domingo, 26 de junho de 2016


TEOLOGIA BÍBLICA

Teologia Bíblica pode ser chamado “Aquele ramo da ciência teológica que lida sistematicamente com o progresso condicionado historicamente da autorevelação de Deus como acumulado na Bíblia.”
Tudo começou quando se revelou a alguém. Essa pessoa passou por uma forte experiência com Deus. Essa poderosa experiência pode ser intitulada de revelação. Por meio dela, essa pessoa teve a convicção de que Deus lhe entregara uma mensagem, uma palavra, um recado que precisava transmitir ou comunicar.
• A experiência foi então compartilhada. A forma com que isso era feito variava muito. Em alguns momentos, a pessoa que recebeu a revelação a transmitia por intermédio de uma narrativa; em outros momentos, por meio de uma parábola; em outros, uma profecia. A esse processo, denominamos de inspiração. Como resultado, outras pessoas experimentavam a mesma percepção de Deus que a pessoa que recebeu a revelação.
• A medida que essa experiência era transmitida, ela paulatinamente ganhava autoridade. O grupo que ouvia a profecia percebia que aquela palavra tinha autoridade, o que levava um dos seus membros a, em algum momento, registrar de forma escrita o que se pregou ou se falou sobre a revelação. Nascem, então, os livros. Em algumas ocasiões, era a própria pessoa que recebeu a revelação que a registrou. Mas o mais comum, principalmente no que concerne ao Antigo Testamento, era que a experiência fosse propagada de forma oral por um tempo antes que fosse assentada por escrito.
• Os livros que registravam as experiências com Deus já nasciam com uma posição diferenciada. Não era uma obra qualquer. O fiel percebia o próprio Deus falando por meio de livros. Estes não apenas registravam as experiências com Deus, mas também produziam e incitavam novas experiências. Como resultado, as comunidades judaicas e cristãs passaram a ver essas obras como livros sagrados, separando-as de outros livros, dando origem ao que denominamos de “cânon”. A canonização é o processo pelo qual os livros sagrados são separados dos livros comuns, gerando, finalmente, a Bíblia.
Duas marcas caracterizaram o processo pelo qual a Bíblia nasceu. A primeira pode ser intitulada de transformação contínua (ou revelação progressiva), na forma de dois movimentos. Um deles é aglutinador; o outro, depurador. Isso significa que:
• Nenhum dos autores da Bíblia recebeu toda a revelação.
• Cada um dos autores da Bíblia recebeu uma porção da revelação.
Ou seja, à medida que a história do povo de Deus se desenrolava, esse mesmo povo recebia mais da revelação de Deus. O processo é aglutinador, porque um dado da revelação se somava a outros dados anteriormente recebidos, aumentando continuamente o conjunto da revelação. O profeta que veio depois recebeu um elemento que o profeta anterior desconhecia.
Outro aspecto importante é a natureza depuradora da revelação. Vez por outra, um profeta precisou redirecionar o fio da revelação. Ele precisava fazê-lo porque a mensagem anterior não havia sido compreendida adequadamente, ou porque o contexto demandava uma atualização. Assim, conceitos como vida após a morte e temas como cosmologia foram recebendo mais informações com o processo da revelação da Bíblia. Essas formulações mais recentes explicitavam os que os autores anteriormente haviam dito.

Sistematização
A Teologia Bíblica investiga os períodos da história, nos quais Deus revelou-se a Si mesmo ou as ênfases doutrinárias dos diferentes escritores bíblicos, explicados de forma sistemática. Teologia Bíblica, quando apresentada sistematicamente é distinta da Teologia Sistemática que assimila a verdade de toda a Bíblia e também de fora das Escrituras em uma doutrina bíblica sistematizada. Teologia Bíblica é reduzida. Ela se concentra sobre as ênfases de um dado período da história como no Antigo Testamento ou sobre um ensino explícito de um escritor particular como no Novo Testamento.
História
A Teologia Bíblica focaliza as circunstâncias históricas importantes nas quais as doutrinas bíblicas foram dadas. O que pode ser aprendido da era da revelação do Antigo Testamento? Quais foram as circunstâncias quando da escrita de Mateus ou João? Quais eram as circunstâncias dos destinatários da carta aos Hebreus? Estas são questões importantes que ajudam a solucionar as ênfases doutrinárias de um período particular ou de um escritor específico.
Progresso da Revelação
Uma doutrina ortodoxa que os evangélicos têm defendido de longa data é a crença na revelação progressiva; Deus não revelou toda a verdade acerca de Si mesmo de uma só vez, antes Se relevou “pouco a pouco”, porção por porção para pessoas diferentes ao longo da história (cf. Hb. 1:1). A Teologia Bíblica traça este progresso de revelação, observando a revelação a respeito de Si próprio que Deus tem dado em uma era em particular ou através de um escritor em especial. Daí, a autorrevelação de Deus não foi tão avançada para Noé e Abraão quanto o foi para Isaías. Um dos primeiros livros do Novo Testamento, tal como Tiago, reflete uma visão mais primitiva da Igreja do que livros escritos mais tarde, tais como as epístolas pastorais.
