domingo, 14 de junho de 2020

O ENSINO DA ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA: EM BUSCA DE UMA UNIDADE NAS OBRAS DE ERICKSON, MUNYON E PANNENBERG.

Introdução

As antropologias do cristianismo, do islamismo, do hinduísmo, do judaísmo e do budismo têm teologias inerentes que precisam ser descobertas para entender mais profundamente cada tradição de fé.

Embora a história de engajamento entre antropologia e teologia seja complicada, antropólogos e teólogos precisam repensar novas possibilidades da teologia e da antropologia e voltando-se para outros caminhos afim de encontrar uma antropologia teologicamente engajada.

A ciência moderna acumula conhecimento sobre a humanidade cada vez maior, e ainda assim permanecemos um mistério para nós mesmos, incertos sobre quem somos, por que somos e como devemos viver no mundo. Como Jürgen Moltmann disse sobre o homem:

Continua escorregando de suas próprias mãos e se torna mais um quebra-cabeça para si mesmo, quanto mais soluções possíveis ele tem disponíveis na forma de esboços do que o homem é. Quanto mais respostas possíveis ele tem, mais ele se sente em um salão de mil espelhos e máscaras, mais ininteligível ele é para si mesmo. (MOLTMANN, 1974, p 11)

 

Isso significa que a antropologia, independentemente de ser explicitamente teológica, é uma disciplina com implicações prementes e práticas, que moldam cada identidade, sociedades, e os modos de vida.

Então, por que estudar antropologia teológica? Porque a partir deste pensamento que significa ser humano, irá moldar quase todos os aspectos de situação das vidas cotidianas, e porque não podemos compreender adequadamente a humanidade a menos que essa visão esteja enraizada também na teologia.

Uma das grandes fomes espirituais é a verdade. A verdade vem em pelo menos dois tipos diferentes: fatos científicos e sabedoria filosófica. Através desta aparelhagem é que se constrói a Teologia, como também a Antropologia. A compreensão do que significa o ser humano, numa perspectiva religiosa, é uma preocupação central da Antropologia Teológica.

A Antropologia Teológica é a compreensão do homem pensada por cada religião, neste caso aqui delimitaremos este perfil na perspectiva cristã protestante, a partir das informações encontradas na Bíblia, e por meio da tradição herdada na sua história teológica.

O presente artigo pretende explorar se há algumas similaridades da Antropológico dentro da Teologia, revelando sua pluralidade dentro deste tema, como forma de demonstrar as diversidades das intenções de compreender o homem, que chegaremos a uma possível uniformidade dentro dela, assim escolhemos um autor de linha Reformada Erickson, outro de tradição pentecostal Munyon, e Pannenberg da escola luterana.

Utilizando de obras já publicadas, analisaremos o conceito da Antropologia na Teologia que cada autor representa, afim de conseguirmos desenvolver o tema proposto deste artigo. Desta forma através de uma pesquisa bibliográfica como recurso metodológico.

 

Desenvolvimento

Antes de prosseguir devemos entender a origem dos termos, primeiro Teologia: que surge no século IV a.C, passando a ser dotado pelo cristianismo no Concílio de Niceia, século IV d.C. Enquanto Antropologia foi formulada por Kant em 1781, como uma forma de se estudar o comportamento do homem.

A partir deste momento a Antropologia começa a ganhar rumo próprio, que vai gerar conflitos da Antropologia com a Teologia. De uma perspectiva cristã, essa identidade da atual crise demonstra tanto uma triste ironia e uma lição importante. Primeiro, é uma triste ironia porque nessa confusão atual, especialmente no Ocidente, está diretamente ligado à rejeição da visão cristã do mundo e a recusa em reconhecer o homem como criaturas de Deus. Começando no Iluminismo até nossos dias atuais, tem sido na moda para argumentar que não precisamos reter o Deus da Escritura em nosso pensamento, a fim de entender quem nós somos, ou nas famosas palavras de Alexander Pope, “O estudo apropriado da humanidade é homem”, não Deus.

