TEMAS ESCATLÓGICOS
1º Encontro Literatura
Judaico-Apocalíptica
Uma
das características da literatura judaica encontrada no período do segundo
templo é o apocalipticismo, etimologicamente palavra grega apokalypsis,
uma revelação ou desvendamento, uma revelação da verdade, uma manifestação ou retorno
a visão, a palavra chega a significar um certo tipo de literatura profética[1].
Tanto o verbo como o substantivo eram raramente usados com o sentido religioso
no mundo Greco helênico. Somente a partir do 1o século A.C. é que a palavra
passou a ser empregada num sentido profundamente religioso. Como os judeus não
dispunham, em seu idioma, de um termo correspondente, quando se referiam à literatura
apocalíptica, usavam a palavra "profecia".
Devido
a isto Rudolf Bultmann declarou que a literatura do Novo testamento era uma
reflexão apocalíptica judaica em idéias gregas, para ele Paulo não compreendeu
corretamente os problemas da Igreja de Corinto ao explicar a resureição (Cap
15). E. Käsemann a apocaliptica judaica é mãe de toda teologia cristã. Albet
Schweitzer afirmava que Jesus e Paulo eram compreendidos se fossem observados
nos seus escritos como sendo apocalípticos, dando assim o princípio do Jesus
Histórico. R.H. Charles afirmava que o sermão do Monte de Jesus era na verdade
uma reprodução das frases do apócrifo ‘O Testamento dos Doze’, e que Paulo utilizou
o apocalipse judaico como um Vade mecum.
Para Bultmann a passagem em Marcos 13 é na verdade uma adaptação do apocalipse
judaico, colocado na boca do Jesus Histórico.
Ladd
define o apocalipse como "um livro que contém revelações verdadeiras ou fraudulentas
de segredos celestiais ou de acontecimentos que ocorrerão no fim do mundo e na inauguração
do reino de Deus"[2].
Um
dos eruditos citados por Ladd e T. C. Vriezen vai afirmar que “A escatologia
não surgiu quando o povo começou a duvidar da veracidade do reinado de Deus no
culto, mas sim quando eles tiveram de aprender, em meio a um grande sofrimento,
a confiar em Deus, pela fé somente, como o único fundamento firme da vida, e
quando esse realismo da fé esteve dirigido criticamente contra a vida do povo,
de modo que a catástrofe iminente era considerada uma intervenção divina
plenamente justa e, ainda, de modo a ser confessado que o Deus santo permanecia
inabalado em sua fidelidade e amor a Israel. Dessa maneira, a vida de Israel na
história passou a ter um aspecto duplo: por um lado, o juízo era considerado
próximo, tangível, e a recriação da comunidade de Deus como algo que se
avizinhava. A escatologia é uma certeza religiosa que emana diretamente da fé
israelita em Deus, conforme enraizado na história de sua salvação”[3].
No
período interbíblico o judaísmo apresentou um quadro complexo no que se refere
à vida religiosa; isto porque surgiram diversas seitas e partidos, os quais
revelavam costumes, crenças e objetivos diferentes. Todavia, estes grupos
religiosos, apesar das suas divergências éticas e teológicas, sustentavam uma
ideia em comum, a saber: a ideia augusta do Deus que viria reinar como
soberano, o Deus vivo, presente e poderoso.
Nesta
confluência de ideias, a literatura apocalíptica é formada, tornando-se
bastante complexa a sua análise, sendo fácil incorrer numa crassa
simplificação.
Para
que possamos entender mais amplamente esta literatura, torna-se necessário
conhecer a situação do povo no que se refere às suas relações com Deus e com os
homens. Após os profetas pós-exílicos, nenhum outro profeta apareceu em Israel.
A inspiração profética cessara. Deus não continuou a falar por meio de uma voz
viva. Além disso, os tempos eram maus. A prometida salvação messiânica não
aparecia. Em lugar do reino de Deus, uma sucessão de reis pagãos governava o
povo de Deus; e nos dias de Antíoco Epifânio (168 a.C.) a fé judaica foi
proibida e os judeus fiéis sofreram tremenda perseguição. Para preencher esse
vácuo, os escritores apocalípticos apareceram, entre 200 A.C. e 100 D.C., os
quais se propunham apresentar revelações da parte de Deus explicando o motivo
da prevalência do mal, desvendando os segredos celestes e prometendo a vinda
iminente do seu reino e da salvação aos aflitos. A ideia geral era que o Espírito Santo se
apagara.
Dentro
deste sentimento de relativo abandono, as visões e revelações alegadas
obviamente inflavam os fiéis, que precisavam de um alento para seus corações
sofridos e seu moral humilhado. A era presente é totalmente má; não tem
esperança; não pode reformar-se; para ela não há outro futuro que a destruição
total. Os judeus, portanto, esperavam o fim das coisas tais como eram. A idade por
vir seria totalmente santa e justa; seria a idade dourada de Deus; nela haveria
paz, prosperidade e justiça; nela, por fim, o povo eleito de Deus seria
vindicado e receberia o lugar que lhe correspondia por direito.
Dentro
desta hermenêutica da crise surgiu um "messianismo militante" que fomentou
a expectativa de um messias que subverteria a ordem estabelecida no dia chamado
de "Dia do Senhor". É importante observar que quando o
apocalipticismo é politizado, gera, amiúde, revoluções e guerras. Pelo que
parece, foi isto que também fizeram os zelotes e sicários (sedentos de sangue).
Em
suma, podemos dizer que o apocalipse (literatura apocalíptica) é o levantamento
antecipado da cortina para mostrar a cena final, é um modo pictório e simbólico
de comunicar a convicção da vitória, futura.
O DESENVOLVIMENTO
HISTÓRICO DAS PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO.
I-
Período Embrionário: Gn3.15; 12; 15 ...
II-
Período de Consolidação: Moisés Dt.30.15-20
III-
Caracterização e Formação Ministerial: Duas escolas principais, Samuel, e
depois Elias devido a perseguição de Jezabel, podemos dizer o amadurecimento
deste ministério e seu reconhecimento na sociedade judaica.
IV-
Crise e Recriação da Esperança: Vimos neste período a abrangência do ministério
profético, pois eles profetizam para a nação dedicando uma seção para outros
povos. Ex. Isaias, Jeremias, Ezequiel e Daniel, e mais alguns dos menores.
