Introdução
As antropologias do cristianismo, do islamismo, do hinduísmo, do
judaísmo e do budismo têm teologias inerentes que precisam ser descobertas para
entender mais profundamente cada tradição de fé.
Embora a história de engajamento entre antropologia e teologia seja
complicada, antropólogos e teólogos precisam repensar novas possibilidades da
teologia e da antropologia e voltando-se para outros caminhos afim de encontrar
uma antropologia teologicamente engajada.
A ciência moderna acumula conhecimento sobre a humanidade cada vez
maior, e ainda assim permanecemos um mistério para nós mesmos, incertos sobre
quem somos, por que somos e como devemos viver no mundo. Como Jürgen Moltmann
disse sobre o homem:
Continua escorregando de suas próprias mãos e se torna mais um
quebra-cabeça para si mesmo, quanto mais soluções possíveis ele tem disponíveis
na forma de esboços do que o homem é. Quanto mais respostas possíveis ele tem,
mais ele se sente em um salão de mil espelhos e máscaras, mais ininteligível
ele é para si mesmo. (MOLTMANN, 1974, p 11)
Isso significa que a antropologia, independentemente de ser explicitamente
teológica, é uma disciplina com implicações prementes e práticas, que moldam cada
identidade, sociedades, e os modos de vida.
Então, por que estudar antropologia teológica? Porque a partir
deste pensamento que significa ser humano, irá moldar quase todos os aspectos
de situação das vidas cotidianas, e porque não podemos compreender
adequadamente a humanidade a menos que essa visão esteja enraizada também na
teologia.
Uma das grandes fomes espirituais é a verdade. A verdade vem em
pelo menos dois tipos diferentes: fatos científicos e sabedoria filosófica.
Através desta aparelhagem é que se constrói a Teologia, como também a
Antropologia. A compreensão do que significa o ser
humano, numa perspectiva religiosa, é uma preocupação central da Antropologia
Teológica.
A Antropologia Teológica é a compreensão do homem pensada por cada
religião, neste caso aqui delimitaremos este perfil na perspectiva cristã
protestante, a partir das informações encontradas na Bíblia, e por meio da
tradição herdada na sua história teológica.
O presente artigo pretende explorar se há algumas similaridades da
Antropológico dentro da Teologia, revelando sua pluralidade dentro deste tema, como
forma de demonstrar as diversidades das intenções de compreender o homem, que
chegaremos a uma possível uniformidade dentro dela, assim escolhemos um autor
de linha Reformada Erickson, outro de tradição pentecostal Munyon, e Pannenberg
da escola luterana.
Utilizando de obras já publicadas, analisaremos o conceito da
Antropologia na Teologia que cada autor representa, afim de conseguirmos
desenvolver o tema proposto deste artigo. Desta forma através de uma pesquisa
bibliográfica como recurso metodológico.
Desenvolvimento
Antes de prosseguir devemos entender a origem dos termos, primeiro
Teologia: que surge no século IV a.C, passando a ser dotado pelo cristianismo
no Concílio de Niceia, século IV d.C. Enquanto Antropologia foi formulada por
Kant em 1781, como uma forma de se estudar o comportamento do homem.
A partir deste momento a Antropologia começa a ganhar rumo próprio,
que vai gerar conflitos da Antropologia com a Teologia. De uma perspectiva
cristã, essa identidade da atual crise demonstra tanto uma triste ironia e uma
lição importante. Primeiro, é uma triste ironia porque nessa confusão atual,
especialmente no Ocidente, está diretamente ligado à rejeição da visão cristã
do mundo e a recusa em reconhecer o homem como criaturas de Deus. Começando no
Iluminismo até nossos dias atuais, tem sido na moda para argumentar que não
precisamos reter o Deus da Escritura em nosso pensamento, a fim de entender
quem nós somos, ou nas famosas palavras de Alexander Pope, “O estudo apropriado
da humanidade é homem”, não Deus.
Para o cristianismo a Antropologia que procura estudar os seres
humanos para além do Deus Trino inevitavelmente acaba nos vendo meramente em
termos de origens impessoais, produtos da matéria, movimento, tempo e acaso. E
ainda mais: estas ideias, que reputam como falsas nunca permanecem de forma
teórica. Inevitavelmente, as pessoas agem sobre o que acreditam, e não é
difícil ver os resultados desastrosos de tal pensamento em todos os lugares ao
nosso redor - por exemplo, nossa desvalorização da vida humana no aborto, infanticídio,
eutanásia; o colapso da família, confusão de gênero; visões falsas da natureza
humana aplicadas à teoria; e a lista poderia ser multiplicada.