Para o cristianismo a Antropologia que procura estudar os seres humanos para além do Deus Trino inevitavelmente acaba nos vendo meramente em termos de origens impessoais, produtos da matéria, movimento, tempo e acaso. E ainda mais: estas ideias, que reputam como falsas nunca permanecem de forma teórica. Inevitavelmente, as pessoas agem sobre o que acreditam, e não é difícil ver os resultados desastrosos de tal pensamento em todos os lugares ao nosso redor - por exemplo, nossa desvalorização da vida humana no aborto, infanticídio, eutanásia; o colapso da família, confusão de gênero; visões falsas da natureza humana aplicadas à teoria; e a lista poderia ser multiplicada.

Como explica Moro sobre as divergências da Antropologia e Teologia é:

A heterogeneidade entre teologia e antropologia não é, pois, meramente histórica. Tampouco se trata de um problema de tradução, adaptação ou ainda inculturação. A heterogeneidade entre ambas é sobretudo formal, entendendo por forma não a simples aparência exterior, mas a conformação interna e principial. É por isso que a passagem do uma ciência para outra não significará, ou ao menos não pretenderá significar uma mudança acidental na linguagem. Ela quer ser uma mutação total e implicará programaticamente a transmigração de um universo para outro diferente com a conseguinte transmutação de valores que se inicia na inversão do que a lógica antiga chamava objeto formal próprio de cada uma das ciências. (MORO 1991, p. 167)

 

A antropologia teológica, tanto na tradição judaica quanto na cristã, considera Gênesis 1: 26-27 como um texto fundamental. Aqui, na primeira referência bíblica à humanidade, os seres humanos são descritos em sua natureza “original” ou “essencial” como criados “à imagem de Deus”. Essa impressionante correlação do humano com o divino é única e isolada.

Nos escritos do Novo Testamento da escola paulina, Cristo foi identificado com a imagem (Rm 8:29; 1 Coríntios 11: 7; 15:49; 2ª Cor 3:18; 4: 4; Cl 1:15; 3:10; Hebreus 1: 3), e lançado como um "segundo Adão" (Rm 5: 12-21). A contínua especulação na igreja primitiva produziu uma doutrina da imago Dei na qual o texto de Gênesis era lido através dos olhos de Paulo - conforme interpretado por Agostinho e outros “padres” da Igreja. Como consequência desta apropriação dogmática cristã do texto, a antropologia teológica da Bíblia hebraica tem sido o arcabouço por uma antropologia bíblica em que o Antigo Testamento foi selecionado, e interpretado, para atender às necessidades de uma trajetória Paulina.

A partir de agora nasce outro caminho, nova perspectiva, principalmente pela formula dispensada por Kant, conforme explica Júnior (2014,  p. 270) “formulada e expressa nas clássicas perguntas de Kant: “O que posso saber?”; “O que devo fazer?”; “O que me é permitido esperar?”; “O que é o homem?””, continuando Júnior ( 2014, 270) “A característica fundamental do pensamento moderno é pensar todas as “coisas”, inclusive Deus, a partir de e/ou em perspectividade ao homem, ainda que esse homem possa ser compreendido de maneiras muito diferentes”.

Para ROSA ( 2001, p.  20)

“A simples redução da filosofia à antropologia, entretanto, como querem certos autores antigos e alguns contemporâneos, não elimina o problema em questão. O chamado “problema antropológico” continua a ser um tema relevante, tanto na filosofia como na própria teologia contemporânea, que também se tornou predominantemente antropocêntrica”  

Completando com CASSIRIER (1972, p. 45).

“Em nenhum outro período do conhecimento humano o homem se tornou mais problemático para si mesmo do que em nossos dias. Dispomos de uma antropologia científica, uma antropologia filosófica e de uma antropologia teológica que se ignoram entre si. Por conseguinte, já não possuímos nenhuma ideia clara e coerente do homem. A multiplicidade cada vez maior das ciências particulares, que se ocupam do estudo dos homens, antes confundiu e obscureceu do que elucidou nossa concepção do homem”.

