BIBLIOLOGIA E SEUS DESAFIOS
Thomas Hobbes e
Baruch Spinoza figuram, entre os pensadores modernos, como os responsáveis por
lançar as bases do que entendemos como o método histórico-crítico de
interpretação das escrituras bíblicas. Levando a cabo a tarefa de tornar a vida
neste mundo a única que importa, primeiro reivindicada por pensadores
renascentistas, como Maquiavel, Hobbes, com sua tentativa de tornar o soberano
do Estado o intérprete último das escrituras, e Spinoza, com seu articulado
método interpretativo, fizeram com que o entendimento dos textos ditos sagrados
fosse alterado de maneira até então nunca vista, criando um marco para toda a
modernidade.
Spinoza,
aprimorando uma tarefa empreendida, primeiro por alguns pensadores
renascentistas, depois por Hobbes, estabelece as bases para o método de crítica
das escrituras moderno, se pautando essencialmente pelo estudo histórico dos
textos, excluindo por completo quaisquer vestígios do aparato teológico
anteriormente utilizado na leitura da Bíblia, e reivindicando contundentemente que
ela fosse lida e interpretada apenas como um livro comum, livre de quaisquer
apelos sobrenaturais e à superstição, e como essas inovações contribuíram para
ampliar o panorama intelectual, tanto de um ponto de vista teológico, como
também filosófico.
A Reforma fez
com que se desenvolvesse, no Ocidente, uma considerável desconfiança com as
interpretações alegóricas das escrituras. No mundo cristão, grandes
intérpretes, tais como Gregório e Tomás de Aquino, forneceram as bases para a
interpretação das escrituras, e sempre houve alguma precaução no uso de
leituras alegóricas. Os reformados protestantes, no entanto, sempre se
mostraram desconfortáveis com as liberdades desse tipo de interpretação e,
ainda que tenham tentado ler a Bíblia de uma forma mais literal que alegórica,
o foco ainda permanecia no seu caráter teológico. Não tardou para que essa
forma de interpretação literal provesse as bases teológicas para teorias
políticas em oposição a uma igreja transnacional. Tal posicionamento enseja a
compreensão moderna da religião.
Com os teóricos
políticos, o foco muda do teológico para o histórico. Enquanto é possível
argumentar que Hobbes e Spinoza também expressaram preocupações teológicas,
seus argumentos no que concerne à Bíblia não expressam tais preocupações, mas
dizem respeito ao controle dos corpos, muito mais do que das almas, das pessoas
por parte do Estado, então relegado ao reino do privado, graças, em larga
medida, aos reformadores protestantes. O foco da interpretação bíblica se
distancia das primordiais preocupações com o natural e o sobrenatural e se
volta ao natural e ao histórico apenas. Hobbes e, especialmente, Spinoza
avançaram muito além de seus predecessores, e é possível perceber em suas obras
as bases do que passamos a entender como o método histórico-crítico da
interpretação bíblica.
De fato, tanto
Hobbes quanto Spinoza passam a focar no plano de fundo histórico da Bíblia com
uma força jamais vista antes, e ainda que ambos descem margens para leituras
teológicas das escrituras, as próprias bases de suas metodologias já indicavam
que uma leitura teológica da Bíblia seria virtualmente impossível. Em seu
Leviatã, Hobbes argumenta que uma interpretação bíblica precisaria
necessariamente seguir os ditames da razão, que são opostos aos da teologia.
Ao final, no
entanto, Hobbes argumenta, com base na própria Bíblia, que o poder temporal de
cada estado seria responsável pela religião dentro de seu próprio reino. Sem o
estado Leviatã, impomos uma ameaça mortal uns aos outros, como sugerido por sua
afirmação de que “durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum,
poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela
condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra
todos os homens”. Assim sendo, apenas o estado controlador, ou seus oficiais
apontados, estaria apto a prover interpretações oficias da Bíblia. A
importância de Hobbes para o método histórico-crítico de interpretação bíblica
está na maneira em que a lê, já que não apenas nega o papel do sobrenatural na
autoria dos textos, como também ignora as menções ao sobrenatural nos textos.
