A DOUTRINA DO VOTO BÍBLICO
O voto é um
compromisso ou juramento de caráter religioso, e uma transação entre o homem e
Deus, nos quais o homem dedica a si mesmo ou seu serviço ou algo valioso para
Deus. Era uma das características muito comum nas religiões antigas, ele também
é um exercício freqüente na vida religiosa entre os israelitas. Embora
geralmente uma promessa fosse feita na expectativa de um favor divino
ansiosamente procurado, também havia votos de autodisciplina voluntariamente
impostos para a realização de caráter, e da auto-dedicação para a obtenção de
certos objetivos. Não encontramos uma recomendação no Novo Testamento ao voto,
a Igreja via esta conduta mais para uma prática dos santos do A.T. do que para
ela, posteriormente o voto foi encontrando prática, principalmente no clero,
como na conduta monástica, como o voto do celibato, que não possui apoio bíblico.
Não foram
ordenados votos no AT, mas aqueles que eram feitos eram cuidadosamente
regulamentados. Não era pecado deixar de fazer um voto (Dt 23.22), mas uma vez
feito estava obrigado solenemente (Dt 23.21,23; Ec 5.4). Por isto havia
advertências contra os votos feitos de forma imprudente (Ec 5.5,6; Pv 20.25); e
para segurança contra votos não feitos responsavelmente, ou feitos de forma
imprudente, eles poderiam ser desaprovados pelo pai de uma filha na sua
menoridade (Nm 30.5), ou pelo marido por uma declaração temerária da sua esposa
(Nm 30.8).
O
cumprimento dos votos foi fortemente enfatizado no AT, e estabelecidos como
importante indicação da piedade e fidelidade do povo de Deus (SI 22.25; 50.14;
56.12; 76.11; Is 19.21; Jr 44.25; Jn 2.9; Nn 1.15). Apenas aquilo que pertencia
ao devoto poderia ser prometido a Deus; primogênitos e dízimos eram
considerados como já pertencentes a Deus (Lv 27.26-30). Os sacrifícios ou
ofertas maculadas dados em pagamento de votos eram proibidos e severamente
censurados (Ml 1.14), e o “salário de prostituição, nem preço de sodomita” era
uma abominação a Deus e não podiam ser usados em pagamento (Dt 23.18).
I. As Palavras Utilizadas
1. Nadar«voto».,
ou NEDER ( oferta
votiva) podendo ser encontrados e diversos texts
como se segue, em Gên. 28:20; 31:13; Lev.
27:8; Núm. 6:2,21;30:2,3,10; Deu. 12:11,17; Juí. 11:30,39; I Sam. 1:11; II Sam.
15:7,8; Sal. 76:11; Ecl. 5:4,5; Isa. 19:21; Jer. 44:25; Jon. 2:9; Mal. 1:14. Lev.
7:16; 22:18,21; Núm. 6:2,5; 15:3,8;
21:2; 29:39; 30:2-9; 11-14; Deu. 12:6,11,17,26; 23:18,21; Juí. 11:30,39; I Sam.
1:21; II Sam. 15:7,8; Jó 22:27; Sal. 22:25; 50:14; 56:12; Pro. 7:14; Ecl. 5:4;
Isa. 19:21 ;Jer. 44:25; Jon. 1:16; Naum 1:15.
2. Euché,
«oração», «voto». Com o sentido de oração, esse vocábulo grego
aparece somente em Tg. 5:15; com o sentido de voto, aparece por duas vezes,
isto é, em Atos 18:18; 21:23.
A base da doutrina do voto de abstinência Nm 30 com ICo. 7.1-6.
Paulo trata
deste assunto como concessão, ou seja, por não possuir de Deus uma lei sobre
este assunto, ele permite, mas em acordo matrimonial. Nenhum casal pode
realizar um voto sem acordo mútuo.
