homens e mulheres, idosos e jovens. Muitos
eram crianças com idades entre os nove ou dez anos. Eles emergiram do povo,
disseram seus inimigos, da massa de ignorantes e sem cultura; sem poder ler e
escrever, em sua maioria, e falando o jargão da província diariamente, que era
a única coisa que poderia usar para falar. Tais pessoas caíam repentinamente
para atrás e, permaneciam estendidas na terra, experimentavam contorções
estranhas e aparentemente involuntárias; seus peitos pareciam inchar-se e seus
estômagos inflar-se. Ao sair de tal condição, gradualmente voltavam a ganhar o
poder da fala instantaneamente. Começavam, muitas vezes, com uma voz
interrompida por soluços e logo derramavam torrentes de palavras, clamores de
misericórdia, chamados ao arrependimento, exortações aos espectadores para que
parassem de frequentar as missas, admoestações à igreja de Roma e profecias
relativas ao juízo vindouro. Da boca de crianças emergiam textos da Escritura e
discursos em um francês muito bom e fácil de entender, um [francês] que nunca
usavam quando estavam conscientes. Quando o transe terminava, declaravam que
não se lembravam de nada do ocorrido de que haviam dito. Em raras ocasiões
recordavam impressões vagas e gerais, mas nada a mais. Não havia aparência de
engano, nem indicação de que ao pronunciar suas predições com relação a eventos
futuros, tivessem alguma ideia de prudência ou dúvida tocante a veracidade do
que haviam predito.
Os Huguenotes
Um dos principais
líderes desta igreja foi George Fox, que pregou uma mensagem sobre a nova era
do Espírito Santo, ele em seu diário, diz o seguinte:
No ano de 1648,
enquanto estava sentado na casa de um amigo em Notinghamshire (porque desta vez
o poder de Deus tinha aberto os corações de alguns para receber a Palavra de
vida e de reconciliação), vi que havia uma grande fenda que passava por toda a
terra, e um grande humo iba a medida que a fenda se abria caminho; depois da
fenda, ocorria uma grande terremoto. Esta era a terra que havia nos corações
das pessoas, a qual tinha que ser sacudida antes que a semente de Deus fora
levantada da tumba. E assim sucedia: pois o poder de Deus começou a sacudi-los
e grandes ministrações de adoração eram conduzidas, de tal maneira, que
poderosas obras do Todo-Poderoso eram realizadas entre os crentes para o
assombro, tanto das gentes como dos sacerdotes.
George Fox
Quando os cristãos
hussitas foram perseguidos na Boêmia, encontraram em Dresden, Alemanha um
refúgio no qual podiam procurar a Deus. Em 1727 o conde Ludwig Graf de
Zinzendorf começou a organizar aos crentes desta corrente cristã em uma única
igreja. Durante o mês de julho criou reuniões e vigílias de oração com os
jovens, posteriormente encontrou um livro chamado Ratio Disciplinae o qual
relatava como a igreja de Irineu se unia para buscar a presença de Deus. Os
morávios dizem que o Espírito desceu sobre eles, e grandes sinais e maravilhas
foram realizadas entre os irmãos naqueles dias, prevalecendo uma maravilhosa
graça entre si, e em todo o país."
O METODISMO
A grande contribuição
para o surgimento do pentecostalismo veio, mais especificamente, do movimento
metodista, fundado no século XVIII, na Inglaterra, por João Wesley (1703-1791).
Seu fundador foi influenciado pelo grupo pietista alemão denominado morávios,
que pregavam a necessidade do novo nascimento e da conversão.
A experiência de
conversão de Wesley, em 1738, mudaria totalmente sua vida.16 Ao ouvir, numa
reunião, a leitura do prefácio do comentário do livro de Romanos, escrito por
Martinho Lutero, seu coração foi “estranhamente aquecido”. Essa experiência fez
dele um evangelista. Wesley mesmo declarou: “Então, foi do agrado de Deus acender
um fogo que, confio, nunca se apagará”.[11]
Com as perseguições
religiosas na Europa, muitos adeptos desse movimento migraram para os Estados
Unidos. A ênfase na perfeição cristã ou na inteira santificação, ensinadas por
João Wesley, mais tarde receberia outros nomes: “segunda bênção” e
“revestimento de poder”, por exemplo. O termo “batismo no Espírito Santo” passaria
a ser usado por alguns grupos posteriormente.
Outros líderes e
denominações na América do Norte seriam influenciados pelos mesmos ensinos e se
encarregariam de disseminá-los. Entre estes destacaram-se Charles G. Finney,
Dwight L. Moody, A. B. Simpson, Andrew Murray e R. A. Torrey.
