quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Origem e história do movimento Pentecostal
PENTECOSTALISMO TEM suas raízes no movimento pentecostal, que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX. Os adeptos do pentecostalismo passaram a enfatizar o batismo com (ou no) Espírito Santo como revestimento de poder subsequente à conversão e ao falar em línguas estranhas. Outros dons ou manifestações sobrenaturais também passaram a fazer parte das reuniões pentecostais, como a cura física, as profecias e os dons de milagres e de discernimento.
Essas crenças e práticas baseiam-se no segundo capítulo do livro de Atos dos Apóstolos, quando os apóstolos, Maria (mãe de Jesus) e cerca de 120 discípulos, instruídos por Jesus, reuniram-se num cenáculo em Jerusalém para esperar a vinda do Espírito Santo prometida por Cristo. No quinquagésimo dia posterior à páscoa, depois de esperarem por dez dias, a promessa de Jesus cumpriu-se. Lucas descreveu assim o evento:
Ao cumprir-se o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Quanto à origem do termo Pentecostes, o dicionário bíblico informa: Em Levítico 23:16, a Septuaginta empregou o termo pentêconta hêmeras como a tradução do hebraico hªmishshïm yom, “cinquenta dias”, referindo-se ao número de dias partindo da oferta do molho de cevada até ao início da páscoa. Ao quinquagésimo dia era a festa de pentecostes. Visto que o tempo assim escoado era de sete semanas, era chamada hagh shabhu’ôth, “festa das semanas” (Êx 34:22; Dt 16:10). Assinalava o término da colheita da cevada, que tinha início quando a foice era lançada pela primeira vez na plantação (Dt 16:9) e quando o molho era movido “no dia imediato ao sábado” (Lv 23:11,12a). É festa igualmente chamada hagh haqqãçïr, “festa da colheita”, de yôm habbikkürïm, “dia das primícias” (Êx 23:16; Nm 28:26). Essa festa não se limitava aos tempos do Pentateuco, mas sua observância é indicada nos dias de Salomão (2Cr 8:13) como o segundo dos três festivais anuais (cf. Dt 16:16).[1]
Para explicar o fenômeno ocorrido em Atos 2:12 e refutar a sugestão de que estivessem embriagados, Pedro cita a profecia de Joel 2:28-32
Ao longo da história, o pentecostalismo justifica as manifestações de glossolalia (falar em línguas) e outras relacionadas com fenômenos sobrenaturais citando uma variedade de textos bíblicos (At 2:16-21; 10:44-46; 19:6; 1Co 12:10).
O EQUÍVOCO DO MONTANISMO E DA IGREJA.
O MONTANISMO
Foi neste movimento, liderado por Montano, que os fenômenos pentecostais encontraram ampla guarida. O movimento surgiu na Frígia, Ásia Menor romana (Turquia), por volta do ano 172,[2] tendo Tertuliano como um de seus adeptos mais importantes.
Montano não tinha cargo eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres, Priscila e Maximila. Por meio da voz do parácleto, manifestação profética que falava, na primeira pessoa, através das duas mulheres, promovia o que chamou “nova profecia” e conclamava as pessoas para a volta de Cristo.
Os adeptos do montanismo se consideravam porta-vozes do Espírito. Afirmavam que o fim do mundo estava próximo e que a nova Jerusalém seria brevemente estabelecida na Frígia, para onde se dirigiam os fiéis. Como preparo para a próxima consumação, passaram a pregar um asceticismo rigoroso, o celibato, jejuns e abstinência de carne. Preocupados com o avanço do movimento, os bispos da Ásia Menor se reuniram, pouco depois de 160 d.C., e condenaram o movimento.[3]
Referindo-se a Montano, Henri Desroche afirmou: “Jerônimo, com seu estilo habitualmente rude, qualificou Montano como ‘pregador do espírito imundo, [que] com ouro, corrompeu inicialmente muitas igrejas por meio de Priscila e Maximila, duas mulheres nobres e ricas, manchando-as em seguida com a heresia’”.[4]
Entretanto, alguns teólogos creem que ao excluir o montanhismo a igreja perdeu, pois um movimento que protestava contra o crescente formalismo e mundanismo na Igreja passou a funcionar na clandestinidade.