Muitos dos
votos eram feitos sob a condição de favores a serem devolvido por Deus, são
aqueles feitos por Jacó, que jurou fazer
de Betel um santuário e dar um dízimo a Deus, se este suprisse suas
necessidades e lhe desse proteção (Gn 28.20-22); por Jefté, que prometeu como sacrifício
a Deus qualquer coisa que ele encontrasse primeiro no seu retomo, se Deus lhe
concedesse vitória sobre os amonitas (Jz 11.30,31) e que, em aflição, ofereceu
sua única filha que foi ao seu encontro (há muita polêmica neste texto, na
verdade por causa do sacrifício, a filha foi viver sem poder se casar) (v vs. 34-40); por Ana, que jurou consagrar
seu filho ao serviço de Deus caso este lhe desse um (1 Sm 1.11,27,28).
Desta
natureza, sem dúvida, é a maioria dos votos tão freqüentemente mencionados nos
Salmos, votos de ação de graças e sacrifícios pagos a Deus pelas orações
respondidas e libertações concedidas (Sl 22.25; 50.14; 56.12; 65.1,2,8;
116.14,18). Um pouco relacionado é o voto de Absalão, de servir ao Senhor caso
este lhe trouxesse novamente para Jerusalém, mas desvirtuado para uso
conspirador em sua rebelião contra Davi (2Sm 15.7ss.). Os votos feitos pelos
marinheiros, depois que Jonas foi lançado ao mar, foram talvez mais da natureza
de uma tentativa pagã de propiciar uma deidade a quem eles “temiam
excessivamente” (Jn 1.15,16).
Também havia
votos feitos para disciplina da vida e propósito, em dedicação a Deus e para a
realização de uma meta fixa. O principal voto nesta categoria era o de nazireu,
o voto de alguém separado ou consagrado a Deus, e para o qual eram prescritos
algumas austeridades e enunciações (Nm 6.1-8), dos quais a liberação poderia
ser obtida após o cumprimento e os sacrifícios designados (6.13-21). Sansão,
Samuel e João Batista aparentemente foram nazireus para o resto da vida. Outros
votos breves deste compromisso maior eram como o de Davi, de não se dar
descanso algum até que construísse uma casa para o Senhor (SI 132.2-5), a
“escolha dos vossos votos” associado com a chamada de Israel para a obediência
(Dt 12.11), os votos associados às ofertas voluntárias (Nm 29.39), a ligação
solene da alma com Deus (Nm 30.2). Paulo e seus companheiros assumiram votos
para mostrar conformidade com as leis judaicas, por amor à conciliação sem
renúncia da consciência (At 18.18; 21.23,24). De caráter menos sábio ou digno é
o juramento de Saul de não comer qualquer coisa até que a vitória fosse
assegurada (ISm 14.24), e o voto dos inimigos de Paulo de se absterem de comida
até que eles o tivessem matado (At 23.21).
Jesus
censurou o pagamento de votos quando usado como um motivo para se escapar da
obrigação para com os pais (Mt 15.3-9; Mc 7.9-13). A parte desta condenação dos
votos pecaminosamente usados, não há evidência de que Jesus ou qualquer dos
escritores do NT, faça referência significante a votos que são uma expressão
tão proeminente da devoção do AT. O NT diz que a dedicação, a gratidão e o
serviço estão no relacionamento mais profundo e mais rico de vida com a cruz de
Cristo (Mt 16.24; Rm 12.1,2; ICo 6.20; IPe 1.15-19).
Dentro do contexto
bíblico são mais importantes os votos religiosos. Mas a Bíblia dá-nos conta,
igualmente, de votos ou compromissos atinentes a negócios e outras questões.
Ver o voto que está envolvido na história de Judá e Tamar (Gên. 38:17,18,20). E
o trecho de Deut. 24:10,11,13 alude a questões financeiras, ao falar sobre voto.
Um acordo verbal podia ser considerado um voto; mas objetos de valor também
podiam servir de penhor ou garantia de intenções.
Os trechos de Jó
22:6 e Prov. 27:13 falam sobre votos dentro de contextos econômicos, como também
a passagem de Eze. 18:7. Nessas situações fazia-se questão da honestidade, de
mescla com a misericórdia, a generosidade e a compaixão.
Pelo lado
espiritual da questão, há uma palavra grega, arrabón, «penhor»,
«garantia», que indica que o Espírito Santo nos foi dado
como garantia de nossa herança em Cristo. Ver Efé. 1:14. O próprio
Espírito Santo é a garantia da nossa imortalidade em Cristo. O
restante deste artigo
aborda os votos o os compromissos espirituais.
