quinta-feira, 23 de maio de 2024

 

O que significa “O mar não existirá mais” em Apocalipse 21:1?

 

Então vi “um novo céu e uma nova terra”, pois o primeiro céu e a primeira terra haviam passado, e não havia mais mar.

Este texto ensina que a nova terra não terá grandes massas de água (θαλάσσας) – não haverá mais lagos, mares ou oceanos? A maioria pensa assim.

Em 21.1, os antigos céu e terra não foram destruídos, mas “se foram” ou “desapareceram” de vista. Em 2Pedro 3.10-13, trata-se de um juízo purificador, não uma destruição total. Semelhantemente, Caird (1966: 265) afirma que a antiga terra não é “lançada como lixo no vazio”, e chama o processo de Apocalipse 21.1 de “recriação pela qual a ordem antiga é transformada na nova”. Prigent (1981: 324-25) classifica isso como uma “renovação” da terra existente. Todavia, como declarado anteriormente, a linguagem favorece a ideia de uma destruição da antiga ordem e de “céu e terra” completamente “novos”.

Para Lopes Alguns estudiosos aceitam o conceito da aniquilação do atual cosmos e de uma descontinuidade absoluta entre a antiga terra e a nova. A despeito dos eventos cataclísmicos que acompanharão o juízo sobre esta terra, rejeitamos o conceito de aniquilação total a favor da renovação, Lopes descreve com base nos seguintes argumentos:

Em primeiro lugar, tanto 2 Pedro 3:13 como Apocalipse 21:1 usam o vocábulo kainós e não neós. O primeiro é novo em natureza ou em qualidade. Assim, a expressão “novos céus e nova terra” significa não a aparição de um cosmos totalmente diferente do atual, mas a criação de um universo que, apesar de haver sido gloriosamente renovado, mantém continuidade com o presente.

Em segundo lugar, o argumento do apóstolo Paulo em Romanos 8:20-21. Paulo afirma que a criação espera com anelo ardente a revelação dos filhos de Deus para ser libertada da escravidão da corrupção. Obviamente Paulo está dizendo que é a presente criação a que será liberta da corrupção e não alguma criação totalmente diferente.

Em terceiro lugar, a analogia existente entre a nova terra e os corpos que receberemos na ressurreição (1 Co 15:3549). Em relação à ressurreição haverá tanto continuidade como descontinuidade entre o corpo presente e o corpo da ressurreição. As diferenças entre nossos corpos atuais e nossos corpos da ressurreição, não tiram a continuidade.

Serão nossos corpos que serão ressuscitados e somos nós que estaremos para sempre com o Senhor. Por analogia é lógico esperar que a nova terra não será totalmente diferente da presente, mas será a presente terra maravilhosamente renovada.

Em quarto lugar, se Deus precisasse aniquilar o cosmos atual\ Satanás teria tido uma grande vitória. Deus revelará a dimensão total dessa terra sobre a qual Satanás enganou a raça humana, e então, tirará todos os resultados e vestígios do pecado.[1]

Para Osborne O acréscimo da ideia de que “o mar já não existe” tem provocado alguns comentários. Ela parece estar fora de lugar e ser desnecessária à luz da afirmação de que céu e terra “já se foram”. A resposta para o motivo desse acréscimo está no sentido simbólico do “mar” no livro de Apocalipse. Giesen (1997: 452) observa a ligação entre o “mar” e a “Morte e o Hades” (NVI) no julgamento de 20.11-15. Ambos são hostis a Deus e à humanidade. Beale (1999: 1042) lista cinco usos do conceito nesse livro: (l) a origem do mal (12.18; 13.1); (2) as nações que perseguem os santos (12.18; 13.1; 17.1-6); (3) o lugar dos mortos (20.13); (4) o local da atividade comercial idólatra do mundo (18.10-19); (5) uma massa de água que é parte deste mundo (5.13; 7.1-4; 8.8,9; 10.2,5,6; 14.7; 16.3). Ele acredita que esses cinco usos estão relacionados à presente passagem, mas é provável que os dois primeiros aspectos predominem. A ideia do mar como símbolo do mal explicaria melhor a razão de sua inclusão nessa passagem.5 Na nova ordem, não somente a antiga ordem terá passado, como também o mal não existirá mais. A falsa trindade e as nações que causaram tanto sofrimento terão sido lançadas no lago de fogo e, portanto, tentação e dor já não existirão.[2]

A primeira sugestão de como serão o novo céu e a nova terra surge na observação de João de que não haverá mais mar. Esta será uma mudança surpreendente em relação à Terra atual, quase três quartos da qual é coberta por água.[3]

Por que isso aconteceria? A maioria argumenta que o mar simboliza o mal (ou a morte ou a desordem) e, portanto, a erradicação do mal exige a remoção do mar.

