sexta-feira, 28 de abril de 2017

BIBLIOLOGIA E SEUS DESAFIOS
Thomas Hobbes e Baruch Spinoza figuram, entre os pensadores modernos, como os responsáveis por lançar as bases do que entendemos como o método histórico-crítico de interpretação das escrituras bíblicas. Levando a cabo a tarefa de tornar a vida neste mundo a única que importa, primeiro reivindicada por pensadores renascentistas, como Maquiavel, Hobbes, com sua tentativa de tornar o soberano do Estado o intérprete último das escrituras, e Spinoza, com seu articulado método interpretativo, fizeram com que o entendimento dos textos ditos sagrados fosse alterado de maneira até então nunca vista, criando um marco para toda a modernidade.
Spinoza, aprimorando uma tarefa empreendida, primeiro por alguns pensadores renascentistas, depois por Hobbes, estabelece as bases para o método de crítica das escrituras moderno, se pautando essencialmente pelo estudo histórico dos textos, excluindo por completo quaisquer vestígios do aparato teológico anteriormente utilizado na leitura da Bíblia, e reivindicando contundentemente que ela fosse lida e interpretada apenas como um livro comum, livre de quaisquer apelos sobrenaturais e à superstição, e como essas inovações contribuíram para ampliar o panorama intelectual, tanto de um ponto de vista teológico, como também filosófico.
A Reforma fez com que se desenvolvesse, no Ocidente, uma considerável desconfiança com as interpretações alegóricas das escrituras. No mundo cristão, grandes intérpretes, tais como Gregório e Tomás de Aquino, forneceram as bases para a interpretação das escrituras, e sempre houve alguma precaução no uso de leituras alegóricas. Os reformados protestantes, no entanto, sempre se mostraram desconfortáveis com as liberdades desse tipo de interpretação e, ainda que tenham tentado ler a Bíblia de uma forma mais literal que alegórica, o foco ainda permanecia no seu caráter teológico. Não tardou para que essa forma de interpretação literal provesse as bases teológicas para teorias políticas em oposição a uma igreja transnacional. Tal posicionamento enseja a compreensão moderna da religião.
Com os teóricos políticos, o foco muda do teológico para o histórico. Enquanto é possível argumentar que Hobbes e Spinoza também expressaram preocupações teológicas, seus argumentos no que concerne à Bíblia não expressam tais preocupações, mas dizem respeito ao controle dos corpos, muito mais do que das almas, das pessoas por parte do Estado, então relegado ao reino do privado, graças, em larga medida, aos reformadores protestantes. O foco da interpretação bíblica se distancia das primordiais preocupações com o natural e o sobrenatural e se volta ao natural e ao histórico apenas. Hobbes e, especialmente, Spinoza avançaram muito além de seus predecessores, e é possível perceber em suas obras as bases do que passamos a entender como o método histórico-crítico da interpretação bíblica.
De fato, tanto Hobbes quanto Spinoza passam a focar no plano de fundo histórico da Bíblia com uma força jamais vista antes, e ainda que ambos descem margens para leituras teológicas das escrituras, as próprias bases de suas metodologias já indicavam que uma leitura teológica da Bíblia seria virtualmente impossível. Em seu Leviatã, Hobbes argumenta que uma interpretação bíblica precisaria necessariamente seguir os ditames da razão, que são opostos aos da teologia.
Ao final, no entanto, Hobbes argumenta, com base na própria Bíblia, que o poder temporal de cada estado seria responsável pela religião dentro de seu próprio reino. Sem o estado Leviatã, impomos uma ameaça mortal uns aos outros, como sugerido por sua afirmação de que “durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum, poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”. Assim sendo, apenas o estado controlador, ou seus oficiais apontados, estaria apto a prover interpretações oficias da Bíblia. A importância de Hobbes para o método histórico-crítico de interpretação bíblica está na maneira em que a lê, já que não apenas nega o papel do sobrenatural na autoria dos textos, como também ignora as menções ao sobrenatural nos textos. Nas passagens que fazem referência ao “Espírito Divino”, Hobbes interpreta o Espírito de maneira naturalizada, tal como o vento, ou como as faculdades do entendimento e, da mesma maneira, conceitos como paraíso e inferno são tratados como meramente temporais. Essa característica de sua abordagem foi crucialmente importante, pois sua perspectiva política repousava largamente no medo da morte e, para o cidadão, nada é mais ameaçador que a morte física. Assim sendo, o estado governador que possui o poder de executar e perdoar seria a fonte última de autoridade e, nesse sentido, os ensinamentos escatológicos eram uma ameaça à autoridade do estado porque a jurisdição do estado não estendia ao que viesse após a morte. “É impossível que um bem-comum subsista onde outro que não o soberano tenha o poder de dar melhores recompensas que a vida e infligir punições piores que a morte”. A única forma de garantir o maior controle do estado sobre a vida das pessoas na Terra, para Hobbes, foi argumentar que nada tinha relevância além da vida na Terra.
A leitura naturalista e histórica da Bíblia por Hobbes necessitava do entendimento das escrituras como um texto similar a outros textos históricos e, mesmo reconhecendo a importância da Bíblia como uma autoridade para os cristãos, sua aproximação metodológica da leitura do texto representa um caminho fundamentalmente diferente de abordagem das escrituras do que havia até então. Hobbes argumentava se utilizar da ciência e da razão em seu exame da Bíblia, ainda que todo o seu trabalho exegético acabasse apenas por legitimar suas opiniões políticas já existentes, especialmente a convicção de que o soberano do Estado tinha poder absoluto sobre seus cidadãos. Ao aplicar a interpretação bíblica dessa forma, Hobbes estendeu o conceito da Bíblia como um livro a ser examinado como um artefato histórico, mas a compreensão mais evidente de seu trabalho exegético é a de que este era motivado por sua política, que visava, em último caso, garantir a autoridade do Estado.
Spinoza, por sua vez, perpassou os resultados alcançados por Hobbes em sua nova abordagem da crítica bíblica ao articular uma detalhada metodologia de interpretação bíblica que, se por um lado, estava de acordo com os princípios da filosofia racionalista em voga, por outro, se sobressai ao colocar em questão não apenas a autoridade eclesiástica, como também a política. No que dizia respeito a Bíblia, o foco dado à historicidade do texto por Spinoza ultrapassa o dado por Hobbes. De fato, Spinoza julgava que nada poderia ser feito com os textos bíblicos até que sua história completa fosse descoberta. “Spinoza e seus seguidores multiplicaram as questões sobre a história física do texto, até ao ponto em que a tarefa tradicional da teologia não pudesse jamais sair de seu início”.
Assim como Hobbes, Spinoza também removeu os elementos sobrenaturais da Bíblia e, para ele, Deus não pode existir fora da natureza. Mais que isso, os profetas do Antigo Testamento não eram inspirados por Deus em nenhum sentido tradicional, e apenas possuíam uma imaginação muito vívida.
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DEVIDO ESTAS CRÍTICAS DEVEMOS RESPONDER AS SEGUINTES QUESTÕES.
Não se trata apenas de uma questão de interpretação?
Os manuscritos bíblicos são confiáveis?
É possível conhecer a verdade?
Levantada as questões cabe a todos nós buscar uma resposta que venha definir que posicionamento devemos assumir diante das Escrituras, seja o posicionamento reformador, ou permanecer no pressuposto liberal.
Não se trata apenas de uma questão de interpretação?
Pelo menos possuímos três escolas principais de hermenêutica bíblica, a necessidade da hermenêutica para a Bíblia será a de nos dar a importância de seus textos, sua relevância histórica e de sua mensagem para a humanidade através da história, pois como você ler a Bíblia, assim será ela para voçê. Comecemos com a primeiro.
Método Histórico Crítico:  Quem melhor desenvolveu esta temática no momento é o Reverendo da Prebiteriana, e Chanceler da Mackenzie por muitos anos, em seu artigo O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, nos deteremos com os seguintes tópicos da parte que se intitula AS CRÍTICAS NASCIDAS DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO e seus tópicos:
1) Crítica das Fontes[1]
A crítica das fontes dedicou-se ao estudo dos diferentes componentes do texto bíblico, que uma vez teriam existido isoladamente e foram posteriormente agrupados num único texto. Ela pressupõe que os textos bíblicos são compostos e que esses componentes se originaram de períodos históricos distintos e refletem diferentes teologias. Como na antiguidade os autores não se preocupavam com a questão de direitos autorais, e nem em indicar a fonte de onde copiaram material, simplesmente aglutinaram diversas fontes escritas ao seu dispor para formar o texto completo que temos hoje no cânon formal. Assim sendo, a tarefa da crítica das fontes é identificar esses documentos, estudar em separado a teologia dos mesmos no contexto histórico em que foram produzidos e depois avaliar o sentido do texto completo à luz dos resultados. Assim encontraremos a Palavra de Deus dentro das Escrituras. O método consiste em buscar, primeiramente, as anomalias e irregularidades textuais, como inconsistências de assuntos, repetição de histórias, digressões e diferenças em vocabulário e estilo. Estas coisas apontariam para diferentes fontes documentais. Em seguida, estudam-se as anomalias quanto aos temas e procura-se identificar em que período da história de Israel ou da Igreja cristã o texto foi produzido.
No Antigo Testamento, a chamada crítica das fontes tem a sua origem no comentário de Gênesis (1753) de Jean Astruc, um médico francês, onde ele defende que Moisés teria usado duas fontes diferentes para escrever Gênesis, uma que se refere a Deus como Elohim e outra que se refere a Deus como Yahweh. Essa teoria foi desenvolvida por Johnn Eichhorn em 1780, que a estendeu a todo o Pentateuco e rejeitou a autoria mosaica. Em 1805, Wilhelm De Wette defendeu que nenhuma das partes que compõem o Pentateuco foi escrita antes de Davi. Ele também defendeu a existência do documento D, escrito como propaganda ideológica na época do rei Josias. Hermann Hupfeld completou a teoria com o quarto documento, P, em 1853. Julius Wellhausen foi quem melhor elaborou esta hipótese, que veio a ser chamada de “hipótese documentária”.
