sexta-feira, 28 de abril de 2017

BIBLIOLOGIA E SEUS DESAFIOS
Thomas Hobbes e Baruch Spinoza figuram, entre os pensadores modernos, como os responsáveis por lançar as bases do que entendemos como o método histórico-crítico de interpretação das escrituras bíblicas. Levando a cabo a tarefa de tornar a vida neste mundo a única que importa, primeiro reivindicada por pensadores renascentistas, como Maquiavel, Hobbes, com sua tentativa de tornar o soberano do Estado o intérprete último das escrituras, e Spinoza, com seu articulado método interpretativo, fizeram com que o entendimento dos textos ditos sagrados fosse alterado de maneira até então nunca vista, criando um marco para toda a modernidade.
Spinoza, aprimorando uma tarefa empreendida, primeiro por alguns pensadores renascentistas, depois por Hobbes, estabelece as bases para o método de crítica das escrituras moderno, se pautando essencialmente pelo estudo histórico dos textos, excluindo por completo quaisquer vestígios do aparato teológico anteriormente utilizado na leitura da Bíblia, e reivindicando contundentemente que ela fosse lida e interpretada apenas como um livro comum, livre de quaisquer apelos sobrenaturais e à superstição, e como essas inovações contribuíram para ampliar o panorama intelectual, tanto de um ponto de vista teológico, como também filosófico.
A Reforma fez com que se desenvolvesse, no Ocidente, uma considerável desconfiança com as interpretações alegóricas das escrituras. No mundo cristão, grandes intérpretes, tais como Gregório e Tomás de Aquino, forneceram as bases para a interpretação das escrituras, e sempre houve alguma precaução no uso de leituras alegóricas. Os reformados protestantes, no entanto, sempre se mostraram desconfortáveis com as liberdades desse tipo de interpretação e, ainda que tenham tentado ler a Bíblia de uma forma mais literal que alegórica, o foco ainda permanecia no seu caráter teológico. Não tardou para que essa forma de interpretação literal provesse as bases teológicas para teorias políticas em oposição a uma igreja transnacional. Tal posicionamento enseja a compreensão moderna da religião.
Com os teóricos políticos, o foco muda do teológico para o histórico. Enquanto é possível argumentar que Hobbes e Spinoza também expressaram preocupações teológicas, seus argumentos no que concerne à Bíblia não expressam tais preocupações, mas dizem respeito ao controle dos corpos, muito mais do que das almas, das pessoas por parte do Estado, então relegado ao reino do privado, graças, em larga medida, aos reformadores protestantes. O foco da interpretação bíblica se distancia das primordiais preocupações com o natural e o sobrenatural e se volta ao natural e ao histórico apenas. Hobbes e, especialmente, Spinoza avançaram muito além de seus predecessores, e é possível perceber em suas obras as bases do que passamos a entender como o método histórico-crítico da interpretação bíblica.
De fato, tanto Hobbes quanto Spinoza passam a focar no plano de fundo histórico da Bíblia com uma força jamais vista antes, e ainda que ambos descem margens para leituras teológicas das escrituras, as próprias bases de suas metodologias já indicavam que uma leitura teológica da Bíblia seria virtualmente impossível. Em seu Leviatã, Hobbes argumenta que uma interpretação bíblica precisaria necessariamente seguir os ditames da razão, que são opostos aos da teologia.