Após
este período surge a busca e o desenvolvimento humano de produzir suas
mensagens proféticas, devido o caos político e religioso do período dos
Macabeus, denominada Apocalipcismo.
Características
desta literatura
Podemos
encontrar duas características principais dos textos escatológicos judaicos,
segundo John Collins[4],
no período do segundo templo, primeiro os historicamente orientados como
encontrados no livro de Daniel (pois muitos acreditam ter sido escrito neste
período, não acreditando na possibilidade das veracidades históricas de Daniel).
Que tenta sintetizar a extensão da história e vem descrever os julgamentos numa
proporção cósmica.
A
segunda característica seria denominada “viagem
celestial”[5],
que é característica dos livros Baruque, Enoque, sendo que estes se detém no
tema pós-morte. No livro de Apocalipse podemos verificar um texto mais complexo
que estes. No segundo século da era cristã que literatura profética
escatológica passou a se denominar ‘apocalíptica’, pois havia elementos
idênticos e ou similares ao do canônico Apocalipse cristão, conhecido como
escrito por João, com isto surge este estilo literário. Paul Hanson[6]
vai definir este estilo em três categorias: ‘Apocalipse’, seria um estilo
literário; ‘Apocalipscismo’ tendendo para um movimento social; e ‘escatologia
apocalíptico’ que teria uma mensagem de perfil a partir de uma cosmovisão do
autor.
No
livro de Apocalípse encontra-se uma estrutura típica da literatura judaica do
segundo templo que seria a) Uma revelação dada por Deus; b) Um mediador; c) Uma mensagem visionária; d) Tudo
aplicado a eventos futuro.
Para C.
Timóteo Carriker[7]
a literatura apocalíptica judaica é um “gênero literário”, que “ constitui uma
espécie de literatura de resistência anti-helenística”[8].
Judeus fiéis procuravam revelação divina para explicar a natureza intolerável
das suas vidas sob a dominação cultural estrangeira e procuravam compreender o
plano de Deus para a sua libertação. Os exemplos clássicos incluem o livro de Daniel,
o Apocalipse Animal (1Enoque 85-90) e a Epístola de Enoque (1Enoque
92-105). Entre as três maneiras de definir o assunto, a distinção literária é a
mais segura, pois os apocalipses constituem a matéria prima em si, aquilo que
os pesquisadores têm em mão, para discuti-la e elaborar as outras distinções.
O
“apocalipticismo” refere-se a um movimento sócio-religioso caracterizado pelo pensamento
apocalíptico. É a sociologia que determina o critério desta distinção, que se preocupa
com o esforço de explicar o pano de fundo social das comunidades ou indivíduos
que escreveram os apocalipses. A sociologia realiza uma tarefa louvável e necessária,
porém o seu critério estabelece a distinção mais precária dos três, pois os próprios
apocalipses fornecem pouquíssimos dados sobre suas possíveis comunidades.
Um
defensor da autoridade canônica de Apocalipse D.A.Carson, apresenta ainda
outros elementos característicos da literatura apocalíptica, a) Um dualismo
histórico, onde o atual é marcado pela presença do mal que persegue os que
desejam fazer o bem sob as orientações divina, quando no vindouro terá uma
intervenção divina; b) Sua mensagem é revela por um anjo que acompanha o autor
nos desdobramentos das visões que vão surgindo, revelando os mistérios
celestes; c) Uma forte presença simbólcas. Para D.A. Carson, estabelecer o Apocalipse
de João coma uma típica literatura apocalíptica judaica possui um forte
problema nesta identificação.[9]
Continuando
Carson, Apocalipse não é um pseudônimo, é o próprio João se identificando como
autor do texto, outro ponto que Carson estabelece que o tema principal de
Apocalípse não seja os eventos futuro mas sim a pessoa de Cristo no centro da
história, as literaturas apocaliptica se prendem ao futuro enquanto o
Apocalipse de João se atem ao passado, no sacrifício de Jesus. Para finalizar,
Apocalipse seria mais um epístola circular que um livro aleatório, e as
literaturas apocalípticas destinam-se a judeus, enquanto o Apocalípse de João a
igreja em solo gentílico.
Para Robert H. Gundry o estilo típico da literatura
apocalítica empregado no Apocalipse exibe uma linguagem exaltadamente
simbólica na descrição de suas visões. Essas visões retratam o final da
história, quando o mal houver atingido seu limite máximo e Deus tiver feito
intervenção para dar início ao Seu reino, para submeter os ímpios ao
julgamento e para galardoar os justos. E tudo isso é exposto não a fim de
satisfazer mera curiosidade quanto ao futuro, mas a fim de encorajar o povo de
Deus e não fraquejar diante de um mundo dominado pela iniqüidade. Mui
freqüentemente, João se utiliza da fraseologia típica do Antigo Testamento,
especialmente dos livros de Daniel, Ezequiel e Isaías[10].
Quanto
uma defesa final do Apocalipse de João, Kistemaker, o Apóstolo ao
escrever as suas visões faz alusão quase a cada livro do cânon
veterotestamentário. A maioria das referências provém dos Salmos, de Ezequiel e
de Daniel. Além disso, há os cinco livros de Moisés; os livros históricos de
Josué, Juizes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester;
a literatura de natureza sapiencial de Jó, Provérbios, Cantares; o profeta
Jeremias; Lamentações; e todos os profetas menores, com a exceção de Ageu. Com exceção
de Rute, Eclesiastes e Ageu, João faz alusão a cada livro do Antigo Testamento.
João
faz alusão ao Novo Testamento em cada capítulo de seu livro. Para ilustrar,
Jesus menciona o diabo e seus anjos como sendo amaldiçoados e consignados ao
fogo eterno (Mt 25.41); João faz referência ao dragão ou diabo e seus anjos,
como sendo expulsos do céu e arrojados na terra (12.7-9; com parar Lc 10.18). O
autor estava familiarizado com muitos livros do Novo Testamento, principalmente
os Evangelhos, Atos, muitas das epístolas de Paulo, Hebreus e as epístolas de
Tiago, Pedro, João e Judas. Ele estava igualmente familiarizado com a
literatura apócrifa: 2 Macabeus, Tobias, 2 Baruque, Siraque, Sabedoria de
Salomão e os Salmos de Salomão.[11]
Para
concluir esta etapa vale citar novamente Kistemaker, “Quando examinamos cuidadosamente este
livro, começamos a compreender que ele não é uma mera composição humana
semelhante aos apocalipses de 1 Enoque (2 Esdras no OT Apocrypha) e 2
Baruque. No Apocalipse, o Deus Triúno está revelando sua Palavra ao leitor,
isto é, Deus mesmo está falando ao seu povo. Isso se faz evidente nas palavras
introdutórias: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu” (1.1), e nas
cartas às sete igrejas. Ali ouvimos a voz de Jesus, que conclui cada carta com
as palavras: “o Espírito diz às igrejas” (2.7,11, 17,29; 3.6,13,22). O último
capítulo registra a voz de Jesus (22. 7, 12-20), a voz do Espírito (22.17)”.