No Novo Testamento, a crítica das fontes concentrou-se nos Evangelhos Sinóticos. Seu objetivo era descobrir as fontes literárias usadas na composição de cada Evangelho, bem como estabelecer a dependência literária entre eles. A teoria das duas fontes, defendida inicialmente por C. H. Weisse (1838) para resolver o problema sinótico, teoria que ainda é utilizada pela maioria dos estudiosos bíblico da atualidade. Em ambas as hipóteses da teoria, o Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito e foi uma das duas fontes para o Evangelho de Mateus e o Evangelho de Lucas, a outra fonte seria o documento Q, uma coleção perdida de ensinos de Jesus.  e P. Wernle (1899), tornou-se dominante. Atualmente Eta Linnemann condena esta proposta

2) Crítica da Forma
Esta metodologia tem o mesmo alvo da anterior, que é separar o cerne da casca, alvo muito bem expresso por Bultmann em seu programa de desmitologização do Novo Testamento. Podemos dizer que a crítica da forma, no Novo Testamento, tem seu ponto de partida no desejo de descobrir a Palavra de Deus dentro das Escrituras usando o critério da antiguidade das formas, como declarou Werner Kümmel, considerado um crítico moderado:
Quanto mais um texto aponta para a revelação histórica de Cristo e quanto mais ele foi alterado por pensamentos exteriores ao cristianismo ou através do cristianismo posterior, mais seguramente ele pode ser considerado como parte do cânon normativo.
O objetivo da crítica da forma é descobrir as formas originais dos textos bíblicos, ainda em sua fase oral de transmissão, antes de serem submetidos à escrita, como aparecem no cânon formal. É ainda identificar as alterações feitas, nesta fase, pelas comunidades que receberam essas tradições, e que posteriormente os editaram e publicaram. Conforme o critério de Kümmel, esses textos, por serem, em sua forma final, produtos da Gemeindetheologie (teologia da comunidade), são secundários e não fazem parte do cânon normativo.
3) Crítica da Redação
A crítica da redação nasceu na esteira da crítica das fontes e da crítica da forma. Enquanto a crítica das fontes se preocupou em identificar e reconstruir as fontes literárias (documentos) que foram usadas originalmente para a composição do texto bíblico, e a crítica da forma com o processo de transmissão oral pelo qual estes documentos e a tradição oral passaram, a crítica da redação preocupa-se com os redatores, aqueles que se utilizaram destas fontes orais ou escritas e lhes deram a forma final.
O critério usado por essa ferramenta crítica para separar a verdade do erro no cânon formal é descobrir os materiais originais, para, em seguida, expurgá-los das alterações feitas pelos redatores, quando editaram os textos sagrados na forma em que se encontram no cânon formal. De acordo com as críticas das fontes e da forma, boa parte dos livros que compõem o Velho e o Novo Testamentos são, em sua forma final, o resultado de um processo de coleção, edição e harmonização de tradições antigas, de fontes anteriores que refletiam a teologia das comunidades através de editores e escribas. O redator não foi um mero transmissor; ele foi um autor com seus próprios pontos de vista e situação social e religiosa; ele amoldou o seu material de acordo com esses fatores. A tarefa da crítica da redação passou a ser descobrir a “teologia” desses redatores e os princípios teológicos que controlaram a sua redação das fontes e das tradições, alcançando a forma final que hoje temos.
Foi Gerhard von Rad, no seu comentário de Gênesis, quem defendeu de forma mais influente a abordagem do Velho Testamento do ponto de vista da teologia dos redatores que o formaram. Nesta obra, von Rad procura sempre ir além da mera reconstrução dos estágios iniciais no processo de formação dos textos bíblicos, e escutar o redator, perguntando de que maneira ele intentou que lêssemos o texto final, e o que estava tentando nos dizer.
Perspectiva Pós-Moderna[2]: As palavras estranhamente proféticas do filósofo Friederich Nietzsche: “Não podemos nos livrar de Deus enquanto não nos livrarmos da gramática”.  Esta idéia foi repetida posteriormente pelo ateu Bertrand Russell: “A linguagem atual incorpora a metafísica da Idade da Pedra”. O desejo de libertar o ser humano da opressão de um Deus está fortemente relacionada à questão da linguagem e seu significado.
Às vezes, a abordagem daqueles que procuram questionar a possibilidade de um significado definitivo na linguagem parece mais um jogo esquisito. O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889- 1951) teve grande influência nessa área. Ele afirmou que cada função da linguagem ocorre dentro de um sistema separado e aparentemente fechado, com suas próprias regras. Isso significa que qualquer função da linguagem seria semelhante a um jogo. É necessário conhecer as regras do jogo e ter bom senso em relação ao significado dos termos para usar a linguagem. Cada uso da linguagem constitui um “jogo de linguagem” separado, e alguns jogos têm muito pouco a ver entre sí.
Quando aplicado à Bíblia, isso significa que o contexto do leitor é que determina a interpretação do texto. Seria impossível estabelecer um significado único, que fosse aceito por diferentes culturas, línguas, situações ou “jogos”.
O poder da narrativa épica (ou “metanarrativa”) ao unir os seres humanos do mundo inteiro, integrando-se às histórias de cada lugar, está em decadência. Muitos a comparam a um ditador restringindo a liberdade das pessoas. O pensador Jean-François Lyotard argumenta que a visão pós-moderna requer que se faça uma “guerra contra o totalitarismo”.
Foucault continua argumentando que existe uma interação essencial entre conhecimento e poder. Lembrando a expressão de Nietzsche, “o desejo de poder”, Foucault chama a procura da verdade de um “desejo de conhecimento” que estabelece sua própria “verdade” arbitrariamente. Isto sugere que ao lermos a Bíblia, devemos suspeitar dos escritores, pois eles estão exercendo poder sobre nós, e suspeitar mais ainda de qualquer pessoa que tente nos ajudar a interpretar a Bíblia. Qualquer tentativa de pregar ou explicar a Bíblia não passa de uma tentativa desastrosa de obter poder sobre outra pessoa.
Método Histórico Gramatical: Foi o método estabelecido pelo reformadores, após anos de leitura da Bíblia de forma alegórica, e que é muito defendida pela perspectiva cristã reformada.

Os manuscritos bíblicos são confiáveis?
Existem cerca de 5000 manuscritos da Bíblia, alguns de 80 dc. Já entre as cópias dos antigos filósofos gregos, o manuscrito mais antigo é o de Aristóteles de cerca de 1300 dc, existindo somente 4 copias. Muitos cristãos não sabem, mas o texto bíblico do Antigo Testamento que usamos, hoje, é mais preciso do que os textos antigos de obras clássicas, como a Ilíada, de Homero, ou os trabalhos de Aristóteles, Platão, etc. Como podemos saber se isso é verdade? Como saber que o Antigo Testamente que utilizamos é o mesmo citado por Jesus, quando Ele andou na terra?
A preservação do conteúdo da Bíblia, ao longo dos séculos, é a maior evidência externa da sua autenticidade, conquanto a nossa cultura dê grande valor ao que é considerado original.
POR QUE NÃO EXISTEM ESCRITURAS ORIGINAIS?
Porque materiais perecíveis, como o papiro, se deterioram rapidamente sob condições úmidas. E só foram preservados em raras circunstâncias, quando os manuscritos foram cuidadosamente guardados em climas extremamente áridos.
Levando-se em conta o número de guerras de Israel, é um milagre que o conteúdo original tenha sido preservado. Nas destruições do Templo — em 586 a.C. e em 70 d.C. —, os sacerdotes que fugiram tiveram a preocupação em preservar o conteúdo dos livros. E, por isso, levavam consigo, sempre, as cópias mais novas, em melhor estado.
O ANTIGO TESTAMENTO É AUTÊNTICO?
Bem, está claro, para os eruditos, que o Senhor Jesus, os apóstolos e os judeus do século I usaram a Septuaginta, tradução feita em 250 a.C. por cerca de 70 eruditos hebreus. E o Mestre nunca apontou qualquer erro nessa versão. Se houvesse algum problema de falta de precisão, o Senhor teria apontado. Isso é, sem dúvida, uma confirmação de que a Septuaginta era — e é — confiável, atestada pelo Verbo de Deus.
Em 1947, um tesouro de manuscritos do Antigo Testamento foi descoberto em uma caverna por pastores beduínos do lado ocidental do Mar Morto, em Israel. Nas décadas seguintes, mais de duas centenas de textos foram encontrados em outras onze cavernas — obras completas, em bom estado. Mas o que mais chamou a atenção dos eruditos foi um livro do profeta Isaías perfeitamente preservado.
Antes das aludidas descobertas, o mais antigo texto do Antigo Testamento era o massorético — feito pelos massoretas, da escola dos escribas de Massorá —, datado do século X d.C., de onde vieram a maioria das traduções veterotestamentárias. Durante muitos anos, os críticos da autenticidade da Bíblia reclamaram que a data do texto massorético era muito recente, em relação aos manuscritos originais. Hoje, depois da descoberta de 1947, eles se calaram (apenas resmungam), visto que alguns textos descobertos, especialmente o livro de Isaías, datam de 225 a.C. Ou seja, são documentos mais de mil anos anteriores aos textos massoréticos!
Quando o livro de Isaías, encontrado nas cavernas, foi comparado com versões atuais, feitas a partir do texto massorético, descobriu-se que o seu conteúdo era quase idêntico — havia apenas pequeníssimas diferenças ortográficas, gramaticais e de caligrafia, as quais não afetavam em nada o sentido original. Em resumo, o Antigo Testamento que usamos hoje tem o apoio de manuscritos mais fortes do que qualquer outra obra da história clássica, incluindo Homero, Platão, Aristóteles, César e Tácito.
E O NOVO TESTAMENTO, É AUTÊNTICO?
