A IMPORTÂNCIA DE AGOSTINHO NA
REFORMA.
Uma das grandes belezas e
seguranças da teologia bíblica, histórica e ortodoxa é que falta-lhe
originalidade. A boa teologia é derivada da Palavra de Deus nas Escrituras, a
qual tem sua origem através da inspiração do Espírito Santo. A teologia que honra
a Deus é aquela que submete-se à autoproclamada autoridade das Escrituras e
que, portanto, mantém-se no limite daquilo que foi revelado por Deus e ensinado
pelos profetas e apóstolos. Nesse sentido é que a teologia não é e nem deve ser
original e é por isso que, desde o fechamento do cânon, a ortodoxia cristã
atravessa os séculos, as culturas e os poderes deste mundo com uma
impressionante unidade e coerência em suas doutrinas mais basilares e
importantes. Seus grandes dogmas são derivados da Bíblia.
Isso não quer dizer, todavia, que
a teologia não deva buscar profundidade e desenvolvimento. Em grande medida, o
produto teológico que temos hoje à nossa disposição, é fruto do labor criativo,
zeloso e meticuloso empreendido por estudiosos da Palavra de Deus, ao longo da
história. Então, se por um lado, no núcleo do que a fé cristã afirma hoje, do
que a igreja cristã crê, estão aquelas doutrinas que foram cridas e ensinadas
desde os apóstolos, por outro, os séculos de história cristã serviram para o desenvolvimento,
aprofundamento, refinamento e apuração dessas doutrinas. Não há grandes
novidades, mas houveram grandes progressões.
A INFLUÊNCIA DE AGOSTINHO
Um desses homens de Deus, dotado
de uma mente criativa e intenso desejo de cavar mais profundamente na Palavra
de Deus e que ajudou a pavimentar o caminho das grandes progressões do
pensamento teológico foi o africano Agostinho de Tagaste (354-430), bispo de
Hipona. Agostinho foi, provavelmente, o grande pensador cristão da Idade Média.
Por quase dois mil anos sua produção teológica tem pautado os grandes debates
do cristianismo e influenciado
o pensamento e cultura do Ocidente. Do ponto de vista católico, Joseph Aloisius
Ratzinger ratifica essa impressão, ao dizer: “Agostinho deixou uma marca
profunda na vida cultural do Ocidente e de todo o mundo. Sua influência é vastíssima. (...) Raramente
uma civilização encontrou um espírito tão grande, com ideias e formas que
alimentariam gerações vindouras.”[1]
A Reforma Protestante do século XVI, fundamental ao avivamento da fé e
espiritualidade cristã, até então adoecida mortalmente pelo desvio teológico,
corrupção e misticismo, deve a Agostinho o cerne de suas principais
proposições, particularmente em questões como o pecado original, a graça de
Deus, a salvação e a predestinação, além do exemplo de seu vigoroso ministério pastoral.
O teólogo luterano Richard Balge, citando um colega, disse que: “Se Agostinho
de Hipona tivesse vivido no tempo da Reforma, ele teria se juntado a Martinho
Lutero”.[2]
O teólogo presbiteriano B. B. Warfield, por sua vez, disse que “o sistema de doutrina
ensinado por Calvino é somente o agostinianismo, conforme se vê em todos os
demais reformadores. Pois, se a Reforma foi, do ponto de vista espiritual, um
grande avivamento da religião, do ponto de vista teológico foi um grande
reavivamento do agostinianismo”.[3]
E o erudito batista Timothy George, ao falar da influência
do pensamento agostiniano na Reforma, disse que “a linha principal da Reforma
Protestante pode ser vista como uma aguda agostinianização do cristianismo.”[4]
[1] Bento XVI. Os Padres da Igreja
(Campinas, SP: Eclesiae, 2012) p. 183-184.
[2] Richard D. Balge. Martin
Luther, Agostinian (artigo publicado em http://www.wlsessays.net/§les/BalgeAugustinian.
pdf), acessado em novembro de 2015
[3] Benjamin Breckinridge War§eld. John Calvin: the man and
his work (»e Methodist Review, Outubro de 1909).
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