Devemos notar aqui uma
interessante distinção entre a apocalíptica judaica e a apocalíptica cristã:
enquanto a primeira se preocupa com a nação israelita, a segunda substitui
Israel pelos eleitos, quer judeu, quer gentios. Há que se reconhecer que alguns
conteúdos são comuns tanto à mensagem apocalíptica judaica quanto à
apocalíptica cristã, também denominada escatológica. Entretanto, não podemos
negar que a mensagem escatológica da apocalíptica cristã sublinha a
centralidade na pessoa de Jesus, como o Cristo e Messias que haveria de vir em
cumprimento à promessa feita desde a queda do homem, isto é, o descendente da
mulher que esmagaria a cabeça da serpente.
Disso inferimos que existe certo
exagero na afirmação de que Cristo jamais trouxe qualquer ensino inédito em
seus sermões escatológicos, ou seja, que seu pensamento e toda a teologia do
Novo Testamento se fundamentaram na reprodução das crenças apocalípticas produzidas
no judaísmo tardio. O máximo que pode ocorrer é que haja “uma questão crítica
da descontinuidade e continuidade entre Jesus e o judaísmo dos seus dias”. Devemos
ter em conta ainda que — apesar de os eruditos tratarem o livro de Apocalipse
como um típico exemplo do gênero de literatura apocalíptica, classificando-o no
mesmo gênero de Enoque e Baruque, entre outros — não podemos esquecer que a
apocalíptica judaica trabalha com o fundamento de que o Cristo ainda não veio,
mas virá, enquanto a apocalíptica cristã explicita que Cristo já veio e que
aguardamos o desfecho de toda a história da redenção em sua segunda vinda. Este
parece ser o entendimento de Ladd: “Há, contudo, algumas diferenças entre o
Apocalipse e os apocalipses judaicos, a mais importante das quais é a sua consciência
de estar dentro da história da redenção”[12].
Percebemos esse princípio uma vez
que na mensagem escatológica da apocalíptica cristã também nos deparamos com a
expectativa de que “o mundo dentro de pouco tempo chegaria ao fim; a vinda do
Messias significava que o fim começara e a sua ressurreição era o primeiro ato
do cenário escatológico”. O apóstolo João empregou em seu Apocalipse (composto
num período de perseguição) a linguagem das mensagens apocalípticas para
explicar a era cristã. Por esse motivo, o termo “Filho do Homem”, usado em
Daniel, foi apresentado como Cristo e as fórmulas numerológicas foram
reafirmadas. Isso significa reconhecer que a apocalíptica cristã foi marcada
pelas expectativas de salvação das apocalípticas judaicas, salvaguardado
o exagero e as distinções anteriormente descritas.
Merece
destaque o fato de a mensagem escatológica — que ensina a esperança viva na
intervenção direta e imediata de Deus para inverter a história e vencer o mal
com o bem — sempre trouxe profundo consolo não só aos judeus, mas também serviu
aos cristãos sofredores de grandes perseguições pelo Império Romano e nos mais
diferentes períodos da história da Igreja. Essa mensagem sofreu muitas
variações e percebemos sua influência entre os primeiros cristãos,
principalmente quando estes evidenciavam suas expectativas milenaristas, isto é,
quanto aos acontecimentos que resultariam na segunda vinda de Cristo. QUEM
VAI DEMOLIR COMPLETAMENTE A INFLUÊNCIA APOCALIPTCA SERÁ C.H. DODD SLIDE 25
2º
Encontro A Escatologia na História da Igreja.
Apesar
dos textos Sagrados, a Igreja não ficou descansada e passou a elaborar seus
métodos escatológicos, neste primeiro momento deste nosso encontro abordarei as
formulas que a Igreja desenvolveu para encontrar um período que a volta do
Senhor ocorrerá. Insatisfeita com o termo de que este dia pertence unicamente a
Deus, ela começou a criar diversas contagens escatológicas.
Talvez
influenciado pelo milênio sabático judeu, no qual o rabino Kattina no Talmude
Babilônico uniu o salmo 90 com Genesis, declarou que cada dia da criação
representava um período de mil anos, levando a crer que o mundo existirá por 6
mil anos, sendo o sétimo de solidão. Baseado nisto, outra escola rabínica chega a afirmar que o mundo deve
durar 6 mil anos, dois de desolação, período anterior a o TORAH, depois dois
mil de esplendor sob a TORAH, e dois nos domínios do Messias, a demora e o não
cumprimento deste período é devido o pecado e a incredulidade da humanidade.
Esta
ideia passou para o cristianismo, segundo Gonzales[13],
na Epístola Pseudo Barnabé, quando este afirma que como a criação terminou em
seis dias, e como para Deus cada dia seria mil anos, o Dia do Senhor será como
mil anos. Depois foi aperfeiçoada por Sexto Júlio Africano, bibliotecário de
Alexandre Severo, ousou datar o Dia do Senhor, segundo seus cálculos, seria no
ano 500 (como ele viva no meado do sec. III, faltava pouco tempo para a
Parousia do Senhor.
Esta
teoria se desenvolveu de tal maneira que Eusébio de Cesaréia, Lactâncio, e até
mesmo Agostinho (sendo que este não aceita o método de datação), se apropriaram
desta tese, claro cada um aperfeiçoando a sua maneira, até mesmo os prédios das
igrejas tinha forma geométrica hexagonal ou octogonal, os batistérios muitos
deles em forma de retângulo lembrando um
caixão, passou a ter depois um formato de seis lados, adotado por esta doutrina
cristã.