Ao final, no entanto, Hobbes argumenta, com base na própria Bíblia, que o poder temporal de cada estado seria responsável pela religião dentro de seu próprio reino. Sem o estado Leviatã, impomos uma ameaça mortal uns aos outros, como sugerido por sua afirmação de que “durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum, poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”. Assim sendo, apenas o estado controlador, ou seus oficiais apontados, estaria apto a prover interpretações oficias da Bíblia. A importância de Hobbes para o método histórico-crítico de interpretação bíblica está na maneira em que a lê, já que não apenas nega o papel do sobrenatural na autoria dos textos, como também ignora as menções ao sobrenatural nos textos. Nas passagens que fazem referência ao “Espírito Divino”, Hobbes interpreta o Espírito de maneira naturalizada, tal como o vento, ou como as faculdades do entendimento e, da mesma maneira, conceitos como paraíso e inferno são tratados como meramente temporais. Essa característica de sua abordagem foi crucialmente importante, pois sua perspectiva política repousava largamente no medo da morte e, para o cidadão, nada é mais ameaçador que a morte física. Assim sendo, o estado governador que possui o poder de executar e perdoar seria a fonte última de autoridade e, nesse sentido, os ensinamentos escatológicos eram uma ameaça à autoridade do estado porque a jurisdição do estado não estendia ao que viesse após a morte. “É impossível que um bem-comum subsista onde outro que não o soberano tenha o poder de dar melhores recompensas que a vida e infligir punições piores que a morte”. A única forma de garantir o maior controle do estado sobre a vida das pessoas na Terra, para Hobbes, foi argumentar que nada tinha relevância além da vida na Terra.
A leitura naturalista e histórica da Bíblia por Hobbes necessitava do entendimento das escrituras como um texto similar a outros textos históricos e, mesmo reconhecendo a importância da Bíblia como uma autoridade para os cristãos, sua aproximação metodológica da leitura do texto representa um caminho fundamentalmente diferente de abordagem das escrituras do que havia até então. Hobbes argumentava se utilizar da ciência e da razão em seu exame da Bíblia, ainda que todo o seu trabalho exegético acabasse apenas por legitimar suas opiniões políticas já existentes, especialmente a convicção de que o soberano do Estado tinha poder absoluto sobre seus cidadãos. Ao aplicar a interpretação bíblica dessa forma, Hobbes estendeu o conceito da Bíblia como um livro a ser examinado como um artefato histórico, mas a compreensão mais evidente de seu trabalho exegético é a de que este era motivado por sua política, que visava, em último caso, garantir a autoridade do Estado.
Spinoza, por sua vez, perpassou os resultados alcançados por Hobbes em sua nova abordagem da crítica bíblica ao articular uma detalhada metodologia de interpretação bíblica que, se por um lado, estava de acordo com os princípios da filosofia racionalista em voga, por outro, se sobressai ao colocar em questão não apenas a autoridade eclesiástica, como também a política. No que dizia respeito a Bíblia, o foco dado à historicidade do texto por Spinoza ultrapassa o dado por Hobbes. De fato, Spinoza julgava que nada poderia ser feito com os textos bíblicos até que sua história completa fosse descoberta. “Spinoza e seus seguidores multiplicaram as questões sobre a história física do texto, até ao ponto em que a tarefa tradicional da teologia não pudesse jamais sair de seu início”.
Assim como Hobbes, Spinoza também removeu os elementos sobrenaturais da Bíblia e, para ele, Deus não pode existir fora da natureza. Mais que isso, os profetas do Antigo Testamento não eram inspirados por Deus em nenhum sentido tradicional, e apenas possuíam uma imaginação muito vívida.
.
DEVIDO ESTAS CRÍTICAS DEVEMOS RESPONDER AS SEGUINTES QUESTÕES.
Não se trata apenas de uma questão de interpretação?
Os manuscritos bíblicos são confiáveis?
É possível conhecer a verdade?
Levantada as questões cabe a todos nós buscar uma resposta que venha definir que posicionamento devemos assumir diante das Escrituras, seja o posicionamento reformador, ou permanecer no pressuposto liberal.
Não se trata apenas de uma questão de interpretação?
Pelo menos possuímos três escolas principais de hermenêutica bíblica, a necessidade da hermenêutica para a Bíblia será a de nos dar a importância de seus textos, sua relevância histórica e de sua mensagem para a humanidade através da história, pois como você ler a Bíblia, assim será ela para voçê. Comecemos com a primeiro.