Há motivos para glorificarmos a Deus ainda mais quanto ao Novo Testamento, pois, de toda a literatura antiga, o texto neotestamentário é o documento mais bem autenticado. Por quê? Porque há mais manuscritos do Novo Testamento, isto é, mais cópias próximas e confiáveis dos manuscritos originais (autógrafos) do que qualquer outra obra escrita nos tempos antigos.
O número de cópias existentes do Novo Testamento em todo o mundo, em museus, bibliotecas ou em poder de colecionadores? Mais de 5.700! Por extenso: mais de cinco mil e setecentas cópias do Antigo Testamento. Há diferenças nessas cópias? Claro que há,  são irrelevantes.
As cópias do Novo Testamento em seus manuscritos originais (que não existem mais, evidentemente) datam de 50-95 d.C., cópia mais antiga existente dos textos neotestamentários  vem do ano 125 d.C. Em outras palavras, o espaço entre o original e a cópia mais antiga é de apenas 30 a 75 anos. Diante do exposto, não nos enganemos nem deixemos de ter compromisso com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra.
É possível conhecer a verdade?
"Existe algo como a verdade absoluta/verdade universal?"[3]
Resposta: Para entender se existe algo como verdade absoluta/verdade universal, vamos primeiro definir o que é a verdade. A verdade é definida pelo dicionário como “conformidade a um fato ou realidade; uma declaração provada como ou aceita como verdadeira; realidade”. Algumas pessoas diriam hoje em dia que não há uma verdadeira realidade, apenas percepções e opiniões. Por outro lado, outros argumentariam que deve haver uma realidade ou verdade absoluta. Portanto, ao considerarmos a questão quanto a haver ou não algo como a verdade absoluta, nós vemos dois pontos de vista exatamente opostos.
Um ponto de vista diz que não existem absolutos que definam a realidade. Aqueles que têm tal posição acreditam que tudo é relativo, e que, portanto não há uma realidade verdadeira. Por causa disso, não há nenhuma autoridade para decidir se uma ação é positiva ou negativa, certa ou errada. Este ponto de vista é simplesmente a “ética situacional” na sua forma mais ampla. Não há certo ou errado, portanto o que quer que pareça certo em certo momento, certo será. É claro que este tipo de “ética situacional” leva a uma mentalidade e um estilo de vida do tipo “vamos fazer tudo o que parece bom”, que tem um efeito devastador na sociedade e nos indivíduos.
O outro ponto de vista acredita que existem realidades absolutas ou padrões que definem o que é verdadeiro e o que não é. Portanto, ações podem ser julgadas certas ou erradas de acordo com a sua medida em relação a esses padrões absolutos. Você pode imaginar o caos que seria se não houvesse absolutos, se não houvesse realidade? Tome a lei da gravidade como exemplo. Se ela não fosse um absoluto, em um momento você daria um passo para frente e poderia acabar a muitos quilômetros do chão, e no instante seguinte você talvez não conseguisse mover o seu corpo de jeito nenhum. Ou pense na confusão que seria se os números não mais tivessem valores absolutos. Por exemplo, 2 +2 não seria mais igual a 4. Se não houvesse verdades absolutas, o mundo estaria em caos. Não haveria leis da ciência, leis da física, tudo seria sem sentido e não existiriam padrões de medida, nem certo e errado. Que confusão isso seria, mas ainda bem que a verdade absoluta existe, e ela pode ser encontrada e entendida.
O próprio pensamento de alguém alegar que não existe verdade absoluta é totalmente ilógico. Mesmo assim, diversas pessoas hoje em dia estão abraçando um relativismo cultural que no seu cerne nega qualquer tipo de verdade absoluta. Uma boa pergunta para as pessoas que dizem “não existe verdade absoluta” é: “Você está absolutamente certo disso?” É totalmente ilógico fazer tal alegação, pois é uma alegação absoluta que em si própria nega qualquer absoluto. Ela está, em essência, dizendo que o próprio fato de não haver verdade absoluta é a única verdade absoluta.
Há diversos problemas lógicos que se deve superar para aceitar ou acreditar que não existem verdades absolutas/verdades universais. O primeiro problema é o da autocontradição. Isto pode ser visto na questão exposta acima e no fato de que aqueles que insistem que não existem absolutos estão na verdade acreditando em um absoluto. Eles estão absolutamente certos de que não existe nada absoluto. Este tipo de filosofia é tanto autoderrotista quanto autocontraditória. A afirmação de que não existem absolutos está em si própria contradizendo o que eles dizem acreditar!
O segundo problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que todos os seres humanos possuem conhecimento limitado. Como seres humanos com uma mente limitada e finita, nós não podemos logicamente fazer declarações negativas absolutas. Por exemplo, uma pessoa não pode dizer logicamente “Não há Deus” (apesar de muitos o fazerem), porque para dizer isso ela deveria ter conhecimento absoluto sobre o universo inteiro do início ao fim. Quando as pessoas dizem não haver Deus ou não haver verdade absoluta (o que em essência é realmente a mesma coisa), o máximo que elas podem dizer racional e logicamente é “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista um Deus”, ou “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista qualquer coisa que seja absolutamente verdadeira”.
O terceiro problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que ela falha ao se associar com o que nós sabemos ser verdadeiro nas nossas próprias consciências, nossas próprias experiências, e com o que nós vemos no “mundo real”. Se não existe tal coisa como a verdade absoluta, então não existe nada certo ou errado sobre qualquer coisa. O que pode ser “certo para você” pode não ser “certo para mim”. Apesar de superficialmente esse tipo de relativismo parecer muito apelativo, se ele for levado à sua conclusão lógica, ele logo se prova desastroso. Considere apenas por um momento se realmente não houvesse verdade absoluta e se tudo fosse realmente relativo (sem padrões de qualquer tipo). Em essência, o que aconteceria é que todo mundo estabeleceria as suas próprias regras segundo as quais viver e faria o que achasse certo. Isso causa problemas, pois o conceito de certo de uma pessoa logo entraria em conflito com o de outra. Por exemplo, e se fosse “certo para mim” ignorar os semáforos no trânsito, mesmo quando eles estão vermelhos? Dessa forma eu estaria pondo a vida de outros em risco. Ou então, eu poderia pensar que é certo roubar de você, mas você pensaria que não é certo. Da mesma forma, uma pessoa poderia decidir que matar outras pessoas é certo e portanto ela poderia tentar matar todo mundo que estivesse à vista.
Se não existem padrões absolutos, verdades absolutas e se todas as coisas fossem relativas, então matar todo mundo é tão certo quanto não matar ninguém. Roubar é tão certo quanto não roubar. Crueldade é igual à não-crueldade. Note a que resultados desastrosos a negação da verdade absoluta pode levar. Afinal, se não existe algo como a verdade absoluta, então ninguém pode dizer “você deveria fazer isso” ou “você não deveria fazer aquilo”. As pessoas seriam livres para fazer o que quisessem – assassinar, estuprar, mentir, trapacear, etc. e ninguém poderia dizer que tais coisas são erradas. Não haveria governo, nem leis, nem justiça, porque ninguém poderia dizer que a maioria das pessoas tem o direito de definir e impor padrões sobre a minoria. Um mundo sem absolutos seria o mais horrível mundo imaginável.
Hoje em dia nós frequentemente ouvimos frases como “isso pode ser verdade para você, mas não é verdade para mim”. Para aqueles que acreditam que não exista uma verdade absoluta, a verdade é vista como nada mais do que uma preferência ou percepção pessoal e que, portanto, não pode se estender além dos limites pessoais. Por causa disso, não existem respostas finais para o sentido da vida e não poderia haver esperança de qualquer tipo de vida após a morte. Esse tipo de relativismo resulta em confusão religiosa porque não pode haver religião verdadeira, nem um único caminho para se ter um relacionamento correto com Deus. Todas as religiões seriam, portanto, falsas, porque todas elas afirmam ensinar ou acreditar em algum tipo de vida após a morte, algum tipo de verdade absoluta.
A Bíbia foi Inspirada Por Deus ?
Nome polêmico na Teologia, apesar de ter sido um dos teólogos mais influentes da atualidade, Karl Barth (1886-1968), tratando da inspiração bíblica desenvolveu um conceito um tanto delicado sobre o assunto. Para resumir a sua visão sobre a inspiração bíblica, Barth fez uma distinção entre “inspiração verbal” e “inspiração literal”. A partir deste pressuposto, a Palavra e as ações de Deus nunca podem ser identificadas com palavras humanas ou eventos históricos registrados na Bíblia, mas devem ser transcendentais. A inspiração verbal seria teologicamente irrenunciável, na medida em que a Escritura testemunha a Cristo, o “verbo” divino. A inspiração literal, no entanto, deveria ser rejeitada como tentativa de dar uma garantia miraculosa para o testemunho da Escritura... A Palavra pregada e escrita (a única que ultrapassa o abismo entre Deus e o homem) nada mais faz além do que apontar para a verdadeira revelação divina, a saber, a palavra de Deus em seu sentido absoluto e transcendental... Barth afirmou que reconhecer a autoridade da Escritura é uma questão de confissão, porque “se não estamos para desistir de nossa fé temos que crer no milagre da graça” (CD, I/2, p. 598)... A autoridade da Escritura não é uma possessão em si mesma, nem mesmo uma dádiva outorgada pelo próprio Deus. A Escritura tem autoridade porque o próprio Deus a toma e fala através dela... A palavra de Deus nos confronta na Escritura Sagrada, mas a Escritura não é, no sentido verdadeiro, palavra de Deus – é apenas testemunho dela e aponta para a eterna Palavra de Deus.