Pois a tão sonhada neutralidade não passa de um mito, como denuncia Hilton Japiassu em “Mito da neutralidade científica” (1979) pois o cientista sempre se imporá na conclusão de seu estudo.

Mas porque uma Antropologia Teológica? Graciani e Iwashita (2016, p. 128) afirmam “Uma valência antropológica, portanto, é inseparável das afirmações teológicas. A teologia aproxima-se da questão antropológica de forma notável. ”  

Diante do que foi exposto acima, iniciamos uma construção teórica antropológica dos teólogos proposto, vamos começar com ERICKSON, este teólogo estadunidense Batista, conseguiu seu Ph.D Northwestern University, tendo como Wolfhart Pannenberg, seu orientador. Descrito como um “evangélico razoavelmente conservador e apenas moderadamente calvinista, ” como iremos descrever. Erickson é reformado em um sentido calvinista, no entanto, Erickson defende um "calvinismo moderado" (2015, p. 351), ele afirma o livre-arbítrio compatibilista e nega o livre-arbítrio libertário. Ele afirma a depravação total e a incapacidade total da humanidade (2015, p. 352-53). Ele afirma a eleição incondicional (2015, p. 356-58), mas não comenta sobre a dupla predestinação; Erickson não toma posição sobre a dupla predestinação, embora ele pareça apoiar o sublapsarianismo. Erickson defende uma expiação “limitada-ilimitada”. Erickson parece defender uma graça irresistível, embora não use o termo. Erickson demonstra a perseverança dos santos e a hipotética visão da apostasia (2015, 381-84). Algo problemático é o fato de que Erickson não deixa claro para o leitor desinformado o que é exatamente o calvinismo “moderado”, o calvinismo “moderado” de Erickson aflora por meio de sua informação do conhecimento médio, que é rejeitado pela maioria dos calvinistas, através de seu apoio à expiação “limitada-ilimitada”.

Diante do que foi exposto acima para Erickson as ações do homem não foram determinada, nem deixada a sua vontade,[1] como explica “A solução, então, está em compreender o papel da presciência de Deus na formação e execução do plano divino.”, pois para ele:

A ação humana é logicamente anterior. Com base nisso, o conceito da liberdade humana é preservado. Cada indivíduo tem opções genuínas. São os seres humanos que garantem que suas ações ocorram; Deus simplesmente consente. Portanto, pode-se dizer que, na visão arminiana, esse aspecto do plano de Deus é condicional à decisão humana; na visão calvinista, ao contrário, o plano de Deus é incondicional. (ERICKSON, 2015, p. 351)

No capítulo que trata da Antropologia, prefere intitular “Introdução à doutrina da humanidade” (2015, p. 339), sua Antropologia segue a ideia de compreender a natureza de Cristo, será alcançada na compreensão da natureza do ser humano, continuando Erickson a Antropologia interage com as demais doutrinas, além de que o próprio estudante compreenderá a si próprio.

Erickson faz um giro das diversas teorias que tentam descrever o homem usando uma linguagem síntese de cada posicionamento como ‘máquina’ e denuncia coisificação da humanidade (2015, p. 355, 356); ‘um animal’ que para ele é o rebaixamento do homem a nível inferior, como no processo do “conhecimento do ser humano é obtido não pela introspecção, mas pelas experiências com animais.” (2015, p. 357).

Continuando sua descrição o termo ‘um ser sexual’ uma clara refutação a Freud, e sua teoria que tudo gira no libido sexual humano asteorias de Freud se baseiam no conceito de que todo comportamento humano deriva basicamente das motivações e energias sexuais.” (p. 358). Erickson não deixa de fazer sua verificação marxista na expressão ‘Um ser econômico’, pois este sistema vê a história de forma única e exclusivamente por fatores econômicos, denominado ‘Materialismo Histórico’, neste caso a realização antropológica se dará na sua liberdade econômica.