Método Histórico Crítico:  Quem melhor desenvolveu esta temática no momento é o Reverendo da Prebiteriana, e Chanceler da Mackenzie por muitos anos, em seu artigo O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, nos deteremos com os seguintes tópicos da parte que se intitula AS CRÍTICAS NASCIDAS DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO e seus tópicos:
1) Crítica das Fontes[1]
A crítica das fontes dedicou-se ao estudo dos diferentes componentes do texto bíblico, que uma vez teriam existido isoladamente e foram posteriormente agrupados num único texto. Ela pressupõe que os textos bíblicos são compostos e que esses componentes se originaram de períodos históricos distintos e refletem diferentes teologias. Como na antiguidade os autores não se preocupavam com a questão de direitos autorais, e nem em indicar a fonte de onde copiaram material, simplesmente aglutinaram diversas fontes escritas ao seu dispor para formar o texto completo que temos hoje no cânon formal. Assim sendo, a tarefa da crítica das fontes é identificar esses documentos, estudar em separado a teologia dos mesmos no contexto histórico em que foram produzidos e depois avaliar o sentido do texto completo à luz dos resultados. Assim encontraremos a Palavra de Deus dentro das Escrituras. O método consiste em buscar, primeiramente, as anomalias e irregularidades textuais, como inconsistências de assuntos, repetição de histórias, digressões e diferenças em vocabulário e estilo. Estas coisas apontariam para diferentes fontes documentais. Em seguida, estudam-se as anomalias quanto aos temas e procura-se identificar em que período da história de Israel ou da Igreja cristã o texto foi produzido.
No Antigo Testamento, a chamada crítica das fontes tem a sua origem no comentário de Gênesis (1753) de Jean Astruc, um médico francês, onde ele defende que Moisés teria usado duas fontes diferentes para escrever Gênesis, uma que se refere a Deus como Elohim e outra que se refere a Deus como Yahweh. Essa teoria foi desenvolvida por Johnn Eichhorn em 1780, que a estendeu a todo o Pentateuco e rejeitou a autoria mosaica. Em 1805, Wilhelm De Wette defendeu que nenhuma das partes que compõem o Pentateuco foi escrita antes de Davi. Ele também defendeu a existência do documento D, escrito como propaganda ideológica na época do rei Josias. Hermann Hupfeld completou a teoria com o quarto documento, P, em 1853. Julius Wellhausen foi quem melhor elaborou esta hipótese, que veio a ser chamada de “hipótese documentária”.
No Novo Testamento, a crítica das fontes concentrou-se nos Evangelhos Sinóticos. Seu objetivo era descobrir as fontes literárias usadas na composição de cada Evangelho, bem como estabelecer a dependência literária entre eles. A teoria das duas fontes, defendida inicialmente por C. H. Weisse (1838) para resolver o problema sinótico, teoria que ainda é utilizada pela maioria dos estudiosos bíblico da atualidade. Em ambas as hipóteses da teoria, o Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito e foi uma das duas fontes para o Evangelho de Mateus e o Evangelho de Lucas, a outra fonte seria o documento Q, uma coleção perdida de ensinos de Jesus.  e P. Wernle (1899), tornou-se dominante. Atualmente Eta Linnemann condena esta proposta

2) Crítica da Forma
Esta metodologia tem o mesmo alvo da anterior, que é separar o cerne da casca, alvo muito bem expresso por Bultmann em seu programa de desmitologização do Novo Testamento. Podemos dizer que a crítica da forma, no Novo Testamento, tem seu ponto de partida no desejo de descobrir a Palavra de Deus dentro das Escrituras usando o critério da antiguidade das formas, como declarou Werner Kümmel, considerado um crítico moderado:
Quanto mais um texto aponta para a revelação histórica de Cristo e quanto mais ele foi alterado por pensamentos exteriores ao cristianismo ou através do cristianismo posterior, mais seguramente ele pode ser considerado como parte do cânon normativo.
O objetivo da crítica da forma é descobrir as formas originais dos textos bíblicos, ainda em sua fase oral de transmissão, antes de serem submetidos à escrita, como aparecem no cânon formal. É ainda identificar as alterações feitas, nesta fase, pelas comunidades que receberam essas tradições, e que posteriormente os editaram e publicaram. Conforme o critério de Kümmel, esses textos, por serem, em sua forma final, produtos da Gemeindetheologie (teologia da comunidade), são secundários e não fazem parte do cânon normativo.