Se tal visão Bartiniana sobre a inspiração da Bíblia fosse aceita por TODO seguimento evangélico, piores conseqüências teria o Cristianismo, haja vista o mal que já tem sido notado, como por exemplo:
1) o testemunho cristão colocado em risco, comprometendo a apologética;
2) a fé cristã igualada a mero esoterismo para aqueles que ainda não tiveram um experiência de conversão (obs: conversão ao Senhor Jesus e não a um seguimento cristão denominacional);
3) a ênfase ao encontro subjetivo caracterizado pela frase “quando nos subjugar!” da faceta existencial do seu defeituoso conceito de inspiração.
Há na Bíblia três fatos sobrenaturais que resultam, todos três, da influência e atividade divina. Ensino da vontade de Deus, registro do que Deus determinou do que se conservasse escrito; e aplicação daquilo que está registrado à vida religiosa[4].
O ensino chama-se revelação. O registro chama-se inspiração. A aplicação chama-se iluminação.
Quem ensinou o que se acha na Bíblia e que o homem, por si, não poderia descobrir? — Deus.
Quem fez escrever tudo quanto se acha na Bíblia, mesmo que não sejam revelações de Deus, mas verdades descobertas pelos homens, dados de outras fontes, ou ainda que seja ações e palavras pecaminosas?— Deus.
Quem aplica o ensino das Escrituras? — Deus.
Os três fatos são sobrenaturais.
A Bíblia é a Palavra de Deus por três motivos.
“Primeiro porque nela se acha o que Deus revelou. Neste sentido é verdadeira a frase: A Bíblia contém a Palavra de Deus, isto é, contém a revelação de Deus.”
“Segundo, porque foi Deus quem a fez escrever. Neste sentido é que se diz que toda a Bíblia é a Palavra de Deus."
“Terceiro, porque é Deus quem nos fala por ela, é por ela que Deus nos fala, e só Deus nos pode falar adequadamente por ela, aplicando-a às necessidades de cada coração. Neste sentido é verdadeira a proposição:
Só a Bíblia é a Palavra de Deus. Não estamos dizendo que o que há de verdadeiro na Bíblia é só o que Deus ensinou, nem tão pouco que só é verdadeiro e bom o que está na Bíblia.



[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, FIDES REFORMATA X, Nº 1 (2005): 115-138.
[2] Orr-Ewing,  Amy. Por que confiar na Bíblia? Resposta a dez perguntas difíceis ; tradução Meire Santos. — Viçosa, MG : Ultimato, 2008.
[3] http://www.gotquestions.org/Portugues/verdade-absoluta.html#ixzz3CNZa6mkZ
[4] Ferreira, Julio Andrade. Antologia Teologica, Ed Fonte Editorial, 2005.
A Vontade Humana é Livre ou Determinada Uma Abordagem Filosófica

PRINCIPAIS CONCEITOS
Há muitas maneiras de desvendar as noções de livre arbítrio e determinismo, mas um bom lugar para começar é com estas duas definições:
• Vontade genuína: pelo menos algumas ações, uma pessoa tem a capacidade de ter feito de outra forma.
• Determinismo: uma pessoa nunca tem a capacidade de ter feito de outra forma.
Embora nem todos os filósofos concordem com a definição acima de um "livre arbítrio genuíno", ele ainda oferece uma das mais ousadas concepções de liberdade. A chave aqui é a "capacidade de ter feito de outra forma." Suponha que é um dia de verão quente e sua posição na frente da vitrine em uma loja de sorvetes. Você vê o sorvete de chocolate, e apela para você. Você, então, ver a baunilha, e que também apela para você. À medida que você considera qual dos dois a ordem, você pensa sobre como cada um poderia satisfazer o seu desejo imediato. Em seguida, você tomar sua decisão e pedir o chocolate. Suponha agora que o tempo magicamente inverte cinco minutos, e lá você está novamente de pé na frente da vitrine e você não tem lembrança de sua decisão anterior. Todos os fatores são exatamente Como eram a primeira vez - a loja, os compradores e seu quadro psicológico. Você teria a capacidade de tomar uma decisão diferente e pedir a baunilha em vez de chocolate? A noção de livre arbítrio genuíno sustenta que, sim, você poderia selecionar baunilha desta segunda vez. Você tem a capacidade de iniciar uma escolha genuinamente livre que é independente das forças causais de sua estrutura mental. Em contraste, a noção de determinismo sustenta que você não poderia escolher de forma diferente. Se a configuração for exatamente como era a primeira vez, os eventos se desdobrarão exatamente da mesma maneira: você pedirá chocolate. Como definido acima, as noções de autêntico livre-arbítrio e determinismo são incompatíveis: você não pode endossar consistentemente ambos ao mesmo tempo.
O debate sobre o livre arbítrio eo determinismo é uma questão estreitamente definida. Outros tópicos em filosofia são semelhantes a este, mas quando nós não os distinguimos corretamente podem enlamear a edição. Uma dessas noções é a liberdade política, que é fácil de confundir com o livre-arbítrio. A ideia por trás da liberdade política é que temos o direito de estar livres de restrições que outros possam colocar sobre nós. Por exemplo, minha liberdade política é violada se você me raptar e me amarrar na parede em sua adega. Minha liberdade política é violada se o governo me castiga por falar a minha mente. Mas o debate entre livre-arbítrio e determinismo geralmente envolve as possíveis restrições dentro da minha própria composição psicológica, e não as possíveis restrições que outros colocam sobre mim através da força bruta.
Um segundo ponto de confusão envolve a noção de fatalismo, que às vezes é confundida com o determinismo. Fatalismo é a visão de que algum evento acontecerá independentemente do que você faz para detê-lo. Fatalismo assume que existem caminhos diferentes que podemos tentar, mas todos terminam exatamente o mesmo. Contudo, o determinismo é diferente: há apenas um caminho de ação que podemos seguir, e esse caminho é limitado por leis rígidas e previsíveis.
Um último ponto de esclarecimento. As ações que executamos são de tipos diferentes. Os mais óbvios envolvem ações físicas. O ato de você comprar uma colher de sorvete envolve você falar sua ordem para o caixa, pagando por ele, e tomando o cone de sorvete em sua mão. Mas as escolhas livres também incluem pensamentos e sentimentos mentais voluntários. Por exemplo, depois de ouvir a evidência sobre um homem acusado de assassinato, você pode optar por acreditar que ele é culpado ou não culpado. Da mesma forma, se alguém dentes seu carro você pode optar por ficar com raiva ou permanecer calmo. O que está em questão com todas essas escolhas - movimentos físicos, crenças ou sentimentos - é se elas resultam da livre escolha ou de eventos previamente determinantes.
O CASO DE DETERMINAR
Começamos por analisar os principais argumentos do determinista.
O Argumento do Materialismo
Os deterministas geralmente fundamentam sua posição em um ponto básico: o mundo físico opera de acordo com leis rígidas e previsíveis. Esta visão foi expressa de forma dramática pelo cientista francês do século XVIII, Pierre-Simon Laplace: se eu conhecesse todas as forças que animam a natureza, soubesse a posição exata de tudo o que existe e tivesse uma capacidade calculadora ilimitada, seria capaz de prever com precisão Tudo o que acontecerá no futuro. Nós, naturalmente, nunca chegamos perto de executar a tarefa que Laplace descreve. Seu ponto, entretanto, é que tudo se desdobra mecanicamente em um mundo governado inteiramente por leis naturais.
A questão principal agora é se os seres humanos são constrangidos por rígidas leis naturais. A teoria contemporânea do materialismo mente-corpo ousadamente responde sim. Mentes humanas conscientes é o produto da atividade física do cérebro, e nada mais. Esta posição está no cerne do seguinte argumento para o determinismo do materialismo:
1. As escolhas humanas são exclusivamente uma função da atividade cerebral.
2. A atividade cerebral é limitada por leis naturais rígidas.
3. Portanto, as escolhas humanas são limitadas por leis naturais rígidas.
Assim como os condicionadores de ar operam de acordo com leis naturais rígidas, a consciência humana, de acordo com deterministas, também é uma função de mecanismos físicos que também operam sob as restrições das leis naturais. As leis em nosso caso são mais biológicas do que as leis mais mecanicamente orientadas que governam a construção e operações de condicionadores de ar. No entanto, são leis naturais rígidas.
Como um advogado do livre-arbítrio pode responder a esse argumento? O filósofo francês René Descartes (1596-1650) desafiou a premissa 1 acima e argumentou, em vez disso, que as escolhas humanas são o produto da mente espiritual não-física, não a função da atividade cerebral. Sua posição, chamada dualismo mente-corpo, é que os seres humanos são parte do corpo físico e parte do espírito não-físico. A parte física de nós é o que vemos quando olhamos no espelho. A parte espiritual de nós envolve nossas mentes conscientes e, para Descartes, constitui nossa verdadeira natureza como seres humanos. É como se eu tivesse uma bolha espiritual conectada ao meu corpo, o que levaria meu corpo a se mover, de qualquer jeito que minha mente espiritual dirige. De acordo com Descartes, nossos corpos físicos são de fato limitados pelas leis naturais. Eles são feitos de material físico que obedecem às rígidas leis da física e da química, assim como qualquer outro objeto físico neste planeta. Se um nervo no meu braço é estimulado, ele irá mecanicamente fazer meu braço se mover. Mas nossos espíritos, argumenta ele, não são limitados pelas leis naturais. Os espíritos residem num reino não-físico, são feitos de coisas não-físicas e estão além do domínio das leis da física e da química. Neste reino não-físico, Descartes continua, nossos espíritos têm liberdade ilimitada, e são nossos espíritos que estão em última análise por trás das ações livres que realizamos. Se o tempo inverteu cinco minutos, seu espírito poderia realmente assumir outra vontade a que você escolheu anteriormente. A versão de Descartes do dualismo, então, aceita o domínio das leis físicas no mundo físico, mas abraça o livre-arbítrio como um elemento dos espíritos humanos.