As raízes históricas do
pentecostalismo não passam apenas pela influência de Wesley e do pietismo, mas
por vários movimentos religiosos: o puritanismo, George Fox e os quacres, os irmãos
Plymouth e William Booth, fundador do Exército de Salvação. Em outras palavras,
o pentecostalismo americano surgiu do aprofundamento da vida espiritual
associado a João Wesley.
A Igreja Metodista se
tornara tão bem-sucedida na América do Norte que perdeu muito do fervor
espiritual presente no início do movimento. Em reação a esse declínio dentro do
metodismo, surgiram vários grupos cristãos de orientação wesleyana, que
buscavam a experiência de santificação vivida pelos primeiros metodistas. [12]Donald
Dayton afirma que “a constelação dessas igrejas é o elemento mais importante
que prepara o terreno para o movimento pentecostal moderno”.
A Origem do
Pentecostalismo Atual[13]
Foi em Topeka, Kansas
(EUA), que surgiu o movimento pentecostal como é conhecido hoje. O pregador
Charles Parham começou, em 1900, uma escola bíblica denominada Betel. Parham reuniu
cerca de nove alunos para que estudassem juntos e sem o auxílio de nenhum livro
além da Bíblia o tema do batismo no Espírito Santo.
Parham e seus alunos
tinham uma certa ligação com o “movimento da santidade”, um grupo que tentava
preservar os ensinos peculiares do metodismo de João Wesley, como a perfeição
cristã e a inteira santificação. O grupo liderado por Parham buscava evidências
ou prova bíblica para o batismo no Espírito Santo.
Chegaram, então, à
conclusão de que a única certeza e sinal escriturístico para o batismo com o
Espírito Santo era o falar em línguas. No dia 1°. de janeiro de 1901, um moço
estudante estava orando durante a noite, quando experimentou de repente a paz e
a alegria de Cristo, começando a louvar a Deus em línguas. Dentro de alguns dias,
toda a comunidade recebera o batismo com o Espírito Santo dessa maneira e
surgiu o moderno movimento pentecostal. Essa experiência, acompanhada por poderosos
ministérios de conversões, curas, profecias etc., se espalhou pelo Texas e (em
1906) alcançou Los Angeles, onde cresceu substancialmente, passando para
Chicago, Nova York, Londres e Escandinávia em meados de 1915.
Um aluno de Parham,
chamado William Seymour, foi convidado a pregar em Los Angeles. As reuniões
daquele pregador negro começaram a crescer. Suas pregações atraíam muita gente,
e o fenômeno do batismo no Espírito Santo continuou a acontecer em grande
escala. A experiência era sempre acompanhada de manifestações de línguas,
profecias e orações em voz alta, que ocorriam junto com cânticos espirituais. Seymour
era filho de exescravos e, apesar do contexto social extremamente hostil aos negros,
ele continuou a ensinar:
Apesar das constantes
humilhações, desenvolveu uma espiritualidade que resultou, em 1906, num
avivamento em Los Angeles. A maioria dos historiadores pentecostais crê ter
sido esse avivamento o berço do pentecostalismo. As raízes da espiritualidade
de Seymour jazem em seu passado. Ele afirmou suas raízes negras ao introduzir,
na liturgia, a música negra numa época em que essa música era considerada inferior
e imprópria à adoração cristã. Ao mesmo tempo, ele viveu firmemente o que
compreendia ser o Pentecostes. Para ele, o Pentecostes significava mais que falar
em línguas. Significava amar a despeito do ódio — vencendo o ódio de uma nação
inteira ao demonstrar que o Pentecostes é algo muito diferente do estilo de
vida americano de sucesso.[14]
No avivamento de 1906,
em Los Angeles, bispos brancos e trabalhadores negros, homens e mulheres,
asiáticos e mexicanos, professores brancos e lavadeiras negras, todos eram
iguais. A imprensa religiosa e a secular acompanhava todos os detalhes. Sem conseguir
entender o que se passava, preferiram ridicularizar, atacando Seymour: “pode vir
algo bom de um autodenominado profeta negro?”.
As principais
denominações também criticaram o emergente movimento pentecostal, desprezando
seus seguidores devido à origem negra e humilde. Pressões sociais surgiram,
tentando discriminar suas igrejas entre as organizações negras e brancas, como outras
igrejas já vinham fazendo.
Tudo isso, porém, não
conseguiu impedir o crescimento do pentecostalismo. De Los Angeles, o movimento
espalhou-se por muitas cidades norte-americanas e depois pelo mundo todo. Nos Estados
Unidos, Chicago desenvolveria um importante papel na exportação do fenômeno
pentecostal para o Brasil. A cidade tornou-se uma rota missionária para três
pregadores que lançariam as bases para o movimento pentecostal em solo brasileiro:
Louis Francescon (fundador da Congregação Cristã no Brasil), Daniel Berg e
Gunnar Vingren (fundadores da Assembleia de Deus).