Nas passagens que fazem referência ao “Espírito Divino”, Hobbes interpreta o
Espírito de maneira naturalizada, tal como o vento, ou como as faculdades do entendimento
e, da mesma maneira, conceitos como paraíso e inferno são tratados como
meramente temporais. Essa característica de sua abordagem foi crucialmente
importante, pois sua perspectiva política repousava largamente no medo da morte
e, para o cidadão, nada é mais ameaçador que a morte física. Assim sendo, o
estado governador que possui o poder de executar e perdoar seria a fonte última
de autoridade e, nesse sentido, os ensinamentos escatológicos eram uma ameaça à
autoridade do estado porque a jurisdição do estado não estendia ao que viesse
após a morte. “É impossível que um bem-comum subsista onde outro que não o
soberano tenha o poder de dar melhores recompensas que a vida e infligir
punições piores que a morte”. A única forma de garantir o maior controle do
estado sobre a vida das pessoas na Terra, para Hobbes, foi argumentar que nada
tinha relevância além da vida na Terra.
A leitura
naturalista e histórica da Bíblia por Hobbes necessitava do entendimento das
escrituras como um texto similar a outros textos históricos e, mesmo
reconhecendo a importância da Bíblia como uma autoridade para os cristãos, sua
aproximação metodológica da leitura do texto representa um caminho
fundamentalmente diferente de abordagem das escrituras do que havia até então.
Hobbes argumentava se utilizar da ciência e da razão em seu exame da Bíblia,
ainda que todo o seu trabalho exegético acabasse apenas por legitimar suas
opiniões políticas já existentes, especialmente a convicção de que o soberano
do Estado tinha poder absoluto sobre seus cidadãos. Ao aplicar a interpretação
bíblica dessa forma, Hobbes estendeu o conceito da Bíblia como um livro a ser
examinado como um artefato histórico, mas a compreensão mais evidente de seu
trabalho exegético é a de que este era motivado por sua política, que visava,
em último caso, garantir a autoridade do Estado.
Spinoza, por sua
vez, perpassou os resultados alcançados por Hobbes em sua nova abordagem da
crítica bíblica ao articular uma detalhada metodologia de interpretação bíblica
que, se por um lado, estava de acordo com os princípios da filosofia
racionalista em voga, por outro, se sobressai ao colocar em questão não apenas
a autoridade eclesiástica, como também a política. No que dizia respeito a
Bíblia, o foco dado à historicidade do texto por Spinoza ultrapassa o dado por
Hobbes. De fato, Spinoza julgava que nada poderia ser feito com os textos
bíblicos até que sua história completa fosse descoberta. “Spinoza e seus
seguidores multiplicaram as questões sobre a história física do texto, até ao
ponto em que a tarefa tradicional da teologia não pudesse jamais sair de seu
início”.
Assim como
Hobbes, Spinoza também removeu os elementos sobrenaturais da Bíblia e, para
ele, Deus não pode existir fora da natureza. Mais que isso, os profetas do Antigo
Testamento não eram inspirados por Deus em nenhum sentido tradicional, e apenas
possuíam uma imaginação muito vívida.
.
DEVIDO ESTAS
CRÍTICAS DEVEMOS RESPONDER AS SEGUINTES QUESTÕES.
Não se trata
apenas de uma questão de interpretação?
Os manuscritos
bíblicos são confiáveis?
É possível
conhecer a verdade?
Levantada as
questões cabe a todos nós buscar uma resposta que venha definir que
posicionamento devemos assumir diante das Escrituras, seja o posicionamento
reformador, ou permanecer no pressuposto liberal.
Não se trata apenas de uma questão de interpretação?
Pelo menos
possuímos três escolas principais de hermenêutica bíblica, a necessidade da
hermenêutica para a Bíblia será a de nos dar a importância de seus textos, sua
relevância histórica e de sua mensagem para a humanidade através da história,
pois como você ler a Bíblia, assim será ela para voçê. Comecemos com a
primeiro.