Maximo
Turim no sec. X sugeriu que o fim estava próximo, acreditando ao se completar
os mil anos de nascimento do Senhor o fim estaria próximo, cumprindo-se o
Apocalipse. Neste período o abade Abo fazia forte oposição a tal ideia. Passado
este período esta teoria foi perdendo força no seio da igreja, vindo a
ressurgir no ano de 1492, na Russia.
Em
uma cronologia russa, o mundo foi criado 5.508 ante de Cristo, e que terminaria
no ano !492, completando os 7 mil anos, concluindo que o fim se daria na páscoa
de 1493, como a páscoa passou e nada aconteceu, foi realizada um concílio, que
abandona períodos literais, e adota a ideia de gerações ou dispensações, como o
período das seis idades.
Outro
a contribuir para esta contagem foi Joaquim de Fiore (1202) que o mundo tem
três períodos, primeiro a do Pai, o segundo a do Filho e o terceira do Espírito
Santo. Esta primeira idade começou com Adão e terminou com Senhor Jesus
totalizando 42 gerações, acreditando ser Deus uma pessoa altamente simétrica
Fiore chega a afirmar que Deus adotou tal simetria a fim de se revelar a
humanidade, calculando que cada geração é de 30 anos, a segunda geração
terminaria 1260. Depois deste ano seria a geração do Espírito santo, tornando
este período de plena santidade e perfeita caridade. Mais uma vez nada
aconteceu, mas não significa que ela foi abandonada, a ala espiritualista dos
franciscanos se apropriou do esquema de Fiore, e chamou Francisco como o
precursor da idade do Espírito (um João
Batista desta nova era, visto que ele morreu em 1226). Depois de nada acontecer
paulatinamente a Igreja foi abandonando esta simetria matemática afim de datar
o momento da Parousia de Jesus.
Um
segundo movimento que atravessou a igreja foi a teoria ou doutrinas
milenarista, a doutrina do milênio, ou reino dos
santos na terra por mil anos, é agora rejeitada por todos os católicos romanos
e pela maioria dos protestantes; mesmo assim, foi considerada pelos melhores
cristãos, por 250 anos. O método de interpretação por espiritualização propagado
por Orígenes desencadeou o fim do método literal de interpretação sobre o qual
repousava o pré-milenarismo.
A influência também de Agostinho, que contribuiu mais para o
pensamento teológico que qualquer outro indivíduo entre Paulo e a Reforma, e
por meio de quem o amilenarismo foi sistematizado e o sistema romanista obteve
sua eclesiologia, foi fator fundamental na cessação do pré-milenarismo. A
importância de Agostinho para a história do amilenarismo deriva de duas razões.
Primeiro, não existiram expoentes aceitáveis do amilenarismo antes de
Agostinho, antes dele, o amilenarismo associava-se às heresias produzidas pela
escola teológica alegorista e espiritualista de Alexandria, que não apenas se
opunha ao pré-milenarismo, mas subvertia qualquer exegese literal das
Escrituras. O segundo motivo da importância do amilenarismo agostiniano é que
seu ponto de vista se tornou a doutrina dominante na igreja romana e foi
adotado com variações pela maioria dos reformadores protestantes, juntamente
com muitos outros de seus ensinamentos. Os escritos de Agostinho, na verdade,
causaram o abandono do pré-milenarismo pela maior parte da igreja organizada.
Em sua famosa obra, A cidade de Deus, Agostinho lançou
a idéia de que a igreja visível era o reino de Deus na terra, esse livro foi
escrito especificamente para ensinar a existência do reino de Deus na
igreja simultânea ou paralela ao reino terrestre ou humano. Dessa
eclesiologia básica, que interpreta a igreja como o reino, Agostinho
desenvolveu sua doutrina do milênio, Ele ensinou que o milênio deve ser
interpretado espiritualmente como cumprido pela igreja. Defendia que o
aprisionamento de Satanás ocorreu durante o ministério terreno do nosso Senhor
(Lc 10.18), a primeira ressurreição é o novo nascimento do cristão (Jo 5.25) e
o milênio deve corresponder, conseqüentemente, ao período entre os adventos ou
era da igreja. Isso implicava a interpretação de Apocalipse 20.1-6 como uma
"repetição" dos capítulos anteriores e não uma referência à nova era
que seguiria cronologicamente os acontecimentos demonstrados no capítulo 19.
O quiliasmo desapareceu proporcionalmente à medida que o
catolicismo papal romano avançava. O papado tomou para si, e assim o quiliasmo
desapareceu. Essa é a profunda verdade que jaz no âmago da interpretação
protestante antipapal do Apocalipse.
No período pós-Reforma surgiu a interpretação conhecida como
pós-milenarismo, que veio a suplantar, em grande parte, o amilenarismo
agostiniano na igreja protestante. A incapacidade do amilenarismo, como
interpretado por Agostinho, de satisfazer os fatos da história levaram a um
novo exame da sua doutrina. O primeiro defensor da posição de que Cristo
retornaria depois do milênio e traria o estado final com o grande julgamento e
ressurreição, foi Joaquim de Flora, escritor católico romano do século xii.
O
pós-milenarismo baseia-se na interpretação figurada da profecia, que permite
grande liberdade em encontrar o significado de trechos difíceis — uma amplitude
hermenêutica refletida na falta de uniformidade da exegese pós-milenarista. As
profecias do Antigo Testamento relacionadas ao reino de justiça na terra serão
cumpridas no reino de Deus no período entre os adventos. O reino é espiritual e
invisível em vez de material e político. O poder divino do reino é o Espírito
Santo. O trono no qual Cristo sentará é o trono do Pai no céu. O reino de Deus
no mundo crescerá rapidamente, mas com ocasiões de crise. Todos os meios são
usados para apressar o reino de Deus — é o centro da ação providencial de Deus.
A pregação do evangelho e a divulgação dos princípios cristãos particularmente
sinalizam o seu progresso.
A vinda do
Senhor é considerada uma série de acontecimentos. Qualquer intervenção
providencial de Deus na situação humana é uma vinda do Senhor. A vinda final do
Senhor é o auge e reside num futuro muito remoto. Não há esperança do retorno
do Senhor no futuro previsível, certamente não nesta geração. O
pós-milenarismo, assim como o amilenarismo, acredita que todos os julgamentos
finais de homens e anjos são essencialmente um único acontecimento que se dará
após a ressurreição de todos os homens antes do estado eterno.