O outro termo citado por Erickson ‘Um peão do Universo’, e as doutrinas existencialistas, tendo como referência Bertrand Russell e Alberto Camus; ‘Um ser livre’, que é uma continuação do tema anterior. Por fim ‘Um ser social’ penas, que com suas palavras afirma esta teoria

A pessoa é o conjunto de relacionamentos nos quais está envolvida. Isso é o mesmo que dizer que a essência da humanidade não reside em alguma substância ou natureza fixa definível, mas nos relacionamentos e nos vínculos com outras pessoas. (ERICKSON,, 2015, p 462):

Em sua refutação a esta perspectiva ele declara que retira do homem qualquer responsabilidade pessoal.

Sobre os pontos de vista básicos da constituição humana, Erickson então afirmou a posição de muitos cristãos conservadores primeiro o tricotismo, que pode ser rastreado até a antiga metafísica grega, mas logo após afirmar que ele entra em uma lista de Escrituras que indica três partes distintas do humano. Erickson continuou sua discussão afirmando que os filósofos gregos ensinaram que havia um corpo e a alma e o espírito uniram os dois. Ele afirmou que o Tricotomismo perdeu a consideração dos pais da igreja primitiva, mesmo referindo-se a ela como herética, até ser revivida por ingleses e Teólogos alemães.

Erickson começou a discutir o dicotismo como um que foi popularizado na época do o Conselho de Constantinopla em 381. Esta crença começou a se tornar universal na igreja. O dicotismo é atribuído ao Antigo Testamento, enquanto o dualismo é atribuído ao Novo estamento. O corpo foi o que morreu na morte e a alma é o que sobreviveu além o corpo. Erickson afirmou que o dicotismo argumentava contra o tricotismo em para tentar provar o primeiro sobre o posterior. Erickson argumentou que alma e espírito eram usados indistintamente demonstrando assim que existem apenas duas partes para os seres humanos e não três.

Ele então continua seu argumento de que o corpo e o espírito são as duas únicas partes de um ser humano. Ele afirmou que na morte o espírito permanece enquanto o corpo morre. Erickson também trouxe exemplos de outros teólogos que tinham ideias diferentes sobre a composição do ser humano.

              Erickson discutiu a visão liberal, principalmente por não creem na imortalidade, como também que o corpo pode ser ressuscitado. Harry Emerson Fosdick afirmou que a ressurreição era apenas uma crendice do Novo Testamento, pois para Fosdick a ressurreição era mais como uma perseverança da personalidade. Os conservadores, entretanto, acreditam em um corpo ressuscitado e a sobrevivência da alma.

Sobre o Monismo Erickson começa esta seção afirmando que o dicotomista e tricotomista são semelhantes em aquele ambos acreditam que o humano é composto de duas ou três partes. Monismo acredita que um o humano é composto de uma parte ou como ‘EU’. Eles não acreditam em imortalidade além de a ressurreição do corpo, nem eles acreditam em um estado intermediário. Erickson afirmou que o monismo foi popularizado atualmente pela neo-ortodoxia.

Erickson está concluindo esta seção sobre a natureza do homem com um modelo alternativo a que ele se referiu como unidade condicional. Esta abordagem é sua alternativa ao dualismo e monismo. Erickson se baseia à visão de Henri Bergson como fonte de sua abordagem.

Erickson reiterou que o Antigo Testamento se referia ao corpo como em unidade enquanto o Novo Testamento introduziu a terminologia do corpo-alma. A ideia do Novo Testamento, ele afirmou, não declara claramente que o corpo da alma é representado como uma corporificação ou desincorporação do ser. Erickson avança para discutir que o Novo Testamento ensina um ponto entre existência imaterial e material. Este estado intermediário é o lugar entre a morte de uma pessoa e da ressurreição universal de todos os mortos e que vivem para um novo corpo perfeito, que foi feito para a eternidade (2Co 5: 2-4).