Método Histórico Crítico: Quem melhor desenvolveu esta temática no
momento é o Reverendo da Prebiteriana, e Chanceler da Mackenzie por muitos
anos, em seu artigo O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO
BÍBLICA, nos deteremos com os seguintes tópicos da parte que se intitula AS
CRÍTICAS NASCIDAS DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO e seus tópicos:
1) Crítica das
Fontes[1]
A crítica das
fontes dedicou-se ao estudo dos diferentes componentes do texto bíblico, que
uma vez teriam existido isoladamente e foram posteriormente agrupados num único
texto. Ela pressupõe que os textos bíblicos são compostos e que esses
componentes se originaram de períodos históricos distintos e refletem
diferentes teologias. Como na antiguidade os autores não se preocupavam com a
questão de direitos autorais, e nem em indicar a fonte de onde copiaram
material, simplesmente aglutinaram diversas fontes escritas ao seu dispor para
formar o texto completo que temos hoje no cânon formal. Assim sendo, a tarefa
da crítica das fontes é identificar esses documentos, estudar em separado a
teologia dos mesmos no contexto histórico em que foram produzidos e depois
avaliar o sentido do texto completo à luz dos resultados. Assim encontraremos a
Palavra de Deus dentro das Escrituras. O método consiste em buscar,
primeiramente, as anomalias e irregularidades textuais, como inconsistências de
assuntos, repetição de histórias, digressões e diferenças em vocabulário e
estilo. Estas coisas apontariam para diferentes fontes documentais. Em seguida,
estudam-se as anomalias quanto aos temas e procura-se identificar em que
período da história de Israel ou da Igreja cristã o texto foi produzido.
No Antigo
Testamento, a chamada crítica das fontes tem a sua origem no comentário de
Gênesis (1753) de Jean Astruc, um médico francês, onde ele defende que Moisés
teria usado duas fontes diferentes para escrever Gênesis, uma que se refere a
Deus como Elohim e outra que se refere a Deus como Yahweh. Essa teoria foi
desenvolvida por Johnn Eichhorn em 1780, que a estendeu a todo o Pentateuco e
rejeitou a autoria mosaica. Em 1805, Wilhelm De Wette defendeu que nenhuma das
partes que compõem o Pentateuco foi escrita antes de Davi. Ele também defendeu
a existência do documento D, escrito como propaganda ideológica na época do rei
Josias. Hermann Hupfeld completou a teoria com o quarto documento, P, em 1853.
Julius Wellhausen foi quem melhor elaborou esta hipótese, que veio a ser chamada
de “hipótese documentária”.
No Novo
Testamento, a crítica das fontes concentrou-se nos Evangelhos Sinóticos. Seu
objetivo era descobrir as fontes literárias usadas na composição de cada
Evangelho, bem como estabelecer a dependência literária entre eles. A teoria
das duas fontes, defendida inicialmente por C. H. Weisse (1838) para resolver o
problema sinótico, teoria que ainda é utilizada pela maioria dos estudiosos
bíblico da atualidade. Em ambas as hipóteses da teoria, o Evangelho de Marcos
foi o primeiro evangelho a ser escrito e foi uma das duas fontes para o
Evangelho de Mateus e o Evangelho de Lucas, a outra fonte seria o documento Q,
uma coleção perdida de ensinos de Jesus.
e P. Wernle (1899), tornou-se dominante. Atualmente Eta Linnemann
condena esta proposta
2) Crítica da
Forma
Esta metodologia
tem o mesmo alvo da anterior, que é separar o cerne da casca, alvo muito bem
expresso por Bultmann em seu programa de desmitologização do Novo Testamento.
Podemos dizer que a crítica da forma, no Novo Testamento, tem seu ponto de
partida no desejo de descobrir a Palavra de Deus dentro das Escrituras usando o
critério da antiguidade das formas, como declarou Werner Kümmel, considerado um
crítico moderado:
Quanto mais um
texto aponta para a revelação histórica de Cristo e quanto mais ele foi
alterado por pensamentos exteriores ao cristianismo ou através do cristianismo
posterior, mais seguramente ele pode ser considerado como parte do cânon
normativo.
O objetivo da
crítica da forma é descobrir as formas originais dos textos bíblicos, ainda em
sua fase oral de transmissão, antes de serem submetidos à escrita, como
aparecem no cânon formal. É ainda identificar as alterações feitas, nesta fase,
pelas comunidades que receberam essas tradições, e que posteriormente os
editaram e publicaram. Conforme o critério de Kümmel, esses textos, por serem,
em sua forma final, produtos da Gemeindetheologie (teologia da comunidade), são
secundários e não fazem parte do cânon normativo.