Com a condenação do montanismo, a expectativa da volta de Cristo foi, até certo ponto, reduzida e a operação dos dons espirituais perdeu considerável espaço na comunidade cristã. Ao invés de condenar a prática dos dons espirituais, a Igreja teria lucrado se a regulasse à luz das Escrituras. Todo segmento pentecostal equilibrado e preocupado em promover a sã doutrina procurará também regular e estabelecer parâmetros bíblicos para a operação dos dons espirituais. Teólogos pentecostais como Donald Gee, Gordon Fee e Stanley Horton, para mencionar alguns, têm demonstrado esse cuidado.
A CONTINUIDADE DA GLOSSOLÁLIA.
São várias as instâncias de fenômenos que historiadores pentecostais (como Allan Anderson) interpreta como predecessores do pentecostalismo.
Inácio de Antioquia 67-110 d.C. afirmou em sua carta aos filadelfienses (Inácio aos filadelfienses 7:01) que profetizou pelo Espírito: "Estando no meio de vós gritei, disse em alta voz, uma voz de Deus: 'Permanecei unidos (…)'. Aqueles suspeitaram que eu disse isso porque previa a divisão de alguns, mas aquele pelo qual estou acorrentado é minha testemunha que eu não sabia através da carne. Foi o Espírito que me anunciou, dizendo: '(…), guardai vosso corpo como templo de Deus, amai a união, fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também é do seu Pai". [5]
Em sua carta a Policarpo, ele também declara: "Quanto as coisas invisíveis, pode que te sejam manifestadas a ti, para que nada te falte e tenhas abundância em todo dom espiritual". [6]
Policarpo de Esmirna 70-160 d.C. teve uma revelação de Deus de como morreria. "Orando, ele teve uma visão, três dias antes de o prenderem: viu seu travesseiro queimado pelo fogo. Voltando-se para seus companheiros, disse: 'Devo ser queimado vivo!'.[7]
Justino Mártir 110-165 d.C. em seu diálogo contra o judeu Trifo recorda que os dons do Espírito Santo, incluindo exorcismo, ainda estão em uso: "Recebendo uma vez o espírito de discernimento, outro um conselho, outro uma cura, outro de poder, outro de presciência, outro de ensino e outro de temor a Deus. Os dons proféticos permanecem conosco até o presente tempo. Para alguns (crerem) certamente em expulsar demônios, (…). Outros tem conhecimento daquilo que vai acontecer; eles tem visões e pronunciam expressões proféticas". [8]
Irineu de Lião 130-202 d.C.. "De igual modo nós todos ouvimos que muitos dos irmãos na igreja que têm dons proféticos, e que falam em todas as línguas por intermédio do Espírito, e que também trazem a luz os segredos dos homens para benefício dos homens, e que expôem os mistérios de Deus."[9]
Tertuliano 160-220 d.C. ao falar de Marcião, declarou o seguinte: "Para provar o que os profetas têm falado, e não pelo sentimento humano, mas pelo Espírito de Deus, como aqueles que previram o futuro e revelaram os segredos do coração, que apresentam um salmo, uma visão, uma oração, que é apenas pelo Espírito em um êxtase, ou seja, em um rapto ou num arrebatamento toda vez que uma interpretação tem ocorrido." Aparentemente Tertuliano descreveu parte da vida comum da Igreja Ortodoxa e recomendou buscar o dom do Espírito Santo de profecia.[10]
Pacômio 292-348 d.C. depois de momentos especiais podia, sob o poder do Espírito falar os idiomas grego e latim que jamais havia aprendido."
Agostinho de Hipona 354-430 d.C. mencionou: "Fazemos todavia o que os Apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, invocando sobre eles o Espirito Santo. Mediante a imposição de mãos esperamos que os crentes falem em novas línguas."