II.
Voto Religioso
Um voto é um
juramento ou um compromisso de caráter religioso, e também uma transação
qualquer entre o homem e Deus, de acordo com a qual o indivíduo dedica a si
mesmo ou o seu serviço ou alguma coisa valiosa a Deus. Essa era uma característica
comum nas religiões antigas e um freqüente exercício religioso entre os
israelitas. Deve ter sido esse costume a base daquilo a que, em nossa terra,
dá-se o nome de «promessas», geralmente feitas a algum santo da devoção
escolhida do indivíduo.
Mas, na antigüidade,
embora houvesse promessas feitas com a expectativa do recebimento de algum
favor divino intensamente desejado, também havia votos voluntariamente impostos,
por motivo de autodisciplina, tendo em mira a obtenção de um caráter melhor
formado, ou, então, por motivo de autodedicação, com vistas a certos alvos
morais ou espirituais.
III.
Voto como Promessa
Os votos do
primeiro tipo, com freqüência, denominados “barganha” (pois eram feitos com a
condição de Deus abençoar, em recompensa), são como aqueles feitos por Jacó,
que, em Betel, votou que faria de Betel um santuário e que daria os dízimos do
que ganhasse, a Deus, se Deus suprisse as suas necessidades e o protegesse (Gên.
28:20-22); por Jefté, (Juí. 11:30,31);
por Ana, que votou que se Deus lhe desse um filho, ela o consagraria ao serviço
de Deus (I Sam. 1:11,27,28).
Sem dúvida, a essa
natureza pertence a maioria dos votos, tão freqüentemente mencionados nos
Salmos, como os de ação de graças e de sacrifício, feitos a Deus por orações
respondidas e livramentos proporcionados (Sal. 22:25; 50:14; 56:12; 65:1,2,8;
116:14,18).
Existem votos de
disciplina da vida, ou tendo em mira algum propósito, em dedicação a Deus, ou
com a finalidade de ser atingido algum alvo, os «votos de escolha», associados
ao chamamento do povo de Israel à obediência (Deu. 12:11); os votos associados
às oferendas voluntárias Núm. 29:39) e a solene outorga da própria alma a Deus
(Núm. 30:2).
De caráter de
valor um tanto inferior, foi, por exemplo, o juramento de Saul de que ninguém deveria
comer qualquer coisa enquanto não se obtivesse a vitória militar sobre o inimigo
(ver I Sam. 14:24), bem como o voto dos adversários de Paulo, de que se
absteriam de todo alimento, enquanto não lhe tirassem a vida (ver Atos 23:21).
Cabem aqui certas
observações que parecem óbvias, mas que devem ser levadas em conta. O que já
fosse obrigatório em Israel, por qualquer motivo, não podia ser objeto de um
voto. Se havia votos de caráter
condicional, isto e aqueles em que o indivíduo consagrava algo ou alguém a
Yahweh ou ao templo (Gên. 28:20; Núm. 21:2; Juí. 11:30,31; I Sam. 1:11; II Sam.
15:7,8), também havia aqueles votos de caráter incondicional, de acordo com os quais o indivíduo abstinha-se de
alguma coisa, a fim de obter do Senhor um favor desejado (I Sam. 14:24; Núm.
30). Acresça-se que os votos, geralmente, eram confirmados mediante algum
juramento ou maldição (I Sam. 14:24), o que dificulta aos estudiosos distinguirem
entre um voto e um juramento.
Cumpridos os
votos, a pessoa salmodiava em sincera gratidão, pela ajuda recebida de Deus.
Foi dessa forma que foram compostos certos salmos, como os de número 65, 66, 116
e o trecho de Jon. 2:39. E também há salmos (como o 61), em que na sua própria
letra é formulado o voto.
V.