3) Crítica da
Redação
A crítica da
redação nasceu na esteira da crítica das fontes e da crítica da forma. Enquanto
a crítica das fontes se preocupou em identificar e reconstruir as fontes
literárias (documentos) que foram usadas originalmente para a composição do
texto bíblico, e a crítica da forma com o processo de transmissão oral pelo
qual estes documentos e a tradição oral passaram, a crítica da redação
preocupa-se com os redatores, aqueles que se utilizaram destas fontes orais ou
escritas e lhes deram a forma final.
O critério usado
por essa ferramenta crítica para separar a verdade do erro no cânon formal é
descobrir os materiais originais, para, em seguida, expurgá-los das alterações
feitas pelos redatores, quando editaram os textos sagrados na forma em que se
encontram no cânon formal. De acordo com as críticas das fontes e da forma, boa
parte dos livros que compõem o Velho e o Novo Testamentos são, em sua forma
final, o resultado de um processo de coleção, edição e harmonização de
tradições antigas, de fontes anteriores que refletiam a teologia das
comunidades através de editores e escribas. O redator não foi um mero
transmissor; ele foi um autor com seus próprios pontos de vista e situação
social e religiosa; ele amoldou o seu material de acordo com esses fatores. A
tarefa da crítica da redação passou a ser descobrir a “teologia” desses
redatores e os princípios teológicos que controlaram a sua redação das fontes e
das tradições, alcançando a forma final que hoje temos.
Foi Gerhard von
Rad, no seu comentário de Gênesis, quem defendeu de forma mais influente a
abordagem do Velho Testamento do ponto de vista da teologia dos redatores que o
formaram. Nesta obra, von Rad procura sempre ir além da mera reconstrução dos
estágios iniciais no processo de formação dos textos bíblicos, e escutar o
redator, perguntando de que maneira ele intentou que lêssemos o texto final, e
o que estava tentando nos dizer.
Perspectiva Pós-Moderna[2]:
As
palavras estranhamente proféticas do filósofo Friederich Nietzsche: “Não
podemos nos livrar de Deus enquanto não nos livrarmos da gramática”. Esta idéia foi repetida posteriormente pelo
ateu Bertrand Russell: “A linguagem atual incorpora a metafísica da Idade da
Pedra”. O desejo de libertar o ser humano da opressão de um Deus está fortemente
relacionada à questão da linguagem e seu significado.
Às vezes, a
abordagem daqueles que procuram questionar a possibilidade de um significado definitivo
na linguagem parece mais um jogo esquisito. O filósofo Ludwig Wittgenstein
(1889- 1951) teve grande influência nessa área. Ele afirmou que cada função da
linguagem ocorre dentro de um sistema separado e aparentemente fechado, com
suas próprias regras. Isso significa que qualquer função da linguagem seria
semelhante a um jogo. É necessário conhecer as regras do jogo e ter bom senso
em relação ao significado dos termos para usar a linguagem. Cada uso da
linguagem constitui um “jogo de linguagem” separado, e alguns jogos têm muito
pouco a ver entre sí.
Quando aplicado
à Bíblia, isso significa que o contexto do leitor é que determina a
interpretação do texto. Seria impossível estabelecer um significado único, que
fosse aceito por diferentes culturas, línguas, situações ou “jogos”.
O poder da
narrativa épica (ou “metanarrativa”) ao unir os seres humanos do mundo inteiro,
integrando-se às histórias de cada lugar, está em decadência. Muitos a comparam
a um ditador restringindo a liberdade das pessoas. O pensador Jean-François
Lyotard argumenta que a visão pós-moderna requer que se faça uma “guerra contra
o totalitarismo”.
Foucault continua
argumentando que existe uma interação essencial entre conhecimento e poder.
Lembrando a expressão de Nietzsche, “o desejo de poder”, Foucault chama a
procura da verdade de um “desejo de conhecimento” que estabelece sua própria
“verdade” arbitrariamente. Isto sugere que ao lermos a Bíblia, devemos
suspeitar dos escritores, pois eles estão exercendo poder sobre nós, e
suspeitar mais ainda de qualquer pessoa que tente nos ajudar a interpretar a
Bíblia. Qualquer tentativa de pregar ou explicar a Bíblia não passa de uma tentativa
desastrosa de obter poder sobre outra pessoa.