Os deterministas têm duas respostas à posição de Descartes sobre livre arbítrio. Primeiro, por que supor que os espíritos têm livre arbítrio? Por tudo o que sabemos, pode haver leis rígidas que governam como os espíritos operam, assim como as leis físicas governam a operação das coisas físicas. Embora possamos conceber espíritos humanos que possam escolher livremente, podemos tão facilmente conceber um zumbido espiritual que age como está programado. Talvez dentro de sua mente espiritual há forças causais que levam você a selecionar o sorvete de chocolate sobre a baunilha, e isso não vai mudar, não importa quantas vezes nós voltamos as mãos do tempo. O problema é que os espíritos são, por natureza, além do domínio da investigação científica, de modo que, mesmo se eles existem, não podemos sequer investigar se eles são restringidos ou não restringidos por leis especiais do reino espiritual. A ideia de espíritos voluntários é pura especulação.
Em segundo lugar, e mais importante ainda, neste ponto da história da ciência, a teoria de Descartes do dualismo está desatualizada. As disciplinas de biologia, psicologia e sociologia hoje assumem que minha consciência é uma função da minha atividade cerebral, e meu cérebro, por sua vez, segue rígidas leis da natureza. Se você quer saber por que eu faço as escolhas que faço, você olha como meu cérebro opera, não em alguma bolha de espírito que é enxertada em meu corpo. De fato, há ainda alguns defensores obstinados do dualismo de Descartes que insistem que a livre escolha está embutida dentro de nossas mentes espirituais. No entanto, o debate entre livre-arbítrio e determinismo hoje ocorre dentro da arena do materialismo mente-corpo. Dentro dessa arena, o argumento para o determinismo do materialismo parece atraente.
Mas tão convincente quanto o argumento do materialismo é, não é conclusivo. A razão principal é que a teoria do materialismo repousa sobre uma suposição que não pode ser provada com certeza, a saber, que todo o universo, incluindo os seres humanos, envolve apenas a matéria operando de acordo com leis fixas da natureza. Ou seja, o universo é um "sistema fechado" no sentido de que não interage com ou recebe entrada de qualquer coisa alegada que seja imaterial ou quebre leis da natureza. Esta é uma suposição importante que está no cerne da própria ciência: as questões que a ciência procura responder sempre estarão confinadas à matéria e às leis da natureza. Mas isso ainda é uma suposição improvável. Considere novamente o demônio de LaPlace: se conhecêssemos todas as forças que animam a natureza, conhecemos a posição exata de tudo o que existe e tivemos habilidade calculadora ilimitada, seríamos capazes de prever com precisão tudo o que acontecerá no futuro. Que teste poderíamos realizar para provar isso? Não há nenhum. O que LaPlace está sugerindo é apenas uma outra maneira de expressar a suposição de que o universo é um sistema fechado. Isso não significa que devamos duvidar dessa suposição. Pelo contrário, é uma que nos tem servido muito bem desde a revolução científica. Mas é uma suposição que vem com restrições, e potencialmente elimina um monte de noções filosóficas, incluindo o conceito de livre arbítrio genuíno. Talvez o melhor conselho seja aceitar a suposição, mas proceder com cautela.
O Argumento da Previsibilidade
Enquanto o argumento do materialismo pode ser a arma mais forte no arsenal determinista, alguns defensores ofereceram um argumento mais modesto da previsibilidade que não se baseia em suposições sobre o materialismo e o material de que uma pessoa humana é composta. O argumento é que a previsibilidade das escolhas humanas mostra que elas são determinadas por rígidas leis naturais. Aqui está um exemplo de David Hume. Suponha que você está prestes a ser executado. Sua cabeça está no quarteirão, o carrasco se aproxima e levanta o machado. Quais são as probabilidades de que, em um exercício de última hora do livre arbítrio, o carrasco vai mudar de ideia e deixá-lo ir? Nenhuma chance. A decisão do carrasco de derrubar o machado é tão fixa e previsível quanto a separação da cabeça do corpo e da morte.
Menos dramática, nós vemos este tipo da previsibilidade nas pessoas em cada momento durante todo o dia. Trabalhadores, vendedores, professores, contadores, todos fazem o que se espera deles em seus trabalhos. Imagine, de fato, como seria a vida se o comportamento humano não caísse em padrões previsíveis. Os agricultores podem decidir parar de comer e morrermos de fome. As pessoas da empresa de gás poderiam deixar seus empregos algum inverno e todos nós congelaríamos. Os empregadores podem não pagar os trabalhadores e nós seríamos desabrigados. De fato, todas as instituições sociais que dependem de esforços cooperativos estariam em risco. Faltando alguma crise nacional, raramente pensamos seriamente nessas possibilidades, uma vez que nos tornamos tão acostumados com a previsibilidade do comportamento humano. Mas quando refletimos sobre como somos, isso nos faz parecer máquinas que são limitadas por leis de física, biologia e psicologia. O argumento da previsibilidade para o livre arbítrio é, então, o seguinte:
1. As escolhas humanas são previsíveis.
2. A previsibilidade é um indicador de que as escolhas são restringidas por leis naturais rígidas.
3. Portanto, as escolhas humanas são limitadas por leis naturais rígidas.
Mas os defensores do livre arbítrio criticam que as pessoas não são 100% previsíveis. Alguns agricultores de fato decidem parar de cultivar alimentos, enquanto outros não. Alguns trabalhadores deixam seus empregos sem nenhuma razão clara, enquanto outros continuam. Alguns empregadores não pagam seus trabalhadores, enquanto outros empregadores fazem. Na verdade, cada instituição cooperativa contém pessoas que tomam decisões peculiares. Basta olhar para suas próprias vidas, o livre advogado pede. Suas ações são realmente previsíveis? Mesmo se você normalmente escolher sorvete de chocolate, às vezes você escolhe a baunilha em vez disso. Às vezes você prefere um filme de ação, outras vezes uma comédia romântica. Onde está a previsibilidade?
Deterministas têm uma resposta. Mesmo quando as ações de alguém estão fora um pouco, como alguém que deixa o seu trabalho sem razão clara, podemos encontrar algum padrão, se olharmos o suficiente para suas circunstâncias circundantes. Na verdade, se eu ouvir que Sam sai abruptamente do seu emprego, eu assumirei que ele fez isso por uma razão que faz sentido para mim, como conflitos com seu chefe, aumento da carga de trabalho ou má saúde. Antecipando razões como esta, estou assumindo que o comportamento de Sam pode ser plenamente explicado e, se eu soubesse sua história completa, para começar, eu poderia ter previsto que ele iria parar seu trabalho. Mesmo se você ocasionalmente optar por sorvete de baunilha, em vez de chocolate, as pessoas se cansam de comer o mesmo alimento e, naturalmente, ir para alguma variedade. Se eu soubesse qual era o seu limiar para cansar de sorvete de chocolate, eu poderia ser capaz de prever com precisão a sua compra de baunilha. Isso é exatamente o que Acxiom tenta fazer com todas as escolhas dos consumidores. Com informações suficientes sobre a motivação humana em geral e seu contexto socioeconômico em particular, eles vão encontrar o nicho de consumidor preciso que você cair, o que lhes permitirá prever com mais precisão o que você vai comprar.
Cientistas de muitas disciplinas também propõem indicadores de previsão do comportamento humano. Eles nos dizem que há uma base genética para orientação sexual, comportamento violento, timidez, e até mesmo preferência política liberal versus conservadora. Eles nos falam sobre influências sociais que afetam nossa escolha de carreiras, hobbies, preferência alimentar e afiliação religiosa. Mesmo o clima ea geografia têm profundas influências sobre nossas escolhas. Cientistas e organizações estão longe de prever todas as ações que você e eu vamos realizar em um determinado dia. Mas quanto melhor eles conseguem predizer o comportamento das pessoas, mais razoável parece que o comportamento das pessoas é determinado.
Então, devemos aceitar o argumento para o determinismo da previsibilidade? Como o argumento anterior do materialismo, este também parece atraente, mas ainda não é conclusivo. Sim, há uma abundância de evidências científicas e anedóticas de que o comportamento humano é uniformemente previsível, mas essa evidência é incompleta e provavelmente sempre permanecerá incompleta. É um desafio suficiente para prever com precisão o comportamento de animais inferiores que são dirigidos por instintos inflexíveis. Mas, em contraste, nosso comportamento humano é governado muito menos por instinto e surge de um conjunto de condições sociais muito mais complexas. Talvez o demônio de LaPlace possa conhecer todos os fatores relevantes para o comportamento humano e, portanto, prever com precisão o que cada um de nós fará. Mas é improvável que mesmo um exército de cientistas sociais com supercomputadores poderia ser tão bem sucedido quanto o demônio de LaPlace. Novamente, o melhor conselho pode ser ir em frente e aceitar que o comportamento humano é fundamentalmente previsível, mas proceder com cautela.

O CASO DA VONTADE LIVRE GENUÍNA
Voltamos agora para argumentos para o livre arbítrio genuíno, o que, novamente, é que, pelo menos algumas ações, uma pessoa tem a capacidade de ter feito de outra forma. Vamos olhar mais de perto dentro da mente humana para entender precisamente onde esta "capacidade de fazer o contrário" pode ser localizado. Não há dúvida de que pelo menos parte do processo de tomada de decisão humano envolve uma cadeia rígida de conexões causa-efeito. Nossa atividade cerebral é programada com predisposições genéticas, memórias de experiências de vida, e estas combinam-se para nos fornecer uma ampla gama de motivações. Um motivo me leva para o sorvete de chocolate, outro para a baunilha, e ainda outro conjunto de motivos conscientes da saúde me leva para o sorvete de morango. O determinista entende que, à medida que meus vários motivos competem uns com os outros, serei forçado a agir de acordo com o qual cada motivo é o mais forte naquele tempo. Se o meu motivo para selecionar sorvete de chocolate é mais avassalador, que é o que vou selecionar. Não importa quantas vezes as mãos do tempo são invertidas, eu sempre vou selecionar chocolate, uma vez que o desejo de chocolate é o motivo mais forte na minha mente cada vez que o momento da ação se repita.