Embora os
reformadores não tenham adotado a interpretação pré-milenarista das Escrituras,
sem exceção retornaram ao método literal, que é a base sobre a qual repousa o
pré-milenarismo. A aplicação lógica desse método de interpretação logo levou
muito dos escritores do pós-reforma a essa posição.
Os estudos bíblicos promovidos por Darby e seus seguidores
popularizaram a interpretação pré-milenarista das Escrituras. Essa tem sido
disseminada no crescente movimento de conferências bíblicas, na propagação de
institutos bíblicos, nos muitos periódicos dedicados ao estudo da Bíblia, e
está intimamente associada a todo o movimento teológico conservador nos
Estados Unidos hoje.
Desse modo, a pesquisa histórica revela que a interpretação
pré-milenarista, unanimemente defendida pela igreja primitiva, foi suplantada
mediante a influência do método de alegorização de Orígenes pelo amilenarismo
agostiniano, que se tornou o ponto de vista da igreja romana e continuou a
dominar até a Reforma protestante, por ocasião da qual o retorno ao método
literal de interpretação restaurou a interpretação pré-milenarista. Essa
interpretação foi desafiada pelo surgimento do pós-milenarismo, que começou a
tomar forma depois da época de Whitby e continuou presente até seu declínio
após a Primeira Guerra Mundial. Esse declínio promoveu a ascensão do
amilenarismo, que agora compete com o pré-milenarismo como método de
interpretação da questão quiliástica.
Mas mediante a isto podemos afirmar sem exitação que A segunda
vinda é literal; A segunda vinda é inevitável; A segunda vinda será visível.
OS MOVIMENTOS EXTREMOS MILENARISTA E SUAS REVOLTAS ARMADAS.
v
Em
Florença, monge Savonarola iniciaria um
movimento escatológico em 1494, influenciado por uma hermenêutica literal no
Apocalipse de João e uma série de seremão sobre as profecias de Ageu.
Acreditavam transformar Florença em uma Jerusalém terrestre. Excomungado em
1497, morreu em l494 queimado por ordem do Vaticano. Cogita-se que Leonardo
da Vinci teria
retratado Savonarola na sua
famosa obra A Última Ceia no rosto de Judas
Iscariotes.
v
Um segundo movimento, quase anterior ao de Savonarola,
ocorreu em Praga, após a morte de Jan Huss de forma traiçoeira, 452 nobres se
manifestam contrário ao Concílio de Constança (que resolveu a questão do Exilio
Babilônico Papal).
Deste
movimento surge dois grupos hissitas, os utraquistas ( é uma corrente de pensamento cristão que afirma que a Eucaristia deve sempre ser
administrada a todos os fiéis em "ambas as espécies ", ou seja, pão evinho), e os
taboritas, movimento armado que defendia uma visão milenarista, liderada por
Zizka, conseguindo vencer 5 cruzadas papais, mas depois foram derrotados e por
fim desapareceram.
v
No
traçado de um panorama da história da escatologia, também não se pode esquecer
a rebelião de Münster, ocorrida em 1534. Jan Matthys, um padeiro de Haarlem, na
Holanda, assumiu
o controle da comunidade, autodenominou-se Enoque e iniciou um período de
repressão que visava a “purificar” a cidade, com rebatismos forçados; além
disso, confiscou propriedades e chegou até a executar um ferreiro considerado
seu “amigo”. Matthys, que justificava suas atitudes como sendo a preparação do
caminho para a segunda vinda de Cristo, declarou que Münster era a nova
Jerusalém e
conclamou todos os cristãos fiéis a se reunirem naquela cidade. Foi grande a
luta para conter Matthys e seus seguidores, e, segundo Clouse,esse episódio e o
fato de o pré-milenarismoter sido mal compreendido por parte de muitos cristãos
(conforme vimos anteriormente) talvez tenham levado os reformadores
protestantes a reafirmarem o amílenarismo agostiniano. Devemos
ter em mente que cada uma das três tradições protestantes do século 16
(luterana, calvinista e anglicana) tinha o apoio do Estado, e, portanto, o
amilenarismo parecia ser a melhor escolha dentre as correntes do milênio.
González afirma: “Ao que parece
estas doutrinas se baseavam no começo em um milenarismo exagerado. O fim estava
às portas. Então Jesus Cristo castigaria os ímpios, e exaltaria os eleitos. Nos
últimos dias, à espera do fim, era tarefa destes eleitos empunhar a espada e
preparar o caminho do Senhor. Não havia motivo para ter misericórdia daqueles
que de qualquer forma o Juiz Supremo iria condenar ao fogo eterno. Por isto
todos os que agora se opunham à vontade de Deus deveriam ser destruídos pelas
milícias cristãs. Quando chegasse a hora final Deus restauraria o paraíso.
Acreditavam que no Reino todos os sacramentos e ritos seriam dispensados, substituídos
pela presença real de Cristo e do Espírito Santo; todas as leis seriam
abolidas; os eleitos jamais morreriam; e as mulheres iriam parir crianças sem
dor[14].
3º Encontro A Escatologia e Seus Pensamentos Contemporâneo.
Principalmente
no século XIX surgiu, no contexto do aparecimento das ciências do social e da
crítica filosófica à religião, uma forte crítica ao discurso de “ressurreição”,
“céu”, “vida eterna” feito pela Igreja: prometer a vida eterna ou o céu aos
fiéis é desviar a atenção da situação desta terra. Enquanto se fica pensando e
consolando com a vida e eterna, não se pensa na situação da vida aqui nesta
terra, na situação em que se vive. Se sofremos agora teremos a recompensa no
céu: isto não passa de alienação. Com isso não se pensa em nenhuma mudança
social. Ficar prometendo o céu individual como consolo é o discurso ideológico
do dominante, que de modo algum quer alguma mudança. Esta crítica coloca
sobretudo a descoberto, que um discurso a respeito do pós-morte tem
implicâncias e interesses sociais, ou seja, que o discurso escatológico não é
neutro frente à realidade e assim sendo, é passível de ideologização.
Um
dos primeiros a formular esta crítica direta à ideia cristã de realização
transcendental foi L. Feuerbach (1804-1872). Feuerbach nega a imortalidade do
ser humano como indivíduo.