Método Histórico Gramatical: Foi o método
estabelecido pelo reformadores, após anos de leitura da Bíblia de forma
alegórica, e que é muito defendida pela perspectiva cristã reformada.
Os manuscritos bíblicos são confiáveis?
Existem cerca de
5000 manuscritos da Bíblia, alguns de 80 dc. Já entre as cópias dos antigos
filósofos gregos, o manuscrito mais antigo é o de Aristóteles de cerca de 1300
dc, existindo somente 4 copias. Muitos cristãos não sabem, mas o texto bíblico
do Antigo Testamento que usamos, hoje, é mais preciso do que os textos antigos
de obras clássicas, como a Ilíada, de Homero, ou os trabalhos de Aristóteles,
Platão, etc. Como podemos saber se isso é verdade? Como saber que o Antigo
Testamente que utilizamos é o mesmo citado por Jesus, quando Ele andou na
terra?
A preservação do
conteúdo da Bíblia, ao longo dos séculos, é a maior evidência externa da sua
autenticidade, conquanto a nossa cultura dê grande valor ao que é considerado
original.
POR QUE NÃO
EXISTEM ESCRITURAS ORIGINAIS?
Porque materiais
perecíveis, como o papiro, se deterioram rapidamente sob condições úmidas. E só
foram preservados em raras circunstâncias, quando os manuscritos foram
cuidadosamente guardados em climas extremamente áridos.
Levando-se em
conta o número de guerras de Israel, é um milagre que o conteúdo original tenha
sido preservado. Nas destruições do Templo — em 586 a.C. e em 70 d.C. —, os
sacerdotes que fugiram tiveram a preocupação em preservar o conteúdo dos
livros. E, por isso, levavam consigo, sempre, as cópias mais novas, em melhor
estado.
O ANTIGO
TESTAMENTO É AUTÊNTICO?
Bem, está claro,
para os eruditos, que o Senhor Jesus, os apóstolos e os judeus do século I
usaram a Septuaginta, tradução feita em 250 a.C. por cerca de 70 eruditos
hebreus. E o Mestre nunca apontou qualquer erro nessa versão. Se houvesse algum
problema de falta de precisão, o Senhor teria apontado. Isso é, sem dúvida, uma
confirmação de que a Septuaginta era — e é — confiável, atestada pelo Verbo de
Deus.
Em 1947, um
tesouro de manuscritos do Antigo Testamento foi descoberto em uma caverna por
pastores beduínos do lado ocidental do Mar Morto, em Israel. Nas décadas
seguintes, mais de duas centenas de textos foram encontrados em outras onze
cavernas — obras completas, em bom estado. Mas o que mais chamou a atenção dos
eruditos foi um livro do profeta Isaías perfeitamente preservado.
Antes das
aludidas descobertas, o mais antigo texto do Antigo Testamento era o
massorético — feito pelos massoretas, da escola dos escribas de Massorá —,
datado do século X d.C., de onde vieram a maioria das traduções
veterotestamentárias. Durante muitos anos, os críticos da autenticidade da
Bíblia reclamaram que a data do texto massorético era muito recente, em relação
aos manuscritos originais. Hoje, depois da descoberta de 1947, eles se calaram
(apenas resmungam), visto que alguns textos descobertos, especialmente o livro
de Isaías, datam de 225 a.C. Ou seja, são documentos mais de mil anos
anteriores aos textos massoréticos!
Quando o livro
de Isaías, encontrado nas cavernas, foi comparado com versões atuais, feitas a
partir do texto massorético, descobriu-se que o seu conteúdo era quase idêntico
— havia apenas pequeníssimas diferenças ortográficas, gramaticais e de
caligrafia, as quais não afetavam em nada o sentido original. Em resumo, o
Antigo Testamento que usamos hoje tem o apoio de manuscritos mais fortes do que
qualquer outra obra da história clássica, incluindo Homero, Platão, Aristóteles,
César e Tácito.
E O NOVO
TESTAMENTO, É AUTÊNTICO?
Há motivos para
glorificarmos a Deus ainda mais quanto ao Novo Testamento, pois, de toda a
literatura antiga, o texto neotestamentário é o documento mais bem autenticado.