A partir do século XII surgem outras referências às línguas estranhas. O primeiro relato é o de Pedro Valdo, rico comerciante francês, que reúne os fiéis dispostos a lutar a favor dele, contra o luxo e a opulência do clero romanista. Nasce assim o movimento dos valdenses, caracterizados pelo desejo de um evangelismo puro e que, segundo os registros, falavam línguas desconhecidas.
A partir da Reforma Protestante, a glossolalia torna-se motivo de debate mais abrangente. No movimento dos anabatistas nem todos praticavam este carisma, uma vez que existiam divergências dessa prática entre eles. Zuinglio reconheceu a manifestação glossolálica e a interpretou como um dom dado para o crente como um sinal para os não-crentes.
Jansenitas 1640-1801 fizeram parte de um movimento agostiniano radical na Igreja Católica Romana (seu adepto mais famoso foi o cientista e apologista francês Blaise Pascal), alguns de seus adeptos em Port Royal ficaram conhecidos pelos seus sinais e prodígios, dança espiritual, curas, e elocuções proféticas. Alguns dizem que falaram em línguas estranhas e interpretaram as línguas que lhes foram endereçadas.
Serafin de Sarov 1759-1833 líder carismático da igreja ortodoxa russa, afirmou que o objetivo da vida cristã é a recepção do Espírito Santo. Serafim também é lembrado pelo dom de cura.
Os huguenotes foi o nome dado ao calvinistas da França, houve manifestações carismáticas entre eles em Cevennes, durante a perseguição determinada por Louis XIV. Em seguida, uma nota sobre os huguenotes:
Respeitando as manifestações físicas, há pouca discrepância entre os relatos de amigos e inimigos. As pessoas atingidas eram homens e mulheres, idosos e jovens. Muitos eram crianças com idades entre os nove ou dez anos. Eles emergiram do povo, disseram seus inimigos, da massa de ignorantes e sem cultura; sem poder ler e escrever, em sua maioria, e falando o jargão da província diariamente, que era a única coisa que poderia usar para falar. Tais pessoas caíam repentinamente para atrás e, permaneciam estendidas na terra, experimentavam contorções estranhas e aparentemente involuntárias; seus peitos pareciam inchar-se e seus estômagos inflar-se. Ao sair de tal condição, gradualmente voltavam a ganhar o poder da fala instantaneamente. Começavam, muitas vezes, com uma voz interrompida por soluços e logo derramavam torrentes de palavras, clamores de misericórdia, chamados ao arrependimento, exortações aos espectadores para que parassem de frequentar as missas, admoestações à igreja de Roma e profecias relativas ao juízo vindouro. Da boca de crianças emergiam textos da Escritura e discursos em um francês muito bom e fácil de entender, um [francês] que nunca usavam quando estavam conscientes. Quando o transe terminava, declaravam que não se lembravam de nada do ocorrido de que haviam dito. Em raras ocasiões recordavam impressões vagas e gerais, mas nada a mais. Não havia aparência de engano, nem indicação de que ao pronunciar suas predições com relação a eventos futuros, tivessem alguma ideia de prudência ou dúvida tocante a veracidade do que haviam predito.
Os Huguenotes
Um dos principais líderes desta igreja foi George Fox, que pregou uma mensagem sobre a nova era do Espírito Santo, ele em seu diário, diz o seguinte:
No ano de 1648, enquanto estava sentado na casa de um amigo em Notinghamshire (porque desta vez o poder de Deus tinha aberto os corações de alguns para receber a Palavra de vida e de reconciliação), vi que havia uma grande fenda que passava por toda a terra, e um grande humo iba a medida que a fenda se abria caminho; depois da fenda, ocorria uma grande terremoto. Esta era a terra que havia nos corações das pessoas, a qual tinha que ser sacudida antes que a semente de Deus fora levantada da tumba. E assim sucedia: pois o poder de Deus começou a sacudi-los e grandes ministrações de adoração eram conduzidas, de tal maneira, que poderosas obras do Todo-Poderoso eram realizadas entre os crentes para o assombro, tanto das gentes como dos sacerdotes.