Como explica Moro sobre as divergências da Antropologia e Teologia
é:
A heterogeneidade entre teologia e antropologia não é, pois,
meramente histórica. Tampouco se trata de um problema de tradução, adaptação ou
ainda inculturação. A heterogeneidade entre ambas é sobretudo formal,
entendendo por forma não a simples aparência exterior, mas a conformação
interna e principial. É por isso que a passagem do uma ciência para outra não
significará, ou ao menos não pretenderá significar uma mudança acidental na
linguagem. Ela quer ser uma mutação total e implicará programaticamente a transmigração
de um universo para outro diferente com a conseguinte transmutação de valores
que se inicia na inversão do que a lógica antiga chamava objeto formal próprio
de cada uma das ciências. (MORO 1991, p. 167)
A antropologia teológica, tanto na tradição judaica quanto na
cristã, considera Gênesis 1: 26-27 como um texto fundamental. Aqui, na primeira
referência bíblica à humanidade, os seres humanos são descritos em sua natureza
“original” ou “essencial” como criados “à imagem de Deus”. Essa impressionante
correlação do humano com o divino é única e isolada.
Nos escritos do Novo Testamento da escola paulina, Cristo foi
identificado com a imagem (Rm 8:29; 1 Coríntios 11: 7; 15:49; 2ª Cor 3:18; 4:
4; Cl 1:15; 3:10; Hebreus 1: 3), e lançado como um "segundo Adão" (Rm
5: 12-21). A contínua especulação na igreja primitiva produziu uma doutrina da
imago Dei na qual o texto de Gênesis era lido através dos olhos de Paulo -
conforme interpretado por Agostinho e outros “padres” da Igreja. Como
consequência desta apropriação dogmática cristã do texto, a antropologia
teológica da Bíblia hebraica tem sido o arcabouço por uma antropologia bíblica
em que o Antigo Testamento foi selecionado, e interpretado, para atender às
necessidades de uma trajetória Paulina.
A partir de agora nasce outro caminho, nova perspectiva,
principalmente pela formula dispensada por Kant, conforme explica Júnior (2014,
p. 270) “formulada e expressa nas
clássicas perguntas de Kant: “O que posso saber?”; “O que devo fazer?”; “O que
me é permitido esperar?”; “O que é o homem?””, continuando Júnior ( 2014, 270)
“A característica fundamental do pensamento moderno é pensar todas as “coisas”,
inclusive Deus, a partir de e/ou em perspectividade ao homem, ainda que esse
homem possa ser compreendido de maneiras muito diferentes”.
Para ROSA ( 2001, p. 20)
“A simples redução da filosofia à antropologia, entretanto, como
querem certos autores antigos e alguns contemporâneos, não elimina o problema
em questão. O chamado “problema antropológico” continua a ser um tema
relevante, tanto na filosofia como na própria teologia contemporânea, que
também se tornou predominantemente antropocêntrica”
Completando com CASSIRIER (1972, p. 45).
“Em nenhum outro período do conhecimento humano o homem se tornou
mais problemático para si mesmo do que em nossos dias. Dispomos de uma
antropologia científica, uma antropologia filosófica e de uma antropologia teológica
que se ignoram entre si. Por conseguinte, já não possuímos nenhuma ideia clara
e coerente do homem. A multiplicidade cada vez maior das ciências particulares,
que se ocupam do estudo dos homens, antes confundiu e obscureceu do que
elucidou nossa concepção do homem”.
Pois a tão sonhada neutralidade não passa de um mito, como denuncia
Hilton Japiassu em “Mito da neutralidade científica” (1979) pois o cientista
sempre se imporá na conclusão de seu estudo.