Muitas igrejas foram
formadas, sendo a Assembleia de Deus a maior delas. Mais tarde, o pentecostalismo
tornou-se fator importante para a formação de outro grupo na América do Norte, que
também alcançaria proporções mundiais, e que seria conhecido como “movimento
carismático”. Com ênfase no batismo do Espírito Santo e na glossolalia, esse
movimento passaria a existir em quase todas as denominações evangélicas
tradicionais, preparando o caminho para o futuro movimento neopentecostal.
O pentecostalismo no
Brasil
O pentecostalismo
surgiu no Brasil em 1910, com a Congregação Cristã no Brasil, e hoje representa
o maior segmento da comunidade evangélica. Até os anos 1950, os pentecostais
não chamavam muito a atenção. Entretanto, sua extraordinária expansão, a crescente
visibilidade nos meios de comunicação e seu envolvimento com a política fizeram
do movimento objeto frequente de estudo dos pesquisadores da religião.
Maior denominação
evangélica brasileira das últimas décadas, a Assembleia de Deus foi fundada por
dois missionários suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que vieram ao Brasil
via Estados Unidos.
Gunnar Vingren recebeu
o chamado de Deus para sua vida aos nove anos de idade. Em 1896, aos dezessete
anos, passou por um processo de reconversão, depois de um período afastado da
fé. Em junho de 1903, ele foi atingido pelo que ele denominou “febre dos Estados
Unidos”. Depois de passar por outras cidades norte-americanas, foi a Chicago
estudar no seminário teológico dos batistas suecos.
No verão de 1909,
sentiu um forte desejo de receber o batismo com o Espírito Santo e com fogo.
Depois de cinco dias de busca, numa conferência na Primeira Igreja Batista
Sueca, em Chicago, ele recebeu o que buscava. Ao pregar o batismo do Espírito Santo
em sua igreja, esta ficou dividida e Vingren foi obrigado a deixar o pastorado
da igreja.
Vingren foi para uma
igreja em Indiana, onde foi influenciado por Adolfo Ulldin, um fiel que tinha
visões, falava pelo dom de profecia e revelou vários segredos sobre o futuro de
Vingren. Ele conta que foi por meio desse irmão que o Espírito Santo lhe disse para
ir ao Pará, onde pregaria o evangelho para um povo muito humilde. Foi preciso
ir a uma biblioteca para descobrir que o Pará fica no norte do Brasil.
Nesse momento, Vingren já
havia conhecido Daniel Berg, seu futuro companheiro de missões, pois também ele
recebera o chamado para vir ao Brasil, e ambos prepararam-se para a viagem.
No Brasil, foram recebidos
por uma igreja batista. Assim que aprenderam um pouco da língua, começaram a
evangelizar e a disseminar a doutrina pentecostal, principalmente o batismo no Espírito
Santo com o falar em línguas.
A pregação de Vingren e
Berg encontrou receptividade por parte de alguns e resistência por parte de
outros. Entre os dezenove membros da igreja batista que creram na nova doutrina
estava Celina de Albuquerque, considerada a primeira pessoa em solo brasileiro
a receber a experiência pentecostal. Em junho de 1911, eles deixaram a igreja
batista e fundaram uma igreja denominada Missão de Fé Apostólica.
Os assembleianos
dividiram sua história em quatro períodos. O primeiro período vai de 1911 até
1924, tendo como fatos principais a aquisição do primeiro templo, a publicação
do primeiro periódico pentecostal brasileiro, denominado Voz da verdade, e o
início do trabalho missionário da denominação, com o envio de José de Matos a
Portugal, em meados de 1913.
O segundo período vai
de 1924 a 1930 e destaca o crescimento da igreja em todo o estado do Pará.
Nessa época, foram instituídos o diaconato e o presbiterato na denominação. O
terceiro período vai de 1930 até 1950 e destaca a colaboração da igreja do Pará
com as construções de templos nas cidades de São Luís (MA), Manaus (AM), Teresina
(PI) e Porto Velho (RO). O quarto e último período vai de 1950 até os dias
atuais, quando acontece uma expansão ainda maior da denominação. Em 1961, o
movimento pentecostal brasileiro já contava com um milhão de membros.
Por mais de quarenta
anos, a Assembleia de Deus reinaram absolutas no pentecostalismo brasileiro, sem
se preocupar com a “concorrência”. O que caracterizou essa fase do movimento,
denominada primeira onda, foi a oração em línguas.