George Fox
Quando os cristãos hussitas foram perseguidos na Boêmia, encontraram em Dresden, Alemanha um refúgio no qual podiam procurar a Deus. Em 1727 o conde Ludwig Graf de Zinzendorf começou a organizar aos crentes desta corrente cristã em uma única igreja. Durante o mês de julho criou reuniões e vigílias de oração com os jovens, posteriormente encontrou um livro chamado Ratio Disciplinae o qual relatava como a igreja de Irineu se unia para buscar a presença de Deus. Os morávios dizem que o Espírito desceu sobre eles, e grandes sinais e maravilhas foram realizadas entre os irmãos naqueles dias, prevalecendo uma maravilhosa graça entre si, e em todo o país."
O METODISMO
A grande contribuição para o surgimento do pentecostalismo veio, mais especificamente, do movimento metodista, fundado no século XVIII, na Inglaterra, por João Wesley (1703-1791). Seu fundador foi influenciado pelo grupo pietista alemão denominado morávios, que pregavam a necessidade do novo nascimento e da conversão.
A experiência de conversão de Wesley, em 1738, mudaria totalmente sua vida.16 Ao ouvir, numa reunião, a leitura do prefácio do comentário do livro de Romanos, escrito por Martinho Lutero, seu coração foi “estranhamente aquecido”. Essa experiência fez dele um evangelista. Wesley mesmo declarou: “Então, foi do agrado de Deus acender um fogo que, confio, nunca se apagará”.[11]
Com as perseguições religiosas na Europa, muitos adeptos desse movimento migraram para os Estados Unidos. A ênfase na perfeição cristã ou na inteira santificação, ensinadas por João Wesley, mais tarde receberia outros nomes: “segunda bênção” e “revestimento de poder”, por exemplo. O termo “batismo no Espírito Santo” passaria a ser usado por alguns grupos posteriormente.
Outros líderes e denominações na América do Norte seriam influenciados pelos mesmos ensinos e se encarregariam de disseminá-los. Entre estes destacaram-se Charles G. Finney, Dwight L. Moody, A. B. Simpson, Andrew Murray e R. A. Torrey.
As raízes históricas do pentecostalismo não passam apenas pela influência de Wesley e do pietismo, mas por vários movimentos religiosos: o puritanismo, George Fox e os quacres, os irmãos Plymouth e William Booth, fundador do Exército de Salvação. Em outras palavras, o pentecostalismo americano surgiu do aprofundamento da vida espiritual associado a João Wesley.
A Igreja Metodista se tornara tão bem-sucedida na América do Norte que perdeu muito do fervor espiritual presente no início do movimento. Em reação a esse declínio dentro do metodismo, surgiram vários grupos cristãos de orientação wesleyana, que buscavam a experiência de santificação vivida pelos primeiros metodistas. [12]Donald Dayton afirma que “a constelação dessas igrejas é o elemento mais importante que prepara o terreno para o movimento pentecostal moderno”.
A Origem do Pentecostalismo Atual[13]
Foi em Topeka, Kansas (EUA), que surgiu o movimento pentecostal como é conhecido hoje. O pregador Charles Parham começou, em 1900, uma escola bíblica denominada Betel. Parham reuniu cerca de nove alunos para que estudassem juntos e sem o auxílio de nenhum livro além da Bíblia o tema do batismo no Espírito Santo.
Parham e seus alunos tinham uma certa ligação com o “movimento da santidade”, um grupo que tentava preservar os ensinos peculiares do metodismo de João Wesley, como a perfeição cristã e a inteira santificação. O grupo liderado por Parham buscava evidências ou prova bíblica para o batismo no Espírito Santo.