Erickson agora se move para seus argumentos finais, e é assim que respondeu à questão: “Como isso difere das visões usuais de tricotomia, dicotomia e monismo? ” A maneira como Erickson denominou essa abordagem, está no argumento de que a Bíblia nunca encoraja o crente a escapar do corpo. Embora a alma é separada do corpo na morte, na ressurreição os dois serão reunidos juntos novamente.

Ele também alertou sobre a ideia equivocada liberal de uma alma imortal que não precisa de ressurreição. Ele encorajou o pensamento ortodoxo em ambas as áreas.

Quanto sobre Unidade Condicional Erickson termina com um conselho importante para um defensor cristão, que a ‘Unidade Condicional’ é a melhor hipótese de tratar uma pessoa em uma maneira holística. Isso, afirmou, incluiria abordar as questões espirituais das pessoas ao longo com seu estado físico, mental e emocional. Ele quer que as pessoas entendam isso, a complexidade inerente do homem. Ele também afirmou que “ O evangelho é um apelo para a pessoa em sua totalidade” (2015, p. 522).

O próximo teólogo a ser analisado pertence ao grupo pentecostal, na representação de Munyon. Os pentecostais que tem sua origem dos convertidos da Rua Azusa, que eram em grande parte pobres, trabalhadores sem instrução que não se sentiam bem-vindos no cristianismo tradicional. Da mesma forma, o movimento tipicamente recorreu principalmente a pessoas marginalizadas e deslocadas em todo o mundo, particularmente migrantes para cidades em rápido crescimento. O pentecostalismo clássico nos Estados Unidos, no entanto, gradualmente se tornou classe média e está se aproximando do cristianismo fundamentalista e evangélico. Os adeptos do Terceiro Mundo ainda são esmagadoramente pobres e da classe trabalhadora, mas o apoio da classe média também está crescendo lá.

Muitos estudiosos veem o pentecostalismo como uma resposta à privação material e social e à anomia. Eles argumentam que o movimento ajuda os adeptos a lidar com mudanças radicais geralmente associadas à modernização ou globalização, incluindo migração de rural para urbano, crescimento de megacidades, burocratização, expansão do capitalismo e pobreza urbana.

Uma das facetas mais interessantes do pentecostalismo, para o antropólogo, é que ele se adapta facilmente a qualquer cultura, absorvendo grande parte da cultura e, ao mesmo tempo, demonizando as religiões indígenas. É paradoxalmente global e local. O movimento pentecostal é claramente uma força a ser considerada no século XXI. Começou como uma religião sobrenatural e tem sido amplamente apolítica, mas há sinais de crescente politização, que só pode aumentar sua influência no cenário local e mundial.

A perspectiva Antropológica desenvolvida no pentecostalismo se difere de por sua exposição tricotômica (corpo, alma e espírito), sendo que em Erickson foge da tradição calvinista e se próxima da ‘Unidade Condicional’.

Com respeito a uma Teologia Pentecostal, Araújo esclarece que

A diversidade mundial do pentecostalismo torna quase impossível falar de “uma” teologia pentecostal. Nem ainda se conseguiu amadurecer uma teologia da fé cristã sob a perspectiva do pentecostalismo clássico. Todavia, existem certas correntes teológicas entre os pentecostais que apresentam certa sistematização e, que, portanto, são dignas de serem exploradas. (ARAUJO, 2007, p. 557)

Que neste caso compromete também sua Antropologia Teológica, pois desenvolve sua abordagem a partir de outras fontes teológicas, não tendo originalidade autoral, como consequência há pouca variedade de abordagem, sendo quase repetição de outras fontes.

A Teologia Sistemática Pentecostal editada por Antônio Gilberto, é uma obra com diversos autores da mesma denominação, Assembleia de Deus, ficando na responsabilidade de Renovato desenvolver o capítulo sobre Antropologia.