Somente a partir de
1950, um segundo grupo de igrejas pentecostais surgiria no Brasil, com ênfase
na cura divina, sem, porém, desprezar o orar em línguas.
O pentecostalismo no
Brasil.
O pentecostalismo
entrou cedo na América Latina (Chile, 1909; Brasil, 1910). Inicialmente cresceu
pouco, mas a partir dos anos 50 o crescimento se intensificou, especialmente
nesses dois países. A partir dos anos 70, expandiu-se na América Central
(especialmente na Guatemala e El Salvador, onde representa respectivamente 30%
e 20% da população). No Chile, 75 a 80% dos protestantes são pentecostais.
Nesse país, o pentecostalismo marcou a nacionalização do protestantismo.
O sociólogo Paul
Freston fala de “três ondas” ou fases de implantação do pentecostalismo no
Brasil. A primeira onda, ainda no início do movimento pentecostal americano,
trouxe para o Brasil duas igrejas: a Congregação Cristã no Brasil (1910) e as Assembleias
de Deus (1911). Essas igrejas dominaram o campo pentecostal durante quarenta
anos. A AD foi a que mais se expandiu numérica e geograficamente. A CCB, após
um período em que ficou limitada à comunidade italiana, sentiu a necessidade de
assegurar a sua sobrevivência por meio do trabalho entre os brasileiros.[15]
A segunda onda
pentecostal ocorreu na década de 50 e início dos anos 60, quando o campo
pentecostal se fragmentou e surgiram, entre muitos outros, três grandes grupos
ainda ligados ao pentecostalismo clássico: Igreja do Evangelho Quadrangular
(1951), Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo (1955) e Igreja
Pentecostal Deus é Amor (1962), todas voltadas de modo especial para a cura
divina. Essa segunda onda coincidiu com o aumento do processo de urbanização do
país e o crescimento acelerado das grandes cidades. Freston argumenta que o
estopim foi a chegada da Igreja Quadrangular com seus métodos arrojados,
forjados no berço dos modernos meios de comunicação de massa, a Califórnia.
A terceira onda
histórica do pentecostalismo brasileiro começou no final dos anos 70 e ganhou
força na década de 80, com o surgimento das igrejas denominadas neopentecostais,
com sua forte ênfase na “teologia da prosperidade”. Sua representante máxima é
a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), mas existem outros grupos significativos
como a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), Comunidades Evangélicas,
Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Paz e Vida, etc. Assim
como a ênfase da primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo e ao consequente
falar em línguas; a da segunda onda foi a cura e a da terceira, o exorcismo.[16]
Uma importante
precursora dos grupos neopentecostais foi a Igreja de Nova Vida, fundada pelo
canadense Robert McAllister, que rompeu com a Assembleia de Deus em 1960. Essa
igreja foi pioneira de um pentecostalismo de classe média, menos legalista, e
investiu muito na mídia. Foi também a primeira igreja pentecostal a adotar o
episcopado no Brasil. Sua maior contribuição foi treinar futuros líderes como
Edir Macedo e seu cunhado Romildo R. Soares.
Outros grupos
pentecostais e neopentecostais brasileiros resultaram da chamada “renovação
carismática”. Esse movimento surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 60,
com a ocorrência de fenômenos pentecostais nas igrejas protestantes históricas
e também na igreja católica. No Brasil, a “renovação” produziu divisões em
quase todas as denominações tradicionais, com o surgimento de grupos como a
Igreja Batista Nacional, a Igreja Metodista Wesleyana e a Igreja Presbiteriana Renovada.
[1] J.
D. DOUGLAS, O novo dicionário da Bíblia
[2] Walter
A. ELWELL. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã
[3] Williston
WALKER, História da igreja cristã.
[4] Dicionário
de messianismos e milenarismos
[5] Padres
Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[6] Padres
Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[7] Padres
Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[8] Padres
Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[9] Eusébio
de Cesareia, História Eclesiática, Livro 5, Capítulo 7. 1° Ed. - Rio de
Janeiro: CPAD, 1999
[10] Eusébio
de Cesareia, História Eclesiática, Livro 5, Capítulo 7. 1° Ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1999
[11] J. D. DOUGLAS, The new
internacional dictionary of the christian church
[12] William W. MENZIES e P. ROBERT,
Spirit and power: Foundations of pentecostal experience,
[13] Miguel
ALBANEZ, Introdução à história do movimento pentecostal no Brasil
[14] Walter J. HOLLENWEGER,
Pentecostalism — Origins and developments worldwide.
[15]
FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. Em: ANTONIAZZI,
Albertol. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do
pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994
[16] FRESTON,
Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. Em: ANTONIAZZI, Albertol.
Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994
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