Mas porque uma Antropologia Teológica? Graciani e Iwashita (2016,
p. 128) afirmam “Uma valência antropológica, portanto, é inseparável das
afirmações teológicas. A teologia aproxima-se da questão antropológica de forma
notável. ”
Diante do que foi exposto acima, iniciamos uma construção teórica antropológica
dos teólogos proposto, vamos começar com ERICKSON, este teólogo estadunidense
Batista, conseguiu seu Ph.D Northwestern University, tendo como Wolfhart
Pannenberg, seu orientador. Descrito como um “evangélico razoavelmente
conservador e apenas moderadamente calvinista, ” como iremos descrever. Erickson
é reformado em um sentido calvinista, no entanto, Erickson defende um
"calvinismo moderado" (2015, p. 351), ele afirma o livre-arbítrio
compatibilista e nega o livre-arbítrio libertário. Ele afirma a depravação
total e a incapacidade total da humanidade (2015, p. 352-53). Ele afirma a
eleição incondicional (2015, p. 356-58), mas não comenta sobre a dupla
predestinação; Erickson não toma posição sobre a dupla predestinação, embora
ele pareça apoiar o sublapsarianismo. Erickson defende uma expiação
“limitada-ilimitada”. Erickson parece defender uma graça irresistível, embora
não use o termo. Erickson demonstra a perseverança dos santos e a hipotética
visão da apostasia (2015, 381-84). Algo problemático é o fato de que Erickson
não deixa claro para o leitor desinformado o que é exatamente o calvinismo
“moderado”, o calvinismo “moderado” de Erickson aflora por meio de sua
informação do conhecimento médio, que é rejeitado pela maioria dos calvinistas,
através de seu apoio à expiação “limitada-ilimitada”.
Diante do que foi exposto acima para Erickson as ações do homem não
foram determinada, nem deixada a sua vontade,[1] como
explica “A solução, então, está em compreender o papel da presciência de Deus
na formação e execução do plano divino.”, pois para ele:
A ação humana é logicamente anterior. Com base nisso, o conceito da
liberdade humana é preservado. Cada indivíduo tem opções genuínas. São os seres
humanos que garantem que suas ações ocorram; Deus simplesmente consente.
Portanto, pode-se dizer que, na visão arminiana, esse aspecto do plano de Deus
é condicional à decisão humana; na visão calvinista, ao contrário, o plano de
Deus é incondicional. (ERICKSON, 2015, p. 351)
No capítulo que trata da Antropologia, prefere intitular
“Introdução à doutrina da humanidade” (2015, p. 339), sua Antropologia segue a
ideia de compreender a natureza de Cristo, será alcançada na compreensão da
natureza do ser humano, continuando Erickson a Antropologia interage com as
demais doutrinas, além de que o próprio estudante compreenderá a si próprio.
Erickson faz um giro das diversas teorias que tentam descrever o
homem usando uma linguagem síntese de cada posicionamento como ‘máquina’ e denuncia
coisificação da humanidade (2015, p. 355, 356); ‘um animal’ que para ele é o
rebaixamento do homem a nível inferior, como no processo do “conhecimento do
ser humano é obtido não pela introspecção, mas pelas experiências com animais.”
(2015, p. 357).
Continuando sua descrição o termo ‘um ser sexual’ uma clara refutação
a Freud, e sua teoria que tudo gira no libido sexual humano as “teorias de Freud se baseiam no conceito de que todo comportamento
humano deriva basicamente das motivações e energias sexuais.” (p. 358).
Erickson não deixa de fazer sua verificação marxista na expressão ‘Um ser
econômico’, pois este sistema vê a história de forma única e exclusivamente por
fatores econômicos, denominado ‘Materialismo Histórico’, neste caso a
realização antropológica se dará na sua liberdade econômica.
O outro termo citado por Erickson ‘Um peão do Universo’, e as
doutrinas existencialistas, tendo como referência Bertrand Russell e Alberto Camus;
‘Um ser livre’, que é uma continuação do tema anterior. Por fim ‘Um ser social’
penas, que com suas palavras afirma esta teoria
A pessoa é o conjunto de relacionamentos nos quais está envolvida.
Isso é o mesmo que dizer que a essência da humanidade não reside em alguma substância
ou natureza fixa definível, mas nos relacionamentos e nos vínculos com outras
pessoas. (ERICKSON,, 2015, p 462):
Em sua refutação a esta perspectiva ele declara que retira do homem
qualquer responsabilidade pessoal.
Sobre os pontos de vista básicos da constituição humana, Erickson
então afirmou a posição de muitos cristãos conservadores primeiro o tricotismo,
que pode ser rastreado até a antiga metafísica grega, mas logo após afirmar que
ele entra em uma lista de Escrituras que indica três partes distintas do
humano. Erickson continuou sua discussão afirmando que os filósofos gregos
ensinaram que havia um corpo e a alma e o espírito uniram os dois. Ele afirmou
que o Tricotomismo perdeu a consideração dos pais da igreja primitiva, mesmo
referindo-se a ela como herética, até ser revivida por ingleses e Teólogos
alemães.