Por quê? Porque há mais manuscritos do Novo Testamento, isto é, mais cópias
próximas e confiáveis dos manuscritos originais (autógrafos) do que qualquer
outra obra escrita nos tempos antigos.
O número de
cópias existentes do Novo Testamento em todo o mundo, em museus, bibliotecas ou
em poder de colecionadores? Mais de 5.700! Por extenso: mais de cinco mil e
setecentas cópias do Antigo Testamento. Há diferenças nessas cópias? Claro que
há, são irrelevantes.
As cópias do
Novo Testamento em seus manuscritos originais (que não existem mais,
evidentemente) datam de 50-95 d.C., cópia mais antiga existente dos textos neotestamentários vem do ano 125 d.C. Em outras palavras, o
espaço entre o original e a cópia mais antiga é de apenas 30 a 75 anos. Diante
do exposto, não nos enganemos nem deixemos de ter compromisso com a Palavra de
Deus e com o Deus da Palavra.
É possível conhecer a verdade?
"Existe
algo como a verdade absoluta/verdade universal?"[3]
Resposta: Para
entender se existe algo como verdade absoluta/verdade universal, vamos primeiro
definir o que é a verdade. A verdade é definida pelo dicionário como
“conformidade a um fato ou realidade; uma declaração provada como ou aceita
como verdadeira; realidade”. Algumas pessoas diriam hoje em dia que não há uma
verdadeira realidade, apenas percepções e opiniões. Por outro lado, outros
argumentariam que deve haver uma realidade ou verdade absoluta. Portanto, ao
considerarmos a questão quanto a haver ou não algo como a verdade absoluta, nós
vemos dois pontos de vista exatamente opostos.
Um ponto de
vista diz que não existem absolutos que definam a realidade. Aqueles que têm
tal posição acreditam que tudo é relativo, e que, portanto não há uma realidade
verdadeira. Por causa disso, não há nenhuma autoridade para decidir se uma ação
é positiva ou negativa, certa ou errada. Este ponto de vista é simplesmente a
“ética situacional” na sua forma mais ampla. Não há certo ou errado, portanto o
que quer que pareça certo em certo momento, certo será. É claro que este tipo
de “ética situacional” leva a uma mentalidade e um estilo de vida do tipo “vamos
fazer tudo o que parece bom”, que tem um efeito devastador na sociedade e nos
indivíduos.
O outro ponto de
vista acredita que existem realidades absolutas ou padrões que definem o que é
verdadeiro e o que não é. Portanto, ações podem ser julgadas certas ou erradas
de acordo com a sua medida em relação a esses padrões absolutos. Você pode
imaginar o caos que seria se não houvesse absolutos, se não houvesse realidade?
Tome a lei da gravidade como exemplo. Se ela não fosse um absoluto, em um
momento você daria um passo para frente e poderia acabar a muitos quilômetros
do chão, e no instante seguinte você talvez não conseguisse mover o seu corpo
de jeito nenhum. Ou pense na confusão que seria se os números não mais tivessem
valores absolutos. Por exemplo, 2 +2 não seria mais igual a 4. Se não houvesse
verdades absolutas, o mundo estaria em caos. Não haveria leis da ciência, leis
da física, tudo seria sem sentido e não existiriam padrões de medida, nem certo
e errado. Que confusão isso seria, mas ainda bem que a verdade absoluta existe,
e ela pode ser encontrada e entendida.
O próprio
pensamento de alguém alegar que não existe verdade absoluta é totalmente
ilógico. Mesmo assim, diversas pessoas hoje em dia estão abraçando um
relativismo cultural que no seu cerne nega qualquer tipo de verdade absoluta.
Uma boa pergunta para as pessoas que dizem “não existe verdade absoluta” é:
“Você está absolutamente certo disso?” É totalmente ilógico fazer tal alegação,
pois é uma alegação absoluta que em si própria nega qualquer absoluto. Ela
está, em essência, dizendo que o próprio fato de não haver verdade absoluta é a
única verdade absoluta.
Há diversos
problemas lógicos que se deve superar para aceitar ou acreditar que não existem
verdades absolutas/verdades universais. O primeiro problema é o da
autocontradição. Isto pode ser visto na questão exposta acima e no fato de que
aqueles que insistem que não existem absolutos estão na verdade acreditando em
um absoluto. Eles estão absolutamente certos de que não existe nada absoluto.