Natureza Bíblica
Em contraste à Teologia Sistemática, que traça sua informação sobre Deus de cada e qualquer fonte, a Teologia Bíblica tem um foco mais restrito, tirando sua informação da Bíblia (e de informações históricas que expandam ou clarifiquem os eventos históricos da Bíblia). A Teologia Bíblica assim é exegética em natureza, examinando as doutrinas nos vários períodos da história ou averiguando as palavras e declarações de um escritor em particular. Isto capacita o estudante a determinar a autorevelação de Deus em um dado período da história.
Relação Para Com As Outras Disciplinas
Estudos Exegéticos
A Teologia Bíblica tem um relacionamento direto com a exegese (“explicar, interpretar”), pelo fato de que a Teologia Bíblica é o resultado da exegese. A exegese situa-se no alicerce da Teologia Bíblica. A exegese demanda uma análise do texto bíblico que seja de acordo com a metodologia literal-gramatical-histórica.
(1) A passagem sob consideração deveria ser estudada de acordo com o significado normal do idioma. Como esta palavra ou declaração é normalmente entendida?
 (2) A passagem deve ser estudada de acordo com as regras da gramática; A exegese requer um exame dos substantivos, verbos, preposições, etc., para um entendimento apropriado da passagem.
(3) A passagem deve ser estudada em seu contexto histórico. Quais eram as circunstâncias políticas, sociais e particularmente culturais que a cercam? A Teologia Bíblica não termina com exegese, ao invés disso, deve começar com ela. O teólogo deve ser hermeneuticamente exigente ao analisar o texto a fim de entender corretamente o que Mateus, Paulo ou João escreveram.
Estudos Introdutórios
Embora o propósito da Teologia Bíblica não seja providenciar uma discussão detalhada das questões introdutórias, alguma discussão é essencial desde que soluções interpretativas às vezes estejam diretamente relacionadas aos estudos introdutórios. A Introdução determina questões tais como autoria, data, destinatários, ocasião e propósito da escrita. Por exemplo, a datação do livro de Hebreus é significativa em que se relaciona à extensão do sofrimento daqueles para quem o livro foi escrito. A perseguição tornou-se severa após o incêndio de Roma em 64 d.C. Mais crítico ainda é a questão dos destinatários em Hebreus. Se o público for entendido como sendo cristãos hebreus, o livro será entendido de maneira diferente. Seguindo a mesma norma, os públicos-alvo de Mateus, Marcos e Lucas também determinarão como estes escritores serão avaliados. Por exemplo, o ponto de vista teológico de Mateus deveria ser entendido em vista de o livro ter sido escrito para um público judaico. O ponto de vista teológico do escritor está claramente relacionado às questões introdutórias.
Devemos agora considerar o relacionamento da teologia bíblica com outras disciplinas da família teológica.
(a) Sua relação com a história sacra (bíblica). Essa relação é muito próxima. Nem poderia deixar de ser, uma vez que ambas incluem, em suas considerações, material que elas têm em comum uma com a outra. Na história sacra, a redenção ocupa um lugar de preeminência, e lidar com redenção sem adentrar no âmbito da revelação não é viável, porque, como já demonstrado, certos atos são redentores e revelatórios ao mesmo tempo. Mas o mesmo é verdadeiro, e vice-versa. A revelação está de tal modo entremeada com a redenção que, a não ser que sejamos permitidos considerar a última, a primeira seria colocada em dúvida. Em ambos os casos, portanto, uma deve transpor a outra. Contudo, podemos delinear uma distinção lógica, ainda que não seja prática: ao reivindicar para si o mundo do seu estado de pecado, Deus tem de agir segundo duas linhas de procedimento que correspondem às duas esferas nas quais a influência destrutiva do pecado se impõe. Essas duas esferas são as esferas do ser e do saber. Para ajustar o mundo em relação à primeira, o procedimento de redenção é empregado; para ajustar o mundo em relação à esfera do saber, o procedimento de revelação é empregado. Um resulta em história bíblica; o outro, em teologia bíblica.
(b) Sua relação com a Introdução Bíblica. Como via de regra, a introdução deve preceder. Depende-se muito, em certos casos, da data dos documentos bíblicos e das circunstâncias de sua composição para determinar o lugar da verdade expressada por eles no esquema da revelação. A cronologia fixada pela introdução é, em tais casos, normativa para a cronologia da teologia bíblica. Contudo, isso não significa que a investigação da apresentação gradual da verdade não possa chegar a um momento anterior à data do documento. O Pentateuco registra retrospectivamente que desdobramento de revelação havia desde o princípio; mas, também, contém muito daquilo que pertence ao capítulo da revelação dirigida a Moisés e por intermédio dele. Esses dois elementos deveriam ser claramente distinguidos um do outro. Isso é o bastante para os casos nos quais a teologia bíblica depende do trabalho precedido pela introdução. Ocasionalmente, porém, a ordem entre as duas é invertida. Quando não há evidência externa suficiente para datar um documento, a teologia bíblica pode se habilitar para oferecer ajuda ao indicar em qual período o conteúdo da revelação de tal escrito se encaixaria melhor no progresso da revelação.