Erickson começou a discutir o dicotismo como um que foi
popularizado na época do o Conselho de Constantinopla em 381. Esta crença
começou a se tornar universal na igreja. O dicotismo é atribuído ao Antigo
Testamento, enquanto o dualismo é atribuído ao Novo estamento. O corpo foi o
que morreu na morte e a alma é o que sobreviveu além o corpo. Erickson afirmou
que o dicotismo argumentava contra o tricotismo em para tentar provar o
primeiro sobre o posterior. Erickson argumentou que alma e espírito eram usados
indistintamente demonstrando assim que existem apenas duas partes para os seres
humanos e não três.
Ele então continua seu argumento de que o corpo e o espírito são as
duas únicas partes de um ser humano. Ele afirmou que na morte o espírito
permanece enquanto o corpo morre. Erickson também trouxe exemplos de outros
teólogos que tinham ideias diferentes sobre a composição do ser humano.
Erickson
discutiu a visão liberal, principalmente por não creem na imortalidade, como
também que o corpo pode ser ressuscitado. Harry Emerson Fosdick afirmou que a
ressurreição era apenas uma crendice do Novo Testamento, pois para Fosdick a
ressurreição era mais como uma perseverança da personalidade. Os conservadores,
entretanto, acreditam em um corpo ressuscitado e a sobrevivência da alma.
Sobre o Monismo Erickson começa esta seção afirmando que o
dicotomista e tricotomista são semelhantes em aquele ambos acreditam que o
humano é composto de duas ou três partes. Monismo acredita que um o humano é composto
de uma parte ou como ‘EU’. Eles não acreditam em imortalidade além de a
ressurreição do corpo, nem eles acreditam em um estado intermediário. Erickson
afirmou que o monismo foi popularizado atualmente pela neo-ortodoxia.
Erickson está concluindo esta seção sobre a natureza do homem com
um modelo alternativo a que ele se referiu como unidade condicional. Esta
abordagem é sua alternativa ao dualismo e monismo. Erickson se baseia à visão
de Henri Bergson como fonte de sua abordagem.
Erickson reiterou que o Antigo Testamento se referia ao corpo como
em unidade enquanto o Novo Testamento introduziu a terminologia do corpo-alma.
A ideia do Novo Testamento, ele afirmou, não declara claramente que o corpo da
alma é representado como uma corporificação ou desincorporação do ser. Erickson
avança para discutir que o Novo Testamento ensina um ponto entre existência
imaterial e material. Este estado intermediário é o lugar entre a morte de uma
pessoa e da ressurreição universal de todos os mortos e que vivem para um novo corpo
perfeito, que foi feito para a eternidade (2Co 5: 2-4).
Erickson agora se move para seus argumentos finais, e é assim que respondeu
à questão: “Como isso difere das visões usuais de tricotomia, dicotomia e monismo?
” A maneira como Erickson denominou essa abordagem, está no argumento de que a
Bíblia nunca encoraja o crente a escapar do corpo. Embora a alma é separada do
corpo na morte, na ressurreição os dois serão reunidos juntos novamente.
Ele também alertou sobre a ideia equivocada liberal de uma alma
imortal que não precisa de ressurreição. Ele encorajou o pensamento ortodoxo em
ambas as áreas.
Quanto sobre Unidade Condicional Erickson termina com um conselho
importante para um defensor cristão, que a ‘Unidade Condicional’ é a melhor
hipótese de tratar uma pessoa em uma maneira holística. Isso, afirmou,
incluiria abordar as questões espirituais das pessoas ao longo com seu estado
físico, mental e emocional. Ele quer que as pessoas entendam isso, a
complexidade inerente do homem. Ele também afirmou que “ O evangelho é um apelo
para a pessoa em sua totalidade” (2015, p. 522).
O próximo teólogo a ser analisado pertence ao grupo pentecostal, na
representação de Munyon. Os pentecostais que tem sua
origem dos convertidos da Rua Azusa, que eram em grande parte pobres,
trabalhadores sem instrução que não se sentiam bem-vindos no cristianismo
tradicional. Da mesma forma, o movimento tipicamente recorreu principalmente a
pessoas marginalizadas e deslocadas em todo o mundo, particularmente migrantes
para cidades em rápido crescimento. O pentecostalismo clássico nos Estados
Unidos, no entanto, gradualmente se tornou classe média e está se aproximando
do cristianismo fundamentalista e evangélico. Os adeptos do Terceiro Mundo
ainda são esmagadoramente pobres e da classe trabalhadora, mas o apoio da
classe média também está crescendo lá.
