O que
significa “O mar não existirá mais” em Apocalipse 21:1?
Então vi
“um novo céu e uma nova terra”, pois o primeiro céu e a primeira terra haviam
passado, e não havia mais mar.
Este texto
ensina que a nova terra não terá grandes massas de água (θαλάσσας) – não haverá mais lagos, mares ou
oceanos? A maioria pensa assim.
Em 21.1, os antigos céu e terra não foram
destruídos, mas “se foram” ou “desapareceram” de vista. Em 2Pedro 3.10-13,
trata-se de um juízo purificador, não uma destruição total. Semelhantemente,
Caird (1966: 265) afirma que a antiga terra não é “lançada como lixo no vazio”,
e chama o processo de Apocalipse 21.1 de “recriação pela qual a ordem antiga é transformada
na nova”. Prigent (1981: 324-25) classifica isso como uma “renovação” da terra existente.
Todavia, como declarado anteriormente, a linguagem favorece a ideia de uma
destruição da antiga ordem e de “céu e terra” completamente “novos”.
Para Lopes Alguns estudiosos aceitam o conceito
da aniquilação do atual cosmos e de uma descontinuidade absoluta entre a antiga
terra e a nova. A despeito dos eventos cataclísmicos que acompanharão o juízo
sobre esta terra, rejeitamos o conceito de aniquilação total a favor da
renovação, Lopes descreve com base nos seguintes argumentos:
Em primeiro lugar, tanto 2 Pedro 3:13 como
Apocalipse 21:1 usam o vocábulo kainós e não neós. O primeiro é novo em
natureza ou em qualidade. Assim, a expressão “novos céus e nova terra”
significa não a aparição de um cosmos totalmente diferente do atual, mas a
criação de um universo que, apesar de haver sido gloriosamente renovado, mantém
continuidade com o presente.
Em segundo lugar, o argumento do apóstolo Paulo
em Romanos 8:20-21. Paulo afirma que a criação espera com anelo ardente a
revelação dos filhos de Deus para ser libertada da escravidão da corrupção.
Obviamente Paulo está dizendo que é a presente criação a que será liberta da corrupção
e não alguma criação totalmente diferente.
Em terceiro lugar, a analogia existente entre a
nova terra e os corpos que receberemos na ressurreição (1 Co 15:3549). Em
relação à ressurreição haverá tanto continuidade como descontinuidade entre o
corpo presente e o corpo da ressurreição. As diferenças entre nossos corpos
atuais e nossos corpos da ressurreição, não tiram a continuidade.
Serão nossos corpos que serão ressuscitados e
somos nós que estaremos para sempre com o Senhor. Por analogia é lógico esperar
que a nova terra não será totalmente diferente da presente, mas será a presente
terra maravilhosamente renovada.
Em quarto lugar, se Deus precisasse aniquilar o
cosmos atual\ Satanás teria tido uma grande vitória. Deus revelará a dimensão
total dessa terra sobre a qual Satanás enganou a raça humana, e então, tirará
todos os resultados e vestígios do pecado.[1]
Para Osborne O acréscimo da ideia de que “o mar
já não existe” tem provocado alguns comentários. Ela parece estar fora de lugar
e ser desnecessária à luz da afirmação de que céu e terra “já se foram”. A
resposta para o motivo desse acréscimo está no sentido simbólico do “mar” no
livro de Apocalipse. Giesen (1997: 452) observa a ligação entre o “mar” e a
“Morte e o Hades” (NVI) no julgamento de 20.11-15. Ambos são hostis a Deus e à
humanidade. Beale (1999: 1042) lista cinco usos do conceito nesse livro: (l) a
origem do mal (12.18; 13.1); (2) as nações que perseguem os santos (12.18;
13.1; 17.1-6); (3) o lugar dos mortos (20.13); (4) o local da atividade
comercial idólatra do mundo (18.10-19); (5) uma massa de água que é parte deste
mundo (5.13; 7.1-4; 8.8,9; 10.2,5,6; 14.7; 16.3). Ele acredita que esses cinco
usos estão relacionados à presente passagem, mas é provável que os dois
primeiros aspectos predominem. A ideia do mar como símbolo do mal explicaria
melhor a razão de sua inclusão nessa passagem.5 Na nova ordem, não somente a
antiga ordem terá passado, como também o mal não existirá mais. A falsa
trindade e as nações que causaram tanto sofrimento terão sido lançadas no lago
de fogo e, portanto, tentação e dor já não existirão.[2]
A primeira
sugestão de como serão o novo céu e a nova terra surge na observação de João de
que não haverá mais mar. Esta será uma mudança surpreendente em relação à Terra
atual, quase três quartos da qual é coberta por água.[3]
Por que
isso aconteceria? A maioria argumenta que o mar simboliza o mal (ou a morte ou
a desordem) e, portanto, a erradicação do mal exige a remoção do mar.
