domingo, 8 de novembro de 2015

A IMPORTÂNCIA DE AGOSTINHO NA REFORMA.

Uma das grandes belezas e seguranças da teologia bíblica, histórica e ortodoxa é que falta-lhe originalidade. A boa teologia é derivada da Palavra de Deus nas Escrituras, a qual tem sua origem através da inspiração do Espírito Santo. A teologia que honra a Deus é aquela que submete-se à autoproclamada autoridade das Escrituras e que, portanto, mantém-se no limite daquilo que foi revelado por Deus e ensinado pelos profetas e apóstolos. Nesse sentido é que a teologia não é e nem deve ser original e é por isso que, desde o fechamento do cânon, a ortodoxia cristã atravessa os séculos, as culturas e os poderes deste mundo com uma impressionante unidade e coerência em suas doutrinas mais basilares e importantes. Seus grandes dogmas são derivados da Bíblia.
Isso não quer dizer, todavia, que a teologia não deva buscar profundidade e desenvolvimento. Em grande medida, o produto teológico que temos hoje à nossa disposição, é fruto do labor criativo, zeloso e meticuloso empreendido por estudiosos da Palavra de Deus, ao longo da história. Então, se por um lado, no núcleo do que a fé cristã afirma hoje, do que a igreja cristã crê, estão aquelas doutrinas que foram cridas e ensinadas desde os apóstolos, por outro, os séculos de história cristã serviram para o desenvolvimento, aprofundamento, refinamento e apuração dessas doutrinas. Não há grandes novidades, mas houveram grandes progressões.

A INFLUÊNCIA DE AGOSTINHO
Um desses homens de Deus, dotado de uma mente criativa e intenso desejo de cavar mais profundamente na Palavra de Deus e que ajudou a pavimentar o caminho das grandes progressões do pensamento teológico foi o africano Agostinho de Tagaste (354-430), bispo de Hipona. Agostinho foi, provavelmente, o grande pensador cristão da Idade Média. Por quase dois mil anos sua produção teológica tem pautado os grandes debates do cristianismo e influenciado o pensamento e cultura do Ocidente. Do ponto de vista católico, Joseph Aloisius Ratzinger ratifica essa impressão, ao dizer: “Agostinho deixou uma marca profunda na vida cultural do Ocidente e de todo o mundo. Sua influência é vastíssima. (...) Raramente uma civilização encontrou um espírito tão grande, com ideias e formas que alimentariam gerações vindouras.”[1] A Reforma Protestante do século XVI, fundamental ao avivamento da fé e espiritualidade cristã, até então adoecida mortalmente pelo desvio teológico, corrupção e misticismo, deve a Agostinho o cerne de suas principais proposições, particularmente em questões como o pecado original, a graça de Deus, a salvação e a predestinação, além do exemplo de seu vigoroso ministério pastoral. O teólogo luterano Richard Balge, citando um colega, disse que: “Se Agostinho de Hipona tivesse vivido no tempo da Reforma, ele teria se juntado a Martinho Lutero”.[2] O teólogo presbiteriano B. B. Warfield, por sua vez, disse que “o sistema de doutrina ensinado por Calvino é somente o agostinianismo, conforme se vê em todos os demais reformadores. Pois, se a Reforma foi, do ponto de vista espiritual, um grande avivamento da religião, do ponto de vista teológico foi um grande reavivamento do agostinianismo”.[3] E o erudito batista Timothy George, ao falar da influência do pensamento agostiniano na Reforma, disse que “a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma aguda agostinianização do cristianismo.”[4]



[1] Bento XVI. Os Padres da Igreja (Campinas, SP: Eclesiae, 2012) p. 183-184.
[2] Richard D. Balge. Martin Luther, Agostinian (artigo publicado em http://www.wlsessays.net/§les/BalgeAugustinian. pdf), acessado em novembro de 2015
[3] Benjamin Breckinridge War§eld. John Calvin: the man and his work (»e Methodist Review, Outubro de 1909).
[4] Timothy George. Teologia dos Reformadores (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 2004).

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