Chegaram, então, à conclusão de que a única certeza e sinal escriturístico para o batismo com o Espírito Santo era o falar em línguas. No dia 1°. de janeiro de 1901, um moço estudante estava orando durante a noite, quando experimentou de repente a paz e a alegria de Cristo, começando a louvar a Deus em línguas. Dentro de alguns dias, toda a comunidade recebera o batismo com o Espírito Santo dessa maneira e surgiu o moderno movimento pentecostal. Essa experiência, acompanhada por poderosos ministérios de conversões, curas, profecias etc., se espalhou pelo Texas e (em 1906) alcançou Los Angeles, onde cresceu substancialmente, passando para Chicago, Nova York, Londres e Escandinávia em meados de 1915.
Um aluno de Parham, chamado William Seymour, foi convidado a pregar em Los Angeles. As reuniões daquele pregador negro começaram a crescer. Suas pregações atraíam muita gente, e o fenômeno do batismo no Espírito Santo continuou a acontecer em grande escala. A experiência era sempre acompanhada de manifestações de línguas, profecias e orações em voz alta, que ocorriam junto com cânticos espirituais. Seymour era filho de exescravos e, apesar do contexto social extremamente hostil aos negros, ele continuou a ensinar:
Apesar das constantes humilhações, desenvolveu uma espiritualidade que resultou, em 1906, num avivamento em Los Angeles. A maioria dos historiadores pentecostais crê ter sido esse avivamento o berço do pentecostalismo. As raízes da espiritualidade de Seymour jazem em seu passado. Ele afirmou suas raízes negras ao introduzir, na liturgia, a música negra numa época em que essa música era considerada inferior e imprópria à adoração cristã. Ao mesmo tempo, ele viveu firmemente o que compreendia ser o Pentecostes. Para ele, o Pentecostes significava mais que falar em línguas. Significava amar a despeito do ódio — vencendo o ódio de uma nação inteira ao demonstrar que o Pentecostes é algo muito diferente do estilo de vida americano de sucesso.[14]
No avivamento de 1906, em Los Angeles, bispos brancos e trabalhadores negros, homens e mulheres, asiáticos e mexicanos, professores brancos e lavadeiras negras, todos eram iguais. A imprensa religiosa e a secular acompanhava todos os detalhes. Sem conseguir entender o que se passava, preferiram ridicularizar, atacando Seymour: “pode vir algo bom de um autodenominado profeta negro?”.
As principais denominações também criticaram o emergente movimento pentecostal, desprezando seus seguidores devido à origem negra e humilde. Pressões sociais surgiram, tentando discriminar suas igrejas entre as organizações negras e brancas, como outras igrejas já vinham fazendo.
Tudo isso, porém, não conseguiu impedir o crescimento do pentecostalismo. De Los Angeles, o movimento espalhou-se por muitas cidades norte-americanas e depois pelo mundo todo. Nos Estados Unidos, Chicago desenvolveria um importante papel na exportação do fenômeno pentecostal para o Brasil. A cidade tornou-se uma rota missionária para três pregadores que lançariam as bases para o movimento pentecostal em solo brasileiro: Louis Francescon (fundador da Congregação Cristã no Brasil), Daniel Berg e Gunnar Vingren (fundadores da Assembleia de Deus).
Muitas igrejas foram formadas, sendo a Assembleia de Deus a maior delas. Mais tarde, o pentecostalismo tornou-se fator importante para a formação de outro grupo na América do Norte, que também alcançaria proporções mundiais, e que seria conhecido como “movimento carismático”. Com ênfase no batismo do Espírito Santo e na glossolalia, esse movimento passaria a existir em quase todas as denominações evangélicas tradicionais, preparando o caminho para o futuro movimento neopentecostal.
O pentecostalismo no Brasil
O pentecostalismo surgiu no Brasil em 1910, com a Congregação Cristã no Brasil, e hoje representa o maior segmento da comunidade evangélica. Até os anos 1950, os pentecostais não chamavam muito a atenção. Entretanto, sua extraordinária expansão, a crescente visibilidade nos meios de comunicação e seu envolvimento com a política fizeram do movimento objeto frequente de estudo dos pesquisadores da religião.