(c) Sua relação com a teologia sistemática. Não há nenhuma diferença sobre se uma estaria mais atrelada às Escrituras do que a outra. Nesse aspecto, elas são totalmente parecidas. A diferença também não se estabelece ao se afirmar que uma transforma o material bíblico enquanto que a outra não modifica esse material. Ambas, igualmente, fazem que a verdade depositada na Bíblia passe por uma transformação: a diferença surge, entretanto, no fato dos princípios, pelos quais a transformação se efetua, serem diferentes. Na teologia bíblica, o princípio é o de estruturação histórica; na teologia sistemática, o princípio é o de estruturação lógica. A teologia bíblica desenha uma linha de desenvolvimento. A teologia sistemática desenha um círculo. Ainda deve ser lembrado que, na linha do progresso histórico, já há, em vários pontos, um início de correlação entre elementos da verdade nos quais os começos do processo de sistematização podem ser discernidos.

SEQUÊNCIA DA TEOLOGIA BÍBLICA
Exegese                             Teologia Bíblica                          Teologia Sistemática





CONTRASTES ENTRE AS TEOLOGIAS BÍBLICA E SISTEMÁTICA
TEOLOGIA BÍBLICA
TEOLOGIA SISTEMÁTICA
Restringe seu estudo às Escrituras
Busca a verdade das Escrituras e de qualquer fonte à parte da Bíblia.
Examina as partes das Escrituras.
Examina o todo das Escrituras.
Reúne informação sobre uma doutrina de um escritor específico (e.g., João ou Paulo) ou uma era em particular (e.g. Abraâmica, Mosaica, profética).
Reúne informação sobre uma doutrina
correlacionando todas as Escrituras.
Busca entender o porque ou como uma doutrina desenvolveu-se.
Busca entender o que foi por fim escrito.
Busca entender o processo bem como o resultado – o produto.
Busca entender o resultado – o produto.
Vê o progresso da revelação em diferentes áreas (como Edênica, Noaica).
Vê a culminação da revelação de Deus.


















Importância
Mostra o Desenvolvimento Histórico da Doutrina
A Teologia Bíblica é importante pelo fato de evitar o estudo da doutrina à parte de seu contexto histórico. No estudo da Teologia Sistemática é inteiramente possível ignorar o contexto histórico da verdade doutrinária; A Teologia Bíblica serve para evitar este problema ao dispensar atenção à classe histórica a qual a doutrina foi entregue.
Mostra a Ênfase do Escritor
A Teologia Bíblica revela o ensino doutrinário de um escritor em particular ou de um período inteiro. Neste sentido a Teologia Bíblica sistematiza as Escrituras pertinentes a um escritor ou período e determina o ensino principal ou o foco doutrinário do escritor ou período de tempo. Ela capacita o estudante a determinar o que foi enfatizado durante a era Abraâmica ou o que foi enfatizado pelo apóstolo João, providenciando uma perspectiva diferente do que se alcança através do estudo da Teologia Sistemática.
Mostra o Elemento Humano na Inspiração
Enquanto que é legítimo afirmar que a Bíblia é verbalmente inspirada e inerrante, também é verdade que os escritores das Escrituras, escreveram individualmente de acordo com seu estilo característico. A Teologia Bíblica enfatiza o fator humano na escrita das Escrituras (mas sem excluir a inspiração). Assim, a Teologia Bíblica tem a intenção de descobrir o que João ou Paulo ensinaram ou o que foi enfatizado durante um período da história do Antigo Testamento. A Teologia Bíblica “Indica os panos de fundo individuais, interesses e estilo dos autores. A Teologia Bíblica enfatiza a parte que os escritores tiveram na composição da Palavra de Deus, enquanto, naturalmente, tiveram como vantagem a superintendência Divina de seus escritos.
Divisão da teologia em quatro grandes áreas
O tratamento usual dado à teologia se distingue em quatro áreas: teologia exegética, teologia histórica, teologia sistemática e teologia prática. O ponto a ser observado, em nosso propósito aqui, é a posição que é dada à teologia exegética como primeira dentre as quatro. Esse precedente é em razão do reconhecimento instintivo de que no princípio de toda teologia reside uma atitude passivo-receptiva por parte daquele que se dedica ao seu estudo. A pressuposição de tal atitude é característica de toda busca verdadeiramente exegética. É eminentemente um processo no qual Deus fala e o homem escuta. A teologia exegética, contudo, não deve ser considerada como restrita à exegese. A primeira é um todo mais extenso do qual a última é, na verdade, uma parte importante, mas, apesar de tudo, somente uma parte. A teologia exegética, num sentido mais amplo, compreende as seguintes disciplinas:
a) o estudo do conteúdo atual da Escritura Sagrada;
b) a investigação da origem dos vários escritos bíblicos, incluindo a identidade dos escritores, o tempo e a ocasião da composição, dependência de possíveis fontes, etc. Isso é conhecido como Introdução e pode ser considerado como um desdobramento do processo de exegese propriamente dito;
c) a colocação da questão sobre como esses vários escritos vieram a ser coletados e reunidos na unidade de uma Bíblia ou livro; essa parte do processo recebe o nome técnico de Canônica;
d) o estudo da autorrevelação atual de Deus no tempo e no espaço que retrocede até o primeiro compromisso de escrita de qualquer documento bíblico, autorrevelação essa que, por longo tempo, continuou a acontecer com o registro escrito do material revelado; esse quarto procedimento é chamado de Teologia bíblica.