Karl
Marx (1818-1886) formulou sua crítica tanto à ideia judeu-cristã de
reconciliação final em Deus, como à ideia cristã popular de realização num
paraíso no além. Para ele tanto uma como outra são estratégias de consolação.
Através destas estratégias, os aproveitadores das condições de injustiça
sócio-econômica desviam a atenção das verdadeiras causas da miséria existente e
tentam paralisar qualquer potencial de mudança. A escatologia cristã é a mais
clara afirmação de uma sociedade dupla. Com isso se fundamenta a alienação do
ser humano, em vez de superá-la. Criticar a ideia religiosa de realização no
pós-morte é pois condição para se tomar partido por um mundo melhor no aquém.
“A supressão da religião como realização ilusória do povo é uma exigência da
verdadeira realização. A exigência de suprimir uma ilusão sobre a sua situação
é um imperativo pela supressão de uma situação que necessita de ilusões. A
crítica da religião é em si a crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é
a auréola” (K. Marx). Marx não nega a escatologia, mas faz uma escatologia
secularizada, transpondo para dinâmica da história a tarefa de reconciliar as
contradições, de superar a negatividade, e para a responsabilidade humana a construção
do paraíso (e não mais graça divina). A criação de uma sociedade sem classes,
onde haja a superação de toda dominação e exploração (especialmente a do
capital sobre o trabalho) é no fundo a “sociedade escatológica”, isto é, a
sociedade totalmente realizada proposta por Marx.
Kant
em sua obra O
FIM DE TODAS AS COISAS de 1794, irá reduzir tudo em uma visão ética e moral,
onde a escatologia não deve ser tratada como uma abordagem séria, mas sim numa
perspectiva racional. Método que irá predominar nos aspectos escatológicos
liberais nos séculos XVIII, XIX E XX, quando o próprio Moltmann fará menção de
como foi importante obra de Kant no auxílio escatológico cristão.
Crítica da promessa do céu como moralizante
Além
de alienante, esta história de prometer o céu aos fiéis bons é um discurso que
convém à instituição. Qualquer desobediência pode ser ameaçada com o inferno.
Pode-se desta forma moralizar os fiéis na direção que a instituição achar
melhor. Assim os fiéis são mantidos fiéis à instituição pelo medo da perdição.
O medo é um eficiente mecanismo de dominação. É a fé de cabresto.
O
“fim do mundo” é um discurso antiquado
O
progresso da ciência e da pesquisa mostra que o fim do mundo é um discurso
antiquado, de ignorância de conhecimento da Bíblia sobre o universo. Dizer que
as estrelas do céu irão cair sobre a terra, que o mundo vai acabar com enxofre
vindo do céu, com água ou fogo, por exemplo, é falta de conhecimento
científico. Este modo de falar da Bíblia ignora a estrutura do universo, que na
época não era conhecida. Hoje sabemos que isto não acontece assim. Esta foi a
crítica advinda sobretudo do positivismo científico à ideia de fim de mundo, de
escatologia.
Reaparecimento do tema: neoapocalítica
secularizada
Toda
a crítica à escatologia cristã feita nos últimos séculos no mundo ocidental,
tanto a nível filosófico, como organizacional ou a nível científico, - advinda
sobretudo com o que chamamos comumente de iluminismo na cultura ocidental - faz
parte de um grande processo de tomada de consciência humanidade sobre si mesma
e sobre os mecanismos que a regem. Em vários níveis e de diversas formas
pode-se dizer que houve um desmascaramento dos mecanismos que regem a história,
a sociedade, a religião. Há uma tomada de consciência muito grande de que a
história não está à deriva (e nem esteve: ideologias e interesses que a
conduziram). Fica claro que os mecanismos que regem a história são
perfeitamente analisáveis e compreensíveis. Há uma tomada de consciência - não
se pode dizer a todos os níveis - de que o ser humano pode tomar em suas mãos a
condução da história. E justamente por ter aumentado a consciência da
responsabilidade humana na condução da história é que reacende-se com mais
vigor a pergunta pela direção que deve tomar a história, pelo destino do
humano, pelo destino da história.
Este
grande processo de tomada de consciência nos diversos níveis (técnico,
organizacional, filosófico, psicológico, político, ideológico), principalmente
a consciência em torno da responsabilidade humana pela condução de seu destino,
aliada às descobertas da ciência e aos avanços da técnica, foi portador de
grandes esperanças e desencadeou processos principalmente de otimismo. As novas
descobertas foram motivo de esperança muito grande de superação do trabalho
árduo, superação de doenças, superação de neuroses, superação da fome através
de melhores métodos de produção e assim por diante. Também na área social houve
grandes esperanças ligadas tanto ao avanço de democracias, de participação no
poder, ligadas à expectativa comunista da criação de sociedades sem classe,
como também na criação duma sociedade nova, impulsionada, sobretudo por
movimentos utópicos. Criou-se o mito na sociedade ocidental de que o desenvolvimento é
ilimitado e sem barreiras. Nada mais pode opor-se ao projeto de realização do
humano pelo próprio humano. A certeza de fé de que para Deus nada é impossível
foi substituída pela certeza “científica”de que para o desenvolvimento, nada é
impossível. O desenvolvimento substituiu quase que a tarefa divina de levar o
mundo à realização.
O DESESPERO E A PERDA DO FUTURO : Hoje podemos dizer com certeza que
chegamos ao fim do mito do desenvolvimento. Dois sinais apontam para o fim
deste mito: a consciência cada vez maior do fenômeno dos analfabetos secundários,
que se opõe claramente à ideia da realização para todos. É a consciência de que
apenas uma pequena minoria de fato tem acesso ao que se chamava de tomar a
história nas próprias mãos.