3) Crítica da Redação
A crítica da redação nasceu na esteira da crítica das fontes e da crítica da forma. Enquanto a crítica das fontes se preocupou em identificar e reconstruir as fontes literárias (documentos) que foram usadas originalmente para a composição do texto bíblico, e a crítica da forma com o processo de transmissão oral pelo qual estes documentos e a tradição oral passaram, a crítica da redação preocupa-se com os redatores, aqueles que se utilizaram destas fontes orais ou escritas e lhes deram a forma final.
O critério usado por essa ferramenta crítica para separar a verdade do erro no cânon formal é descobrir os materiais originais, para, em seguida, expurgá-los das alterações feitas pelos redatores, quando editaram os textos sagrados na forma em que se encontram no cânon formal. De acordo com as críticas das fontes e da forma, boa parte dos livros que compõem o Velho e o Novo Testamentos são, em sua forma final, o resultado de um processo de coleção, edição e harmonização de tradições antigas, de fontes anteriores que refletiam a teologia das comunidades através de editores e escribas. O redator não foi um mero transmissor; ele foi um autor com seus próprios pontos de vista e situação social e religiosa; ele amoldou o seu material de acordo com esses fatores. A tarefa da crítica da redação passou a ser descobrir a “teologia” desses redatores e os princípios teológicos que controlaram a sua redação das fontes e das tradições, alcançando a forma final que hoje temos.
Foi Gerhard von Rad, no seu comentário de Gênesis, quem defendeu de forma mais influente a abordagem do Velho Testamento do ponto de vista da teologia dos redatores que o formaram. Nesta obra, von Rad procura sempre ir além da mera reconstrução dos estágios iniciais no processo de formação dos textos bíblicos, e escutar o redator, perguntando de que maneira ele intentou que lêssemos o texto final, e o que estava tentando nos dizer.
Perspectiva Pós-Moderna[2]: As palavras estranhamente proféticas do filósofo Friederich Nietzsche: “Não podemos nos livrar de Deus enquanto não nos livrarmos da gramática”.  Esta idéia foi repetida posteriormente pelo ateu Bertrand Russell: “A linguagem atual incorpora a metafísica da Idade da Pedra”. O desejo de libertar o ser humano da opressão de um Deus está fortemente relacionada à questão da linguagem e seu significado.
Às vezes, a abordagem daqueles que procuram questionar a possibilidade de um significado definitivo na linguagem parece mais um jogo esquisito. O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889- 1951) teve grande influência nessa área. Ele afirmou que cada função da linguagem ocorre dentro de um sistema separado e aparentemente fechado, com suas próprias regras. Isso significa que qualquer função da linguagem seria semelhante a um jogo. É necessário conhecer as regras do jogo e ter bom senso em relação ao significado dos termos para usar a linguagem. Cada uso da linguagem constitui um “jogo de linguagem” separado, e alguns jogos têm muito pouco a ver entre sí.
Quando aplicado à Bíblia, isso significa que o contexto do leitor é que determina a interpretação do texto. Seria impossível estabelecer um significado único, que fosse aceito por diferentes culturas, línguas, situações ou “jogos”.
O poder da narrativa épica (ou “metanarrativa”) ao unir os seres humanos do mundo inteiro, integrando-se às histórias de cada lugar, está em decadência. Muitos a comparam a um ditador restringindo a liberdade das pessoas. O pensador Jean-François Lyotard argumenta que a visão pós-moderna requer que se faça uma “guerra contra o totalitarismo”.
Foucault continua argumentando que existe uma interação essencial entre conhecimento e poder. Lembrando a expressão de Nietzsche, “o desejo de poder”, Foucault chama a procura da verdade de um “desejo de conhecimento” que estabelece sua própria “verdade” arbitrariamente. Isto sugere que ao lermos a Bíblia, devemos suspeitar dos escritores, pois eles estão exercendo poder sobre nós, e suspeitar mais ainda de qualquer pessoa que tente nos ajudar a interpretar a Bíblia. Qualquer tentativa de pregar ou explicar a Bíblia não passa de uma tentativa desastrosa de obter poder sobre outra pessoa.