A ordem na qual os quatro passos estão nomeados é, evidentemente, a ordem na qual eles se apresentam, sucessivamente, à mente investigadora do homem. Quando se observa o processo pela perspectiva divina, a ordem deve ser invertida, tendo-se a seguinte sequência:
a) a autorrevelação divina;
b) o compromisso de registro do produto da revelação;
c) a reunião de vários escritos, de maneira a produzir a unidade de uma coleção;
d) a produção e condução do estudo do conteúdo dos escritos bíblicos.
Definição de teologia bíblica
Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegética que lida com o processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia.
Na definição dada, o termo “revelação” é tido como um substantivo que indica ação. A teologia bíblica lida com a revelação como sendo atividade divina, não o produto final dessa atividade. Sua natureza e método de procedimento terão, naturalmente, de manter estreito contato e reproduzir, até onde possível, as características do trabalho divino em si. As principais características do último são:
[1] A progressividade histórica do processo de revelação A revelação não foi completada num único ato exaustivo, mas se desdobrou ao longo de uma série de atos sucessivos. Em termos abstratos, ela pode, conceitualmente, ter sido de outra maneira. Contudo, como matéria de fato, ela não poderia ser, porque revelação não se firma por si só, mas está (no que concerne à Revelação Especial) inseparavelmente ligada à outra atividade de Deus que chamamos de redenção. Agora, redenção não poderia ser de outra maneira a não ser em sucessão histórica, porque ela se dirige à sucessão de gerações da humanidade que vêm à existência no curso da História. Revelação é a interpretação da redenção; ela deve, portanto, se desdobrar em etapas como a redenção o faz. Ainda assim, é óbvio também que os dois processos não são inteiramente coextensivos, pois a revelação chega a um fim num ponto no qual a redenção ainda continua. A fim de entendermos isso, devemos levar em consideração uma distinção importante dentro da esfera da própria redenção. A redenção é parcialmente objetiva e central, e parcialmente subjetiva e individual. Pela primeira, designamos aqueles atos redentores de Deus que aconteceram a favor, mas fora da pessoa. Pela última, designamos aqueles atos de Deus que atingem o interior da pessoa. Chamamos os atos objetivos de centrais porque, uma vez que acontecem no centro do círculo de redenção, eles se ocupam igualmente a respeito do mesmo ponto, e não estão em necessidade ou capacidade de repetição. Tais atos objetivos centrais são a encarnação, expiação e ressurreição de Cristo. Os atos, na esfera subjetiva, são chamados de individuais porque são repetidos em cada indivíduo, separadamente. Tais atos subjetivos individuais são a regeneração, justificação, conversão, santificação e glorificação. Dessa maneira, a revelação somente acompanha o processo objetivo-central e isso explica por que a redenção vai além da revelação. Insistir em que a revelação acompanha a redenção subjetivo-individual traria implicações de que ela lidava com as questões de foro íntimo e pessoal em vez de os anseios da coletividade no mundo quanto à redenção. Isso não significa que o crente não pode, em sua experiência subjetiva, receber iluminação da fonte de revelação na Bíblia, pois devemos nos lembrar de que, continuamente, ao lado do processo objetivo, desenrolava-se a aplicação subjetiva e que muito disso é refletido nas Escrituras. A redenção subjetivo-individual não começou quando a redenção objetiva-central se encerrou; elas existem lado a lado desde o princípio.
Resta somente um período no futuro quando devemos esperar que a redenção objetiva-central retome suas atividades, na segunda vinda de Cristo. Naquele tempo, acontecerão grandes atos redentores concernentes ao mundo e ao povo de Deus, coletivamente. Esses atos serão acrescidos ao volume de verdades que possuímos agora.
[2] A real incorporação da revelação na História
O processo de revelação não é somente concomitante com a História, mas se torna encarnado na História. Os próprios fatos da História adquirem uma significação reveladora. A crucificação e a ressurreição de Cristo são exemplos disso. Devemos posicionar ato-revelação ao lado de palavra-revelação. Isso se aplica, é claro, aos grandes atos excepcionais de redenção. Em tais casos, redenção e revelação coincidem. Contudo, dois pontos devem ser lembrados nessa relação: primeiro, que esses atos com duplo aspecto não acontecem primariamente para um propósito revelatório; seu caráter revelatório é secundário; primariamente, eles possuem um propósito que transcende a revelação, tendo uma referência divina em seu efeito e, somente em dependência a esse, uma referência humana para instrução. Em segundo lugar, tais atos-revelações nunca são totalmente permitidos falar por si mesmos: eles são precedidos e sucedidos pela palavra-revelação. A ordem usual é: primeiro a palavra, então o fato, depois de novo a palavra interpretativa. O Antigo Testamento traz a palavra preditiva preparatória, os Evangelhos registram o fato redentor-reve- latório, as Epístolas suprem a subsequente interpretação final.