De uma
perspectiva metafórica, os comentadores têm visto a ausência do mar como um
símbolo da ausência do mal.[4]
Sua
percepção de que não havia mais mar é simplesmente outra forma de dizer que na
nova criação não há mais morte (v. 4).[5]
Muito justificadamente vemos este vazio como
representando uma conotação arquetípica no mar (cf. 13.1; 20.13), um princípio
de desordem, violência ou agitação que marca a velha criação (cf. Is 57.20;
Sal. 107: 25-28; . . . Não é que o mar seja mau em si, mas que o seu aspecto é
de hostilidade para com a humanidade. Por exemplo, o mar foi o que guardou João
na sua prisão em Patmos e o separou das igrejas da Ásia. O mar é o primeiro dos
sete males que João diz que não existirão mais, sendo os outros seis a morte, o
pranto, o pranto, a dor (21:4), a maldição (22:3) e a noite (21:25; 22: 5). [6]
Embora a destruição do mar seja mencionada em
Apocalipse 21:1, é digno de nota que o mar não é mencionado em conexão com o
novo céu e a nova terra. Isto pode ser porque o mar era um símbolo negativo do
caos e até do abismo (cf. Ap 13:1 com 11:7).[7]
John MacArthur argumenta (de forma única?) que
não só não haverá grandes massas de água, mas também não haverá água alguma.
Sua razão para argumentar isso é que toda a vida na terra depende da água para
a sua sobrevivência, e a terra é o único lugar conhecido no universo onde há
água suficiente para sustentar a vida. Mas os corpos glorificados dos crentes
não necessitarão de água, ao contrário dos corpos humanos atuais, cujo sangue é
90 por cento de água, e cuja carne é 65 por cento de água. Assim, o novo céu e
a nova terra serão baseados num princípio de vida completamente diferente do
atual universo. Haverá um rio no céu, não de água, mas de “água da vida” (22:1,
17).
Para Horton “Que a nova terra será
completamente diferente é vista no fato de que "não haverá mais o
mar". Os oceanos são necessários à oxigenação da atmosfera da terra. A
falta de mares, portanto, sugere que toda a economia da nova terra será
diferente.”[8]
Vejamos o texto e observemos as diferenças de
pontuação.
Aqui está o texto em algumas edições gregas
NA27 : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν. ὁ
γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ ἡ πρώτη γῆ ἀπῆλθαν καὶ
ἡ θάλασσα οὐκ
ἔστιν ἔι .
WH : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν· ὁ
γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ ἡ τη
γῆ ἀπῆλθαν, καὶ ἡ θάλασσα οὐκ
ἔστιν ἔτι.
MT : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν, ὁ
γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ ἡ πρώ
η γῆ ἀπῆλθον. Καὶ ἡ
θάλασσα οὐκ ἔστιν ἔτι.
Aqui está o texto em algumas traduções para o português:
ARC: 1E VI um novo céu, e uma nova terra.
Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
ARA: 1 Vi novo céu e nova terra, pois o
primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
NVT: Então vi um novo céu e uma nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira terra já não existiam, e o mar também não mais
existia.
TeB: ‘Vi então um céu novo e uma nova da vida. terra,
porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existe*.
NVI: Então vi novos céus e nova terra, pois o
primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.
Como conclusão deixo minha proposta de que o
fim do mar é o fim das divisões dos continentes, tornando a Terra numa pangeia
antiga.
[1] Lopes, Hernandes dias – Apocalipse:
futuro chegou, as coisas que em breve devem acontecer;- São Paulo, SP: Hagnos
2005.
[2] Grant R. Osborne, Apocalipse.
[3]
John MacArthur, Apocalipse 12–22
[4]
Idem.
[5]
J. Ramsey Michaels, Apocalipse , vol. 20
[6]
Robert L. Thomas, Apocalipse 8–22.
[7]
David E. Aune, Apocalipse 17–22
[8] HORTON, Stanley. APOCALIPSE: As
coisas que Brevemente devem acontecer; CPAD, 7a impressão 2011.
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