No entanto, o defensor do livre-arbítrio vê o nosso processo decisório final de forma diferente. Sim, meus vários motivos se acumulam mecanicamente em minha mente, e alguns são mais fortes do que outros. Mas eu sou capaz de pensar cuidadosamente através de meus motivos de concorrência e livremente escolher um sobre os outros, mesmo um dos mais fracos. Em essência, tenho a capacidade de quebrar a cadeia rígida de motivos em minha mente e agir como eu escolher. Mesmo que o meu motivo mais forte no momento é selecionar sorvete de chocolate, eu posso resistir a isso e selecionar a baunilha se eu quiser. Se o tempo reverter e meus motivos se alinharem exatamente da mesma maneira, desta vez eu posso selecionar o morango, mesmo se eu não gosto particularmente desse sabor e é o motivo mais fraco naquele momento. Esse elemento da posição de livre-arbítrio é muitas vezes chamado de "causação do agente". Ou seja, eu (o "agente" que executa a ação) tenho uma habilidade causal especial dentro da minha mente consciente para redirecionar as forças puramente mecânicas dos meus motivos. Examinaremos cinco argumentos comuns em apoio deste ponto de vista.
O Sentimento da Liberdade
O primeiro argumento para o livre arbítrio genuíno é direto: pelo menos às vezes, quando eu executo ações, tenho a sensação de fazer uma escolha genuinamente livre. Ao longo do dia há milhares de pequenas decisões que faço: o que comer, o que vestir, o que ler, com quem falar. Como eu navegar através deste oceano de escolhas, eu normalmente sinto muito no controle do que eu faço. Quando eu decidir pedir sorvete de chocolate em vez de baunilha, parece que a escolha está dentro do meu controle e eu poderia ter feito caso contrário. Às vezes eu mesmo consideraria muito metodicamente os prós e contras de cada opção, e selecione o que eu quero. Com sorvete, eu poderia pesar fatores como o conteúdo de saúde, custo, ou que item vou desfrutar mais. Não só eu avaliarei esses fatores, mas eu sinto como se eu estivesse no controle de quanta prioridade eu dou a cada fator. Às vezes a saúde é mais importante para mim do que o gosto, outras vezes gosto mais do que a saúde. Ao longo deste processo, a última coisa que eu sinto é que eu sou roboticamente programado para selecionar as opções que eu faço. O argumento do sentimento de liberdade, então, é este:
1. Às vezes, quando eu executo ações eu tenho um sentimento de liberdade.
2. Este sentimento de liberdade é o resultado de fazer escolhas genuinamente livres.
3. Portanto, às vezes, quando executo ações, estou fazendo escolhas genuinamente livres.
Por mais convincente que pareça esse argumento, não resolve a questão. Imagine que participei de uma demonstração de hipnotismo e fui selecionado como voluntário. O hipnotizador me coloca debaixo e diz: "Quando você acorda, toda vez que você ouve a palavra 'água' você fica muito sedento e toma uma bebida da fonte de água no salão." Ele estala os dedos, diz a palavra " Água "e fora eu vou. No momento eu penso: "Uau, estou realmente com sede; Acho que vou sair para tomar uma bebida rápida da fonte. "Parece-me que minha escolha é completamente livre, mas não é claramente: o hipnotizador me programou para executar essa tarefa específica.”
O que está acontecendo, de acordo com o determinista, é que eu sou consciente de apenas uma pequena quantidade de meus processos mentais, a maioria dos quais ocorrem em um nível mais profundo do que eu posso conscientemente experiência. O verdadeiro processo de tomada de decisão ocorre abaixo da superfície, e o que conscientemente vivenciamos no nível superior é irrelevante. Uma experiência psicológica recente faz este ponto. As pessoas foram conectadas a máquinas de eletroencefalograma e pediram para realizar ações específicas. As pessoas relataram um desencadeamento consciente de suas ações um quarto de segundo antes das ações ocorridas. No entanto, as máquinas detectaram uma atividade cerebral única um segundo e meio antes da ação. O ponto é que o sentimento consciente ocorre depois que o cérebro já inicia a ação. O cérebro primeiro, inconscientemente, define o curso de ação, somente depois que o sentimento consciente de escolha emerge, e, finalmente, a ação em si ocorre. Em certo sentido, erradamente damos crédito à mente consciente por decisões que o cérebro já fez inconscientemente. As interpretações deste estudo são controversas, e podem aplicar-se somente a decisões espontâneas simples, tais como se escolher o gelado de chocolate um pouco do que a baunilha. Decisões mais complexas que envolvem o planejamento, como escolher qual carro comprar, podem envolver um tipo diferente de mecanismo cognitivo que ainda não é testável para influências determinísticas subjacentes. No entanto, esta experiência pode ajudar a mostrar que, com muitas decisões que tomamos, nossos sentimentos conscientes de ações livremente escolhidas são apenas ilusões.
Responsabilidade moral
Um terceiro argumento para o livre arbítrio genuíno é que a responsabilidade moral exige que nós escolhamos livremente nossas ações. Considere duas situações diferentes em que os assaltantes invadem uma casa e roubam joias. Na primeira situação, um homem chamado Y pensa na ideia, planeja os detalhes e depois a executa. Na segunda situação, um homem chamado X é sequestrado e modifica o cérebro com drogas que alteram a mente para realizar um roubo. Moralmente falando, julgamos a conduta de Y e X de maneira diferente. Y é moralmente responsável por suas ações, porque ele escolheu livremente realizar a ação. X, por outro lado, não é responsável, uma vez que não tinha escolha na matéria: ele foi implantado com um impulso irresistível para levar a cabo o crime. Aqui está o ponto: de acordo com o determinista, nenhuma de nossas ações é livremente escolhida; São todos impulsos irresistíveis como o de X, que não temos controle sobre, nem mesmo a ação de Y. Isso significa que, se o determinismo é verdadeiro, não somos moralmente responsáveis ​​por nenhuma de nossas ações. O fato é, porém, que nós nos mantemos mutuamente responsáveis ​​em muitas situações, o que significa que nós temos livre arbítrio. O argumento específico é este:
1. Se eu sou moralmente responsável por minhas ações, então eu devo ter controle genuinamente livre sobre essas ações.
2. Em muitas situações sou moralmente responsável por minhas ações.
3. Portanto, devo ter controle genuinamente livre sobre essas ações.
O determinista tem uma resposta. A ideia de "responsabilidade moral" é um termo bastante vago e na maioria dos casos o que realmente queremos dizer é que estamos justificados em punir as pessoas por sua conduta. Queremos punir Y por seu ato de roubo, por exemplo, e isso é o que está em questão. Existem várias razões pelas quais podemos querer punir Y, e a maioria delas são perfeitamente compatíveis com o determinismo. Primeiro, podemos querer colocá-lo na prisão para impedir que ele roube outras casas. Não importa se Y é predeterminado para roubar, porque foi criado em um ambiente mau, ou tem o "gene de ladrão" ou por que quer roubar. Ele é um incômodo do qual queremos nos livrar. Podemos também querer colocá-lo na prisão como um meio de reformá-lo. Além disso, colocar Y na cadeia é outra maneira de expressar nossa vingança e raiva do que Y fez. Reconhecemos que X foi vitimado quando foi sequestrado e o cérebro modificado por drogas, e isso nos dará simpatia por ele. Ao invés de jogá-lo na prisão, vamos querer desprogramá-lo através de meios mais suaves.
Dignidade humana
Um quarto argumento é que a ideia de dignidade humana se baseia na capacidade de fazer escolhas livres. O que valeria a vida se todas as minhas ações fossem pré-estabelecidas mecanicamente? Eu não seria diferente de animais que não podem agir além de seus instintos. Pior ainda, eu não seria melhor do que um robô mecânico que é restrito por sua programação. A singularidade da existência humana depende de nossa capacidade de libertar-se das restrições e construir nossos próprios mundos distintivos. O humanista italiano Pico della Mirandola (1463-1494) argumentou que sua dignidade como ser humano consiste precisamente no fato de que "Você pode livremente e honradamente moldar, fazer e esculpir-se em qualquer forma que você preferir. Você pode degenerar nas formas dos animais inferiores, ou subir para cima pela razão de sua alma, para uma natureza superior, que é divina. "A escolha é sua para se tornar o que você quer, e esse elemento de dignidade é produto do livre-arbítrio. Na época contemporânea, Jean Paul Sartre (1905-1980) construiu toda a sua filosofia em torno deste ponto. Seu ali, chamado existencialismo, é a visão de que as pessoas são inteiramente livres e, portanto, responsáveis ​​pelo que elas fazem de si mesmas . A seguir, Sartre explica a ligação inquebrável entre dignidade humana e livre-arbítrio:
Esta teoria (do existencialismo) só é compatível com a dignidade do homem, é a única que não faz do homem um objeto. Todos os tipos de materialismo levam a tratar cada homem, incluindo a si mesmo como um objeto - isto é, como um conjunto de reações pré-determinadas, de modo algum diferente dos padrões de qualidades e fenômenos que constituem uma mesa, uma cadeira ou uma pedra . . . O que está no coração e no centro do existencialismo é o caráter absoluto do livre compromisso, pelo qual cada homem se realiza realizando um tipo de humanidade.[1]
O determinismo materialista, de acordo com Sartre, reduz as pessoas ao nível dos objetos e é incapaz de nos dar a nossa dignidade exclusivamente humana. Em vez disso, nossa dignidade requer a capacidade de agir livremente e assumir a responsabilidade por ela. O argumento da dignidade, então, é este:
1. Se eu agir com dignidade humana, então eu devo ter controle genuinamente livre sobre essas ações.
2. Em muitas situações atuo com dignidade humana.
3. Portanto, devo ter controle genuinamente livre sobre essas ações.
A dignidade humana exige a capacidade de fazer escolhas verdadeiramente livres? De acordo com o determinista, a pergunta mais uma vez repousa sobre um termo especialmente vago, neste caso, o que entendemos por "dignidade" eo que conta como uma vida digna. Suponha que você anotou todas as ações que você fez em um único dia a partir do momento em que você acordou de manhã até que você adormeceu à noite. A lista pode conter mais de 100.000 ações. A grande maioria das suas ações, no entanto, seria o resultado de rotinas que você dominou, e não o produto de escolha única. Temos rotinas matinais, rotinas de trabalho, rotinas de socialização, rotinas educacionais, rotinas de refeição, rotinas de entretenimento e rotinas noturnas. Mesmo o advogado de vontade livre admitiria que muito de nosso comportamento ao longo do dia ocorre quando estamos rodando em piloto automático. Suponha, agora, que você vá uma semana inteira correndo apenas no piloto automático. Durante esse tempo você trabalha duro em seu trabalho, está amando a sua família, e decente para outras pessoas, e ao mesmo tempo agindo de puro hábito. Posso acusá-lo de ser um animal ou robô indigno? Certamente não. Sua conduta durante esse tempo pode até mesmo exemplificar o que entendemos por dignidade humana. Suponha agora que você passou toda a sua vida em piloto automático, sem fazer uma única escolha do tipo que os defensores da liberdade de vontade prezam. Como uma criança você é impresso com rotinas de seus pais, e você carrega aqueles com você através da vida. Mesmo quando você adiciona novas rotinas, você faz isso enquanto estiver no piloto automático, adaptando mecanicamente as rotinas que você já tem. Durante esse tempo, seu comportamento é tão virtuoso quanto possível. Posso acusá-lo de viver uma existência sub-humana? Novamente, certamente não. O ponto é que há mérito suficiente em nossa existência de piloto automático para nos dar dignidade, mesmo se o livre arbítrio não existe.
Transformação Pessoal
Um quinto argumento para o genuíno livre arbítrio decorre da nossa capacidade de transformar radicalmente nossas vidas em situações de crise. Vamos conceder, no momento, que somos fundamentalmente criaturas de hábito. Como William James diz, a grande maioria "de nossa atividade é puramente automática e habitual, desde o nosso nascer da manhã até o nosso encontro de cada noite." Para cada experiência que nos são apresentados, temos uma resposta automática e padrão. Mas, por mais mecânicos que estejamos com nossas reações, não experimentamos, pelo menos ocasionalmente, grandes eventos que desafiam nossa programação habitual e nos obrigam a abrir novos caminhos? Isto é especialmente assim com situações traumáticas de sofrimento e conflito? Nesses casos, nos sentimos desamparados diante das forças esmagadoras fora de nós, e nesse estado de desespero nos libertamos de nossos hábitos comuns e exploramos novas maneiras de olhar para o mundo.
Karl Jaspers (1883-1969) chama essas experiências de transformação de vida de situações fronteiriças , que ele descreve aqui:
Eu devo morrer, eu devo sofrer, eu devo lutar, sou sujeito à possibilidade, eu sou enredado com culpa. Essas situações fundamentais de nossa existência chamamos situações de fronteira. Ou seja, são situações que não podemos alterar ou mudar. . . . Em nossas vidas ordinárias nós os evitamos normalmente fechando nossos olhos e vivendo como se não estivessem lá. Esquecemos que temos que morrer, esquecer nossa culpa e esquecer nossa vulnerabilidade ao acaso. . . . Em situações de fronteira, entretanto, respondemos por encobri-las ou, se realmente as compreendemos, respondemos através do desespero e da recuperação: tornamo-nos transformando nossa consciência de ser.[2]
Para Jaspers, normalmente passamos a vida ignorando nossas vulnerabilidades profundas. Mas em situações de fronteira somos forçados a enfrentá-los e, nesse estado de crise, a liberdade humana nos dá a oportunidade de nos transformarmos. Em suma, sim, vivemos em um mundo mecanicamente determinado, e ainda fazemos parte dele. Mas quando surgem situações que desafiam nossas identidades, nós nos remodelamos através do exercício do livre arbítrio. O argumento para o livre arbítrio das situações de fronteira, então, é este:
1. Se há circunstâncias especiais nas quais podemos transformar dramaticamente além de nossas atividades de vida puramente automáticas e habituais, então, em pelo menos algumas circunstâncias, temos um livre-arbítrio genuinamente livre.
2. Existem tais circunstâncias especiais, tais como situações de fronteira.
3. Portanto, em pelo menos algumas circunstâncias, temos um genuinamente livre-arbítrio.
            Para os defensores do livre arbítrio, como Jaspers, essas estratégias de enfrentamento envolvem genuinamente livre escolha. Mas a psicologia clínica não faz tal suposição e, como outras ciências sociais, assume o determinismo. Nesta visão, as pessoas são máquinas de estímulo-resposta, onde a terapia é o estímulo que resulta em recuperação emocional. Na situação de Joe, ele foi treinado para encontrar novas redes sociais, aprender novas habilidades e evitar lembretes de seu estilo de vida anterior. Exercitar o livre arbítrio não era uma das recomendações de seu terapeuta. A psicologia clínica e seu modelo determinístico podem não ter a história completamente correta. Mas oferece uma explicação plausível alternativa para como as pessoas em situações de crise podem quebrar velhos hábitos e formar novos, sem depender do livre-arbítrio.
Indeterminação
Um sexto argumento para o livre arbítrio genuíno deriva do princípio da indeterminação que foi descoberto pelos físicos no início do século XX. Ao investigar a forma como os elétrons se fecham em torno do núcleo de um átomo, os físicos perceberam que não poderiam determinar com certeza onde um elétron estaria em qualquer momento. Não era porque seu equipamento científico fosse muito primitivo. Pelo contrário, é porque os próprios elétrons são, por natureza, indetermináveis. É como se os elétrons existissem em uma nuvem de potencial em torno de um núcleo, e suas localizações específicas no espaço se tornassem atualizadas somente quando tomamos medidas delas. Um elétron é "indeterminado" no sentido de que, antes de medí-lo, nenhum cálculo de lei causal padrão pode ser pré-formado para designar sua localização exata em um determinado momento. O melhor que podemos fazer é calcular a probabilidade de onde poderia estar nesse ponto no tempo.
"Aha!", Diz o livre-arbítrio, "existem eventos não causados ​​no mundo físico, que não são restringidos por leis naturais precisas. Esta é a base de nossas livres escolhas livres ". O argumento geral da indeterminação, então, é este:
1. Se os elétrons são indetermináveis, então alguns eventos naturais não são determinados no nível micro.
2. Se alguns eventos naturais não são determinados no micro nível, então algumas ações podem ser o resultado do livre arbítrio.
3. Portanto, se os elétrons são intermináveis, então algumas ações podem ser o resultado do livre arbítrio genuíno.
Há duas maneiras pelas quais a indeterminação subatômica pode reforçar a teoria do livre-arbítrio. Primeiro, o princípio da indeterminação reescreve o livro sobre como o mundo físico ao nosso redor opera. Não podemos mais dizer que o mundo é apenas uma gigantesca máquina de causa-efeito com cada elo na cadeia causal obedecendo leis rígidas. Há uma ruptura naquela cadeia no nível subatômico, e isso nos dá a possibilidade de considerar a possibilidade de quebras na cadeia em outros lugares, particularmente com escolhas humanas livres. Em segundo lugar, pode ser que a indeterminação dos próprios elétrons desencadeie uma cadeia de reações bio-químicas em meu corpo que resultam em uma ação livremente escolhida. Por exemplo, quando eu seleciono sorvete de chocolate em vez de baunilha, meus pensamentos e atividade neurológica se baseiam em eventos bioquímicos mais profundos e profundos, que podem, em última instância, rastrear a indeterminação dos elétrons.
Mas o determinista não está convencido. É verdade que o princípio da indeterminação compromete as versões mais extremas do determinismo, já que o determinista não pode mais dizer que todos os eventos no mundo físico têm causas anteriores guiadas por leis naturais padrão. No entanto, o entusiasmo do advogado livre pode ser prematuro por duas razões. Em primeiro lugar, mesmo se as coisas são indetermináveis ​​no nível de partículas subatômicas, o mundo físico ainda é governado por leis naturais rígidas em níveis mais elevados de moléculas químicas e células biológicas. Os químicos têm confiança de que as substâncias com as quais trabalham seguem rigorosas leis químicas. Os bioquímicos têm a mesma confiança de que as células vivas que estudam seguem rigorosas leis biológicas. Nesses níveis mais elevados, a maquinaria causal do mundo está intacta, independentemente do que acontece no nível subatômico. Quaisquer escolhas que façamos como seres humanos, estas se originam em nossos cérebros, que seguem leis químicas e biológicas. A indeterminação dos elétrons não apenas salta para esses níveis mais elevados. É verdade que alguns biólogos sugeriram recentemente que aspectos da biologia animal podem se basear em fenômenos subatômicos. Por exemplo, os piscos de peito vermelho europeus podem ter um detector quântico que lhes permita sentir pequenas variações no campo magnético da terra, que os orienta em seus caminhos migratórios de 2.000 milhas. Mas grande parte disso é especulativa e, no caso do livre-arbítrio, seria necessária evidência clara para mostrar como a indeterminação de elétrons altera a operação química normal de um neurônio no cérebro humano.
Um segundo problema com o argumento da indeterminação é que ele não permite o tipo de escolhas humanas que os defensores da liberdade de vontade necessitam. A indeterminação dos elétrons é uma coisa aleatória, mas as escolhas genuinamente livres não podem ser aleatórias: são ações reflexivas e significativas. Se estou decidindo entre comprar sorvete de chocolate e baunilha e eu aleatoriamente virar uma moeda para decidir, que é uma ação arbitrária, não uma ação livre. Se, de fato, todas as nossas ações fossem indeterminadas da mesma forma que os elétrons, teríamos espasmos e convulsões sem parar, e não ações escolhidas de forma significativa. Em vez de selecionar o sorvete de chocolate ou baunilha, eu começaria tremendo como eu estou tendo uma convulsão. Assim, a indeterminação subatômica não é uma verdadeira ajuda para o livre arbítrio.