Um
segundo momento de tomada de consciência de que chegamos ao fim do mito
desenvolvimentista, é a constatação de que de fato e em muitos campos este
desenvolvimento, que prometia a salvação trouxe a possibilidade real e
histórica de destruição total, ou seja, a consciência da possibilidade dum fim
do mundo catastrófico provocado pelo próprio ser humano. Esta consciência levou
ao que eu chamaria de uma neoapocalíptica secularizada: um discurso
apocalíptico não de cunho ou fundo religioso, mas sim de cunho e linguagem
secularizada, que não deixa porém de ter seu aspecto religioso, por
perguntar-se pelo destino do humano ou do planeta. E com isso o desenvolvimento
que havia tomado de Deus a tarefa de ser o portador da realização, toma de
certa forma novamente a tarefa divina de determinar o fim do mundo (pelo menos
da civilização humana), de julgar (e condenar) o curso da história. Alguns
momentos que marcam esta neoapocalítica secularizada:
a)
Possibilidade duma guerra atômica
b) Desequilíbrio ecológico e a ecoescatologia
c)
Colapso sócio-político
d)
Teoria do Caos
e) O fim da história
f) A
transcendência na imanência
g) A
crise financeira
Redescoberta
da escatologia cristã
A
discussão que levou a esta “virada” na compreensão escatológica surgiu dentro
da teologia protestante com um debate em torno da questão da expectativa
neotestamentária do Reino de Deus e da protelação da parusia. Este debate foi
sobretudo uma reação à posição de A. Ritschl (+1889) e seu modo de entender o
Reino de Deus entidade moral de conotações universalistas e definitivas. Há um
desnível entre Reino de Deus e história, por causa do pecado, e só uma
justificação é capaz eliminar este desnível. Esta justificação ocorrerá no fim
da história, quando Deus assumir todos em si e isto é, pois, o Reino de Deus.
Nesta posição de Ritschl há pois uma postura de fazer do conceito Reino de Deus
um conceito só e unicamente transhistórico. A crítica a Ritschl é sobretudo
advinda da opinião de que esta forma de compreender o Reino de Deus não
corresponde ao dado bíblico, onde o advento do Reino de Deus num sentido
escatológico na história é um dado marcante da pregação de Jesus. Tanto a
pregação jesuânica do Reino de Deus como a comunidade cristã primitiva estão
numa expectativa da vinda iminente do Reino. A crítica à posição
antiescatológica na história de Ritschl levou J. Weiss e A. Schweitzer a
afirmar que a história do cristianismo se funda exatamente na protelação da
parusia. A não-vinda imediata do Reino de Deus anunciado por Jesus e esperado
pela comunidade primitiva levou a comunidade de crentes a desescatologizar sua
mensagem, ocorrendo assim uma ruptura entre Jesus e seu tempo por um lado e por
outro lado o tempo do cristianismo. Esta compreensão desescatologizada da
mensagem impede o acesso ao Jesus histórico. O movimento escatológico no
protestantismo ganhará diversas formas de se compreender.
Rudolf Bultmann: a
demitologização
A controvertida proposta de “demitologização” defendida por Bultmann
(vide mostrou-se particularmente significativa no que tange às convicções relativas
ao fim da história). Bultmann alegava que essas crenças eram apenas “mitos”, as
quais necessitavam ser interpretadas existencialmente. O Novo Testamento relata
diversas “histórias” que dizem respeito a tempos e lugares remotos e
inacessíveis (como “no princípio” ou “no céu”), as quais envolviam a atuação de
agentes e fatos sobrenaturais. Bultmann afirma que tais histórias possuem, na
verdade, um significado existencial subjacente que pode ser captado e
apropriado mediante um processo de interpretação adequado.
Talvez o mais relevante desses mitos seja aquele de caráter escatológico,
o qual defende o iminente fim do mundo, mediante uma intervenção direta de Deus
que levaria ao juízo final e posteriores recompensa ou punição. Esse conceito possui
uma importância central para nossa narrativa, à medida que permite que Bultmann
trate da demonstração feita por Schweitzer, acerca do “completo e total condicionamento
escatológico” do Novo Testamento, mediante um amplo processo de
demitologização. Para Bultmann, esse “mito” e outros similares poderiam ser reinterpretados
existencialmente.
Assim, no caso do mito escatológico, o reconhecimento de que a história
não havia, de fato, chegado ao fim não necessariamente invalidava o mito: se
interpretado existencialmente, o “mito” dizia respeito ao aqui e agora da
existência humana – ao fato de que os seres humanos devem encarar a realidade
de sua própria morte e que, assim, são forçados a tomar decisões existenciais.
O “juízo final” em questão não envolve algum tipo de julgamento divino futuro,
que ocorrerá com o fim do mundo, mas sim um julgamento de nós mesmos atual, que
se fundamenta em nosso conhecimento sobre o que Deus fez em Cristo.
Bultmann defende que esse tipo de demitologização é precisamente o que podemos
encontrar no quarto evangelho, escrito ao final do século I, quando as primeiras
expectativas escatológicas da comunidade cristã primitiva se dissipavam. O
“juízo final” é interpretado por Bultmann como uma referência ao momento de crise
existencial, quando seres humanos são confrontados com o querigma (kerygma) de
Deus para eles. A “escatologia realizada” do quarto evangelho surge do fato de que
o escritor do evangelho havia percebido que a parúsia não é um evento futuro, mas
sim algo que já aconteceu, no confronto entre o cristão e o querigma: Lá, o
“agora” relativo à vinda do Revelador corresponde exatamente ao “agora” da
proclamação da Palavra como fato histórico, o “agora” do presente, do momento...
Esse “agora”, em que somos abordados em um momento específico, é o “agora”
escatológico, pois nele faz-se a decisão entre vida e morte. Ele representa a
hora que está vindo e, ao ser atingidos por ela, passa a ser “agora”...
Portanto, não é verdade que a parúsia, aguardada pelos demais como um evento
ocorrido no tempo, estivesse sendo nesse momento negada ou transformada por
João em um processo interno da alma, em uma experiência. Ao contrário, João
abre os olhos do leitor: a parúsia já aconteceu!
Assim, Bultmann considera que o quarto evangelho faz uma reinterpretação parcial
do mito escatológico, em termos de seu significado para a existência humana. Cristo
não é um fenômeno passado, mas, antes, o Verbo sempre presente de Deus que não
expressa uma verdade genérica, mas sim uma proclamação concreta e dirigida a
cada um de nós, que exige de nossa parte uma decisão existencial. Para Bultmann,
o processo escatológico tornou-se um evento integrante da história, e torna-se
mais uma vez um evento integrante da proclamação cristã contemporânea.
Tais idéias, porém, não satisfizeram muitos dos críticos, que sentiram
que Bultmann havia abandonado demasiadamente as características centrais da
doutrina da esperança defendida pelo cristianismo. Diziam, por exemplo, que a
noção de escatologia de Bultmann era algo puramente individualista, ao passo
que era evidente que a noção bíblica tinha uma dimensão comunitária. Uma outra abordagem
começou a surgir ao final da década de 1960, que muitos consideravam mais
completa do que a truncada versão da esperança apresentada por Bultmann.