Seriedade dos Votos
No Antigo
Testamento não havia determinação para as pessoas fazerem votos, embora fossem
cuidadosamente regulamentados. Não era considerado pecado deixar de se fazer um
voto (ver Deu. 23:22); porém, uma vez feito, tornava-se solenemente mandatório
(Deu. 23:21,23; Ecl. 5:4). Por essa precisa razão, havia advertências acerca dos
votos precipitados (Ecl. 5:5,6 e Pro. 20:25).
Como tudo quanto é
instituição humana, os votos também foram sujeitos a certos abusos. Aliás, os
preceitos mosaicos já continham estipulações quanto a esses abusos, e os
profetas também se manifestaram a respeito (ver Deu. 22:21-23; Núm. 30:2,3;
Naum 2:1; Ecl. 5:1-6). E até mesmo nos livros apócrifos há menção e combate a esses
abusos (ver Eclesiástico 18:22,23). Não se podia fazer ofertas de coisas sem
valor (Luc. 22:21-23; Mal. 1:4) ou impuras (Deu. 22:19).
Ao que parece, as
mulheres antigas de Israel propendiam por fazer votos com extrema facilidade,
tendo sido necessário refrear e delimitar a feitura de votos, em vez de
promovê-los. Como é natural, isso acabou por debilitar o senso de obrigatoriedade,
que se via nos tempos mais antigos. Chegou-se mesmo a facilitar tanto a questão,
que bastava ser feito o pagamento segundo a avaliação feita por algum sacerdote
(ver Lev. 27). E, destarte, foi-se amainando o senso religioso dos votos,
embora eles nunca tivessem sido descontinuados pelos judeus, até mesmo no caso
dos apóstolos, conforme já ilustramos com Paulo. Deixando de lado o aspecto
abusivo dos votos, nos dias do Antigo Testamento a obrigatoriedade dos votos
era fortemente salientada, como uma significativa indicação da piedade humana e
da fidelidade do povo de Deus (Sal. 25:25; 50:14; 56:12; 76:11; Isa. 19:21; Jer.
44:25; Jon. 2:9; Naum 1:15).
VI.
Votos Perversos
Jesus Cristo
combateu a hipocrisia de alguns homens que, a fim de escaparem de suas obrigações
para com seus pais idosos e necessitados, votavam a Deus aquilo que poderiam
(mas que deixavam de dar) a eles (Mat. 15:3-9; Mar. 7:9-13). A grande diferença
entre os votos veterotestamentários e a dedicação cristã é que os primeiros
eram uma obrigação passageira, que nunca envolvia a outorga do próprio coração
e da alma aos cuidados do Senhor, ao passo que a dedicação cristã sempre
envolve uma relação vital com Cristo e sua cruz (Mat. 16:24; Rom. 12:1,2; I Cor.
6:20; I Ped. 1:15-19). Cumpridos os votos feitos, a pessoa se sentia livre de qualquer
compromisso; em contraste, o crente nunca se sente desobrigado de dedicar toda
a sua vida, em todos os seus aspectos, ao Salvador. A dedicação cristã, pois,
está muito mais próxima, do que os votos do Antigo Testamento, do espírito do
mais importante dos mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento” (Mat. 22:37,38).
Concluímos que Jesus ensinou que o ideal é não
fazermos juramentos ou promessas: “Também ouvistes que foi dito aos antigos:
Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus
juramentos. Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o
trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém,
por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes
tornar um cabelo branco ou preto.” Mateus 5:33-36. Hoje em dia, algumas pessoas
tentam usar votos e promessas para barganhar com Deus, esquecendo-se do sentido
original do voto: a consagração e gratidão a Deus.
1)
O ideal, de acordo com Mateus 5:33-36, é não fazermos juramentos, promessas ou
votos (principalmente os impossíveis de serem cumpridos);
2)
Nossa palavra deve ser sim, sim; não, não. Devemos ser honestos em nossa vida e
não necessitarmos de juramentos (Mateus 5:37);
3)
Se você fez algum voto a Deus possível de ser cumprido, cumpra-o sem demora
(Eclesiastes 5:4-5);
4)
Se você fez um voto a Deus impossível de ser cumprido por causa da sua
natureza, ele não tem legalidade, tornado assim impróprios, indevidos, e sem
valor para Deus o seu cumprimento, devendo ser cancelado.
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