Maior denominação evangélica brasileira das últimas décadas, a Assembleia de Deus foi fundada por dois missionários suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que vieram ao Brasil via Estados Unidos.
Gunnar Vingren recebeu o chamado de Deus para sua vida aos nove anos de idade. Em 1896, aos dezessete anos, passou por um processo de reconversão, depois de um período afastado da fé. Em junho de 1903, ele foi atingido pelo que ele denominou “febre dos Estados Unidos”. Depois de passar por outras cidades norte-americanas, foi a Chicago estudar no seminário teológico dos batistas suecos.
No verão de 1909, sentiu um forte desejo de receber o batismo com o Espírito Santo e com fogo. Depois de cinco dias de busca, numa conferência na Primeira Igreja Batista Sueca, em Chicago, ele recebeu o que buscava. Ao pregar o batismo do Espírito Santo em sua igreja, esta ficou dividida e Vingren foi obrigado a deixar o pastorado da igreja.
Vingren foi para uma igreja em Indiana, onde foi influenciado por Adolfo Ulldin, um fiel que tinha visões, falava pelo dom de profecia e revelou vários segredos sobre o futuro de Vingren. Ele conta que foi por meio desse irmão que o Espírito Santo lhe disse para ir ao Pará, onde pregaria o evangelho para um povo muito humilde. Foi preciso ir a uma biblioteca para descobrir que o Pará fica no norte do Brasil.
Nesse momento, Vingren já havia conhecido Daniel Berg, seu futuro companheiro de missões, pois também ele recebera o chamado para vir ao Brasil, e ambos prepararam-se para a viagem.
No Brasil, foram recebidos por uma igreja batista. Assim que aprenderam um pouco da língua, começaram a evangelizar e a disseminar a doutrina pentecostal, principalmente o batismo no Espírito Santo com o falar em línguas.
A pregação de Vingren e Berg encontrou receptividade por parte de alguns e resistência por parte de outros. Entre os dezenove membros da igreja batista que creram na nova doutrina estava Celina de Albuquerque, considerada a primeira pessoa em solo brasileiro a receber a experiência pentecostal. Em junho de 1911, eles deixaram a igreja batista e fundaram uma igreja denominada Missão de Fé Apostólica.
Os assembleianos dividiram sua história em quatro períodos. O primeiro período vai de 1911 até 1924, tendo como fatos principais a aquisição do primeiro templo, a publicação do primeiro periódico pentecostal brasileiro, denominado Voz da verdade, e o início do trabalho missionário da denominação, com o envio de José de Matos a Portugal, em meados de 1913.
O segundo período vai de 1924 a 1930 e destaca o crescimento da igreja em todo o estado do Pará. Nessa época, foram instituídos o diaconato e o presbiterato na denominação. O terceiro período vai de 1930 até 1950 e destaca a colaboração da igreja do Pará com as construções de templos nas cidades de São Luís (MA), Manaus (AM), Teresina (PI) e Porto Velho (RO). O quarto e último período vai de 1950 até os dias atuais, quando acontece uma expansão ainda maior da denominação. Em 1961, o movimento pentecostal brasileiro já contava com um milhão de membros.
Por mais de quarenta anos, a Assembleia de Deus reinaram absolutas no pentecostalismo brasileiro, sem se preocupar com a “concorrência”. O que caracterizou essa fase do movimento, denominada primeira onda, foi a oração em línguas.
Somente a partir de 1950, um segundo grupo de igrejas pentecostais surgiria no Brasil, com ênfase na cura divina, sem, porém, desprezar o orar em línguas.
O pentecostalismo no Brasil.