Muitos estudiosos veem o pentecostalismo como uma resposta à
privação material e social e à anomia. Eles argumentam que o movimento ajuda os
adeptos a lidar com mudanças radicais geralmente associadas à modernização ou
globalização, incluindo migração de rural para urbano, crescimento de
megacidades, burocratização, expansão do capitalismo e pobreza urbana.
Uma das facetas mais interessantes do pentecostalismo, para o
antropólogo, é que ele se adapta facilmente a qualquer cultura, absorvendo
grande parte da cultura e, ao mesmo tempo, demonizando as religiões indígenas.
É paradoxalmente global e local. O movimento pentecostal é claramente uma força
a ser considerada no século XXI. Começou como uma religião sobrenatural e tem
sido amplamente apolítica, mas há sinais de crescente politização, que só pode
aumentar sua influência no cenário local e mundial.
A perspectiva Antropológica desenvolvida no pentecostalismo se
difere de por sua exposição tricotômica (corpo, alma e espírito), sendo que em
Erickson foge da tradição calvinista e se próxima da ‘Unidade Condicional’.
Com respeito a uma Teologia Pentecostal, Araújo esclarece que
A diversidade mundial do pentecostalismo torna quase impossível
falar de “uma” teologia pentecostal. Nem ainda se conseguiu amadurecer uma
teologia da fé cristã sob a perspectiva do pentecostalismo clássico. Todavia,
existem certas correntes teológicas entre os pentecostais que apresentam certa
sistematização e, que, portanto, são dignas de serem exploradas. (ARAUJO, 2007,
p. 557)
Que neste caso compromete também sua Antropologia Teológica, pois
desenvolve sua abordagem a partir de outras fontes teológicas, não tendo
originalidade autoral, como consequência há pouca variedade de abordagem, sendo
quase repetição de outras fontes.
A Teologia Sistemática Pentecostal editada por Antônio Gilberto, é
uma obra com diversos autores da mesma denominação, Assembleia de Deus, ficando
na responsabilidade de Renovato desenvolver o capítulo sobre Antropologia.
Além desta obra, existem também outras publicada pela CPAD, como a
Teologia sistemática escrita por Eurico Bersgtén, missionário sueco; ‘Doutrinas
Bíblicas’ William W. Menzzies e Stanley
M. Horton e Teologia Sistemática, cujo editor é Stanley Horton, além do livro
‘O homem: a natureza humana explicada pela Bíblia’ de Severino Pedro. Enquanto
nos anos oitenta o livro ‘Conhecendo as doutrinas da Bíblia’ de Myer Pearlmann,
influenciou profundamente o pensamento antropológico pentecostal, há também de J.
Rodman Williams ‘Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal’ ambos pela
Editora Vida, e recentemente Brunelli ‘Teologia para Pentecostais’ publicado
pela Central Gospel; enquanto Wayne Grudem em sua ‘Teologia Sistemática’, além
de ser pentecostal, se diferencia dos anteriores por defender uma perspectiva
calvinista.
Mas a característica principal da Antropologia Pentecostal, é em
sua ênfase a distinção da composição do homem, entre corpo, alma e espírito
(denominado de Tricotomia), na sua explicação ocorre o rebaixando do corpo,
exaltando o espírito humano, chegando alguns a afirmar que não foi contaminada
com o pecado (Pearlman, 2006, 90), escapando totalmente da tradição teológica
cristã sobre a doutrina da depravação total, Grudem refuta vigorosamente esta
posição ( 1999, p. 391).
Para CORTEN (1996, p. 128) a influência agostiniana no pensamento
pentecostal que os prazeres físicos devem ser excluídos a todo custo, se insere
na sua elaboração antropológica. Que para Pannenberg (Vl 2, 2009, p. 266 nota
de roda pé) seria uma tradição de pensamento através da filosofia grega, e
posteriormente na tradição cristã nas figuras de Agostinho e Aquino, e mais
recentemente em Descartes. Possivelmente cometendo como Damásio veio a descrever
o erro cartesiano, de distinguir corpo da mente, neste caso aqui a distinção
exagerada entre corpo do espírito e alma na elaboração antropológica
pentecostal.