Este tipo de filosofia é tanto autoderrotista quanto autocontraditória. A
afirmação de que não existem absolutos está em si própria contradizendo o que
eles dizem acreditar!
O segundo
problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que
todos os seres humanos possuem conhecimento limitado. Como seres humanos com
uma mente limitada e finita, nós não podemos logicamente fazer declarações
negativas absolutas. Por exemplo, uma pessoa não pode dizer logicamente “Não há
Deus” (apesar de muitos o fazerem), porque para dizer isso ela deveria ter
conhecimento absoluto sobre o universo inteiro do início ao fim. Quando as
pessoas dizem não haver Deus ou não haver verdade absoluta (o que em essência é
realmente a mesma coisa), o máximo que elas podem dizer racional e logicamente
é “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista um
Deus”, ou “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista
qualquer coisa que seja absolutamente verdadeira”.
O terceiro
problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que
ela falha ao se associar com o que nós sabemos ser verdadeiro nas nossas
próprias consciências, nossas próprias experiências, e com o que nós vemos no
“mundo real”. Se não existe tal coisa como a verdade absoluta, então não existe
nada certo ou errado sobre qualquer coisa. O que pode ser “certo para você”
pode não ser “certo para mim”. Apesar de superficialmente esse tipo de
relativismo parecer muito apelativo, se ele for levado à sua conclusão lógica,
ele logo se prova desastroso. Considere apenas por um momento se realmente não
houvesse verdade absoluta e se tudo fosse realmente relativo (sem padrões de
qualquer tipo). Em essência, o que aconteceria é que todo mundo estabeleceria
as suas próprias regras segundo as quais viver e faria o que achasse certo.
Isso causa problemas, pois o conceito de certo de uma pessoa logo entraria em
conflito com o de outra. Por exemplo, e se fosse “certo para mim” ignorar os
semáforos no trânsito, mesmo quando eles estão vermelhos? Dessa forma eu
estaria pondo a vida de outros em risco. Ou então, eu poderia pensar que é
certo roubar de você, mas você pensaria que não é certo. Da mesma forma, uma
pessoa poderia decidir que matar outras pessoas é certo e portanto ela poderia
tentar matar todo mundo que estivesse à vista.
Se não existem
padrões absolutos, verdades absolutas e se todas as coisas fossem relativas,
então matar todo mundo é tão certo quanto não matar ninguém. Roubar é tão certo
quanto não roubar. Crueldade é igual à não-crueldade. Note a que resultados
desastrosos a negação da verdade absoluta pode levar. Afinal, se não existe
algo como a verdade absoluta, então ninguém pode dizer “você deveria fazer
isso” ou “você não deveria fazer aquilo”. As pessoas seriam livres para fazer o
que quisessem – assassinar, estuprar, mentir, trapacear, etc. e ninguém poderia
dizer que tais coisas são erradas. Não haveria governo, nem leis, nem justiça,
porque ninguém poderia dizer que a maioria das pessoas tem o direito de definir
e impor padrões sobre a minoria. Um mundo sem absolutos seria o mais horrível
mundo imaginável.
Hoje em dia nós
frequentemente ouvimos frases como “isso pode ser verdade para você, mas não é
verdade para mim”. Para aqueles que acreditam que não exista uma verdade
absoluta, a verdade é vista como nada mais do que uma preferência ou percepção
pessoal e que, portanto, não pode se estender além dos limites pessoais. Por
causa disso, não existem respostas finais para o sentido da vida e não poderia
haver esperança de qualquer tipo de vida após a morte. Esse tipo de relativismo
resulta em confusão religiosa porque não pode haver religião verdadeira, nem um
único caminho para se ter um relacionamento correto com Deus. Todas as
religiões seriam, portanto, falsas, porque todas elas afirmam ensinar ou
acreditar em algum tipo de vida após a morte, algum tipo de verdade absoluta.
A Bíbia foi Inspirada Por Deus ?