[3] A natureza orgânica do processo histórico observável na revelação Todo avanço é progressivo, mas nem todo avanço progressivo traz um caráter orgânico. A natureza orgânica do progresso da revelação explica muitas coisas. Algumas vezes, é contestado que o pressuposto do progresso na revelação exclui sua perfeição absoluta em todas as fases. Esse seria o caso se fosse um processo não orgânico. O progresso orgânico vai do estado germinal até atingir o crescimento pleno; mesmo assim, nós não dizemos que, qualitativamente, a semente é menos perfeita do que a árvore. A característica em questão explica, mais adiante, como a suficiência salvadora da verdade poderia pertencer à revelação nos primeiros momentos em que emergiu: no estado germinal, o mínimo de conhecimento indispensável já estava presente. Mais uma vez, isso explica como a revelação podia ser tão intimamente determinada em seu movimento de progressão, pelo movimento de progressão da redenção. Se o último for organicamente progressivo, o primeiro tem de participar da mesma natureza. Onde a redenção avança a passos curtos ou se torna quiescente, a revelação procede da mesma maneira. Mas a redenção, como é sabido, é eminentemente orgânica em seu progresso. Ela não avança num movimento uniforme, mas, ao contrário, ela é de “época” em seu avanço. Nós podemos observar que onde os períodos de ação redentora se acumulam, o movimento de revelação está acelerado de igual modo e seu volume aumentou. Mais além, ainda, a partir do caráter orgânico da revelação, podemos explicar sua multiformidade crescente - a última sendo, em todo lugar, um sintoma de desenvolvimento de vida orgânica. Essa multiformidade é mais observável no Novo Testamento do que no Antigo e, nesse, mais no período dos profetas do que no tempo de Moisés.
Algumas observações se fazem presentes aqui quanto à atual má compreensão da última característica mencionada. Tem sido sugerido que a descoberta dessa considerável variedade e diferenciação na Bíblia seja fatal à crença em sua autoridade absoluta e infalibilidade. Se Paulo tem um ponto de vista e Pedro outro, então cada um só pode, no máximo, estar aproximadamente correto. Isso seria correto se a verdade não carregasse em si mesma uma multiformidade de aspectos. Mas a infalibilidade não é inseparável da uniformidade enfadonha. A verdade é inerentemente rica e complexa porque Deus mesmo o é. Toda contenda, nas argumentações, reside, em última instância, numa visão equivocada da natureza de Deus e sua relação com o mundo, uma visão, no fundo, deísta. Essa visão concebe Deus como estando fora da própria criação e, portanto, tendo que tolerar formas e órgãos imperfeitos, conforme são disponibilizados a ele, para instrumentação de sua fala reveladora. Sendo assim, a mente didática e dialética de Paulo seria um empecilho para a comunicação ideal da mensagem, o mesmo podendo se dizer da mente simples, prática e não instruída de Pedro. Da perspectiva do teísmo, o assunto se delineia de maneira bem diferente. A verdade tendo, inerentemente, muitos lados, e Deus tendo acesso a, e controle de, todos os órgãos tencionados de revelação, modelou cada um desses para o exato propósito a ser servido. Uma vez que o Evangelho tem uma estrutura doutrinal precisa, Paulo, doutrinaria- mente dotado, foi o órgão adequado para expressá-la, porque seus dons foram conferidos a ele e cultivados nele, em antecipação, com vistas a isso.
[4] 0 quarto aspecto da revelação determinante do estudo da teologia bíblica consiste em sua adaptabilidade prática
A autorrevelação de Deus a nós não foi feita para um propósito primariamente intelectual. Não desconsideraremos, é claro, que a mente verdadeiramente piedosa possa, por meio de uma contemplação intelectual das perfeições divinas, glorificar a Deus. Isso seria apenas tão verdadeiramente religioso como a mais intensa ocupação da vontade a serviço de Deus. Mas isso não seria o todo da religião que a revelação almeja. É verdade que o evangelho ensina que conhecer a Deus é vida eterna. Porém, o conceito de “conhecimento” aqui não deve ser entendido no sentido do pensamento grego. Deve antes ser entendido no sentido semítico do termo. De acordo com o primeiro, “conhecer” significa reproduzir a realidade de uma coisa na consciência. A ideia bíblica e semítica é a de ter a realidade de alguma coisa interligada com a experiência íntima de vida. Portanto, “conhecer” pode significar “amar”, “separar em amor” no idioma bíblico. Porque Deus deseja ser conhecido dessa maneira, ele fez que sua revelação acontecesse no meio da vida histórica de um povo. O ambiente da revelação não é uma escola, mas um “pacto”. Falar sobre a revelação como uma “educação” para a humanidade é uma maneira racionalista e não escriturística de falar. Tudo o que Deus desvendou de si mesmo veio em resposta às necessidades religiosas práticas de seu povo à medida que essas emergiam no curso da História.