Método Histórico Gramatical: Foi o método estabelecido pelo reformadores, após anos de leitura da Bíblia de forma alegórica, e que é muito defendida pela perspectiva cristã reformada.

Os manuscritos bíblicos são confiáveis?
Existem cerca de 5000 manuscritos da Bíblia, alguns de 80 dc. Já entre as cópias dos antigos filósofos gregos, o manuscrito mais antigo é o de Aristóteles de cerca de 1300 dc, existindo somente 4 copias. Muitos cristãos não sabem, mas o texto bíblico do Antigo Testamento que usamos, hoje, é mais preciso do que os textos antigos de obras clássicas, como a Ilíada, de Homero, ou os trabalhos de Aristóteles, Platão, etc. Como podemos saber se isso é verdade? Como saber que o Antigo Testamente que utilizamos é o mesmo citado por Jesus, quando Ele andou na terra?
A preservação do conteúdo da Bíblia, ao longo dos séculos, é a maior evidência externa da sua autenticidade, conquanto a nossa cultura dê grande valor ao que é considerado original.
POR QUE NÃO EXISTEM ESCRITURAS ORIGINAIS?
Porque materiais perecíveis, como o papiro, se deterioram rapidamente sob condições úmidas. E só foram preservados em raras circunstâncias, quando os manuscritos foram cuidadosamente guardados em climas extremamente áridos.
Levando-se em conta o número de guerras de Israel, é um milagre que o conteúdo original tenha sido preservado. Nas destruições do Templo — em 586 a.C. e em 70 d.C. —, os sacerdotes que fugiram tiveram a preocupação em preservar o conteúdo dos livros. E, por isso, levavam consigo, sempre, as cópias mais novas, em melhor estado.
O ANTIGO TESTAMENTO É AUTÊNTICO?
Bem, está claro, para os eruditos, que o Senhor Jesus, os apóstolos e os judeus do século I usaram a Septuaginta, tradução feita em 250 a.C. por cerca de 70 eruditos hebreus. E o Mestre nunca apontou qualquer erro nessa versão. Se houvesse algum problema de falta de precisão, o Senhor teria apontado. Isso é, sem dúvida, uma confirmação de que a Septuaginta era — e é — confiável, atestada pelo Verbo de Deus.
Em 1947, um tesouro de manuscritos do Antigo Testamento foi descoberto em uma caverna por pastores beduínos do lado ocidental do Mar Morto, em Israel. Nas décadas seguintes, mais de duas centenas de textos foram encontrados em outras onze cavernas — obras completas, em bom estado. Mas o que mais chamou a atenção dos eruditos foi um livro do profeta Isaías perfeitamente preservado.
Antes das aludidas descobertas, o mais antigo texto do Antigo Testamento era o massorético — feito pelos massoretas, da escola dos escribas de Massorá —, datado do século X d.C., de onde vieram a maioria das traduções veterotestamentárias. Durante muitos anos, os críticos da autenticidade da Bíblia reclamaram que a data do texto massorético era muito recente, em relação aos manuscritos originais. Hoje, depois da descoberta de 1947, eles se calaram (apenas resmungam), visto que alguns textos descobertos, especialmente o livro de Isaías, datam de 225 a.C. Ou seja, são documentos mais de mil anos anteriores aos textos massoréticos!
Quando o livro de Isaías, encontrado nas cavernas, foi comparado com versões atuais, feitas a partir do texto massorético, descobriu-se que o seu conteúdo era quase idêntico — havia apenas pequeníssimas diferenças ortográficas, gramaticais e de caligrafia, as quais não afetavam em nada o sentido original. Em resumo, o Antigo Testamento que usamos hoje tem o apoio de manuscritos mais fortes do que qualquer outra obra da história clássica, incluindo Homero, Platão, Aristóteles, César e Tácito.
E O NOVO TESTAMENTO, É AUTÊNTICO?
Há motivos para glorificarmos a Deus ainda mais quanto ao Novo Testamento, pois, de toda a literatura antiga, o texto neotestamentário é o documento mais bem autenticado. Por quê? Porque há mais manuscritos do Novo Testamento, isto é, mais cópias próximas e confiáveis dos manuscritos originais (autógrafos) do que qualquer outra obra escrita nos tempos antigos.