Além desta obra, existem também outras publicada pela CPAD, como a Teologia sistemática escrita por Eurico Bersgtén, missionário sueco; ‘Doutrinas Bíblicas’ William W. Menzzies e  Stanley M. Horton e Teologia Sistemática, cujo editor é Stanley Horton, além do livro ‘O homem: a natureza humana explicada pela Bíblia’ de Severino Pedro. Enquanto nos anos oitenta o livro ‘Conhecendo as doutrinas da Bíblia’ de Myer Pearlmann, influenciou profundamente o pensamento antropológico pentecostal, há também de J. Rodman Williams ‘Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal’ ambos pela Editora Vida, e recentemente Brunelli ‘Teologia para Pentecostais’ publicado pela Central Gospel; enquanto Wayne Grudem em sua ‘Teologia Sistemática’, além de ser pentecostal, se diferencia dos anteriores por defender uma perspectiva calvinista.

Mas a característica principal da Antropologia Pentecostal, é em sua ênfase a distinção da composição do homem, entre corpo, alma e espírito (denominado de Tricotomia), na sua explicação ocorre o rebaixando do corpo, exaltando o espírito humano, chegando alguns a afirmar que não foi contaminada com o pecado (Pearlman, 2006, 90), escapando totalmente da tradição teológica cristã sobre a doutrina da depravação total, Grudem refuta vigorosamente esta posição ( 1999, p. 391).

Para CORTEN (1996, p. 128) a influência agostiniana no pensamento pentecostal que os prazeres físicos devem ser excluídos a todo custo, se insere na sua elaboração antropológica. Que para Pannenberg (Vl 2, 2009, p. 266 nota de roda pé) seria uma tradição de pensamento através da filosofia grega, e posteriormente na tradição cristã nas figuras de Agostinho e Aquino, e mais recentemente em Descartes. Possivelmente cometendo como Damásio veio a descrever o erro cartesiano, de distinguir corpo da mente, neste caso aqui a distinção exagerada entre corpo do espírito e alma na elaboração antropológica pentecostal.

Na antropologia pentecostal há uma hierarquia em que o espírito humano está elevado, enquanto que alma e o corpo, além de estarem corrompidos, são dependentes do espírito.

Há ainda a teoria propagada por um seleto grupo do pentecostalismo que chega ao extremo que após a morte uma tripartida, onde o corpo vai a sepultura, a alma desce ao hades e o espírito volta para Deus, que o deu.

Munyon que vai colaborar na Teologia Sistemática sob editoração de Horton, ficando sob a responsabilidade do capítulo da Antropologia, vai se afastar da tradição pentecostal, e se aproximar da perspectiva Unidade Condicional, fazendo nítida citações a Erickson (HORTON, 2008, p. 251-252).

Diante desta exposição chegamos a antropologia de Pannenberg, aposentado de uma longa carreira teológica em Munique, morreu aos 85 anos.

Pannenberg foi um dos principais teólogos do século XX, com uma série de artigos brilhantes, livros importantes sobre os temas da revelação, cristologia, ética, ciência, antropologia e metafísica, e uma robusta Teologia Sistemática de 3 volumes para coroar sua carreira.

Pannenberg foi um teólogo da história em três sentidos: em primeiro lugar, o conceito de história foi central para o pensamento construtivo (mais sobre isso abaixo) e, segundo, ele sempre situado suas deliberações doutrinárias dentro da história das ideias; E terceiro, Pannenberg era um teólogo da história no sentido mais amplo de que ele fez história.

Pannenberg não está particularmente focado no envolvimento prático da teologia de maneiras específicas. Ou seja, seu foco é mais na ortodoxia coerente do que na ortopraxia.

A teologia de Pannenberg é mais sapiencial do que existencial. Ao afastar-se do modo “existencial”, no entanto, Pannenberg fez mais do que escolher um estilo diferente de linguagem. Sua vez de uma história pública e uma razão compartilhada orientada para essa história é a tentativa mais significativa em sua geração de teologia protestante alemã para romper com a virada para o assunto que tem sido tão determinante por mais de duzentos anos. Ele representa uma espécie de nova objetividade.