Princípios orientadores
 (a) o reconhecimento do caráter infalível da revelação como essencial a todo uso legitimamente teológico do termo. Isso é essencial ao teísmo. Se Deus é pessoal e consciente, então a inferência é inevitável de que em todo seu modo de autorrevelação ele apresentará uma expressão impecável de sua natureza e propósito. Ele comunicará seu pensamento ao mundo com a marca da divindade nele. Se o contrário é verdadeiro, então a razão para isso teria de ser encontrada em seu ser que, de alguma maneira, estaria atado às limitações e relatividades do mundo, sendo isso um canal de expressão que estaria obstruindo sua relação com o mundo. Obviamente, o pano de fundo de tal visão não é teísmo, mas panteísmo.
(b) A teologia bíblica deve, igualmente, reconhecer a objetividade da base da revelação. Isso significa que comunicações reais vieram de Deus ao homem ab extra. Não é justo passar essa ideia com uma referência desdenhosa à perspectiva do “ditado”. Não há nada indigno no ditado, certamente não entre Deus e o homem. Além disso, não é científico, pois as declarações dos recipientes da revelação mostram que tal processo, não raramente, ocorreu.
Nossa posição, contudo, não implica que toda revelação veio dessa maneira objetiva. Há um ingrediente que pode ser propriamente chamado de “revelação subjetiva”. Por isso queremos dizer da atividade interna do Espírito sobre as profundezas da subconsciência humana, fazendo que certos pensamentos intencionados por Deus viessem a aflorar. Os Salmos oferecem exemplos desse tipo de revelação e isso ocorre também nos trechos salmódi- cos encontrados aqui e ali nos profetas. Apesar de ter sido trazida por meio de um canal subjetivo, nós, de igual modo, devemos reivindicar a autoridade divina para ela; de outra maneira, ela não poderia ser chamada revelação, propriamente dita. Nessa forma subjetiva, revelação e inspiração se fundem. Devemos, contudo, estar em guarda contra a tendência moderna de reduzir toda revelação nas Escrituras à categoria de ab intra. Normalmente, isso é feito com a intenção de privar a revelação de sua infalibilidade. Uma forma preferida de fazer isso é confinar revelação aos claros atos de autorrevelação feitos por Deus e, então, derivar todo o conteúdo de pensamento na Bíblia da reflexão humana sobre esses atos. Tal teoria, via de regra, é uma máscara para apresentar todo ensinamento da Bíblia na relatividade da reflexão puramente humana cuja procedência divina não pode ser mais verificada, porque nada objetivo foi deixado por meio do qual uma verificação possa ser feita.
A crença na ocorrência conjunta da revelação objetiva e subjetiva não é uma posição estreita e antiquada; na verdade, ela é a única visão abrangente, uma vez que tem o desejo de levar em consideração todos os fatos. A ofensa com o termo “ditado” frequentemente procede de um menosprezo de Deus e uma hipervalorização do homem. Se Deus foi condescendente em nos dar uma revelação, compete a ele e não a nós determinar a priori que formas ela assumirá. O que devemos à dignidade de Deus é que haveremos de receber sua fala com pleno valor divino.
(c) A teologia bíblica está profundamente envolvida com a questão da inspiração. Tudo, aqui, depende do que nós postulamos como o objeto com o qual nossa ciência lida. Se seu objeto consiste nas crenças e práticas de homens no passado, então, obviamente, não tem importância se o assunto deve ser considerado verdadeiro em outro sentido qualquer ou mais elevado do que o de um registro confiável de coisas que uma vez foram geralmente aceitas, não importando se eram inerentemente verdadeiras ou não. Uma teologia bíblica concebida dessa maneira deve classificar a si mesma com a teologia histórica e não com a teologia exegética. Ela professa ser uma história da doutrina dos tempos bíblicos. Ela trata Isaías como trataria Agostinho, sendo que, a única questão é o que é crido, não se é verdadeiro ou não. Entretanto, nosso conceito da disciplina considera o assunto do ponto de vista da revelação que procede de Deus. Portanto, o fator da inspiração precisa ser reconhecido como um dos elementos de considerável importância que conferem às coisas estudadas o caráter de “verdade” garantida a nós como tal pela autoridade de Deus.
Não seria apropriada a objeção de que, dessa maneira, podemos postular a abrangência da inspiração na Bíblia somente como pertencente às ocasiões especiais quando Deus se dedicou ao ato de revelação de maneira que, como teólogos bíblicos, pudéssemos professar indiferença, ao menos, à doutrina da “inspiração plenária”. O conceito de inspiração parcial é uma invenção moderna, não tendo nenhum apoio no que a Bíblia ensina sobre a própria formação. Toda vez que o Novo Testamento fala sobre a inspiração do Antigo é sempre nos termos mais absolutos e abrangentes. Consultando a consciência que as Escrituras têm nessa matéria, logo descobrimos que ou é “inspiração plenária” ou não é nada. Ainda mais, temos descoberto que a revelação não está, de maneira alguma, confinada a manifestações verbais isoladas, mas ela abrange fatos. Esses fatos, além do mais, não são de caráter subordinado: eles constituem as juntas e ligamentos centrais do corpo inteiro da revelação redentora. Deles, o todo recebe seu significado e colorido. Portanto, a não ser que a historicidade desses fatos seja garantida e que isso seja de uma maneira mais confiável do que o que é feito pela mera pesquisa histórica, os fatos, com o conteúdo de ensinamento, se tornarão sujeitos a um grau de incerteza, considerando o valor da revelação como totalmente duvidoso. A confiabilidade da exatidão das revelações depende totalmente da exatidão do ambiente histórico no qual elas aparecem.