A LIBERDADE DE AÇÃO ALTERNATIVA
Até agora, o caso do verdadeiro livre-arbítrio parece bastante fraco. Ao mesmo tempo, porém, é difícil abandonar o conceito de livre escolha, que tão regularmente dependem de nossa vida diária. Acabamos de ver como é um componente importante da doutrina teológica. Parece também estar no centro da responsabilidade pessoal, da criatividade artística, da verdadeira amizade e de muitos outros valores humanos, que implicam a libertação de expectativas sociais restritivas. Podemos simplesmente jogar isso fora e se render à ideia de que somos apenas robôs pré-programados? Mesmo os deterministas reconhecem que as ideias de liberdade estão embutidas em nosso pensamento e que todos usamos a noção de livre escolha na conversa comum.
Talvez a solução seja chegar a uma definição diferente de liberdade que seja mais compatível com o determinismo. Considere a definição do livre arbítrio genuíno com o qual temos trabalhado até agora
• Vontade genuína: pelo menos algumas ações, uma pessoa tem a capacidade de ter feito de outra forma.
Esta é uma posição extrema que nos obriga a desafiar leis conhecidas da natureza quando agir livremente. Ou seja, se eu pudesse reverter as mãos do tempo e agir de forma diferente na segunda vez, teria de me libertar da cadeia causal dos eventos que levaram à minha ação pela primeira vez. Esse é um padrão irrealisticamente alto para definir qualquer teoria. Mas existem noções alternativas de liberdade que são mais modestas e visam encaixar-se perfeitamente no determinismo. Estas são algumas vezes chamadas teorias "compatiblistas", uma vez que tentam conciliar algum conceito de liberdade com o determinismo. Isso contrasta claramente com a teoria rival "incompatiblista" de um "livre arbítrio genuinamente" que estamos examinando, o que está inerentemente em conflito com o determinismo.
Uma abordagem popular compatível entre muitos filósofos é uma concepção mais fraca da liberdade humana conhecida como liberdade de ação :
• Liberdade de Ação: pelo menos algumas ações humanas são causadas por fatores dentro de nós.
De acordo com este conceito, eu desenho um círculo em torno de mim e dizer que se uma ação se origina de causas dentro desse círculo, como meu DNA ou minha atividade cerebral, então essa ação é livre. Em última análise, sou a fonte dessa ação, e não alguma força fora do círculo que está se impondo a mim. A ação é gratuita porque é minha. Quando eu selecionar sorvete de chocolate em vez de baunilha, essa escolha emerge de dentro de mim como eu sou. Esta concepção bastante modesta de liberdade não exige que eu tenha a habilidade mágica de ter feito de outra maneira. Ele também aceita plenamente a teoria do determinismo e é completamente compatível com ela. Mesmo que minhas ações são determinadas, eu ainda posso ter conforto no fato de que o processo de decisão é exclusivamente meu, e é gerado por processos mecânicos psicológicos dentro de mim especificamente.
Ações Livres vs. Não-Livres
O maior desafio para os defensores da liberdade de ação é nos dizer exatamente como nossas ações livres diferem de nossas ações não-livres. Se todas as ações são em última instância causadas por leis da natureza, o que exatamente é o ponto de distinção entre os livres e os não-livres? Há duas explicações comuns oferecidas pelos defensores da liberdade de ação. A primeira é que devemos assumir que a maioria de nossas ações são livres - incluindo aqueles feitos enquanto no piloto automático - desde que eles se originam de dentro de nós. As únicas exceções são restrições que prejudicam seriamente nossas ações normais.
Uma segunda explicação de como ações livres e não-livres diferem foi oferecido pelo filósofo americano Harry Frankfurt (1929). Ele nos pede para distinguir entre dois tipos de desejos que temos. Tomemos, por exemplo, um conflito que muitos enfrentam. Posso ter um forte desejo de sorvete e ir comprar alguns, mas ao mesmo tempo eu posso ressentir o fato de que eu tenho esse desejo e não pode controlá-lo. Na terminologia de Frankfurt, tenho um desejo de "primeira ordem" competindo com um desejo de "segunda ordem":
• Desejo de Primeira Ordem: um desejo básico por uma coisa (desejo de sorvete)
• Desejo de Segunda Ordem: desejo de ter um desejo (desejo de não desejar sorvete)
A teoria de Frankfurt tem a vantagem de nos ajudar a distinguir entre as escolhas livres que os seres humanos fazem, e as não tão livres feitas pelos animais. Alguns animais superiores, como os chimpanzés, podem ter processos de tomada de decisão que se assemelham aos nossos. Ainda assim, gostaríamos de pensar que a escolha humana é qualitativamente melhor do que a escolha de um animal inferior como uma galinha. Os defensores do livre arbítrio genuinamente tinham uma solução simples: os humanos têm "a capacidade de ter feito o contrário", e as galinhas não têm essa capacidade. Mas que solução podem os deterministas oferecer em relação à liberdade de ação? De acordo com Frankfurt, ter desejos de segunda ordem é uma coisa exclusivamente humana.
Eu não sou apenas uma engrenagem na maquinaria maior do universo. Em vez disso, minhas escolhas são o resultado da minha própria história. Não há nada frágil em tudo sobre ligar o conceito de liberdade ao meu sentimento de identidade.
Assim, o sucesso da liberdade de ação alternativa depende de se podemos nos ver de forma significativa como robôs programados, ao mesmo tempo em que temos fortes sentimentos de identidade. O determinista não tem nenhum problema em fazer isso, mas o defensor do livre arbítrio ainda acharia isso problemático.

PRECIÊNCIA E LIVRE ARBÍTRIO DIVINO
A Presciência Divina implica na ideia de previsão de Deus, ou seja, o conhecimento que Deus tem do curso integral dos eventos que são futuros sob o ponto de vista humano. O termo presciência também é usado num sentido de pré-oredenação. Há dois enfoques teológicos referentes à Presciência Divina:
 Presciência Divina Absoluta
Neste enfoque, acredita-se que Deus tem total conhecimento de antemão de toda história (sob o ponto de vista humano) de Sua criação. A Presciência Divina Absoluta divide-se em:
i) Causativa – o pensamento teológico que defende este enfoque afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade divina, eliminando assim o livre-arbítrio humano;
ii) Não-causativa – por outro lado, essa linha teológica afirma que Deus tem o conhecimento de todos os eventos futuros, no entanto sem tirar o livre-arbítrio do ser humano.
 Presciência Divina Relativa
O conceito teológico de Presciência Divina Relativa implica que Deus não conhece todas as coisas absolutamente de antemão.

Divina Providência
Compreende-se como Divina Providência a atuação de Deus em Sua obra. Pode-se afirmar, em outras palavras, que todo o Universo é dirigido pelo Criador através da Providência, tendo assim controle completo sobre todas as coisas. Sejam as leis físicas, como as leis de ação e reação, ou seja o destino das criaturas, como as inter-relações pessoais, tudo está sob o domínio providencial. A Providência pode ser comprovada por diversos textos bíblicos, como por exemplo nos livros sapienciais (Sl 103:19), nos Evangelhos (Jo 5:17) e nas cartas paulinas (Gal 1:15).
3) Graça
A atuação da Providência no aspecto moral do ser humano se dá por meio da graça. Na doutrina cristã, o ser humano estava inicialmente num plano divino (o famoso ―Jardim do Éden‖). Houve então a queda do ser humano desse plano divino e, consecutivamente, o afastamento do seu Criador. Com isso, o ser humano entregou-se ao pecado, deixando-se dominar pelo vício e pelos desejos exacerbados. Sendo assim, a graça é um auxílio divino, ou seja, uma medida da Providência pela qual Deus redireciona o homem ao seu plano original, pois sem a graça o ser humano não tem forças próprias para esse retorno.
4) Predestinação
Subentende-se como predestinado algo que está anteriormente determinado ao evento em si. Na teologia, um predestinado implica em alguém que já está salvo anteriormente ao seu nascimento. Conforme ver-se-á mais adiante, estar predestinado não implica em já nascer com a graça, mas já nascer preparado para receber a graça.
A doutrina da predestinação é sustentada pela célebre passagem paulina:
Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Rom 8:29 e 30.
A maneira como Deus predestina é compreendida sob duas óticas:
 Predestinação pela Presciência Divina
Nessa ótica, Deus predestina àqueles que, através de Sua Presciência, sabe da antemão que serão pessoas piedosas, que corresponderão ao Seu chamado. Com isso, Deus já os deixa salvos antes mesmo de nascerem.
 Predestinação por eleição
Como já diz o enunciado, nessa ótica Deus elege, ou seja, escolhe certas pessoas para serem salvas de antemão. Não há um consenso, ou ainda, não é sabido qual o critério divino para tal escolha. Obviamente, dessas duas óticas decorrem acirradas discussões teológicas, principalmente quando pensadas em função do livre-arbítrio.
 Livre-arbítrio
Por outro lado, existe a questão da liberdade e do livre-arbítrio. Estes conceitos foram amplamente desenvolvidos por filósofos e teólogos ao decorrer da história. Por conta disso, é uma difícil missão explicá-los sucintamente de uma forma geral, haja visto que, de forma exagerada, cada pensador os vê conforme seu gosto. No entanto, esforçar-se-á para defini-los em geral, entende-se que liberdade e livre-arbítrio são conceitos distintos. A liberdade é um conceito amplo que, explicando de forma mais do que resumida, implica um movimento (seja físico ou inteligível) sem nenhuma restrição; ao passo que o livre-arbítrio é um conceito mais restrito que implica a escolha entre bem ou mal, o correto ou o incorreto.



[1] Sartre, J.-P. (2004). O existencialismo é um humanismo. Lisboa: Bertrand Editora.
[2] Barata, A. (2012). Ética Teoria e Prática: A (In)Compatibilidade entre Liberdade e Determinismo. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.