O número de cópias existentes do Novo Testamento em todo o mundo, em museus, bibliotecas ou em poder de colecionadores? Mais de 5.700! Por extenso: mais de cinco mil e setecentas cópias do Antigo Testamento. Há diferenças nessas cópias? Claro que há,  são irrelevantes.
As cópias do Novo Testamento em seus manuscritos originais (que não existem mais, evidentemente) datam de 50-95 d.C., cópia mais antiga existente dos textos neotestamentários  vem do ano 125 d.C. Em outras palavras, o espaço entre o original e a cópia mais antiga é de apenas 30 a 75 anos. Diante do exposto, não nos enganemos nem deixemos de ter compromisso com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra.
É possível conhecer a verdade?
"Existe algo como a verdade absoluta/verdade universal?"[3]
Resposta: Para entender se existe algo como verdade absoluta/verdade universal, vamos primeiro definir o que é a verdade. A verdade é definida pelo dicionário como “conformidade a um fato ou realidade; uma declaração provada como ou aceita como verdadeira; realidade”. Algumas pessoas diriam hoje em dia que não há uma verdadeira realidade, apenas percepções e opiniões. Por outro lado, outros argumentariam que deve haver uma realidade ou verdade absoluta. Portanto, ao considerarmos a questão quanto a haver ou não algo como a verdade absoluta, nós vemos dois pontos de vista exatamente opostos.
Um ponto de vista diz que não existem absolutos que definam a realidade. Aqueles que têm tal posição acreditam que tudo é relativo, e que, portanto não há uma realidade verdadeira. Por causa disso, não há nenhuma autoridade para decidir se uma ação é positiva ou negativa, certa ou errada. Este ponto de vista é simplesmente a “ética situacional” na sua forma mais ampla. Não há certo ou errado, portanto o que quer que pareça certo em certo momento, certo será. É claro que este tipo de “ética situacional” leva a uma mentalidade e um estilo de vida do tipo “vamos fazer tudo o que parece bom”, que tem um efeito devastador na sociedade e nos indivíduos.
O outro ponto de vista acredita que existem realidades absolutas ou padrões que definem o que é verdadeiro e o que não é. Portanto, ações podem ser julgadas certas ou erradas de acordo com a sua medida em relação a esses padrões absolutos. Você pode imaginar o caos que seria se não houvesse absolutos, se não houvesse realidade? Tome a lei da gravidade como exemplo. Se ela não fosse um absoluto, em um momento você daria um passo para frente e poderia acabar a muitos quilômetros do chão, e no instante seguinte você talvez não conseguisse mover o seu corpo de jeito nenhum. Ou pense na confusão que seria se os números não mais tivessem valores absolutos. Por exemplo, 2 +2 não seria mais igual a 4. Se não houvesse verdades absolutas, o mundo estaria em caos. Não haveria leis da ciência, leis da física, tudo seria sem sentido e não existiriam padrões de medida, nem certo e errado. Que confusão isso seria, mas ainda bem que a verdade absoluta existe, e ela pode ser encontrada e entendida.
O próprio pensamento de alguém alegar que não existe verdade absoluta é totalmente ilógico. Mesmo assim, diversas pessoas hoje em dia estão abraçando um relativismo cultural que no seu cerne nega qualquer tipo de verdade absoluta. Uma boa pergunta para as pessoas que dizem “não existe verdade absoluta” é: “Você está absolutamente certo disso?” É totalmente ilógico fazer tal alegação, pois é uma alegação absoluta que em si própria nega qualquer absoluto. Ela está, em essência, dizendo que o próprio fato de não haver verdade absoluta é a única verdade absoluta.
Há diversos problemas lógicos que se deve superar para aceitar ou acreditar que não existem verdades absolutas/verdades universais. O primeiro problema é o da autocontradição. Isto pode ser visto na questão exposta acima e no fato de que aqueles que insistem que não existem absolutos estão na verdade acreditando em um absoluto. Eles estão absolutamente certos de que não existe nada absoluto. Este tipo de filosofia é tanto autoderrotista quanto autocontraditória. A afirmação de que não existem absolutos está em si própria contradizendo o que eles dizem acreditar!