Novamente, deve ser lembrado que a Bíblia nos dá, em alguns casos, uma filosofia de seu organismo. Paulo, por exemplo, tem suas perspectivas sobre a estrutura da revelação do Antigo Testamento. Aqui, a questão da inspiração plena, extensiva também ao ensino histórico de Paulo, torna-se de importância decisiva. Se crermos que Paulo foi inspirado nessas matérias, então isso deve facilitar enormemente nossa tarefa de apresentar a estrutura revelacional do Antigo Testamento. Seria um trabalho supérfluo construir nossa visão da matéria. Onde essa tentativa foi levada a efeito, como por certas escolas de criticismo do Antigo Testamento, o método não se baseou numa visão inocente sobre a insignificância do fator da inspiração, mas numa franca negação da mesma.
OBJEÇÕES AO NOME “TEOLOGIA BÍBLICA”
Devemos considerar, agora, as objeções que têm sido feitas ao nome teologia bíblica.
(a) O nome é muito abrangente, pois, à exceção da revelação geral, supõe- se que toda teologia esteja embasada na Bíblia. O nome sugere um grau cômico de presunção ao antecipar o predicado “bíblica” a uma única disciplina.
(b) Se a resposta ao ponto dado for de que “bíblica” não precisa ser entendido como uma reivindicação excepcional quanto à procedência bíblica, mas se detém apenas ao método peculiar empregado, aquele de reproduzir a verdade em sua forma bíblica original sem transformação subsequente, então nossa réplica deve ser que, de um lado, isso, por necessidade, pareceria lançar uma crítica sobre as outras disciplinas teológicas que estariam sob a acusação de manipularem a verdade, e que, por outro lado, a teologia bíblica reivindica para si mais do que o devido ao se professar livre de impor um tratamento transformador ao material escriturístico. O fato é que a teologia bíblica, tanto quanto a teologia sistemática, faz que o material passe por uma transformação. A única diferença está baseada no princípio no qual a transformação é conduzida. No caso da teologia bíblica, o princípio é histórico; no caso da teologia sistemática, o princípio é de natureza lógica. Ambos são necessários e não há nenhuma situação em que um se ache superior ao outro.
(c) O nome é incongruente porque está mal ajustado ao restante da nomenclatura teológica. Se, primeiramente, distinguirmos os quatro ramos principais da teologia adicionando ao nome “teologia” um adjetivo terminando em “-ica”, e, então, proceder à nomeação de uma subdivisão de um desses quatro com base no mesmo princípio, chamando-o de teologia bíblica, isso criaria confusão, porque esse nome sugere cinco em vez de quatro departamentos principais e, ainda, o nome representa uma coordenação que na realidade é uma subordinação.
Por todas essas razões, o nome “História da Revelação Especial” é muito mais preferido. Essa nomenclatura expressa, com precisão e de uma maneira totalmente aceitável, o que nossa ciência se propõe a ser. Contudo, é difícil mudar um nome que já se consagrou pelo uso.
0 MÉTODO DA TEOLOGIA BÍBLICA
A Teologia Bíblica do Antigo Testamento é melhor entendida ao examinar-se o Antigo Testamento em busca de um “centro” ou princípio unificador. Muitas propostas diferentes têm sido sugeridas com referência a um tema unificador do Antigo Testamento. Walter Kaiser sugeriu “promessa” como tema unificador; Elmer Martens sugere “O projeto de Deus” como o ponto focal; Ao passo que Eugene Merril sugere “Reino” como o tema oculto do Antigo Testamento, Geerhardus Vos enfatiza o aspecto da revelação progressiva. Qualquer que seja o tema enfatizado, a Teologia Bíblica do Antigo Testamento deve ser hábil para ver o desdobrar daquele tema nos diferentes períodos do Antigo Testamento.
O método da teologia bíblica é, predominantemente, determinado pelo princípio de progressão histórica, daí a divisão do curso da revelação em certos períodos. Qualquer que seja a tendência moderna quanto a eliminar o princípio de periodicidade da ciência histórica, permanece como certo que Deus, no desdobramento da revelação, empregou esse princípio com regularidade. Disso segue-se que os períodos não deveriam ser determinados de maneira aleatória ou segundo preferências subjetivas; mas, estritamente, de acordo com as linhas de divisão delineadas pela própria revelação. A Bíblia está, como esteve, consciente do próprio organismo; ela sente, o que não podemos dizer sempre de nós mesmos, a própria anatomia. O princípio das sucessivas Berith-realizações (aliança ou pacto-realizações), como indicando a introdução de novos períodos, tem um papel importante nisto, e deveria ser cuidadosamente observado. Com esse princípio de periodicidade, deve-se atentar ao agrupamento e à correlação de vários elementos de verdade dentro dos limites de cada período. Aqui, mais uma vez, nós não deveríamos proceder com subjetivismo arbitrário. Nossas construções dogmáticas da verdade, baseadas no produto final da revelação, não devem ser trazidas para dentro das mentes dos recipientes originais da revelação. O esforço deveria ser no sentido de entrar em seus pontos de vista e obter a perspectiva dos elementos de verdade como foram apresentados a eles. Há um ponto em que o avanço histórico e o agrupamento concêntrico da verdade estão intimamente relacionados. Não raramente, o progresso é trazido por algum elemento de verdade que, anteriormente, permanecia na periferia, assumindo seu lugar no centro. O problema principal será como fazer justiça às peculiaridades individuais dos agentes na revelação. Esses traços individuais se subordinam ao plano histórico. Alguns propõem que nós discutamos cada livro separadamente. Mas isso nos conduz à repetição desnecessária, porque há muito material que todos têm em comum. Uma estratégia melhor é aplicar o tratamento coletivo aos períodos iniciais da revelação nos quais a verdade não está ainda muito diferenciada e, então, individualizar nos períodos posteriores em que uma diversidade maior é alcançada.