Na antropologia pentecostal há uma hierarquia em que o espírito
humano está elevado, enquanto que alma e o corpo, além de estarem corrompidos,
são dependentes do espírito.
Há ainda a teoria propagada por um seleto grupo do pentecostalismo
que chega ao extremo que após a morte uma tripartida, onde o corpo vai a
sepultura, a alma desce ao hades e o espírito volta para Deus, que o deu.
Munyon que vai colaborar na Teologia Sistemática sob editoração de
Horton, ficando sob a responsabilidade do capítulo da Antropologia, vai se
afastar da tradição pentecostal, e se aproximar da perspectiva Unidade Condicional,
fazendo nítida citações a Erickson (HORTON, 2008, p. 251-252).
Diante desta exposição chegamos a antropologia de Pannenberg, aposentado de uma longa carreira teológica em Munique, morreu aos
85 anos.
Pannenberg foi um dos principais teólogos do século XX, com uma
série de artigos brilhantes, livros importantes sobre os temas da revelação,
cristologia, ética, ciência, antropologia e metafísica, e uma robusta Teologia
Sistemática de 3 volumes para coroar sua carreira.
Pannenberg foi um teólogo da história em três sentidos: em primeiro
lugar, o conceito de história foi central para o pensamento construtivo (mais
sobre isso abaixo) e, segundo, ele sempre situado suas deliberações
doutrinárias dentro da história das ideias; E terceiro, Pannenberg era um
teólogo da história no sentido mais amplo de que ele fez história.
Pannenberg não está particularmente focado no envolvimento prático
da teologia de maneiras específicas. Ou seja, seu foco é mais na ortodoxia
coerente do que na ortopraxia.
A teologia de Pannenberg é mais sapiencial do que existencial. Ao
afastar-se do modo “existencial”, no entanto, Pannenberg fez mais do que
escolher um estilo diferente de linguagem. Sua vez de uma história pública e
uma razão compartilhada orientada para essa história é a tentativa mais
significativa em sua geração de teologia protestante alemã para romper com a
virada para o assunto que tem sido tão determinante por mais de duzentos anos.
Ele representa uma espécie de nova objetividade.
A Antropologia de Pannenberg está postulada sobre um tripé, como
ele mesmo estabelece:
A destinação do homem para a comunhão com Deus é tema da doutrina
de sua criação à imagem de Deus. A exposição dessa doutrina, porém, ainda
carece de uma fundamentação antropológica mais geral que garante
simultaneamente a relação da antropologia teológica com a doutrina da criação,
por um lado, e com a cristologia, por outro lado. (PANNENBERG, Vl. 2, 2009, p.
264)
Com respeito a composição do homem, Pannenberg inicia seu argumento
que o homem conduz sua vida de maneira consciente, rejeitando a teoria
behavorista, que transforma o homem de impulsos instintivos.
Com respeito ao corpo Pannenberg entende que o conhecimento que o
homem tem de si, é via por ele, e condicionado por suas funções físicas,
Pannenberg não vê distinção da alma do corpo “Alma e consciência estão
profundamente enraizadas na corporeidade do homem” (2009, p. 266), que a
distinção é uma ideia plantonista, que já era refutada na igreja primitiva.
Pannenberg afirma que “a alma não é apenas princípio de vida do corpo, mas é o
próprio corpo animado, o ser vivente como um todo. ” (2009, p. 274).
Diante do exposto acima podemos verificar de forma clara, ainda que
não utilize do termo, uma aproximação conceitual da Unidade Condicional humana,
defendida por Erickson, aceita por Munyon, e amplamente explicada por
Pannenberg.
Conclusão
Diante do que foi exposto acima, a proposta da Unidade Condicional,
não só fica na formulação da composição do homem, como também aproxima
divergências teológicas, pois cada um dos autores analisados pertence a
segmentos, não só distintos, mas também antagónicos, Erickson dos
Rerformadores, Munyon do grupo pentecostal e Pannenberg luterano.
O argumento Unidade Condicional trouxe o que se busca neste
milênio, a cooperação unida do cristianismo rumo a uma conciliação ecumênica da
fé, em sua mais diversa manifestação dentro do corpo cristão.
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Janeiro: CPAD, 2007.
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Paulo: Vida, 2006.
[1]
ERICKSON repete o erro interpretativo da teologia de Armínio que todo
calvinista faz desde o tempo do seu surgimento.
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