A Antropologia de Pannenberg está postulada sobre um tripé, como ele mesmo estabelece:

A destinação do homem para a comunhão com Deus é tema da doutrina de sua criação à imagem de Deus. A exposição dessa doutrina, porém, ainda carece de uma fundamentação antropológica mais geral que garante simultaneamente a relação da antropologia teológica com a doutrina da criação, por um lado, e com a cristologia, por outro lado. (PANNENBERG, Vl. 2, 2009, p. 264)

Com respeito a composição do homem, Pannenberg inicia seu argumento que o homem conduz sua vida de maneira consciente, rejeitando a teoria behavorista, que transforma o homem de impulsos instintivos.

Com respeito ao corpo Pannenberg entende que o conhecimento que o homem tem de si, é via por ele, e condicionado por suas funções físicas, Pannenberg não vê distinção da alma do corpo “Alma e consciência estão profundamente enraizadas na corporeidade do homem” (2009, p. 266), que a distinção é uma ideia plantonista, que já era refutada na igreja primitiva. Pannenberg afirma que “a alma não é apenas princípio de vida do corpo, mas é o próprio corpo animado, o ser vivente como um todo. ” (2009, p. 274).

Diante do exposto acima podemos verificar de forma clara, ainda que não utilize do termo, uma aproximação conceitual da Unidade Condicional humana, defendida por Erickson, aceita por Munyon, e amplamente explicada por Pannenberg.

Conclusão

Diante do que foi exposto acima, a proposta da Unidade Condicional, não só fica na formulação da composição do homem, como também aproxima divergências teológicas, pois cada um dos autores analisados pertence a segmentos, não só distintos, mas também antagónicos, Erickson dos Rerformadores, Munyon do grupo pentecostal e Pannenberg luterano.

O argumento Unidade Condicional trouxe o que se busca neste milênio, a cooperação unida do cristianismo rumo a uma conciliação ecumênica da fé, em sua mais diversa manifestação dentro do corpo cristão.

 

REFERÊNCIA

 

ARAUJO, Isael. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

BRUNELLI, Walter. Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática Expandida – 4 Volumes Rio de Janeiro. Central Gospel 2016.

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CORTEN, André. Os pobres e o Espírito Santo: o pentecostalismo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 228.

DAMÁSIO, Antônio R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

JUNIOR, Francisco de Aquino Paulino. A Problemática Da Antropologia Teológica. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/22735/22735.PDF 267 – 291 (270). Acesso 31/07/2018

ROSA, Merval. Antropologia filosófica: uma perspectiva cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 1996.

ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática; tradução de Robinson Malkomes, Valdemar Kroker, Tiago Abdalia Teixeira Neto. São Paulo: Vida Nova, 2015- 1232 p.

GRACIANE, Maria Regina Ribeiro; IWASHITA, Pedro K. Perspectivas antropológico-cristãs. Ano XXIV No 88 Jul/Dez 2016 https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/viewFile/rct.i88.30928/21421, p. 122-147

MENZIE, William W; HORTON, Stanley M. Doutrinas bíblicas: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

MORO, Ulpino VÁZQUEZ, Teologia e antropologia: aliança ou conflito? , Perspectiva Teológica 60 (1991) PP. 163-174, p. 167

MUNYON, Timothy. A criação do universo e da humanidade. In: HORTON, 2008, p. 251-252.

RENOVATO, Elinaldo. Antropologia _ a doutrina do homem. In: GILBERTO, Antonio (Ed.) Teologia sistemática pentecostal. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

SILVA, Firmino Wagner Gomes da.  A Imago Dei na Antropologia Teológica de Wolfhart Pannenberg; https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=14069@1Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Teologia da PUC-Rio. 2009. Acesso 30 de julho 2018.

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PANNENBERG, Wolfhart. Filosofia e teologia: tensões e convergências de uma busca comum. São Paulo: Paulinas, 2008.

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2006.



[1] ERICKSON repete o erro interpretativo da teologia de Armínio que todo calvinista faz desde o tempo do seu surgimento.


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