USOS PRÁTICOS DO ESTUDO DA TEOLOGIA BÍBLICA
Resta falar alguma coisa sobre os usos práticos do estudo da teologia bíblica.
Esses podem ser enumerados da seguinte maneira:
(a) Ela exibe o crescimento orgânico das verdades da revelação especial. Ao fazer isso, ela capacita a pessoa a distribuir adequadamente a ênfase dentre os diversos aspectos do ensino e pregação. Uma folha não tem a mesma importância de um ramo, nem o ramo em relação ao galho, nem o galho em relação ao tronco da árvore. Além disso, por meio da exibição da estrutura orgânica da revelação, a teologia bíblica provê um argumento especial proveniente do delineamento dessa estrutura para a realidade da sobrenaturalidade.
(b) Ela nos supre com um antídoto útil contra os ensinamentos do criti- cismo racionalista. Ela faz isso da seguinte maneira: a Bíblia exibe o próprio organismo. Esse organismo, gerado na Bíblia por ela mesma, é destruído pela hipótese crítica. A destruição desse organismo não é constatada somente por nós, mas também pelos próprios críticos. Eles o fazem se baseando no pressuposto de que tal organismo é artificial e que em tempos posteriores foi imposto à Bíblia como legítimo. A solução é substituir o primeiro organismo por outro recém-descoberto por eles. Agora, ao nos tornarmos minuciosamente familiarizados com a consciência do que a Bíblia tem de si mesma na própria estrutura revelacional, seremos aptos a perceber como o criticismo destrói isso de maneira radical e que, longe de ser uma mera questão de datas e composição dos livros, o que está envolvido é uma escolha entre dois conceitos amplamente divergentes - sim, antagônicos - das Escrituras e da religião. Elaborar o correto diagnóstico do criticismo, em seu verdadeiro propósito, é possuir a melhor profilaxia contra ele.
(c) A teologia bíblica concede nova vida e vigor à verdade ao mostrá-la a nós em seu ambiente histórico. A Bíblia não é um manual dogmático, mas um livro histórico cheio de interesse dramático. A familiaridade com a história da revelação nos habilitará a utilizar todo esse interesse dramático.
(d) A teologia bíblica pode contra-atacar a tendência antidoutrinária atual. Muita ênfase tem sido dada proporcionalmente aos aspectos espontâneos e emocionais da religião. A teologia bíblica dá testemunho à indispensabilidade da base doutrinária de nossa estrutura religiosa. Ela mostra quão grande cuidado Deus teve em suprir seu povo com um mundo novo de ideias. À vista disso, torna-se ímpio declarar a crença como sendo de menor importância.
(e) A teologia bíblica alivia, até certo ponto, a situação triste da qual até as doutrinas fundamentais da fé parecem depender, principalmente do testemunho isolado de textos-prova. Existe um campo mais elevado no qual pontos de vista religiosos conflitantes podem ser avaliados quanto à sua legitimidade escriturística. Na sucessão dos eventos, esse sistema apoiará aquele que demonstrar ter crescido organicamente da raiz principal da revelação, e demonstrar estar entremeado com a própria fibra da religião bíblica.
(f) A utilidade prática mais elevada do estudo da teologia bíblica é aquela pertencente a ela no seu todo, além de sua utilidade para o estudante. Como em toda teologia, ela encontra sua finalidade suprema na glória de Deus. Ela atinge essa finalidade ao nos dar uma nova visão de Deus como aquele que apresenta um aspecto particular de sua natureza em relação com sua abordagem ao homem e comunicação com o mesmo.

VOS, Geerhadus. Teologia Bíblica, TRD Paulo Almeida de Paula, Ed Cultura Cristã, são Paulo 2010.
CARSON, Donald A. Teologia bíblica ou teologia sistemática: unidade e diversidade no Novo Testamento ,tradução: Carlos Osvaldo Pinto. – São Paulo: Edições Vida Nova, 2001.
VAN GRONINGEN, Gerad. O Progresso da Revelação do A.T. S. Paulo, Cultura Cristã, 2006
GUNNEWEG, A.H. Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo: EST e Sinodal, 2003.
HASEL, G. F. Teologia do Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Academia Cristã, 2007.
MIRANDA, Valtair. Fundamentos Da Teologia Bíblica, Ed Mundo Cristão 2011

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