O pentecostalismo entrou cedo na América Latina (Chile, 1909; Brasil, 1910). Inicialmente cresceu pouco, mas a partir dos anos 50 o crescimento se intensificou, especialmente nesses dois países. A partir dos anos 70, expandiu-se na América Central (especialmente na Guatemala e El Salvador, onde representa respectivamente 30% e 20% da população). No Chile, 75 a 80% dos protestantes são pentecostais. Nesse país, o pentecostalismo marcou a nacionalização do protestantismo.
O sociólogo Paul Freston fala de “três ondas” ou fases de implantação do pentecostalismo no Brasil. A primeira onda, ainda no início do movimento pentecostal americano, trouxe para o Brasil duas igrejas: a Congregação Cristã no Brasil (1910) e as Assembleias de Deus (1911). Essas igrejas dominaram o campo pentecostal durante quarenta anos. A AD foi a que mais se expandiu numérica e geograficamente. A CCB, após um período em que ficou limitada à comunidade italiana, sentiu a necessidade de assegurar a sua sobrevivência por meio do trabalho entre os brasileiros.[15]
A segunda onda pentecostal ocorreu na década de 50 e início dos anos 60, quando o campo pentecostal se fragmentou e surgiram, entre muitos outros, três grandes grupos ainda ligados ao pentecostalismo clássico: Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo (1955) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), todas voltadas de modo especial para a cura divina. Essa segunda onda coincidiu com o aumento do processo de urbanização do país e o crescimento acelerado das grandes cidades. Freston argumenta que o estopim foi a chegada da Igreja Quadrangular com seus métodos arrojados, forjados no berço dos modernos meios de comunicação de massa, a Califórnia.
A terceira onda histórica do pentecostalismo brasileiro começou no final dos anos 70 e ganhou força na década de 80, com o surgimento das igrejas denominadas neopentecostais, com sua forte ênfase na “teologia da prosperidade”. Sua representante máxima é a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), mas existem outros grupos significativos como a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), Comunidades Evangélicas, Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Paz e Vida, etc. Assim como a ênfase da primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo e ao consequente falar em línguas; a da segunda onda foi a cura e a da terceira, o exorcismo.[16]
Uma importante precursora dos grupos neopentecostais foi a Igreja de Nova Vida, fundada pelo canadense Robert McAllister, que rompeu com a Assembleia de Deus em 1960. Essa igreja foi pioneira de um pentecostalismo de classe média, menos legalista, e investiu muito na mídia. Foi também a primeira igreja pentecostal a adotar o episcopado no Brasil. Sua maior contribuição foi treinar futuros líderes como Edir Macedo e seu cunhado Romildo R. Soares.
Outros grupos pentecostais e neopentecostais brasileiros resultaram da chamada “renovação carismática”. Esse movimento surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 60, com a ocorrência de fenômenos pentecostais nas igrejas protestantes históricas e também na igreja católica. No Brasil, a “renovação” produziu divisões em quase todas as denominações tradicionais, com o surgimento de grupos como a Igreja Batista Nacional, a Igreja Metodista Wesleyana e a Igreja Presbiteriana Renovada.



[1] J. D. DOUGLAS, O novo dicionário da Bíblia
[2] Walter A. ELWELL. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã
[3] Williston WALKER, História da igreja cristã.
[4] Dicionário de messianismos e milenarismos
[5] Padres Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[6] Padres Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[7] Padres Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[8] Padres Apostólicos, São Paulo: Paulus, 1995
[9] Eusébio de Cesareia, História Eclesiática, Livro 5, Capítulo 7. 1° Ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1999
[10] Eusébio de Cesareia, História Eclesiática, Livro 5, Capítulo 7. 1° Ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1999
[11] J. D. DOUGLAS, The new internacional dictionary of the christian church
[12] William W. MENZIES e P. ROBERT, Spirit and power: Foundations of pentecostal experience,
[13] Miguel ALBANEZ, Introdução à história do movimento pentecostal no Brasil
[14] Walter J. HOLLENWEGER, Pentecostalism — Origins and developments worldwide.
[15] FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. Em: ANTONIAZZI, Albertol. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994
[16] FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. Em: ANTONIAZZI, Albertol. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994

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