O segundo problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que todos os seres humanos possuem conhecimento limitado. Como seres humanos com uma mente limitada e finita, nós não podemos logicamente fazer declarações negativas absolutas. Por exemplo, uma pessoa não pode dizer logicamente “Não há Deus” (apesar de muitos o fazerem), porque para dizer isso ela deveria ter conhecimento absoluto sobre o universo inteiro do início ao fim. Quando as pessoas dizem não haver Deus ou não haver verdade absoluta (o que em essência é realmente a mesma coisa), o máximo que elas podem dizer racional e logicamente é “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista um Deus”, ou “Com o conhecimento limitado que eu tenho, eu não acredito que exista qualquer coisa que seja absolutamente verdadeira”.
O terceiro problema com a negação da verdade absoluta/verdade universal é o fato de que ela falha ao se associar com o que nós sabemos ser verdadeiro nas nossas próprias consciências, nossas próprias experiências, e com o que nós vemos no “mundo real”. Se não existe tal coisa como a verdade absoluta, então não existe nada certo ou errado sobre qualquer coisa. O que pode ser “certo para você” pode não ser “certo para mim”. Apesar de superficialmente esse tipo de relativismo parecer muito apelativo, se ele for levado à sua conclusão lógica, ele logo se prova desastroso. Considere apenas por um momento se realmente não houvesse verdade absoluta e se tudo fosse realmente relativo (sem padrões de qualquer tipo). Em essência, o que aconteceria é que todo mundo estabeleceria as suas próprias regras segundo as quais viver e faria o que achasse certo. Isso causa problemas, pois o conceito de certo de uma pessoa logo entraria em conflito com o de outra. Por exemplo, e se fosse “certo para mim” ignorar os semáforos no trânsito, mesmo quando eles estão vermelhos? Dessa forma eu estaria pondo a vida de outros em risco. Ou então, eu poderia pensar que é certo roubar de você, mas você pensaria que não é certo. Da mesma forma, uma pessoa poderia decidir que matar outras pessoas é certo e portanto ela poderia tentar matar todo mundo que estivesse à vista.
Se não existem padrões absolutos, verdades absolutas e se todas as coisas fossem relativas, então matar todo mundo é tão certo quanto não matar ninguém. Roubar é tão certo quanto não roubar. Crueldade é igual à não-crueldade. Note a que resultados desastrosos a negação da verdade absoluta pode levar. Afinal, se não existe algo como a verdade absoluta, então ninguém pode dizer “você deveria fazer isso” ou “você não deveria fazer aquilo”. As pessoas seriam livres para fazer o que quisessem – assassinar, estuprar, mentir, trapacear, etc. e ninguém poderia dizer que tais coisas são erradas. Não haveria governo, nem leis, nem justiça, porque ninguém poderia dizer que a maioria das pessoas tem o direito de definir e impor padrões sobre a minoria. Um mundo sem absolutos seria o mais horrível mundo imaginável.
Hoje em dia nós frequentemente ouvimos frases como “isso pode ser verdade para você, mas não é verdade para mim”. Para aqueles que acreditam que não exista uma verdade absoluta, a verdade é vista como nada mais do que uma preferência ou percepção pessoal e que, portanto, não pode se estender além dos limites pessoais. Por causa disso, não existem respostas finais para o sentido da vida e não poderia haver esperança de qualquer tipo de vida após a morte. Esse tipo de relativismo resulta em confusão religiosa porque não pode haver religião verdadeira, nem um único caminho para se ter um relacionamento correto com Deus. Todas as religiões seriam, portanto, falsas, porque todas elas afirmam ensinar ou acreditar em algum tipo de vida após a morte, algum tipo de verdade absoluta.
A Bíbia foi Inspirada Por Deus ?