Nome polêmico na
Teologia, apesar de ter sido um dos teólogos mais influentes da atualidade,
Karl Barth (1886-1968), tratando da inspiração bíblica desenvolveu um conceito
um tanto delicado sobre o assunto. Para resumir a sua visão sobre a inspiração
bíblica, Barth fez uma distinção entre “inspiração verbal” e “inspiração
literal”. A partir deste pressuposto, a Palavra e as ações de Deus nunca podem
ser identificadas com palavras humanas ou eventos históricos registrados na
Bíblia, mas devem ser transcendentais. A inspiração verbal seria teologicamente
irrenunciável, na medida em que a Escritura testemunha a Cristo, o “verbo”
divino. A inspiração literal, no entanto, deveria ser rejeitada como tentativa
de dar uma garantia miraculosa para o testemunho da Escritura... A Palavra
pregada e escrita (a única que ultrapassa o abismo entre Deus e o homem) nada
mais faz além do que apontar para a verdadeira revelação divina, a saber, a
palavra de Deus em seu sentido absoluto e transcendental... Barth afirmou que
reconhecer a autoridade da Escritura é uma questão de confissão, porque “se não
estamos para desistir de nossa fé temos que crer no milagre da graça” (CD, I/2,
p. 598)... A autoridade da Escritura não é uma possessão em si mesma, nem mesmo
uma dádiva outorgada pelo próprio Deus. A Escritura tem autoridade porque o
próprio Deus a toma e fala através dela... A palavra de Deus nos confronta na
Escritura Sagrada, mas a Escritura não é, no sentido verdadeiro, palavra de
Deus – é apenas testemunho dela e aponta para a eterna Palavra de Deus.
Se tal visão
Bartiniana sobre a inspiração da Bíblia fosse aceita por TODO seguimento
evangélico, piores conseqüências teria o Cristianismo, haja vista o mal que já
tem sido notado, como por exemplo:
1) o testemunho
cristão colocado em risco, comprometendo a apologética;
2) a fé cristã
igualada a mero esoterismo para aqueles que ainda não tiveram um experiência de
conversão (obs: conversão ao Senhor Jesus e não a um seguimento cristão
denominacional);
3) a ênfase ao
encontro subjetivo caracterizado pela frase “quando nos subjugar!” da faceta
existencial do seu defeituoso conceito de inspiração.
Há na Bíblia
três fatos sobrenaturais que resultam, todos três, da influência e atividade
divina. Ensino da vontade de Deus, registro do que Deus determinou do que se
conservasse escrito; e aplicação daquilo que está registrado à vida religiosa[4].
O ensino
chama-se revelação. O registro chama-se inspiração. A aplicação chama-se iluminação.
Quem ensinou o
que se acha na Bíblia e que o homem, por si, não poderia descobrir? — Deus.
Quem fez
escrever tudo quanto se acha na Bíblia, mesmo que não sejam revelações de Deus,
mas verdades descobertas pelos homens, dados de outras fontes, ou ainda que seja
ações e palavras pecaminosas?— Deus.
Quem aplica o
ensino das Escrituras? — Deus.
Os três fatos
são sobrenaturais.
A Bíblia é a Palavra
de Deus por três motivos.
“Primeiro porque
nela se acha o que Deus revelou. Neste sentido é verdadeira a frase: A Bíblia
contém a Palavra de Deus, isto é, contém a revelação de Deus.”
“Segundo, porque
foi Deus quem a fez escrever. Neste sentido é que se diz que toda a Bíblia é a
Palavra de Deus."
“Terceiro,
porque é Deus quem nos fala por ela, é por ela que Deus nos fala, e só Deus nos
pode falar adequadamente por ela, aplicando-a às necessidades de cada coração.
Neste sentido é verdadeira a proposição:
Só a Bíblia é a
Palavra de Deus. Não estamos dizendo que o que há de verdadeiro na Bíblia é só
o que Deus ensinou, nem tão pouco que só é verdadeiro e bom o que está na
Bíblia.
[1] Lopes, Augustus
Nicodemus. O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, FIDES
REFORMATA X, Nº 1 (2005): 115-138.
[2]
Orr-Ewing, Amy. Por que confiar na
Bíblia? Resposta a dez perguntas difíceis ; tradução Meire Santos. — Viçosa, MG
: Ultimato, 2008.
[3] http://www.gotquestions.org/Portugues/verdade-absoluta.html#ixzz3CNZa6mkZ
[4]
Ferreira, Julio Andrade. Antologia Teologica, Ed Fonte Editorial, 2005.
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