Jürgen Moltmann: a teologia da esperança
Jürgen Moltmann, causou um grande impacto, quando publicado em 1964, na
Alemanha. Nessa obra, Moltmann inspira-se nas idéias de Ernst Bloch,
registradas em sua notável obra [Filosofia da esperança]. A análise neomarxista
que Bloch faz da experiência humana baseia-se na crença de que toda a cultura
humana é movida por uma esperança apaixonada pelo futuro que transcende toda a
alienação do presente.
Bloch via-se como alguém que permanecia coerente com a noção bíblica de
uma esperança apocalíptica revolucionária. Bultmann procurava tornar a
escatologia aceitável mediante sua demitologização, ao passo que Bloch a
defendia, ao apontar tanto para a profunda crítica social quanto para a visão
profética de transformação da sociedade que acompanhava as idéias escatológicas
em seus contextos bíblicos originários. Na década de 1960, tanto a Europa
quanto os Estados Unidos assistiram ao surgimento de uma explosão de otimismo
em relação ao futuro da humanidade. O futuro parecia cheio de esperança.
Contra esse cenário de uma visão secular da esperança, via de regra
fundamentado em uma ideologia marxista, Moltmann defendia a necessidade de um
resgate da dimensão comunitária do conceito cristão de esperança, como um fator
central na vida e no pensamento do cristão e da igreja. A escatologia precisava
ser resgatada dessa posição, em que era considerada como “um pequeno capítulo
inofensivo no final de uma dogmática cristã” (Karl Barth), para receber lugar
de honra. De acordo com Moltmann, a escatologia possui uma importância central
para o pensamento cristão. A atitude de Moltmann, orientada em direção ao
futuro, definida e informada pelas promessas de Deus, é sintetizada da seguinte
forma: “a esperança em busca da compreensão - espero para que possa
compreender”. Cada uma dessas frases representa uma alteração significativa da
perspectiva de Anselmo de Cantuária, que destacou a importância da fé,
sintetizada pela seguinte expressão: “a fé em busca da compreensão” e “creio
para que possa compreender”. Para Moltmann, a teologia cristã proporciona-nos
uma visão da esperança por intermédio da obra transformadora de Deus, que
permanece em profundo contraste com as idéias seculares de esperança e
transformação social: “Se é a esperança que sustenta e mantém a fé e faz com
que ela siga em frente, se é a esperança que atrai o cristão para uma vida de
amor, então também será a esperança aquilo que constitui a força motriz do
pensamento sobre a fé, de seu conhecimento e reflexões sobre a natureza humana,
a história e a sociedade”. A fé tem esperança para que possa saber aquilo em
que acredita. Assim, todo seu conhecimento será uma espécie de antecipação, um
conhecimento fragmentado que constitui um prelúdio do futuro prometido e, como
tal, é devotada à esperança. A esperança cristã volta-se na direção de um novum
ultimum, de uma nova criação de todas as coisas pelo Deus da ressurreição de
Jesus Cristo. Assim, inaugura uma perspectiva futura que abrange todas as
coisas, inclusive a morte, e nela também pode e deve abranger nossas limitadas
esperanças de uma renovação da vida, incentivando-as, relativizando-as e
dando-lhes uma direção”.
Para Moltmann, a “esperança” em questão não é individual, existencial nem
particular. E a esperança pública, comum a toda criação, à medida que ela
espera pela obra restauradora do “Deus da esperança”. Portanto, é imperativo
que o cristianismo resgate sua escatologia e perceba sua enorme importância
para o mundo que anseia por esperança e que busca essa esperança fora da
tradição cristã. Somente por intermédio desse resgate de sua própria teologia
da esperança, a igreja pode esperar conseguir ser ouvida em uma cultura
secular.
CONCLUSÃO
Podemos
observar até aqui como a escatologia despetou interesse no seio teológico cristão, numa
proporcionalidade que diríamos incomum, talves o encanto de descobrir o futuro
seja a nossa grande fraqueza. Com isto houve também um expansionismo cristão
nos séculos XVII, XVIII e XIX,
justificado por uma visão Universalista escatológico, aproveitando esta
doutrina os impérios europeus se utilizaram para expandirem seus domínios e
seuas forças econômicas, muitas das vezes patrocinando envios missionário pelo
mundo inteiro.
Precisamos
de um novo impulso missionário e de uma nova perspectiva escatológica, uma
expansão do cristianismo não mais numa visão imperialista, e denominacional.
Precisamos de uma escatologia mais ativa, menos teórica, pois a nossa
escatologia dos dias atuais, trouxe uma postura, devido a crença qua a volta de
Cristo pode ocorrer a qualquer momento, mais passiva nas elaborações cristãs,
perdemos uma agenda mais elástica, planejamentos mais longos, desenvolvemos uma
visão extremamente imediatista, não planejamos mais formação de obreiros, e de
mão-de-obra qualificada para as nossas igrejas.
Uma
escatologia de cunho mais social, um olhar a realidade mais verossímel, uma
denuncia dos eqívocos de forma mais contundente, desejar uma justiça mais
prsente, e não mais no descanso do povir, cremos que um dia Deus julgará a
todos, mas também a nós cristão.
Junto com a
escatologia cristã deve existir também a denuncia do mal, do pecado, das
injustiças, denunciar o traficante , mas também a corrupção política, o ganho
fácil do ladrão, mas também do empresário explorador. Escatologia envolve uma
fé genuina, e junto a ela a denuncia de uma injustiça social, de uma ecologia
degradante, um sistema econômico mais democrático.
Se creio na
volta literal, viva, real e verdadeira de Nosso Senhor Jesus, e creio que Ele
também não aceitará o mundo como ele se encontra, devo junto com meu
Kerigma cristão escatológico, denunciar
o que Ele reprovará, e começar hoje a denunciar as mazelas sociais, pois esta
será um dos motivos de Nosso Senhor Jesus vir a esta Terra e reinar sobre ela,
pois Ele trará justiça, paz, socorro ao desamparado.
A práxis
cristã é uma práxis escatológica, o envolvimento cristão é um envolvimento
escatológico.
REFERENCIA
BIBLIOLOGICA
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