De uma perspectiva metafórica, os comentadores têm visto a ausência do mar como um símbolo da ausência do mal.[4]

Sua percepção de que não havia mais mar é simplesmente outra forma de dizer que na nova criação não há mais morte (v. 4).[5]

Muito justificadamente vemos este vazio como representando uma conotação arquetípica no mar (cf. 13.1; 20.13), um princípio de desordem, violência ou agitação que marca a velha criação (cf. Is 57.20; Sal. 107: 25-28; . . . Não é que o mar seja mau em si, mas que o seu aspecto é de hostilidade para com a humanidade. Por exemplo, o mar foi o que guardou João na sua prisão em Patmos e o separou das igrejas da Ásia. O mar é o primeiro dos sete males que João diz que não existirão mais, sendo os outros seis a morte, o pranto, o pranto, a dor (21:4), a maldição (22:3) e a noite (21:25; 22: 5). [6]

Embora a destruição do mar seja mencionada em Apocalipse 21:1, é digno de nota que o mar não é mencionado em conexão com o novo céu e a nova terra. Isto pode ser porque o mar era um símbolo negativo do caos e até do abismo (cf. Ap 13:1 com 11:7).[7]

John MacArthur argumenta (de forma única?) que não só não haverá grandes massas de água, mas também não haverá água alguma. Sua razão para argumentar isso é que toda a vida na terra depende da água para a sua sobrevivência, e a terra é o único lugar conhecido no universo onde há água suficiente para sustentar a vida. Mas os corpos glorificados dos crentes não necessitarão de água, ao contrário dos corpos humanos atuais, cujo sangue é 90 por cento de água, e cuja carne é 65 por cento de água. Assim, o novo céu e a nova terra serão baseados num princípio de vida completamente diferente do atual universo. Haverá um rio no céu, não de água, mas de “água da vida” (22:1, 17).

Para Horton “Que a nova terra será completamente diferente é vista no fato de que "não haverá mais o mar". Os oceanos são necessários à oxigenação da atmosfera da terra. A falta de mares, portanto, sugere que toda a economia da nova terra será diferente.”[8]

 

Vejamos o texto e observemos as diferenças de pontuação.

Aqui está o texto em algumas edições gregas

NA27 : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν. γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ πρώτη γῆ ἀπῆλθαν καὶ θάλασσα οὐκ ἔστιν ἔι .

 

WH : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν· γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ τη γῆ ἀπῆλθαν, καὶ θάλασσα οὐκ ἔστιν ἔτι.

 

MT : Καὶ εἶδον οὐρανὸν καινὸν καὶ γῆν καινήν, γὰρ πρῶτος οὐρανὸς καὶ πρώ η γῆ ἀπῆλθον. Καὶ θάλασσα οὐκ ἔστιν ἔτι.

 

Aqui está o texto em algumas traduções para o português:

ARC: 1E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.

ARA: 1 Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.

NVT: Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra já não existiam, e o mar também não mais existia.

TeB: ‘Vi então um céu novo e uma nova da vida. terra, porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existe*.

NVI: Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.

 

Como conclusão deixo minha proposta de que o fim do mar é o fim das divisões dos continentes, tornando a Terra numa pangeia antiga.



[1] Lopes, Hernandes dias – Apocalipse: futuro chegou, as coisas que em breve devem acontecer;- São Paulo, SP: Hagnos 2005.

[2] Grant R. Osborne, Apocalipse.

[3] John MacArthur, Apocalipse 12–22

[4] Idem.

[5] J. Ramsey Michaels, Apocalipse , vol. 20

[6] Robert L. Thomas, Apocalipse 8–22.

[7] David E. Aune, Apocalipse 17–22

[8] HORTON, Stanley. APOCALIPSE: As coisas que Brevemente devem acontecer; CPAD, 7a impressão 2011.

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