Nome polêmico na Teologia, apesar de ter sido um dos teólogos mais influentes da atualidade, Karl Barth (1886-1968), tratando da inspiração bíblica desenvolveu um conceito um tanto delicado sobre o assunto. Para resumir a sua visão sobre a inspiração bíblica, Barth fez uma distinção entre “inspiração verbal” e “inspiração literal”. A partir deste pressuposto, a Palavra e as ações de Deus nunca podem ser identificadas com palavras humanas ou eventos históricos registrados na Bíblia, mas devem ser transcendentais. A inspiração verbal seria teologicamente irrenunciável, na medida em que a Escritura testemunha a Cristo, o “verbo” divino. A inspiração literal, no entanto, deveria ser rejeitada como tentativa de dar uma garantia miraculosa para o testemunho da Escritura... A Palavra pregada e escrita (a única que ultrapassa o abismo entre Deus e o homem) nada mais faz além do que apontar para a verdadeira revelação divina, a saber, a palavra de Deus em seu sentido absoluto e transcendental... Barth afirmou que reconhecer a autoridade da Escritura é uma questão de confissão, porque “se não estamos para desistir de nossa fé temos que crer no milagre da graça” (CD, I/2, p. 598)... A autoridade da Escritura não é uma possessão em si mesma, nem mesmo uma dádiva outorgada pelo próprio Deus. A Escritura tem autoridade porque o próprio Deus a toma e fala através dela... A palavra de Deus nos confronta na Escritura Sagrada, mas a Escritura não é, no sentido verdadeiro, palavra de Deus – é apenas testemunho dela e aponta para a eterna Palavra de Deus.
Se tal visão Bartiniana sobre a inspiração da Bíblia fosse aceita por TODO seguimento evangélico, piores conseqüências teria o Cristianismo, haja vista o mal que já tem sido notado, como por exemplo:
1) o testemunho cristão colocado em risco, comprometendo a apologética;
2) a fé cristã igualada a mero esoterismo para aqueles que ainda não tiveram um experiência de conversão (obs: conversão ao Senhor Jesus e não a um seguimento cristão denominacional);
3) a ênfase ao encontro subjetivo caracterizado pela frase “quando nos subjugar!” da faceta existencial do seu defeituoso conceito de inspiração.
Há na Bíblia três fatos sobrenaturais que resultam, todos três, da influência e atividade divina. Ensino da vontade de Deus, registro do que Deus determinou do que se conservasse escrito; e aplicação daquilo que está registrado à vida religiosa[4].
O ensino chama-se revelação. O registro chama-se inspiração. A aplicação chama-se iluminação.
Quem ensinou o que se acha na Bíblia e que o homem, por si, não poderia descobrir? — Deus.
Quem fez escrever tudo quanto se acha na Bíblia, mesmo que não sejam revelações de Deus, mas verdades descobertas pelos homens, dados de outras fontes, ou ainda que seja ações e palavras pecaminosas?— Deus.
Quem aplica o ensino das Escrituras? — Deus.
Os três fatos são sobrenaturais.
A Bíblia é a Palavra de Deus por três motivos.
“Primeiro porque nela se acha o que Deus revelou. Neste sentido é verdadeira a frase: A Bíblia contém a Palavra de Deus, isto é, contém a revelação de Deus.”
“Segundo, porque foi Deus quem a fez escrever. Neste sentido é que se diz que toda a Bíblia é a Palavra de Deus."
“Terceiro, porque é Deus quem nos fala por ela, é por ela que Deus nos fala, e só Deus nos pode falar adequadamente por ela, aplicando-a às necessidades de cada coração. Neste sentido é verdadeira a proposição:
Só a Bíblia é a Palavra de Deus. Não estamos dizendo que o que há de verdadeiro na Bíblia é só o que Deus ensinou, nem tão pouco que só é verdadeiro e bom o que está na Bíblia.



[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O DILEMA DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, FIDES REFORMATA X, Nº 1 (2005): 115-138.
[2] Orr-Ewing,  Amy. Por que confiar na Bíblia? Resposta a dez perguntas difíceis ; tradução Meire Santos. — Viçosa, MG : Ultimato, 2008.
[3] http://www.gotquestions.org/Portugues/verdade-absoluta.html#ixzz3CNZa6mkZ
[4] Ferreira, Julio Andrade. Antologia Teologica, Ed Fonte Editorial, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário